2. Alexandria (p.4)
— Deixa eu ver se eu entendi: Sua namorada é possivelmente anormal e você sequer contou pra ela?
Chloé estava deitada do lado de Arthur, os dois um pouco apertados em sua cama estreita. Assim que chegou no quarto da irmã, já começou a lhe explicar sobre Lívia.
— Ela não é minha namorada, eu já disse, e ela também não é anormal, mas tem alguma coisa errada.
— Você parece caidinho por ela. — Chloé prendia o riso.
— Eu o que? Não tô caidinho por ninguém. Você quem anda com corações na cabeça. "Ah, Miguel é tão maravilhoso", "Miguel sabe usar uma espada como ninguém", "Miguel é um arqueiro e flechou meu coração".
— Ei! — Chloé socou seu braço, mas ela ria. — Eu não falo isso!
— Seu namorado é um saco.
— E você é ciumento e implicante. Ele também. Se passassem metade do tempo que gastam criticando um ao outro tentando se dar bem, seriam melhores amigos.
— Ele é um babaca presunçoso, não dá pra ser amigo dele.
— E você não? "Ah, eu sou lindo e maravilhoso".
— Mas eu sou — Arthur empinou o nariz e sorriu. — As mulheres morrem por mim.
Chloé riu alto, debochando do irmão.
— Morrem de terror, só se for — disse Chloé, e então voltou ao assunto anterior. — Ela é linda.
— É?
— Ela é, e você sabe disso. E tenho certeza que reparou.
— Sim, ela é.
Chloé cutucou o irmão.
— Você é muito superficial. Meninas bonitas sempre foram o seu fraco.
Arthur a encarou, ofendido.
— Isso não é verdade! — protestou, e Chloé ergueu as sobrancelhas. — Ok, talvez seja um pouco verdade. Mas eu não gosto das pessoas só porque são bonitas. Lívia é legal.
— Pera, pera, pera! — Chloé sentou-se rindo, encarando Arthur. — Tá admitindo que gosta dela?
— O que? Não! Que mania de achar que eu vivo apaixonado. — Arthur fez careta.
— Você vive apaixonado — ela deitou-se novamente —, o problema é que suas paixões duram uma semana, até você se apaixonar de novo por outra pessoa.
— Talvez isso também seja um pouco verdade — disse ele com um sorriso torto.
— Um pouco? — Ela riu. — A única pessoa que você vive babando é aquela feiticeira, o que é surpreendente, vindo de você, já que ela nem é tão bonita assim. Pelo menos, não tão bonita como Lívia, ou suas outras namoradas.
— Por Deus, Lívia não é minha namorada! E sobre Diana — Arthur fez uma careta. — Não vivo babando por ela. Devo admitir que, na verdade, ela chega a me assustar um pouco. Ela é meio sufocante.
— Daria tudo pra assistir alguém deixar você constrangido.
Arthur sorriu de lado.
— Eu daria tudo pra nunca mais me sentir constrangido na vida.
* * *
Lívia retomou a leitura. Enquanto Arthur não voltava, leu mais alguns capítulos. O Rei Arthur havia conseguido uma espada muito poderosa e a usado para derrotar o Cavaleiro Negro. Mas começou a se sentir cansada e cochilou. Quando acordou, Arthur já estava sentado na cadeira ao seu lado. Mexendo em seu celular.
Não conversaram muito pelo resto do dia. Arthur continua desviando de assunto cada vez que Lívia perguntava sobre o que aconteceu quando ele saiu de manhã. A noite, Arthur insistiu que ela continuasse em sua cama enquanto ele próprio esticava cobertas no chão para si mesmo. E então dormiram.
Na manhã seguinte, acordou com as vozes de Arthur e Chloé no corredor.
— ...só precisa cuidar dela por mim, apenas hoje — dizia ele.
— Você vai se encontrar de novo com a feiticeira, não vai?
Arthur não respondeu.
— Por que você corre atrás dela pra te ajudar com cada ideia maluca que você tem?
— Eu preciso...
— Não, você não precisa. — interrompeu Chloé. — Feiticeiros são traiçoeiros, Arthur. Olha o tipo de gente com quem você está se metendo...
— Tá aprendendo isso com quem? Seu namoradinho hipócrita? — Arthur soava irritado. — Não pode classificar uma pessoa como ruim só porque ela é uma feiticeira.
— Não fale assim do Miguel. E você sabe Arthur, o que as pessoas falam sobre Diana. Ela não é flor que se cheire...
— Miguel tem prazer em ofender as pessoas, não fique o defendendo quando você sabe que é verdade. Odeia tanto híbridos, mas namora você...
— Agora você está me ofendendo...
Houve uma pausa. Mas Arthur falou em seguida, agora mais calmamente.
— Me desculpe, não quis ser grosseiro, mas você sabe que Miguel é uma pessoa difícil e ainda assim namora com ele... Deixa pra lá... Por favor, só tome conta da Lívia por mim.
— Tudo bem Arthur, eu cuido dela. Faça o que quiser, você sempre faz. Só tome cuidado, Diana tem uma péssima reputação, especialmente quando o assunto é sobre homens — disse Chloé e Lívia ouviu o som dos passos da garota se afastando.
— Espera, Chloé... — Agora era a voz de Arthur, e o som dos passos fizeram uma pausa. — Diana não é como as pessoas dizem.
Chloé não respondeu. Logo Lívia ouviu quando os passos voltaram a se afastar e em seguida Arthur entrou no quarto
— Oh! — exclamou Arthur — hum... Você tá acordada.
— Estou. Quem é Diana?
— Uma amiga, hum... Feiticeira.
— Não precisa pedir que tomem conta de mim — disse Lívia sentando-se. — Sei me virar sozinha, posso ir embora, estou cansada desse seu joguinho de mistério...
— Você não pode! — Disse Arthur, sentando-se na beira da cama. Passou a mão pelos cabelos, parecia preocupado. — Lívia, nem todas as pessoas aqui são boas. Elas podem não enxergar com bons olhos um anjo que foi criado fora de Alexandria sem saber o que era. Afinal, por que alguém mandaria a filha pra viver no meio da floresta, isolada do mundo? Ai tem coisa e eu estou com uma sensação ruim.
Arthur hesitou por um momento, antes de explicar seu plano.
— Lembra do acordo que eu disse que fiz ontem? Foi com Diana, a feiticeira de quem eu e Chloé falamos. Você não pode ficar escondida no meu quarto pra sempre, as pessoas iriam descobrir, mas ela não costuma receber muitas visitas, ninguém se importa com o que ela faz em casa...
— Você está sugerindo que eu vá para a casa de uma estranha? — sibilou para ele. — Eu ouvi o que Chloé disse, feiticeiros são traiçoeiros.
— Diana não é assim — respondeu ele cabisbaixo. — ela me prometeu que cuidaria e esconderia você até descobrirmos o motivo pra você ter sido mandada para aquele lugar.
— E por que ela ajudaria?
— Eu te disse, fizemos um acordo. Não foi a primeira vez que negociei favores com ela, e ela sempre cumpriu a sua parte...
— O que ela quer em troca?
Arthur corou intensamente.
— Lívia, eu...
— Não me enrole, Arthur, o que ela quer? Quero saber o que ela te pediu pra você ter chegado aqui tão perturbado ontem, depois que se encontrou com ela.
— Um dia comigo. Vou passar vinte e quatro horas na casa dela. Esse foi o acordo — respondeu e mordeu o lábio de nervoso.
— Um dia com você, por que ela iria querer... Oh, meu Deus, não me diga que é o que eu estou pensando...
— Livy...
Ela estava horrorizada.
— Não pensei que você fosse esse tipo de pessoa... Você vai... Você sabe... Com ela?
— Não pense tão mal de mim. — Arthur parecia triste. — Estou fazendo isso por você.
Lívia o encarou, sem saber o que dizer.
— Chloé deve vir pra cá daqui a pouco, mas eu tenho que ir, disse que estaria lá as seis — disse ele se levantando e fazendo algo completamente inesperado. Arthur beijou seu rosto carinhosamente. — Estarei de volta amanhã de manhã.
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