Assim que entraram pra dentro de casa, Lívia e Diana se apressaram a encontrar algo para os recém chegados comerem.

Narcisa e Miguel não quiseram nada, Chloé aceitou pão e um copo de suco, enquanto Arthur quis apenas água.

Lívia estava reparando nele desde que chegaram. Suas bochechas estavam coradas, e os olhos muito mais verdes do que o normal. O lado direito do rosto tinha muito sangue, e também havia escorrido do nariz. Sua camisa estava manchada na altura das costelas, e quando o viu de costas, notou que sua nuca não estava em uma situação melhor, com o líquido escarlate grudando seus cabelos e sujando até a gola.

Apesar de Arthur ser quem estava em pior estado, não era o único. Chloé também tinha um longo corte no rosto e alguns hematomas visíveis em seu braço. Isso fez com que Lívia tivesse raiva de Morselk. Como ele podia ter feito algo assim com pessoas tão boas?

Seu estado de espírito devia estar visível, pois Miguel tocou seu ombro com delicadeza.

— Elas vão tomar conta dele — ele disse, se referindo a Arthur. — Você quer conversar?

Lívia assentiu, e eles saíram para fora da casa, se abaixando para passar pela porta, que era extremamente baixa. Sentaram lado a lado em um banco de tábua na varanda, apoiando os cotovelos um uma mesa de madeira que estava ali, coberta por grãos de areia.

— Eu estou com raiva do seu pai — disse ela. — Muita raiva. Mesmo. Eu não entendo por que ele está fazendo essa droga toda.

— Ele não está fazendo isso sozinho — Miguel lembrou. — Ele está fazendo isso com os outros anjos. Eles se odeiam as vezes, e em outras são aliados. Mesmo quando entram em guerra, ainda tem os mesmos interesses, e se apoiam uns nos outros pra se manterem fortes.

Lívia o olhou.

— O que isso quer dizer?

— Isso quer dizer que precisamos derruba-los — disse ele. — Você precisa derruba-los.

Ela balançou a cabeça veementemente.

— Eu não posso fazer isso. Sou só uma garota.

— Você é Marina Ignis.

— Eu sou Lívia — disse ela com irritação. — Lívia Hervon.

— Certo, Lívia.— Miguel respirou fundo. — Você pode até ser só uma garota. Mas não qualquer garota. Não são todas as meninas que nascem destinadas a ser revolucionárias. Existe uma profecia, e ela fala sobre você.

— Pode ser sobre qualquer um que seja meio Anjo de Água e de Fogo.

— Inclusive você — disse ele. — Existem muitas pessoas que acreditam que você vai mudar aquele lugar.

— Uma andorinha só não faz verão.

— Aqui somos seis — falou Miguel. — E quantos mais querem se juntar a briga?

— Você quer uma guerra?

— Eu quero que as coisas mudem, mas elas não vão mudar se todos só ficarmos sentados assistindo. A iniciativa tem que vir de cada um. — Ele gesticulou em direção a casa. —  Você está feliz com o que meu pai fez com Arthur e Chloé? Eu não estou! — Ele bateu o punho sobre a mesa. — Eles não deviam ter passado por isso, cara! Ninguém fez nada de mal!

— Está declaradamente contra seu pai? — ela perguntou, erguendo as sobrancelhas enquanto virava o rosto para olhar para ele.

Miguel não respondeu, apenas abaixou a cabeça e começou a olhar para os próprios pés, enquanto remexia a areia no chão.

— Eu entendo — Lívia disse, colocando as mãos sobre a mesa e mexendo na poeira ali em cima. — Independente de qualquer coisa, ele é seu pai. Se eu tivesse um pai, não iria querer lutar contra ele.

— Você é uma das garotas mais legais que eu já conheci — disse Miguel, ainda sem olha-la. — As pessoas não deviam te julgar só por ser híbrida.

Ela sentiu as bochechas esquentarem.

— Obrigada. Você é bem mais legal do que Arthur diz.

Ele riu suavemente e olhou de lado para ela.

— Espero que isso seja um elogio.

— É um elogio — respondeu ela, sorrindo de volta.

— Por que você não usa seu verdadeiro nome? — disse Miguel enquanto ajeitava sua postura.

Lívia deu de ombros.

— Eu não sei. Sempre me chamei Lívia, você não gosta do meu nome?

— É um nome bonito — ele disse. — Mas particularmente, prefiro Marina.

— Sabe — Lívia disse. — Acho que você tem razão. Vou passar a usar meu nome.

Miguel deu-lhe um sorriso satisfeito.

— Eu vou gostar de te chamar de Marina.