15. Anjo Guerreiro (p.4)

Miguel, Arthur e Chloé avançaram as pressas pelos corredores, e não demorou para chegarem às escadas que levavam á casa. Eles subiram tentando fazer o mínimo de barulho. Lá em cima, Miguel empurrou os dois para dentro de uma porta, fazendo com que Arthur tropeçasse, evitando cair apenas pelo auxílio de Chloé.

Era um quartinho escuro, com forte cheiro de material de limpeza que fez seu nariz coçar. Miguel os espiava pela fresta na porta.

— Fiquem quietos, eu volto já — ele sussurrou.

Miguel fechou a porta e caminhou para a sala, onde havia visto um par de guardas quando chegou em casa. E eles ainda estavam lá, sentados em cadeiras, conversando. Mal os viu quando entrou, mas dessa vez os reconheceu como Jonny e Kyle, que eram irmãos, dois Anjos de Terra.

— Meu pai pediu pra chamar vocês — disse Miguel, enfiando as mãos nos bolsos da calça, tentando parecer despreocupado.

Eles se entreolharam.

— Vai lá, Kyle — Jonny disse ao irmão. — Eu fico de olho aqui.

— Ele disse que precisa dos dois — Miguel se apressou em dizer, fazendo o possível para não parecer ansioso. — Podem ir, eu fico de olho aqui.

Kyle deu de ombros e se levantou, indo em direção a porta de onde Miguel havia vindo pouco antes, e depois de alguma hesitação, Jonny o seguiu para fora do cômodo.

Miguel contou trinta segundos mentalmente, antes de espiar e ter certeza de que eles haviam descido as escadas. Voltou até onde havia deixado Chloé e Arthur, os apressando para saírem lá de dentro.

Correram para fora da casa, mas Miguel parou de repente outra vez, e os pediu silêncio enquanto se escondiam atrás de uma planta grande  do jardim. Arthur reparou o motivo: a casa estava cercada de duendes, que guardavam a casa segurando lanças com o triplo do próprio tamanho.

Miguel pegou uma flecha e desprendeu o arco das costas, retesando-o enquanto mirava em uma estátua de pedra presa à parede. Ao soltar a corda, a flecha voou com velocidade e acertou diretamente o ponto desejado, derrubando a mão do homem de pedra, que caiu a centímetros de um dos duendes.

Rapidamente, os outros se acumularam ao redor da mão caída, olhando para o alto e tentando descobrir de onde viera. Aproveitando a distração, os três correram o máximo que podiam. Miguel ia na frente, seguindo na direção de uma pequena cabana.

Ao a alcançarem, contornaram a construção para encontrar alguém que já os esperava ali atrás.

Estava vestido com uma longa túnica preta, a cabeça coberta por um capuz e o rosto escondido pelas sombras. Suas mãos estavam visíveis, e eram pequenas, de unhas vermelhas compridas.

— Vocês demoraram muito — disse, e Arthur reconheceu a voz antes mesmo que Narcisa tirasse o pano que lhe cobria a cabeça.

— Você? — Arthur perguntou incrédulo.

— Nem eu tô acreditando — ela disse. — Vamos, me entreguem seus celulares.

Miguel tirou o próprio do bolso, mas Chloé a encarou.

— Pra quê? — ela perguntou.

— Da pra rastrear vocês com essas coisinha. — Narcisa respondeu, estendendo a mão na direção dela. — Vamos, entregue.

Mal humorada, Chloé colocou o aparelho na mão dela.

— E o seu? — Narcisa perguntou para Arthur.

— Perdi.

— Melhor assim — ela bateu os dois celulares um contra o outro, e eles esfarelaram, caindo no chão como areia. — Agora deem as mãos.

Os três obedeceram, e Arthur riu ao ver que o círculo que eles haviam formado fazia parecer que iam brincar de ciranda, ou invocar um demônio, como nós filmes. Não sabia porque, mas ambas as opções pareciam engraçadas. Chloé apertou sua mão esquerda com força e ele parou de rir.

Em um segundo, foram transportados magicamente para fora de Alexandria, e a primeira coisa que reparou no novo lugar foi o cheiro da maresia. Já estava anoitecendo e o céu era colorido pelo laranja do crepúsculo. As ondas quebravam no mar, não muito longe, e o vento assoprava com força.

Tinham parado no meio de uma ruazinha, estreita, e logo alguém abraçou Arthur. Era Lívia, com seus cabelos ruivos tocando seu rosto e fazendo cócegas. Não foi um abraço longo, e ela logo o soltou para cumprimentar Chloé e Miguel da mesma forma.

Arthur girou para olhar ao redor, e seus olhos encontraram Diana recostada em um portão de madeira, observando a cena sem querer se aproximar.

Ele se adiantou até ela, sem pensar no que estava fazendo. Encostou-se nela e a beijou em meio a loucura da droga. Ficou surpreso consigo mesmo, e Diana pareceu tão surpresa quanto ele.

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