15. Anjo Guerreiro (p.2)
— Lívia, essa é Narcisa — Diana apresentou, assim que a outra feiticeira fechou a porta.
— Lívia? Jurava que fosse Marina — disse Narcisa, a avaliando dos pés a cabeça.
Lívia a observou, era demasiadamente bonita, e tinha cara de ser o tipo de pessoa que já sabia disso.
— Pegaram Arthur e a irmã — Diana intrometeu-se.
— Arthur consegue ser muito inconveniente — Narcisa comentou, e Lívia ficou imaginando de onde os dois se conheciam. — Pegaram — ela repetiu. — Sujeito indeterminado. Quem pegou?
— Os líderes dos Anjos e Airan — Diana respondeu, trocando o peso de um pé para o outro, desinquieta. — Ele está na casa de Morselk.
— E de que ajuda você precisa?
— Tem um garoto chamado Miguel que jura conseguir tirar Arthur e Chloé da casa dele — disse Diana, sem mencionar que o garoto em questão era filho de Morselk. — Mas ele disse que precisa de um feiticeiro pra tirar os dois de Alexandria.
— Claro, porque os canais de água são fáceis de ser rastreados — completou Narcisa. — Faz sentido.
Diana assentiu.
— Você pode ajudar? Eu não pediria se não fosse importante, e você é a única pessoa em quem eu confiaria pra isso.
Narcisa pareceu tocada com a declaração.
— O quanto isso vai ser perigoso para mim? — ela perguntou hesitante, mas claramente tentada a ajudar.
— Talvez muito, talvez nada. Eu não sei.
— Tudo bem, eu aceito. — confirmou Narcisa.
Diana ergueu as sobrancelhas.
— Assim tão fácil? Pensei que iria querer algo em troca.
Mas a outra apenas abanou a cabeça.
— Pelos velhos tempos. E pela nossa amizade, que tal?
— Acho justo — Diana disse assentindo. — Sinto sua falta.
— Qual é o plano?
— Vai ter que perguntar a Miguel. Só o que eu posso te dizer, e o endereço para onde levá-los.
***
Arthur abriu os olhos parcialmente.
Estava em um lugar escuro, sendo encarado por duas pessoas. Se sentia mole e dolorido. Suas mãos haviam sido desamarradas. Ele moveu o braço um milímetro e sentiu uma forte dor, como uma fisgada no lado direito do corpo.
As pessoas estavam discutindo alguma coisa, mas Arthur não conseguia se concentrar no que era. Uma delas o tocou, e Arthur voltou a sentir dor quando tentou empurrá-la.
— Calma, Arthur — ela falou. Era Chloé, como não tinha visto que era ela? Provavelmente porque estava escuro.
Ele tentou ver quem era a outra pessoa, e dessa vez reconheceu Miguel.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou com os dentes cerrados, tanto pela raiva como pela dor.
— Vim tirar vocês daqui. Obrigada, de nada — respondeu ele, que Arthur notou que estava segurando Excalibur e sua mochila.
— A gente precisa sair antes que Morselk volte — apressou Chloé.
Arthur tentou se mexer, mas a dor foi insuportável.
— Não consigo — ele grunhiu, com o rosto torcido em uma careta.
— Eu posso tentar curar alguma coisa — Chloé falou afobada. — Onde mais está doendo?
— Está tudo doendo — ele respondeu. — Mas você não pode fazer nada, há horas não come nada, não dá, vai ficar fraca demais, é melhor vocês irem.
— Não seja idiota — foi Miguel quem falou. — Sem drama, levanta daí.
— Miguel! — Chloé o censurou e então voltou a olhar para o irmão. — Não tem nenhum analgésico na mochila?
Arthur riu, e voltou a sentir dor.
— Qualquer remédio que eu tomar vai levar pelo menos meia hora pra fazer efeito... — disse ele, mas se lembrou de algo de repente. — espera, não... tem uma coisa.
— Não tá pensando em se anestesiar, não é? — perguntou Miguel com o cenho franzido. — Cara, você é muito grande pra ser carregado.
— Não é isso — Arthur disse. — Chloé, na minha mochila tem morfina líquida.
Ela a pegou da mão de Miguel e começou a revirar o conteúdo logo após abrir o zíper.
— É um vidro de tampa branca, a etiqueta tem o nome — ele disse. — Precisa encontrar uma seringa e uma agulha também.
— Você já fez isso antes? — Miguel perguntou, continuava parado no mesmo lugar, segurando a bainha de Excalibur firmemente.
— Claro que não!
Arthur olhou para Chloé. Ela estava nervosa. Tinha sentado no chão, e arrumava a agulha na seringa com as mãos trêmulas. A lateral do rosto estava suja de sangue e seus pulsos ainda estavam marcados onde a corda estivera.
— Você está bem? — ele quis saber.
— Claro que sim! — ela respondeu, e Arthur se perguntou se ela sabia que também estava machucada. — Quanto disso você precisa? — perguntou, balançando o vidro marrom de tampa branca, cujo rótulo tinha sido feito por ele mesmo, e dizia “Morfina líquida” em sua letra garranchada.
— O suficiente pra eu conseguir me mexer, mas de preferência, sem me deixar demente.
— Não conheço essa unidade de medida — disse Miguel, mas se calou quando Chloé olhou feio.
— Pronto? — Chloé perguntou. Já havia terminado de preparar tudo, e exibia a ponta afiada da agulha.
Arthur assentiu, e logo ela espetou-a em seu braço, a ponta fina se afundando em sua pele, causando uma dor tão fraca que era quase imperceptível em meio a todas as dores que ele estava sentindo.
Assim que a droga entrou em sua corrente sanguínea, uma sensação de torpor se espalhou a partir do ponto em que ela foi aplicada. Só foram preciso segundos até que ela tivesse se espalhado por todas as partes. Arthur fechou os olhos e suspirou, enquanto encostava a cabeça na parede.
Queria ficar alí, sentado no chão de uma masmorra. O que adiantaria tentar sair, não ia dar certo.
— E aí, Arthur? — era a voz de Chloé, mas parecia incrivelmente distante.
Ele abriu os olhos. Estava sendo observado atentamente pelos dois.
— Acha que consegue se mexer? — Miguel perguntou.
Arthur assentiu, mesmo sem querer. Apoiou-se na parede e se levantou. Ainda sentia dor, mas grande parte havia desaparecido. Seus pés ainda estavam presos no chão, limitando seus movimentos.
— Segura isso — disse Miguel empurrando a bainha de Excalibur para ele, mas estava vazia.
Ele estava segurando sua espada, e a movimentou para trás, como se fosse pegar impulso.
— O que você está fazendo?! — disse Arthur apressado, antes que Miguel fizesse besteira.
— Te soltando — ele respondeu.
— Você vai arrancar meus pés!
— Não se você ficar parado...
— Não pode simplesmente usar seu poder pra fazer isso? — Arthur interrompeu. — Seu pai fez isso, não dá pra você desfazer?
Miguel hesitou, parecendo sem saber o que dizer. Então voltou a preparar a espada.
— Não se mexe.
Ele precisou bater algumas vezes contra a pedra, mas por fim, ele conseguiu, e incrivelmente, Arthur não sofreu nenhum arranhão.
Em poucos minutos, estavam fora da cela, se esgueirando pelos corredores, sendo guiados por Miguel, que parecia ter um mapa mental do lugar.
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