14. A Câmara dos Cinco Túneis (p.4)

Diana havia entregado uma mala grande para Lívia, e ela estava tentando colocar o máximo de coisas possíveis dentro dela.

A primeira coisa a guardar foram seu novo chicote e algumas lâminas a mais que Diana havia lhe entregado, exceto a faca que Diana usou para matar Vicente, pois essa estava em uma pequena bainha, presa no cinto de sua calça. O restante da mala foi preenchido por suas roupas e dois pares de sapatos.

Tentava agora, com dificuldade, fechar o zíper. Já estava quase conseguindo quando alguém bateu à porta da frente.

Lívia sempre achou engraçado como o som das batidas era amplificado para ecoar por toda a casa, pensava enquanto andava até a porta, porém Diana a barrou no meio do caminho.

— Não — ela disse-lhe. — Volte para o quarto, não sabemos quem é.

Lívia assentiu e deu meia volta, mas não entrou para o quarto. Ao invés disso, se escondeu atrás da parede do corredor, espiando a sala.

— Onde ela está? — perguntou alguém, e apesar de não poder ver quem era, Lívia reconheceu a voz. Era Miguel.

— Chloé não está aqui — Diana respondeu.

— Eu sei — ele disse. — Estou falando de Marina.

Houve um barulho quando Miguel foi arremessado em direção à parede da sala e bateu de costas. Ele escorregou até o chão, derrubando um grande quadro que estava ali.

Lívia saiu de seu esconderijo, correndo diretamente para o centro do cômodo. Diana trancou a porta usando magia e parou ao lado dela.

Miguel continuava no chão, se apoiando nas mãos enquanto tossia. Provavelmente não havia se machucado tanto, considerando que tinha uma aljava e uma bainha cruzadas nas costas, que devem ter amenizado o impacto.

— Meu pai está com Arthur e Chloé — ele falou, levantando o rosto para elas.

— Está ameaçando matar eles se eu fizer algo com você? — Diana perguntou. Sua mão estava espalmada no ar, apontando na direção de Miguel, em uma constante ameaça de ataque.

— Não! — indignou-se ele. — Eu preciso de ajuda pra tirar eles de lá.

— Está brincando comigo? — Diana perguntou, com o rosto torcido em um careta — Não vou entrar numa armadilha, garoto idiota.

— Não é uma armadilha! — disse ele exasperado, se levantando do chão. — Chloé é minha melhor amiga da vida inteira. Arthur é um imbecil, mas nunca fez nada contra mim. Apesar de vocês todos terem mentido sobre ela. — Miguel olhou para Lívia. — Não quero que vocês morram. E meu pai vai matar quem ele conseguir pegar. Os dois só estão vivos porque ele vai tentar arrancar deles a sua localização.

Diana o olhou dos pés a cabeça, o medindo com os olhos.

— Conte tudo o que aconteceu.

— Quando eu cheguei em casa, meu pai não me falou nada. Só me disse que queria que eu visse uma coisa. Nós descemos até às masmorras e quando eu cheguei lá, vi os dois trancados lá. Meu pai me perguntou como eles se chamavam, e sem saber o que estava acontecendo, eu respondi. Meu pai já conhecia Chloé, mas não Arthur. Depois disso, ele me disse que os dois estavam ajudando Marina Ignis. Então eu entendi tudo. Pra não levantar suspeitas, eu segui o jogo dele, e quando deixamos os dois sozinhos, meu pai me contou o que tinha acontecido. Ele falou que Arthur e Chloé estavam espionando a câmara subterrânea, a que fica debaixo do Delacroix, dentro da Biblioteca. — Ele fixou o olhar em Lívia. — Era por isso que vocês queriam saber. Se soubesse que era pra fazer a idiotice de ir até lá, eu nunca teria dito. Meu pai disse que Airan tinha acabado de contar que Marina tinha sido vista com Arthur quando eles ouviram um barulho e foram atrás pra descobrir o que era. Pegaram os dois enquanto tentavam fugir.

Lívia olhou de lado pra Diana, que ouvia com atenção, olhando com o cenho franzido e os braços cruzados.

— Depois meu pai começou a fazer um bocado de ligações — continuou Miguel. — E eu aproveitei pra sair e vir pra cá. Mas que eu não entendo é o motivo de não terem me contado a verdade.

— Pensamos que você ia me querer morta — justificou Lívia.

Miguel ficou horrorizado.

— Por que eu ia querer isso?

— Por eu ser Marina Ignis? — ela sugeriu.

— Ok, Marina, mas se esse fosse o problema, eu ia querer te matar só por ser híbrida.

Lívia não respondeu, ainda estava um pouco abalada com a situação.

— Eu preciso da sua ajuda — disse Miguel, mas agora ele estava falando com Diana, que já não tinha mais uma postura tão agressiva em relação a ele. — Posso tirar eles de dentro da minha casa, mas um feiticeiro tem que leva-los pra longe de Alexandria. Se eles forem por canais de água, vão ser rastreados.

A feiticeira não disse nada, continuava encarando, hesitante em concordar. E Miguel se irritou com a falta de resposta.

— Que droga! — ele disse. — Meu pai disse que ia deixar eles sem comer até contarem onde está Marina, mas ele não é uma pessoa paciente, não vai ficar esperando. Logo vai começar a torturar os dois até tirar alguma coisa deles, ou até eles morrerem. Então, se não for pedir muito, se decida logo, ou eu vou atrás de outro feiticeiro qualquer, um que eu possa pagar pra tirar eles daqui.

— Não — Diana interrompeu. — Não quero mais ninguém sabendo dessa história. — Ela apertava os lábios com os dedos inconscientemente, enquanto sua outra mão apoiava-se na cintura. Seu olhar estava perdido no nada, pensativo. Depois de respirar fundo, ele pareceu tomar uma decisão. — Sei o que fazer. Lívia, espero que tenha arrumado suas coisas, traga tudo para cá.

Ela assentiu e deu as costas, indo apressada para o quarto.

— Por que você ainda a chama de Lívia? — ela ouviu Miguel perguntar para Diana.

— Por que enquanto ela quiser ser chamada assim, esse é o nome dela.

Ao chegar ao quarto, com alguma dificuldade, conseguiu terminar de fechar a mala, e a arrastou até a sala. Diana já estava lá com suas coisas, e Miguel continuava de pé no mesmo lugar.

Com um movimento de suas mãos, Diana fez com que todas as coisas desaparecessem, sem dizer para onde as tinha mandado.

— Espere aqui — Diana instruiu a Miguel. — Tem uma pessoa que vai vir te ajudar. Se ela não vier, eu venho assim que Lívia estiver em segurança. Espero que você tenha um bom plano.

Miguel assentiu, e Diana segurou Lívia pelo braço. Na sequência, o mundo inteiro desapareceu, e a sensação de vazio que ela sentiu foi a coisa mais estranha que ela já havia experimentado na vida, mas, felizmente, não durou nem um segundo. Quando se deu por conta, já estavam de pé em frente a uma porta de madeira, em um lugar completamente diferente.

Diana apertou um botão e Lívia ouviu um som melódico vindo de dentro do imóvel. Não muito tempo depois, a porta se abriu, e uma moça loira, de olhos azuis muito vívidos, atendeu a porta com um sorriso, mas ele se desfez quando ela olhou para Lívia.

— Diana — ela cumprimentou, torcendo a boca em seguida para olhar para Lívia. — e Marina, eu suponho.

— Cissa — Diana interrompeu. — Eu preciso da sua ajuda.

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