14. A Câmara dos Cinco Túneis (p.3)
Tendo desistido das facas de arremesso, Lívia encontrou um arco e algumas flechas em uma caixa — e estava sendo mais bem sucedida do que com as lâminas.
Não que estivesse acertando o alvo, longe disso, mas estava conseguindo enterrar algumas das flechas na madeira, e isso a fez se sentir orgulhosa de si mesma. No entanto, depois de um tempo, se cansou disso também.
Pegou a longa tira de couro pelo cabo de madeira. Balançou, mas ficou com medo de ser acertada pela ponta de metal. Aquilo devia machucar.
Estava a ponto de abandonar a arma quando Diana entrou apressada pela porta, sem prévio aviso. Ela parou e olhou franzindo o cenho para o objeto em sua mão.
— Um chicote? — ela perguntou. Lívia reparou que ela tinha trocado de roupa e limpado e ferimento na bochecha, que agora era apenas um leve inchaço com uma cor rosada. — Gosta de chicotes?
— Não sei. — Livia deu de ombros. — só achei interessante.
Diana não deu muita atenção ao assunto.
— Veja isso — disse ela colocando o celular em sua mão. — Arthur acabou de me enviar.
Lívia fixou os olhos na tela enquanto Diana saia de perto por um breve período de tempo. Era um vídeo, de uma mesa com cinco pessoas ao redor.
“A garota foi vista” disse um dos homens da mesa. “Na praia, com um dos Guardiões da Fauna.”
A imagem tremeu um pouco.
“Como têm certeza de que era Marina Ignis?” perguntou uma ruiva bonita, e Lívia sentiu o sangue fugir do seu rosto ao perceber que era dela que estavam falando.
“A menina se parecia com Alice, mas era ruiva. E se ela fosse Anjo de Fogo, não estaria na praia, certo? Vocês não são muito fãs de água, não é, Camila?”
“Ainda assim, pode não ser ela.” disse uma mulher mais velha.
“Vai ter que investigar mais a fundo, Airan” disse um homem loiro de costas “e nos dar fatos concretos.”
“Como se chama o Guardião que foi visto com Marina?” perguntou o homem negro que usava barba, enquanto apoiava o cotovelo na mesa. A imagem voltou a tremer suavemente.
“ Segundo minha informação. Raphael Paeon, ou, como ele prefere ser chamado, Arthur Paeon.”
O vídeo então ficou escuro, e terminou depois de alguns segundos.
— Precisamos sair daqui — disse Diana, de volta ao seu lado. — Não consigo falar com Arthur nem Chloé, mas eles devem estar juntos.
— Não podemos deixar os dois!
— Eu não sei onde eles estão, Lívia.
— Ainda assim! A gente precisa ir atrás deles.
Diana a segurou pelos ombros.
— Nós não vamos fazer nada. Eu vou dar um jeito sozinha, assim que você estiver em um lugar seguro.
— Não!
— Sem discussão — Diana falou em tom autoritário de quem não ia mudar de ideia. — Arrume suas coisas, só o que for mais importante. E guarde isso também. — Ela estendeu algo enrolado em sua mão, que ela jurava que a feiticeira não estava segurando há um segundo atrás. Era um chicote, Lívia agora sabia, mas inteiramente prateado. — Se quer brincar com chicotes, ao menos use uma arma decente.
***
Arthur acordou deitado no chão. Estava escuro, porém seus olhos logo se acostumaram e ele notou que estava na cela de uma masmorra. Chloé estava bem próxima, sentada com as costas apoiadas na parede de pedra.
Fazia frio, e Arthur logo pensou que deveria ter alguma roupa na sua mochila. Mas ela não estava mais alí. Nem Excalibur.
— Qual a necessidade de amarrar nossas mãos? — Chloé perguntou assim que notou que ele estava acordado. Ela levantou os pulsos, exibindo a corda que os prendia. — Não é como se tivesse algum jeito de fugir daqui, mesmo sem as mãos presas.
Ele olhou para as próprias mãos, e estavam atadas como as dela. Ficando roxas e geladas pela má circulação do sangue.
— Onde estamos?
— Imagino que na casa de Morselk. Pelo menos é o que eu lembro antes de Airan nos apagar. Aliás, Will Herondale? Will? Sério?
Arthur deu de ombros, e, com alguma dificuldade, ele se sentou.
— Foi a primeira coisa que veio na minha cabeça. Era isso ou nos entregar de bandeja.
— Will.
— Sim — Arthur respondeu, com um bom humor inadequado para as circunstâncias em que estavam.
— Eu estou com medo.
— Não se preocupe — ele tranquilizou. — Vai ficar tudo bem.
— Não vai não — disse Chloé. — Vão matar a gente. Quanto tempo acha que vai levar pra eles perceberem quem você realmente é? Você só atrasou as coisas.
— Melhor pra Lívia — disse ele. — As duas podem fugir.
— Mas como elas vão saber?
— Eu enviei o vídeo.
— Mas seu celular quebrou.
— A tela quebrou. Mas prefiro acreditar que foi enviado mesmo assim.
— Seu otimismo é admirável — disse ela —, mas seria melhor se você, ao invés de otimismo, tivesse um super poder pra tirar a gente daqui.
— Onde está seu celular? — ele perguntou com esperança.
— Tiraram de mim, é claro. Eles não se tornaram líderes sendo burros.
— Seu sogro é adorável.
— Cala a boca.
Arthur riu, e estava prestes a falar mais alguma coisa, porém Chloé falou antes.
— Tem alguém vindo.
Ele apurou os ouvidos e constatou que ela tinha razão. Eram claramente sons de passos, e parecia mais que uma pessoa.
Em instantes, Morselk estava lá, os olhando friamente por trás das grades que os prendiam, e ao seu lado direito, como uma sobra, seu filho Miguel.
Ele estava descomposto, e olhava de Chloé para Arthur incrédulo.
— Você os conhece, não é? — perguntou Morselk ao filho, sem tirar os olhos de seus prisioneiros.
Miguel hesitou antes de responder. Arthur desejava muito saber o que se passava em sua cabeça nesse momento.
— Sim.
— Diga os nomes — ordenou o pai.
— Jade Chloé — respondeu ele, ainda hesitante. — e Arthur Paeon.
O sorriso que Morselk deu em seguida foi diabólico, digno de um anjo caído do céu. Fazia seus olhos enrugarem nos cantos enquanto ele encarava Arthur.
— Peguei você.
— Pai? — Miguel chamou. — O que está acontecendo? O que eles estão fazendo aqui?
— Esses dois estão ajudando Marina Ignis — explicou Morselk sem olha-lo. — Agora o que eu quero saber, é em que buraco essa vira-lata está escondida.
Miguel os olhou, e de alguma forma, Arthur notou que ele estava magoado. Tinha certeza que ele já sabia que Lívia era Marina, e devia estar com raiva por terem o enganado.
— Como sabe que eles estão envolvidos com Marina? — perguntou Miguel.
— Seu amigo Raphael foi visto com ela na praia — disse Morselk. — E sua amiga Chloé estava junto com ele, quando o encontramos espionando.
— Meu nome é Arthur.— ele corrigiu impaciente.
— Não são meus amigos. Não mais — respondeu Miguel e se abaixou, colocando uma das mãos sobre a grade para se apoiar. — Acho que sua namoradinha te ferrou, Romeu.
Arthur sentiu seu rosto esquentar com a raiva.
— Você alguma vez encontrou com Marina Ignis, Miguel? — perguntou Morselk, olhando torto para o filho.
— Não — ele respondeu, para a surpresa de Arthur, que pensou que Miguel entregaria toda a verdade. — Nunca a vi, mas se tivesse visto, teria cortado a garganta dessa vadia.
Morselk pareceu satisfeito.
— Excelente — ele voltou a encarar Arthur de um jeito ameaçador. — Onde ela está?
Ele permaneceu em silêncio, Chloé ao seu lado também não ousava fazer qualquer ruído. Não iriam entregar Lívia.
— Vão ficar calados? — Morselk perguntou com deboche. — Pois bem, fiquem de boca fechada então. Sem comida nem água até resolverem me contar onde ela está. Ou até morrerem. Vocês decidem.
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