Capítulo Dez
Victor Decker:
Caleb me mostrou as estocadas, paradas e defesas com a espada, e fiquei surpreso ao perceber que meus poderes me concediam uma resistência acima da média. A cada golpe, minha surpresa crescia, e eu memorizava os movimentos que ele executava.
Ele tentava me atingir com força nas costelas usando a parte chata da lâmina. Eu desviava, e quando percebi, minha lâmina estava a centímetros de sua barriga, enquanto a dele mal se afastava de meu ouvido.
Sorrimos um para o outro, e ele havia se mostrado um instrutor superior ao Glitch, que me ensinara a usar a magia, mas nunca uma espada.
Caleb se afastou lentamente, e sua espada se desfez, enquanto a minha voltava à forma de anel.
— Você está se saindo muito bem — Caleb elogiou, sorrindo. — Ainda conseguiu incorporar sua magia à espada em alguns momentos.
Eu me sentia incrivelmente bem; parecia que a espada não era mais uma desconhecida em minhas mãos.
— Vamos tentar novamente — Caleb sugeriu. — Agora, vou mostrar como desarmar o oponente, girando a lâmina do inimigo com a parte chata de nossa própria espada, forçando-o a soltar sua arma.
Ele avançou. Impedi-o de atingir o cabo da minha espada e rebati seus ataques. Avancei, dando uma estocada. Ele conseguiu desviar, mas notei uma mudança em seu equilíbrio. Seus olhos estavam mais atentos, e ele começou a pressionar com mais força. A espada começou a pesar em minha mão, e a magia impregnava a lâmina.
Minha espada atingiu a base da dele, e eu a girei, concentrando todo o meu peso em um golpe descendente. Sua espada retiniu ao bater na parede e ficou cravada nela. A ponta da minha lâmina estava a apenas dois centímetros de seu peito.
Sorri para ele, enquanto ele estava atordoado demais para falar.
— Isso foi incrível — exclamei, animado. — Me senti livre, como se a espada e eu fossemos um só.
— Vejo que sua magia já afetou muito seu corpo — Caleb disse, sorrindo enquanto eu me virava para encará-lo. — Não é possível que alguém melhore tanto em tão pouco tempo.
— Isso feriu seu orgulho? — Perguntei com ceticismo.
— Você está ficando convencido demais. Foi sorte de principiante. — Caleb respondeu, avaliando-me com interesse. — Duvido que consiga repetir isso.
Ele se recompôs, sua espada voltando a suas mãos, e percebi que estava danificada na ponta.
No momento em que nossas espadas se tocaram novamente, ele tentou atingir o cabo da minha, mas eu virei e contra-ataquei, e só percebi quando a lâmina quebrou e deslizou pelo chão.
Depois de uma pausa, ele olhou para a lâmina danificada, e eu me senti estranho com a adrenalina diminuindo em meu corpo.
— Vou precisar encontrar uma maneira de consertar essa espada — Caleb disse. — Acho que posso tentar criar uma nova com sombras.
— Sinto muito — falei, e ele balançou a cabeça.
— Não precisa se desculpar. Você mostrou que sou um bom professor e que você tem habilidades incríveis. — Caleb respondeu, e sua espada desapareceu. — Agora, que tal uma patrulha?
Ele desfez o glamour, e imaginei que agora as pessoas poderiam subir para o último andar do prédio.
— Seria ótimo — respondi. — Mas como você sabe onde as criaturas vão atacar?
— Fiz alguns contatos que vão ficar de olho e me informar — Caleb explicou, mas dessa vez, uma sensação maior de desconfiança cresceu em mim.
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Quando a noite caiu, decidimos ir para o local onde Caleb achava que seria bom iniciar uma patrulha. No momento, estávamos observando a entrada do trod, ou seja, o prédio que ficava em frente. Caleb andava pelo local, espiando os movimentos do lado de fora. Era um clube a céu aberto, muito bem iluminado, com homens e mulheres jovens, igualmente bem-vestidos, lotando o lugar. Taças de vinho brilhavam em suas mãos como bolhas límpidas. Alguém havia alugado o espaço para uma festa particular, e garçons atravessavam a multidão com bandejas de aperitivos.
— Eu adoraria entrar naquele lugar e destruir tudo, avisando para eles irem embora ou serão mortos. — Caleb resmungou. — Quem em sã consciência daria uma festa com o que está acontecendo nos últimos dias?
— Os humanos são assim, alguns completamente ignorantes — Falei calmamente e me aproximei dele.
Estávamos cobertos por glamour para ficarmos invisíveis a qualquer um que não tivesse a Visão para ver além da magia ou fosse um feérico ou parte deles.
— Os humanos são tolos — Caleb retrucou, socando o ar com raiva. — A ignorância é o grande mal dos humanos.
— Sinto falta de ter essa ignorância às vezes — Falei e ele me olhou com uma sobrancelha arqueada quase se fundindo com o cabelo. — É a verdade. Sinto falta de tudo. De não acreditar na capacidade de ver os feéricos ou qualquer coisa relacionada à magia, de brincar com meu irmão Zack e levá-lo ao parque, de conversar com meus pais e com meu melhor amigo. — Fiz uma pausa e acabei soltando uma risada. — Por mais incrível que pareça, até sinto falta das brigas com meu irmão Brian, mesmo que nossas discussões fossem constantes.
— E agora quer falar sobre seus pensamentos? — Caleb perguntou, e soquei seu ombro em resposta.
— Bem, sim, eu queria. — Continuei. — Acha que seu pai teria parado de me perseguir? Mesmo que eu ficasse na casa de Lea, eu estaria confinado de qualquer maneira. Além disso, eu queria salvar o Puck. Ele era... importante para mim.
— Então você queria ser o herói. — Caleb emendou. — Isso é muito revelador. Mas e quanto a Goodfellow? O que ele é para você agora? Victor, pelo que vi antes dele partir e a Rainha de Ferro nos levar para o reino dela, Goodfellow estava muito preocupado com você.
Olhei para ele, intrigado com essas palavras. Mais uma vez, as palavras de Ambres invadiram minha mente.
Mas tudo isso foi apagado quando um coro de gritos surgiu da multidão, e olhamos para ver a criatura ali. Sua pelagem negra parecia uma sombra em cascata, seus olhos tinham um brilho felino, parcialmente sinistro. A criatura emergiu da entrada do trod, e Caleb segurou minha mão, me puxando para as sombras.
Saímos das sombras com a criatura atingindo uma feérica, e eu pude ver a magia escapando de seu corpo. Os convidados da festa continuaram fugindo do pátio pelos portões que levavam ao estacionamento. Nenhum deles nos via, apesar de seus instintos funcionarem, fazendo com que evitassem passar por nós.
Caleb avançou, e eu o segui com a espada em mãos. A criatura se virou na nossa direção, abandonando a feérica que desabou, mas ainda estava viva.
A cauda da criatura atingiu Caleb, que a segurou.
— Não tão rápido — Caleb disse e segurou a espada firme, pronto para o golpe. Pude ver a aura dele sendo sugada pela criatura.
Avancei com a espada em direção à criatura, cortando sua cauda. Caleb tropeçou para trás, e a criatura se virou para mim, rosnando.
Levantei a espada, e o glamour começou a rodopiar ao meu redor, mudando de cor para o tom da Corte de Verão.
A criatura se lançou com um rugido, pulando na minha direção como um borrão escuro no ar. Meu corpo se moveu rapidamente, o glamour estalando ao meu redor, e acertei a espada na fera. Seu corpo foi cortado na lateral e ela voou para trás.
Seus olhos felinos me fitaram, e eu me preparei para outro ataque, mas então a criatura se virou e fugiu.
Virei-me para Caleb, que ainda estava lutando contra a cauda, girando a espada até que ela finalmente parou de se mexer.
— Você está bem? — Perguntei.
— Por que fez isso? Eu quase a tinha capturado. — Caleb falou, parecendo pálido.
— Apenas pelo toque, ela já estava sugando sua magia. Não podia arriscar. — Respondi, olhando para a mestiça que parecia distante. Consegui ver que ela ainda estava viva, pois seu glamour estava enfraquecido.
— É melhor irmos embora — Caleb disse, colocando a mão em meu ombro. — Os humanos cuidarão dela.
De repente, o local se iluminou como se fosse dia. Caleb pegou minha mão, e entramos nas sombras.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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