Capítulo Vinte e Um (Final)

Victor Decker:

Encontrei-me em uma densa floresta, acomodado sobre um antigo tronco de árvore. Diante de mim, emergiu uma figura enigmática, vestida com um manto preto que parecia absorver a luz circundante.

— Quem é você? — perguntei, minha voz carregada de curiosidade, enquanto a figura permanecia de costas para mim. Um murmúrio quase inaudível pairou no ar como um segredo sussurrado pelo vento.

— O que estás dizendo? Mal consigo ouvir!

Lutei para me erguer e me aproximar da figura, mas uma força invisível me manteve imóvel, enquanto sua voz aumentava em intensidade.

— Ele reivindicou seu poder — proferiu a figura ainda de costas para mim, suas palavras ressoando como uma profecia enigmática.

— Ele mudará os destinos dos mundos, as sombras ecoarão por sua vontade, o anjo das sombras ressurgiu por completo.

Desesperado por respostas, implorei:

— Quem é você? Quem é esse anjo das sombras?

A figura lentamente retirou o manto, revelando asas negras imponentes que se estenderam com uma majestade aterradora. Com um poderoso bater de asas, ele se elevou nos céus e desapareceu diante dos meus olhos. Enquanto ele se esvaía no horizonte, tudo ao meu redor começou a desmoronar, e eu me vi precipitando na escuridão abissal.

**********

Abri meus olhos e percebo, com uma sensação de sufocamento, que estou deitado em um local escuro e úmido. Dois vultos se aproximam, e lentamente, consigo distinguir suas características. Reconheço Puck pelo seu cabelo ruivo desgrenhado e o outro é um garoto de cabelos brancos, cujos olhos parecem brilhar na escuridão.

— Onde diabos estamos? — minha voz sai em um sussurro ofegante. — E quem é você? — direciono a última pergunta ao garoto de cabelos brancos.

O garoto responde com calma, mas sua voz carrega um ar de mistério:

— Estamos nas catacumbas — ele diz. — Meu nome é Caleb.

Uma onda de alívio me percorre ao saber que Caleb está vivo. Puck se manifesta com urgência:

— Ainda bem que você está bem!

Ambos me ajudam a levantar, e só então percebo um enorme corte na minha camiseta. Eu me apoio em Caleb, sentindo a necessidade de sua presença sólida.

— Temos que sair do castelo, está um caos lá em cima — Caleb fala, preocupação em seus olhos. — Vamos, rápido.

Por um breve momento, me distraio com a visão da coroa de Ambres e da adaga próximas a mim, mas decidi deixá-las para trás. Com a ajuda de Puck e Caleb, levanto-me com esforço.

— Vamos, rápido! — Puck insiste, enquanto ambos nos encaminhamos para uma parede escura. — Segure-se firme, vamos te tirar daqui!

— Estou indo! — Caleb assegura, e os dois me apertam entre eles. Sinto o cheiro da terra e da grama impregnado em suas peles frias. Fecho os olhos com força, uma tontura momentânea me dominando.

Caleb estende a mão em direção às sombras da parede, e os três de nós adentramos a escuridão que se abre diante de nós.

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Quando emergimos das sombras, nos encontramos diante de um majestoso portal, iluminado com detalhes intricados. Eu pude notar várias figuras se reunindo ao nosso redor enquanto me afastava dos meninos num movimento brusco, prestes a cair. Foi então que Puck me segurou pelo braço e me puxou com força, seu sorriso tranquilizador me encarando.

— Você está bem?! — Puck perguntou, preocupação estampada em seu rosto. Me afastei dele por um momento, observando o corte em minha camiseta, antes de confirmar com a cabeça.

— Precisamos seguir em frente — Grimalkin surgiu ao meu lado, sua voz fria e misteriosa. Ele atravessou o portal, seguido pelos cavaleiros de ferro e outras fadas. Megan e Ash foram os últimos a passar, deixando apenas Puck, Caleb e eu do lado de cá.

Puck tentou segurar minha mão e me puxar em direção ao portal, mas me afastei dele, olhando preocupada para Caleb, que hesitava.

— Você não vem? — perguntei, perplexa.

— Não! — Caleb respondeu, começando a se afastar. — Vou distrair as fadas sombras para que vocês possam passar!

Rapidamente, fui até ele e segurei sua mão, impedindo-o de se afastar.

— Venha, por favor — implorei, e ele me encarou em silêncio. — Este pode ser o seu mundo, mas seu povo te tratou como um verme.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ele apertou minha mão.

— Para onde vou se for com você? — Caleb perguntou, com um olhar perdido.

— Você pode vir comigo, para o mundo mortal — eu disse, e ele me olhou por alguns segundos antes de começarmos a caminhar em direção ao portal.

— Vamos! — Caleb concordou, e percebi que Puck nos aguardava à frente do portal.

— Pode atravessar, estamos logo atrás de você — falei, e antes de virar-se para entrar no portal, Caleb lançou um último olhar para as fadas sombras que se aproximavam.

Caleb e eu nos aproximamos do portal, mas ouvimos o som das fadas sombras se reagrupando e nos viramos para vê-las se aproximando, lideradas por Conrad e Lunna, todos eles desgrenhados e ensanguentados.

Caleb me puxou com força para o portal, e eu coloquei minha mão ali antes de atravessar.

— Não permitam que eles nos alcancem quando atravessarmos! — gritei, antes de mergulhar no portal, sentindo um ogro se lançar sobre nós e uma explosão ensurdecedora ecoar em meus ouvidos enquanto o portal nos envolvia.

***************

Emergi do portal, meus olhos varrendo a paisagem enquanto eu testemunhava a árvore morta que antes se erguia, desintegrar-se em partículas de pó, dissolvendo-se perante meus olhos. Um arrepio de adrenalina percorreu meu corpo enquanto o portal se fechava atrás de mim, e então, como se toda a energia tivesse sido sugada, meu corpo cedeu à exaustão.

Meus olhos se fecharam involuntariamente, e eu desmaiei. No entanto, em meio à escuridão que se aproximava, senti uma mão firme, pertencente a Caleb, me segurando, preocupação evidente em sua voz enquanto ele chamava meu nome com urgência. As vozes de nossos companheiros, ansiosos e apreensivos, ecoaram ao fundo, formando um coro de preocupação que se misturava com meus sonhos emergentes.

Então, sem resistência, me deixei vagar para dentro dos meus sonhos, onde a realidade e a imaginação se entrelaçavam em uma dança misteriosa, enquanto o mundo ao meu redor desaparecia.

**************

Quando finalmente despertei, encontrei-me enredado nas cobertas do quarto que Meghan tão generosamente havia disponibilizado. Um sussurro misterioso ecoou das sombras, dando origem a Caleb, que emergiu delas com uma elegância envolta em calças negras, ainda desprovido de uma camisa. Com cautela, desviei o olhar para o lado oposto, evitando seus abdominais definidos.

Ele virou a cabeça, sua voz se elevando enquanto se sentava na beira da cama.

— Você finalmente acordou — murmurou.

Percebendo a inevitável pergunta que surgiria, arrisquei:

— Por quanto tempo dormi? — minha voz traiçoeira entregando minha ansiedade sobre onde estava.

Caleb suspirou, refletindo sobre o tempo em um lugar onde o próprio tempo parecia uma noção instável.

— Não posso dizer ao certo — respondeu. — Aqui, o tempo é uma entidade volúvel. Até Meghan mencionou que o reino das sombras marca as horas, mas não é confiável. Goderfellow partiu quando nos aproximamos; eu só consegui entrar por ser um mestiço, um feérico das sombras.

Senti um lampejo de surpresa ao saber que Puck havia desaparecido.

— Então, Puck partiu — murmurei, minha voz uma sombra do que costumava ser.

Caleb moveu-se para a beira da cama e retirou uma mochila ao lado, estendendo-a para mim. Meus dedos ansiavam pela familiaridade da minha bolsa, e eu a abracei ansiosamente. Permanecemos em silêncio por um momento, nossos olhares se encontrando.

— Acredito que seja hora de deixarmos este lugar e voltarmos para minha casa — sugeri, minha determinação reacendendo. — O rei das sombras se foi de uma vez por todas, e estou livre do risco de ser sequestrado novamente.

Caleb observou-me atentamente, e percebi uma aura sombria ao seu redor, um sinal de seu feérico sombrio.

— A decisão é sua — disse ele. — Só precisamos pedir ajuda a Meghan.

No exato momento em que começamos a considerar nossa partida, uma batida na porta interrompeu nossos pensamentos. Meghan espiou e, após obter permissão, entrou no quarto.

— Vejo que finalmente acordou! — declarou Meghan com um sorriso. — Estou aqui para pedir desculpas por tê-lo usado como isca para encontrar o portal do reino das sombras.

— Está tudo bem — respondi, aceitando suas desculpas. — Agora, será que poderia nos ajudar a sair daqui? Acredito que já tive o suficiente do Nevernever.

— É claro que vou ajudar — afirmou Meghan. — Estou feliz que tudo tenha terminado bem.

Apenas assenti com a cabeça, aliviado por finalmente vislumbrar o retorno ao mundo que conhecia.

***********

Após muitas horas de conversa, Meghan compartilhou uma revelação intrigante: a existência de um portal que poderia me transportar para o mundo Humano. Ela propôs que os guardas de ferro nos escoltassem até lá, garantindo nossa segurança. Inicialmente hesitei, desejando apenas obter as informações necessárias antes de me despedir de todos. Com determinação, comecei a trilhar o caminho que Meghan delineou, e rapidamente me vi imerso na exuberante floresta de Nevernever. Enquanto caminhava, meus olhos captaram a presença de alguns pássaros, fazendo-me questionar se aquele não era Puck, mas escolhi ignorar, consciente de sua indiferença por mim.

Caleb liderava o caminho, mas meus olhos se fixaram em uma porta que surgia à nossa frente. Sem hesitar, avancei e a abri abruptamente, revelando um local que me era familiar. Lea, com um sorriso que parecia enigmático e venenoso, saudou-me calorosamente.

— Olá, querido — Lea saudou, seu sorriso irradiando malícia. — Vejo que o portal e seu nome o trouxeram até mim!

Suspirei e a encarei, consciente de que sua ajuda viria com um preço, enquanto a porta se fechava atrás de Caleb.

— Qual é o favor que você deseja? — Perguntei com curiosidade, mantendo um olhar cauteloso.

Lea, com um ar de misteriosa satisfação, respondeu:

— Bem, ouvi falar de uma série de ataques misteriosos ocorrendo em uma cidade na Inglaterra. Pessoas estão sendo atacadas por criaturas incomuns. Quero que vá até lá e me traga uma dessas criaturas!

— Só isso? — Indaguei, surpreso, enquanto ponderava sobre o pedido.

Lea sorriu, revelando que havia mais em jogo.

— Não, querido. Há algo mais esperando por você lá. — Ela falou enigmaticamente. — Algo perigoso e desafiador.

— E por que haveria algo me aguardando lá? — Questionei, intrigado.

Lea explicou, com uma pitada de mistério:

— Um papel chegou até minhas mãos por meio de um conhecido. Ele mencionava que você encontraria algo relacionado ao "Anjo das Sombras" e algo relacionado ao dom de sua família.

Permaneci em silêncio, ciente de que Lea havia me encurralado em sua teia de intrigas.

— Ótimo, vocês partirão em breve! — Lea declarou, girando com graça em seu deslumbrante vestido.

— Sim, partiremos em breve! — Respondi, seguindo-a, com Caleb logo atrás de mim.

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  Fim, da parte um do anjo das sombras!

  Nós veremos no segundo livro!

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