Capítulo Um

Victor Decker:

— Zack, por favor, pare de colocar essa areia na boca! — Implorei, observando com desespero meu irmãozinho, de cinco anos, levar pela segunda vez um punhado de areia à boca.

Zack franziu a testa, mas, finalmente, obedeceu ao meu pedido e soltou a areia, voltando a brincar no parquinho sem tentar comê-la.

Ser o irmão mais velho de uma criança de cinco anos não é tarefa simples, especialmente quando sou eu quem recebe a culpa por todas as travessuras dele.

Ah, desculpe, esqueci de me apresentar. Meu nome é Victor Decker, o segundo filho de Alice e Damian Decker. Tenho um irmão mais velho que já está na faculdade e é o orgulho dos nossos pais, logo após o meu irmãozinho Zack.

E depois, bem, tem eu. Todos me relegam a segundo plano e esperam que eu cuide de tudo em casa, enquanto meus pais parecem acreditar que não mereço a mesma atenção que meus irmãos.

Suspiro de frustração com essa situação e pego o livro que trouxe de casa. Começo a lê-lo enquanto coloco meus fones de ouvido e deixo a música suave me envolver.

A brisa leve do parquinho balançava suavemente os cabelos e as folhas das árvores ao meu redor enquanto eu mergulhava nas páginas do meu livro. A música nos meus fones de ouvido criava um mundo particular, isolando-me temporariamente dos desafios do meu papel como irmão mais velho.

O sol do fim de tarde banhava o local em tons dourados, criando sombras alongadas que dançavam pelo chão de areia. As crianças corriam, riam e brincavam, enquanto os pais observavam atentamente, alguns tirando fotos orgulhosas de seus filhos. Era um cenário perfeito de harmonia familiar, algo que eu muitas vezes sentia que faltava na minha própria vida.

Naquele momento, as preocupações com as responsabilidades que recaíam sobre mim desvaneceram um pouco. O mundo literário e a música me proporcionavam uma pausa bem-vinda da realidade que, muitas vezes, era desafiadora demais para um adolescente. Eu ansiava por momentos como esse, onde podia escapar para um lugar onde as expectativas não eram tão esmagadoras.

Enquanto me perdia nas palavras do livro, percebi Zack se aproximando de mim, com um olhar curioso. Ele parecia ter se cansado da caixa de areia e agora tinha interesse na minha leitura. Olhou para o livro com seus olhos inocentes e perguntou:

— O que você está lendo, Victor? — Meu irmão perguntou.

Tirei os fones de ouvido e sorri para ele.

— É um livro sobre aventuras incríveis, Zack. Quer que eu conte um pouco da história para você? — Falei com um sorriso.

Zack assentiu com entusiasmo e se sentou ao meu lado na grama. Enquanto eu lia em voz alta, senti uma pequena conexão com meu irmão mais novo, uma ligação que às vezes se perdia nas dificuldades do dia a dia. Pode ser que, com o tempo, ele entendesse que eu estava ali para ele também, não apenas para as tarefas de casa, e que, no fundo, éramos uma família que se apoiava.

Em segundos, contei uma parte da história, mas meu irmãozinho, com sua curta atenção infantil, olhou para o livro por alguns segundos antes de desistir e voltar correndo para a caixa de areia.

— Zack, nada de colocar essa areia na boca — gritei atrás dele, com um tom de preocupação na voz.

Ele simplesmente balançou a cabeça, mostrando que havia entendido, e fez um gesto de positivo com a mão antes de se lançar novamente na sua brincadeira na caixa de areia.

Assisti a ele com um sorriso misturado com um suspiro de alívio. Mesmo que nossas interações fossem breves e muitas vezes frustrantes, havia algo reconfortante em saber que eu estava ali para protegê-lo, mesmo quando meus pais pareciam me relegar a segundo plano. E, de alguma forma, essa breve pausa na leitura e a pequena conversa com Zack me lembraram que a família era importante, apesar de todos os desafios que enfrentávamos.

Voltei à minha leitura, agora com um sentimento de satisfação misturado com a esperança de que, com o tempo, as dinâmicas familiares pudessem se ajustar e que eu pudesse encontrar meu lugar, não apenas como irmão mais velho, mas como alguém valorizado e apreciado em minha própria casa.

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Minha mente estava completamente absorvida pela história do garoto que se aventurava em um mundo mágico, tentando descobrir onde poderia ser ele mesmo, longe da monotonia de sua vida cotidiana. À medida que eu lia,minha imaginação parecia ter me transportado para aquele mesmo mundo, estava encantado e maravilhado com as palavras que fluíam.

Enquanto narrava, pude perceber que o enredo o cativava, e a cada virada de página, ele se tornava mais envolvido na trama.

Seria tão bom viver algo desse tipo, menos a parte de se colocar em perigo é claro.

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Quando finalizei a leitura de um cativante capítulo do meu livro, ergui os olhos em direção ao meu irmão, apenas para encontrá-lo em meio a uma sonora gargalhada com um garoto ruivo, enquanto a poucos metros deles, um homem elegantemente vestido em um terno impecável estava completamente enlameado.

Decidi me levantar e me aproximar, pois aquele garoto ruivo claramente não inspirava confiança alguma.

Zack foi o primeiro a me notar e não perdeu tempo em iniciar a conversa:

— Vi, você viu o que ele fez com aquele homem? — Zack me perguntou, com um tom de preocupação genuína.

O garoto ruivo balançou a cabeça negativamente, sua expressão é uma mistura de surpresa e dissimulação.

— Não adianta contar, ele não conseguiu me ver — o garoto disse, com uma pitada de mistério em seu olhar.

Isso me intrigou ainda mais.

— Em primeiro lugar, eu consigo te ver — declarei, fazendo-o arregalar os olhos momentaneamente antes de recuperar sua calma habitual. — E, pelo que sei, você foi o responsável por sujar aquele homem. Só não entendo como.

O garoto sorriu misteriosamente e se levantou da caixa de areia.

— Magia — respondeu, com um ar de quem estava compartilhando um segredo profundo.

— Magia não existe... — comecei a argumentar, mas fui interrompido quando meu celular começou a vibrar e notei o número do meu amigo Mark piscando na tela. Não tinha muita vontade de atender, mas a situação me proporcionou uma desculpa perfeita para escapar da conversa com aquele jovem intrigante.

Desbloqueei a tela e atendi a ligação.

— Fala, Mark — disse.

— Você pode vir ao restaurante hoje, a Fiona sofreu um acidente — Mark relatou, sua voz carregada de preocupação. — Eu sei que hoje é o seu dia de folga, mas por favor, estamos completamente lotados!

Mesmo relutando em interromper meu tempo livre, olhei para o meu irmão e percebi que essa seria a maneira ideal de evitar um confronto prolongado com o garoto misterioso.

— Estou indo — respondi. — Só vou deixar o Zack em casa.

— Eu não quero ir! — Zack protestou, já demonstrando sinais de uma birra iminente.

Tive que usar uma tática persuasiva.

— Eu compro um doce para você depois, tudo bem? — prometi, desligando o celular e colocando-o no bolso.

Zack aceitou a oferta como uma criança que não podia resistir a um agrado, e começamos a nos afastar, com ele acenando para o garoto antes de nos darmos conta de que ele tinha desaparecido misteriosamente.

— Vi, ele sumiu! — Zack exclamou, perplexo.

Mesmo relutante em olhar para trás, virei-me para verificar e, de fato, o garoto ruivo havia desaparecido, deixando-nos perplexos e intrigados com o que havia acontecido naquela estranha tarde.

— Ele realmente sumiu — Concordei e voltei a olhar para frente tentando entender o que aconteceu.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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