Capítulo Três

Victor Decker:

À medida que os dias se arrastavam, aquele sinistro pressentimento de estar constantemente sob vigilância começou a tomar conta de minha mente, tornando-se uma presença constante em meus pensamentos. Cada vez mais, essa sensação inquietante sussurrava em meu subconsciente, alertando-me de que algum evento iminente estava à espreita, aguardando pacientemente para desvendar-se diante de mim. As sombras pareciam alongar-se a cada anoitecer, enquanto os ventos noturnos carregavam suspiros misteriosos que faziam arrepiar minha espinha.

Eu, contudo, me via impotente diante desse presságio inquietante, incapaz de articular ou mesmo definir claramente a natureza do perigo que se aproximava. A inquietação crescente embrulhava meu estômago e enchia meus sonhos com visões turvas e enigmáticas. Cada vez que meus amigos ou familiares tentavam tranquilizar-me, eu apenas balançava a cabeça, incapaz de exprimir meus temores profundos.

Em uma noite sombria e estrelada, enquanto eu caminhava pelas ruas vazias e silenciosas, as palavras fugiram de meus lábios trêmulos: "Algo está à espreita, algo que não posso compreender. Estou sendo observado, e o destino tece suas teias invisíveis ao meu redor. A incerteza é meu único companheiro, e apenas o tempo revelará o que está por vir." Cada palavra que eu proferia parecia ecoar nas paredes frias e desoladas da cidade, ecoando minha crescente apreensão.

*********************

Encontrei-me no topo de uma colina, completamente perplexo quanto à minha chegada lá. Vestia uma imaculada roupa branca que parecia pesar toneladas em meus ombros. Perdi-me na contemplação do céu acima de mim, cuja cor estava longe de ser a tradicional tonalidade noturna; era uma escuridão desolada, vazia de vida e significado, uma existência sombria por si só.

— Isso está completamente errado — murmurei para mim mesmo, minha voz ecoando solitária na vastidão desolada.

Virei-me lentamente e comecei a descer a colina, com uma densa floresta à minha frente. À medida que me aproximava do terreno plano, percebi uma figura sinistra se escondendo nas sombras da floresta, observando-me com olhos inescrutáveis.

— Quem é você? Por que está me observando? — gritei, minha voz ecoando pelos confins da floresta. A figura se virou abruptamente e desapareceu entre as árvores, instigando meu instinto a persegui-la.

Adentrei a floresta, aventurando-me mais profundamente até atingir o seu coração, onde parei subitamente. Uma sensação de terror me invadiu, relembrando aquele momento aterrorizante em minha infância quando me perdi da minha família aos sete anos, paralisado pelo medo.

No entanto, esta situação era ainda mais angustiante, pois sentia olhares fixos vindos de todos os ângulos, vozes sussurrantes que pareciam emanar de lugar nenhum em particular.

— Quem está aí? Mostre-se! — perguntei, meu corpo tremendo incontrolavelmente. Gradualmente, as misteriosas figuras começaram a emergir das sombras, várias delas, cada uma oculta sob um manto negro que ocultava seus rostos.

— Quem é você? — perguntei novamente, os pelos dos meus braços se arrepiando. De repente, as figuras abaixaram seus capuzes simultaneamente, revelando rostos distorcidos que refletiam minha própria imagem. Suas bocas começaram a se mover em perfeita sincronia.

— O anjo das sombras irá lutar! — disseram as figuras à direita.

— Ele lutará por todos ao seu redor! — continuaram as figuras à esquerda.

— O anjo será o caminho da salvação! — finalizaram as figuras do meio.

Completamente confuso e aterrorizado, o tremor em meu corpo intensificou-se. Uma das figuras deu um passo em minha direção, portando uma espada em uma de suas mãos. Incapaz de escapar, observei impotente enquanto erguia a espada em direção ao meu coração. Em um golpe fatal, a lâmina perfurou meu peito.

******************

Acordei na minha cama, completamente ensopado de suor, com uma dor opressiva no peito que parecia esmagar meu ânimo. Com a palma trêmula, varri o rosto, sentindo o calor úmido das lágrimas deslizando pela minha pele.

Naquela manhã, tudo o que desejava era aconchegar-me nas cobertas e esquecer o mundo após aquela noite de pesadelos, mas, como se tivesse feito um pacto com o destino, lembrei-me da promessa feita a Mark, meu melhor amigo, de irmos acampar com seu primo e outros amigos. Por que diabos prometi isso ao irritante do Scott?

Assim, encontrei-me diante de minha casa, esperando ansiosamente a chegada de Mark. Os minutos arrastavam-se lentamente, como se o tempo estivesse zombando de mim. Finalmente, o som do motor do carro de Mark invadiu meus ouvidos e o veículo parou elegantemente no meio-fio da calçada. Avistei Blue no banco do passageiro e, ao abrir a porta traseira, entrei.

— E aí, pessoal! — Cumprimentei, estendendo as mãos para dar um toque em cada um.

Blue, vestindo uma camiseta com a estampa "Liberdade de Expressão" e calças jeans azuis, lançou um olhar preocupado na minha direção.

— Você parece um caco, cara — Blue observou, sua expressão evidenciando a preocupação.

Mark me olhou através do espelho retrovisor, preocupação pintada em seu rosto.

— É verdade, o que aconteceu? — Mark perguntou, sua voz carregada de preocupação genuína.

— Tive uma noite terrível, cheia de pesadelos — respondi, hesitando em compartilhar os detalhes mais sombrios que assombraram meu sono.

— Você deveria parar de assistir filmes de terror até altas horas da noite — Blue aconselhou, lançando-me um olhar de advertência.

Optei por não dar mais detalhes, apenas me recostei no banco e comecei a observar a paisagem do lado de fora. As pessoas na rua pareciam normais à primeira vista, mas, piscando os olhos, por vezes, eu juraria ver traços de rostos delicados, orelhas pontiagudas e cabelos deslumbrantes. Piscava novamente, e tudo voltava ao normal.

Estou enlouquecendo, com certeza.

Após quarenta minutos de viagem, finalmente chegamos ao local do acampamento, próximo à misteriosa Floresta Negra. Por mais estranho que parecesse, nunca me preocupei em questionar o motivo desse nome.

O mistério pairava no ar, assim como minha inquietação.

**********

Pelo que pude perceber, chegamos por último ao local do acampamento. Scott, um garoto que era incrivelmente parecido com Mark, estava em meio a uma animada conversa com um grupo diversificado de meninos e meninas. Entre eles, havia alguns loiros, outros morenos, e até mesmo quatro ruivos. Se eu me aproximasse um pouco mais, poderia jurar que um daqueles ruivos era uma cópia perfeita daquele garoto que só de olhar para ele já me irritava profundamente. Sentindo meu olhar penetrante, ele se virou na minha direção e lançou um sorriso desafiador.

— Vi, pare de encarar as pessoas— repreendeu-me Mark com uma cotovelada brincalhona. — Principalmente aquele garoto que está sorrindo. Ele parece ser meio maluco.

Eu sabia disso, mas não estava disposto a admitir.

— Eu não estou encarando ele! — respondi, revirando os olhos com desdém. — E por que 'principalmente' ele?

Mark deu de ombros com um sorriso malicioso.

— Porque parece que você é fácil de conquistar — provocou. — E que se apaixona à primeira vista!

Deixei a provocação de Mark sem resposta e virei as costas, afastando-me deles.

Depois de montarmos as barracas, todos começaram a compartilhar seus sonhos e planos para o futuro após a escola. Alguns aspiravam a se tornar atletas de destaque, enquanto outros sonhavam em seguir carreiras na medicina, na dança e até mesmo como agentes de viagens. Eu era o único ali que ainda não tinha a menor ideia do que queria ser no futuro.

Enquanto todos ao meu redor compartilhavam suas ambições e objetivos, eu me encontrava em um dilema existencial. As vozes animadas ecoavam ao meu redor, cada sonho e aspiração enchendo o ar com energia e entusiasmo. Eu, no entanto, permanecia em silêncio, sentindo-me como um peixe fora d'água em meio àquele mar de ambições.

Havia tantas vozes e sonhos: John planejava se tornar um famoso jogador de futebol, Sarah almejava a carreira de médica para salvar vidas, Emily sonhava em dançar nos palcos mais renomados do mundo, e até mesmo Mike tinha seu coração posto na indústria de viagens, ansioso por explorar cada canto do planeta.

Eu olhava fixamente para as chamas da fogueira, perdido em meus próprios pensamentos. O crepitar das madeiras queimando parecia ecoar os questionamentos em minha mente. O que eu queria ser? Que caminho eu deveria escolher? A pressão estava aumentando à medida que todos compartilhavam suas paixões e objetivos, e eu me sentia como uma peça de quebra-cabeça perdida, incapaz de encontrar meu lugar no mundo.

De repente, Mark colocou a mão no meu ombro e sorriu, quebrando o silêncio em meus pensamentos.

— Vi, não se preocupe tanto com isso agora — ele disse com gentileza. — O futuro é um livro em branco, e você tem todo o tempo do mundo para preenchê-lo com suas próprias histórias e sonhos. Às vezes, leva um tempo para descobrirmos o que realmente queremos.

Suas palavras eram reconfortantes, e eu assenti, agradecido por seu apoio. Enquanto o fogo continuava a crepitar, eu sabia que, mesmo que meu caminho estivesse incerto agora, o futuro estava repleto de possibilidades esperando para serem exploradas. Eu só precisava dar um passo de cada vez e, eventualmente, encontrar o meu próprio lugar neste mundo cheio de sonhos e ambições.

********************

Quando a noite começou a cair, decidimos acender uma fogueira no acampamento, o crepitar das chamas criando uma atmosfera acolhedora e reconfortante. Sentados ao redor do fogo, assamos marshmallows que derretiam lentamente em nosso paladar, preenchendo o ar com um aroma doce e tostado. Foi nesse momento que finalmente conheci o nome de uma das garotas que conversava com Scott: Teresa.

Enquanto o calor da fogueira aquecia nossos rostos, descobri que tinha uma afinidade natural com Teresa. Nossas conversas fluíam com facilidade, e eu estava genuinamente gostando de construir uma nova amizade. No entanto, um comentário indesejado se infiltrou em nossos momentos de descontração. Alguém sussurrou que todos estavam sendo excessivamente amigáveis comigo para descobrir mais sobre o meu irmão, Brian. Ele era uma espécie de lenda, alguém que se destacava em tudo o que fazia, e todos queriam conhecê-lo e serem considerados seus amigos.

Essa observação desagradável me fez questionar a genuinidade das amizades que estava formando. Será que essas pessoas estavam realmente interessadas em mim como pessoa, ou apenas queriam se aproximar de mim por causa da relação com Brian? Essa dúvida corroeu meus pensamentos enquanto eu lutava para entender por que isso me afetava tão profundamente. Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos antes que pudessem criar raízes ainda mais profundas em minha mente. Infelizmente, esses pensamentos persistiram.

Com um suspiro, decidi me afastar do grupo e caminhar sozinho pela mata da floresta, segurando uma lanterna para guiar meu caminho. Enquanto avançava entre as árvores, uma pergunta me atormentava: Será que até mesmo Mark, um amigo de longa data, estava apenas fingindo ser meu amigo para se aproximar de Brian?

Meu passo vacilou quando ouvi um galho se quebrar a apenas alguns metros de onde eu estava. Meus pensamentos se aceleraram enquanto a escuridão da floresta parecia fechar-se ao meu redor. Uma sensação de inquietação tomou conta de mim, como se algo sinistro estivesse prestes a acontecer.

Hoje é o dia em que Victor Decker morre e ninguém vai perceber que ele sumiu e morreu! pensei com um calafrio percorrendo minha espinha.

Com o coração disparado, levantei-me e apontei a lanterna na direção do barulho, revelando cabelos ruivos e olhos verdes. No entanto, foi o sorriso que surgiu em seu rosto que me fez reconhecê-lo.

— Você pode tirar essa luz do meu rosto? — ele pediu, cobrindo os olhos devido à intensidade da lanterna. — Isso seria muito gentil.

Eu abaixei lentamente a lanterna, mas mantive minha distância, pois ele ainda era um estranho para mim, e a desconfiança permanecia.

— Você veio até aqui para me atacar, porque estou sozinho? — perguntei, tentando manter minha voz firme.

Ele me olhou e começou a sorrir, uma expressão que só aumentou meu desconforto, até que finalmente respondeu:

— Não, eu vim atrás de você porque notei que saiu sozinho e fiquei preocupado que se perdesse. — O ruivo suspirou, e seu sorriso se transformou em tristeza.

Decidi me aproximar e me sentei novamente em um tronco de árvore, e ele se juntou a mim, sentando-se ao meu lado.

— Como você conheceu Scott? — perguntei curiosamente, observando seu sorriso travesso retornar.

— Foi em um acampamento de verão no ano passado — ele respondeu casualmente, o que aumentou minha desconfiança. — Estou aqui hoje porque me mudei para a cidade, e ele me convidou para conhecer seus amigos. E como você o conhece?

Uma parte de mim hesitou em contar, porque suas palavras pareciam suspeitas. No entanto, outra parte sentiu a necessidade de compartilhar.

— Sou amigo do primo dele — declarei, fornecendo apenas uma meia-verdade, pois não estava certo se ainda considerava Mark como um amigo.

Um silêncio se instalou entre nós, até que ele finalmente quebrou o gelo.

— Esqueci de perguntar o seu nome — ele admitiu, interrompendo o silêncio.

— Victor Decker — respondi, olhando para ele. — E o seu?

— Robbie Goderfellow — ele revelou, estendendo a mão, e apertamos as mãos um do outro.

Continuamos nossa conversa, e, à medida que a noite avançava, fomos para nossos sacos de dormir. Naquela noite, uma mudança surpreendente ocorreu: eu não tive nenhum pesadelo. A única coisa que ocupava minha mente era o sorriso de Robbie, e nenhum pensamento sombrio conseguiu encontrar espaço na minha mente naquela noite.

___________________________________

Gostaram?

Até a próxima 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top