Capítulo Sete
Victor Decker:
Abri os olhos e encontrei-me em um quarto completamente revestido de branco. Estava deitado em uma cama desconfortável, coberto até a cintura, vestindo uma camiseta e calças de tecido fino que mal me aqueciam.
Com cuidado, comecei a me erguer e observei o ambiente com mais atenção. O branco dominava o espaço, tornando-o quase estéril.
De repente, a porta do quarto se abriu, revelando uma mulher de estatura pequena, cabelos castanhos e olhos amarelados, vestida com uma roupa típica de enfermeira.
— Que bom que acordou! — ela disse, aproximando-se.
Confuso e desorientado.
— Onde estou? Quem é você? — perguntei.
A mulher respondeu com naturalidade: —Você está na minha casa. Eu me chamo Merlina. E, se quiser saber, estamos em Seattle — Sua afirmação me deixou perplexo, pois não tinha a menor ideia de como teria chegado a outra cidade.
Minha preocupação imediata era com meu amigo. —Onde está o meu amigo?— indaguei, tentando ver atrás da porta para verificar se Robbie estava por ali.
Merlina revirou os olhos.
—Seu amigo está no cômodo ao lado, dormindo. Só agora consegui fazê-lo dormir. Ele ficou ao seu lado o tempo todo durante esses três dias — Ela disse.
As palavras dela atingiram-me como um soco. Eu tinha estado inconsciente por três dias inteiros. Merlina se aproximou mais e segurava um copo que borbulhava misteriosamente.
— O que é isso?— perguntei, movido pela curiosidade.
— Isso vai aliviar sua dor — respondeu ela, com seriedade, estendendo o copo em minha direção enquanto eu me ajeitava na cama.
Aceitei o copo das mãos dela e levei-o aos lábios. Com um único gole, esvaziei-o completamente.
— Tem gosto de maracujá — comentei, começando a me recostar na cama, sentindo a exaustão tomando conta de mim. — Isso não vai apenas aliviar a dor, vai me fazer dormir, não é?
Merlina sorriu, apreciando minha perspicácia.
— Você é esperto — ela disse. — Agora, pode descansar.
Minhas pálpebras pesaram instantaneamente, e em um piscar de olhos, mergulhei no sono profundo mais uma vez. Naquele estado de sonho profundo, minha mente parecia navegar por um oceano de memórias e imaginações. As luzes e sombras da consciência se misturavam enquanto eu vagava por um mundo que era tanto familiar quanto estranho.
Recordações de aventuras passadas e amigos queridos se entrelaçavam com os eventos dos últimos dias. Minha energia gasta e os esforços mágicos exaustivos começaram a se dissipar, substituídos pela sensação de ser acariciado por uma brisa suave.
Nesse cenário onírico, vislumbrei Robbie ao meu lado, deitado em um sofá próximo, seu rosto sereno e aliviado, como se o fardo que ele carregava durante os três dias de minha inconsciência tivesse finalmente se dissipado. Era reconfortante saber que ele estava ali, guardando vigilância sobre mim.
Merlina, a misteriosa enfermeira que havia me acolhido, continuava a cuidar de nós com uma graça tranquila. Sua presença era como um farol em meio à névoa da incerteza, iluminando o caminho para nossa recuperação.
Enquanto meu corpo se entregava ao descanso profundo e reparador, eu podia sentir a promessa de um novo dia se aproximando. A dor que me havia assolado começava a se desvanecer, e a sensação de cura gradualmente se instaurava.
No limiar entre a realidade e os sonhos, eu me permiti afundar mais profundamente naquela noite tranquila, sabendo que, quando finalmente despertasse, enfrentaria um mundo repleto de mistérios e desafios, mas também de amizade e apoio inabalável.
**********************
Quando meus olhos se abriram novamente, pude perceber Robbie sentado em uma cadeira próxima à minha cama. Ele se aproximou, puxando a cadeira um pouco mais perto.
— Você se sente melhor? — perguntou Robbie, observando-me atentamente, um sorriso triste se formando em seu rosto.
— Sim, Melina me fez desmaiar rapidamente depois de me dar um remédio— respondi, sentando-me na cama. — Você acredita que ela disse que usei muita magia? Magia, que ideia absurda!
Robbie estudou-me minuciosamente, seus olhos buscando algo que eu não conseguia discernir. Estendi minhas mãos para ele, e ele as segurou com firmeza, olhando-me intensamente nos olhos, uma pergunta não expressa pairando no ar.
— Estou bem — afirmei, deixando escapar um sorriso cansado. — Agora, temos assuntos mais urgentes a tratar.
—Quais seriam esses assuntos? — indagou Robbie. —E quanto a essa história de magia?
—Eu não tenho magia — declarei com convicção. — E o foco agora é descobrir quem estava tentando me sequestrar.
—O quê? — exclamou Robbie, arregalando os olhos e soltando minhas mãos. —Você está louco? Por que faria isso?
—Tenho que fazer isso para descobrir o porquê, e acredito que, lá no fundo, você também queira saber. Se você não tivesse feito aquela explosão, estaria morto— falei com seriedade.
Robbie apenas me encarou, sem proferir uma palavra a mais.
— Onde está o desenho do Zack?— perguntei, mudando de assunto. —E onde estão as minhas roupas?
Ele retirou o desenho do bolso da calça e me entregou.
— Agora sei o que isso significa— falei, desdobrando a folha.
—E o que significa? — indagou Robbie.
— É como se fosse um sinal — expliquei. — Alguns dias atrás, tive um sonho com uma figura semelhante a essa. Meu irmão desenhou isso como um sinal, tenho certeza disso.
— Um sinal de quê?— questionou Robbie, com curiosidade.
— Isso é o que precisamos descobrir — respondi, dando de ombros. — Só sei que é importante.
Nesse momento, a porta se abriu e Merlina entrou. Ambos nós viramos para encará-la.
— Você precisa de um oráculo, criança— disse ela, caminhando em nossa direção e se sentando na beira da cama.
— Merlina, não é o momento certo agora— protestou Robbie, com uma expressão de irritação. — Ele acabou de acordar.
— Claro que é o momento certo, Goderfellow — retorquiu Merlina, e o nome me soou familiar. — Ele quer saber quem tentou sequestrá-lo, é o momento perfeito.
Uma discussão breve se seguiu entre eles, enquanto eu tentava lembrar onde já ouvira esse nome antes. Após um momento, minha memória fez uma conexão. Eu li sobre uma fada chamada Robin Goderfellow, ou como às vezes era chamada, Puck.
Olhei para eles com uma expressão intrigada e comecei a perceber seus verdadeiros traços. Seus rostos se tornaram mais delicados e suas orelhas, pontiagudas.
— Parem com essa discussão — gritei para ambos, que imediatamente se calaram e me olharam. —Onde posso encontrar esse oráculo?
Merlina sorriu para mim, enquanto Puck parecia contrariado.
— Fica em New Orleans — respondeu Merlina.
— Pensei que o oráculo de lá tivesse morrido alguns meses atrás — comentou Puck, me deixando curioso sobre como ele sabia disso.
— Ela morreu, mas outra tomou o seu lugar, e, por sorte de vocês, sei como chegar até ela — explicou Merlina.
Puck revirou os olhos em resposta ao que ela disse.
— Então, vamos lá. Só preciso comer antes — falei. —Será uma jornada longa.
— Não se preocupe, tenho um portal que os levará até New Orleans.— Merlina disse, enquanto ria.
Puck lançou um olhar assassino na direção de Merlina, que o encarava com um sorriso.
— Goderfellow, você não percebe que ele viu nossos verdadeiros rostos, pela expressão em seus olhos — explicou Merlina.
Os dois me olharam, e eu assenti, confirmando. Comecei a me levantar.
— Vamos — declarei, e Merlina se levantou e saiu pela porta. Puck e eu a seguimos e caminhamos lado a lado pelo corredor.
—Você tem certeza sobre isso? — perguntou Puck, e eu assenti. Ficamos em silêncio, lado a lado.
Merlina nos levou até uma porta verde e se virou para nós dois. Ela estendeu a mão e uma folha de papel apareceu magicamente nela.
— Aqui está a localização do oráculo — disse Merlina, entregando-me o pedaço de papel amarelo com o nome de uma rua e o número de uma casa.
— Obrigado — agradeci, enquanto ela abria a porta.
Comecei a caminhar em direção à porta e, ao olhar por cima do ombro, vi Merlina cochichando algo no ouvido de Puck. Ele olhou para frente, e nós atravessamos a porta.
*********
À medida que atravessei a cidade, uma sensação de frescor inundou meus sentidos. Levantei os olhos para contemplar os imponentes edifícios que se erguiam ao meu redor, me sentindo como um pequeno grão de areia no meio deles. Foi então que Puck apareceu ao meu lado, como que surgindo do nada.
— Onde é o local? — indagou Puck, estendendo a mão para receber o pedaço de papel que eu segurava. Ele o analisou com uma velocidade surpreendente e começou a caminhar. — Você pode perguntar o que quiser, já sabe que sou um feérico.
Troquei olhares com ele por um instante, ponderando sobre as muitas perguntas que poderia fazer. Por fim, decidi pela primeira vez que me veio à mente.
— Fadas têm almas? — inquiri, curioso.
— Não, somos criaturas nascidas da imaginação. Nós morremos e retornamos à natureza. — Puck respondeu com serenidade.
Minha mente continuou a girar com curiosidade.
— Você já conheceu um oráculo?— perguntei.
— Sim, ela era minha amiga, e morreu para dar uma alma a outro amigo — revelou Puck, e sua resposta me deixou perplexo.
— Mas você disse que fadas não têm almas — comentei, tentando entender a contradição. — Como isso aconteceu?
Puck suspirou levemente, um traço de irritação surgindo em sua expressão.
— Eu disse que não temos almas, não que é impossível tê-las — explicou. — Mas esse é um caminho terrível para obtê-las!
Depois dessa troca de palavras, o silêncio se abateu entre nós enquanto continuávamos nosso caminho em direção à casa do oráculo. O enigma de Puck e seu mundo mágico continuavam a me intrigar, e eu mal podia esperar para descobrir mais segredos ao longo dessa jornada.
*************
Após uma jornada de dez minutos, finalmente chegamos à casa do Oráculo. Era uma habitação pitoresca, de um verde-escuro profundo que se mesclava harmoniosamente com a vegetação circundante. Nos aproximamos com um misto de expectativa e apreensão, e Puck bateu na porta três vezes. Lentamente, a porta se abriu, revelando uma mulher de estatura miúda, com a pele de um verde exuberante e cabelos formados por ramos de flores entrelaçados.
Ela nos fitou com seus grandes olhos negros, uma aura de mistério pairando ao seu redor.
— Quem são vocês dois? — indagou com curiosidade.
Eu tomei a dianteira e me adiantei, bloqueando Puck antes que ele pudesse falar.
— Viemos de muito longe, pois estou necessitando da ajuda do Oráculo — expliquei, sentindo a urgência em minhas palavras. — Por favor, vocês têm que nos ajudar.
A mulher nos estudou atentamente, seus olhos penetrando minha alma. Por fim, ela perguntou, com um sorriso ligeiramente aterrorizante:
— O que está disposto a pagar por essa ajuda?
Minha determinação não vacilou.
— Pagarei o que for necessário! — assegurei com fervor. — Só peço a sua ajuda.
O sorriso sinistro na face dela se alargou, e ela se afastou, abrindo espaço para que entrássemos em sua casa. Era o início de uma jornada que nos levaria a um destino incerto, mas estávamos prontos para enfrentar qualquer desafio que o Oráculo pudesse revelar.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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