16 - Quem tem medo do escuro?

Diante dessa situação desesperadora, senti uma mistura de arrependimento e medo. Arrependimento por não ter ouvido Satoru quando ele me avisou sobre Kurogiri, e medo do que pode acontecer a seguir. A sensação de estar presa, sem saber em quem confiar ou para onde ir, era sufocante. Cada sombra parecia esconder um novo perigo, e a incerteza sobre o futuro pesava sobre mim como uma nuvem escura.

A solidão e o silêncio do quarto só aumentavam minha angústia. Eu sabia que precisava ser forte e encontrar uma maneira de sair dessa situação, mas a cada momento que passava, a esperança parece mais distante. Minha vida estava por um fio, e a única coisa que poderia fazer é tentar manter a calma e pensar em uma maneira de escapar.

Para sair dessa situação desesperadora, eu imaginava que o próximo passo seria tentar encontrar uma maneira de ganhar a confiança de Kurogiri e descobrir mais sobre o passado que ele mencionou. Talvez houvesse alguma informação crucial que possa me ajudar a entender melhor suas motivações e encontrar uma brecha para escapar.

Eu também consideraria procurar sinais ou pistas no ambiente ao meu redor que possam indicar onde estou exatamente. Se eu conseguisse descobrir minha localização, talvez pudesse planejar uma fuga ou encontrar uma maneira de enviar uma mensagem para Satoru ou outra pessoa de confiança.

Além disso, manter a calma e a clareza mental era essencial. Eu precisava pensar estrategicamente, talvez até fingir cooperar com Kurogiri para ganhar tempo e reunir mais informações. Cada detalhe poderia ser importante para traçar um plano de fuga eficaz.

Por fim, eu tentaria lembrar de qualquer treinamento ou habilidades que pudessem ser úteis nessa situação. Qualquer coisa que pudesse me dar uma vantagem, por menor que seja, poderia fazer a diferença entre escapar e continuar presa.

Exausta e emocionalmente desgastada, eu finalmente adormeci. No meu sonho, fui transportada de volta para uma época da escola, quando ainda era muito pequena. Lembrei-me de um menino de cabelos castanhos que sempre segurava minha mão. Ele era meu amigo mais próximo, sempre ao meu lado nos momentos difíceis.

Enquanto o sonho continuava, a cena mudou abruptamente. O menino de cabelos castanhos apareceu diante de mim, mas desta vez ele estava ensanguentado, seus olhos vermelhos fixos nos meus. A visão era aterrorizante, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha

Acordei de repente, ofegante e assustada. O quarto escuro ao meu redor me lembrou imediatamente da minha situação atual. Ainda estava presa ali, sem respostas e com um medo crescente do que poderia acontecer a seguir. A imagem do menino ensanguentado continuava a assombrar meus pensamentos, aumentando minha sensação de urgência para encontrar uma saída.

Diante dessa visão perturbadora, sinto uma mistura de medo e confusão. O sonho trouxe à tona memórias de uma época mais inocente, mas a imagem do menino ensanguentado com olhos vermelhos transformou essas lembranças em algo assustador. A sensação de que algo terrível aconteceu no passado, algo que eu não consigo lembrar completamente, me deixa ainda mais ansiosa.

Kurogiri emergiu das sombras novamente, mas desta vez sua presença parecia diferente. Ele trazia mais comida e, surpreendentemente, parecia mais gentil. Em suas mãos, ele carregava roupas limpas e uma sacola com toalhas e produtos de higiene pessoal.

— Aqui, Aki. — Ele disse, sua voz mais suave do que antes. — Trouxe algumas coisas para você se cuidar.

Eu aceitei os itens, ainda temendo a fúria que ele havia demonstrado antes. Ele me conduziu até o banheiro, onde me mostrou as roupas e as toalhas limpas, além dos produtos de higiene.

— Você deve estar se sentindo melhor depois de um banho. — Ele comentou, quase como se estivesse tentando ser atencioso.

A mudança em seu comportamento era desconcertante. Eu não sabia se podia confiar nessa nova atitude, mas também não queria provocar sua ira novamente. Aceitei a oferta e entrei no banheiro, fechando a porta atrás de mim.

Enquanto a água quente corria sobre minha pele, tentei processar tudo o que estava acontecendo. A gentileza repentina de Kurogiri era estranha e me deixava ainda mais desconfiada. O que poderia ter causado essa mudança tão drástica em seu comportamento?

Saí do banho e vesti as roupas limpas que ele havia trazido. Sentia-me um pouco mais humana, mas a incerteza e o medo ainda estavam presentes. Precisava descobrir o que estava por trás dessa mudança e, mais importante, como poderia usar isso a meu favor para encontrar uma saída.

Depois do banho, vesti a roupa que Kurogiri havia trazido. Era um simples vestido branco, com uma fita azul amarrada na cintura. O vestido tinha mangas curtas e caía logo acima dos joelhos. A simplicidade da roupa contrastava com a complexidade dos meus sentimentos naquele momento.

Saí do banheiro e encontrei Kurogiri esperando do lado de fora. Ele me olhou com uma expressão que eu não conseguia decifrar completamente.

— Sente-se melhor? — Ele perguntou, sua voz ainda suave.

— Sim, obrigada. — Respondi, tentando esconder meu desconforto.

Ele assentiu e me conduziu de volta ao quarto. A gentileza repentina dele ainda me deixava desconfiada, precisava aproveitar qualquer oportunidade para encontrar uma maneira de escapar.

— Kurogiri, por que está sendo tão gentil agora? — Perguntei, tentando sondar suas intenções.

Ele parou por um momento, como se estivesse considerando sua resposta.

— Porque quero que você confie em mim, Akira. — Ele disse finalmente. — Quero que veja que não sou seu inimigo.

Eu não sabia se podia acreditar nele, mas precisava jogar o jogo dele por enquanto. Cada momento de gentileza poderia ser uma chance de descobrir mais e, eventualmente, encontrar uma saída desse pesadelo.

Kurogiri trouxe uma bandeja com várias comidas que eu costumava gostar: oniguiri, tempura, sushi e uma tigela de ramen fumegante. O aroma era delicioso, mas ao olhar para a comida, senti uma pontada de tristeza.

— Nem sei mais do que gosto. — Eu disse, minha voz carregada de amargura. — Você roubou minhas memórias.

A expressão de Kurogiri mudou instantaneamente. Seus olhos vermelhos brilharam com uma fúria contida.

— Você insiste nisso! — Ele rosnou, sua voz tremendo de raiva.

Eu recuei, assustada com a intensidade de sua reação. Ele respirou fundo, tentando se acalmar, mas a raiva ainda era evidente em seu rosto.

— Eu tento me manter tranquilo, Akira, mas você me irrita. — Ele disse, sua voz baixa e ameaçadora. — Tudo que aconteceu foi culpa sua.

As palavras dele me atingiram como um golpe. A culpa e a confusão se misturavam dentro de mim, tornando difícil pensar com clareza. Eu precisava entender o que ele queria dizer, mas ao mesmo tempo, cada interação com ele parecia me levar mais fundo em um labirinto de medo e incerteza.

Diante da fúria de Kurogiri, senti uma mistura de medo e impotência. A intensidade de sua raiva foi assustadora, e cada vez que ele perdia o controle, eu ficava mais consciente do perigo que corria. Foi difícil manter a calma quando sabia que qualquer palavra ou ação minha poderia desencadear uma reação violenta.

Ao mesmo tempo, senti uma profunda tristeza. A pessoa que Kurogiri era antes, a quem ele mencionava com tanta dor, parecia estar perdida para sempre, ou talvez nunca existiu. A raiva dele não era apenas dirigida a mim, mas também ao passado que ele não conseguia deixar para trás. Isso me fez sentir ainda mais isolada e desesperada para encontrar uma solução.

Precisei ser cuidadosa e estratégica. Cada interação com ele foi uma dança delicada entre tentar entender suas motivações e proteger minha própria segurança. A esperança de escapar e recuperar minhas memórias foi o que me manteve firme, mesmo diante de sua fúria.

— Tudo que você diz são mentiras! — Eu gritei, a raiva e o desespero transbordando. — E mesmo assim, você me culpa. Você não diz nada sobre mim e ainda roubou minhas memórias. Estou arrependida de ter pedido sua ajuda naquele momento. Eu devia ter ficado com Satoru!

As palavras mal saíram da minha boca quando vi a expressão de Kurogiri mudar. Sua fúria explodiu de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Ele começou a quebrar tudo no quarto, jogando móveis e objetos contra as paredes.

— Ingrata! — Ele rugiu, seus olhos vermelhos brilhando com uma intensidade assustadora. — Eu fiz tudo por você, e é assim que você me retribui?

Eu me encolhi, tentando me proteger dos destroços que voavam pelo quarto. O medo me paralisou, mas então, uma voz suave e familiar começou a ecoar na minha mente. Era Kageba.

— Você tem que reagir, Akira. — A voz de Kageba sussurrou na minha mente. — Se não fizer algo, você vai morrer.

As palavras de Kageba me deram um choque de realidade. Eu não podia continuar assim, presa e impotente. Precisava encontrar uma maneira de me defender e escapar dessa situação. 

Eu vi Kurogiri começar a se transformar diante dos meus olhos. Seus dedos, braços e pernas se alongaram de maneira grotesca, tornando-se monstruosos. Seus olhos vermelhos brilhavam com uma intensidade assustadora, e unhas longas e afiadas surgiram em suas extremidades. Seus dentes, afiados e podres, contribuíam para a imagem horripilante, e um cheiro fétido e infetado permeava o ar ao seu redor.

A cabeça de Kurogiri, agora semelhante à de um gato, adicionava um toque ainda mais sinistro à sua nova forma. Uma cauda se formou, completando a transformação. Eu tremi de medo ao ver tudo aquilo, meu coração batendo descontroladamente. Instintivamente, cobri o nariz para tentar me proteger do odor nauseante. O pavor tomou conta de mim, e eu mal conseguia respirar enquanto observava aquela cena aterrorizante.

Eu juntei as mãos trêmulas no mudra manipura que Kageba me ensinou e disse as palavras:

— Chi, Kiiro, interia, yakedo, Ririsu.

De repente, senti uma onda de calor intenso ao meu redor. Kageba, que antes era uma velha costurada, começou a se transformar diante dos meus olhos. Seu corpo se iluminou com uma luz dourada, e eu pude ver a energia do fogo e do sol emanando dela. Seus cabelos se incendiaram, transformando-se em chamas vivas que dançavam ao redor de sua cabeça. O quimono que ela usava parecia feito de lava, brilhando com um vermelho incandescente e emitindo um calor quase insuportável.

Kageba ergueu os braços, e eu pude sentir o poder dela crescendo, como se estivesse canalizando a força do próprio sol. O medo que eu sentia por Kurogiri foi momentaneamente substituído por uma sensação de reverência e espanto diante da transformação de Kageba. Ela olhou para mim com olhos que agora brilhavam como brasas, e eu soube que estávamos prestes a enfrentar uma batalha épica.

— Agora sim... Liberdade finalmente.

Enquanto Kageba se transformava, Kurogiri reagiu de maneira violenta. Seus olhos vermelhos brilharam ainda mais intensamente, e ele soltou um rugido que reverberou pelo ambiente. A transformação de Kageba parecia enfurecê-lo, e ele começou a se mover de forma mais agressiva, suas garras afiadas rasgando o chão ao seu redor.

O cheiro fétido que emanava de Kurogiri se intensificou, misturando-se com o calor emanado por Kageba, criando uma atmosfera sufocante. Ele avançou em nossa direção, seus movimentos rápidos e imprevisíveis, como se estivesse tentando atacar antes que Kageba pudesse completar sua transformação.

No entanto, a luz e o calor de Kageba pareciam criar uma barreira invisível, impedindo Kurogiri de se aproximar demais. Ele recuou momentaneamente, seus olhos fixos em Kageba, como se estivesse tentando entender a nova ameaça que ela representava. A batalha estava prestes a começar.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top