04 - Desconfie do que escuta
A minha respiração estava descompassada. Eu acho que tinha esquecido de como se respirava, meus lábios tremiam involuntariamente e antes que pudesse perceber meus olhos ardiam e as lágrimas brotaram escorrendo pelo meu rosto.
Eu estava sonhando?
Minhas unhas alcançaram meu braço e minhas unhas cravaram na minha pele. A dor lancinante ainda não me fazia acreditar que realmente estava acordada. Eu conseguia ouvir as batidas do meu coração, acelerado a tal ponto que parecia que ia sair pela boca.
Eu arfava tentando puxar o ar para dentro dos pulmões. Fechei os olhos apertando as pálpebras firmemente. Eu estava à beira de um colapso. Foi quando senti as mãos no meu rosto, que depois gentilmente foram até as minhas orelhas.
— Respira devagar. — A voz de Gojo parecia distante. — Você tem que se acalmar se não, ela não vai embora. Respira pelo nariz e solta pela boca.
Eu puxei o ar devagar enchendo os pulmões de ar e soltei o ar com dificuldade. Fui repetindo o processo até conseguir recuperar o ritmo da minha respiração. A mão dele pousou sobre a minha cabeça e a outra estava sobre meu ombro.
— Pode abrir os olhos, ela já foi. — A voz dele estava mais acolhedora. Eu abri os olhos ainda com medo e vi ele diante de mim sorrindo.
— Tem certeza?
— Tenho. Agora vou te acompanhar até seu quarto para que descanse. Infelizmente não poderei ficar com você o fim de semana todo, mas deixarei você com excelentes feiticeiros.
Eu segurei o braço e olhei fixamente em seus olhos, eu estava apavorada.
— Por favor... me ajuda... — As lágrimas rolando no meu rosto sem parar. Minha pernas enfraqueceram e meu corpo escorregou até eu cair no chão sentada. Eu então coloquei as mãos e a testa no chão e fiquei ali de cabeça baixa, curvada e ajoelhada. Eu estava implorando. — Eu não sei mais o que é real, por favor, eu não aguento mais.
— Não precisa fazer isso. — Ele se abaixou perto de mim e tocou meus ombros tentando me levantar do chão. — Eu vou te ajudar independente de qualquer coisa. É o meu trabalho.
— Obrigada...
— Não faço porque sou legal. É a minha responsabilidade como feiticeiro. Embora seja cansativo, eu tenho que proteger os mais fracos. Agora levante-se.
Eu acho que em determinado momento eu me entreguei ao medo e ao desespero. Sem saber o que era certo e o que era errado.
— Mesmo assim obrigada. — Eu disse soluçando e puxado o que certamente era o mais parecido com catarro. Vai ver era mesmo.
— Mas que melequeiro é esse gente? — Ele abriu a jaqueta até certo ponto e tirou de um bolso interno um lenço e me entregou. — Enxuga todo esse rosto. E só para constar você fica horrorosa chorando.
— Ninguém fica bonita chorando!
— Agora me de sua mão. — Ele disse com a mão erguida. Eu obedeci e coloquei minha mão sobre a dele com a palma para cima. — Isso aqui vai ser o sinal de que você está acordada.
— Você pode fazer isso? — Eu disse de maneira empolgada ainda sentindo braço doer pelos arranhões anteriores.
— Posso. Isso aqui estará ligado ao seu corpo. Quando você disser as palavras certas ele vai brilhar e te puxar de volta à realidade. — Ele tocou o indicador na palma da minha mão e passou pela minha pele como se fosse um desenho.
— Quais são as palavras?
— Sensei bonitão.
— Que? Seu ridículo! Você não pode estar falando sério!
— Vai lá, fala. — Ele disse com ar debochado.
— Nunca!
— Então vai ficar sem saber se está em sonho ou não.
— Tá! Mas eu não tô afim de dizer que você é bonitão! Troca a palavra.
— Não. — Era uma criança num corpo de adulto. Ainda ia demorar um bom tempo para eu me acostumar.
— Babaca.
— Fala.
Eu respirei fundo me dando por vencida e disse com a maior má vontade possível.
— Sensei Bonitão. — A imagem de um desenho mal feito dele com os dedos para cima em sinal de paz. — Egocêntrico.
— É uma honra pra você ter um desenho meu na sua mão. — Ele disse olhando fixamente em meus olhos e depois tocou meus lábios com o indicador. — Eu volto na segunda até lá, medite, fique tranquila e evite pensar e desejar qualquer coisa. Lembre-se: palavras tem poder, até mesmo em pensamentos.
Ele saiu devagar ajeitando a venda nos olhos. Eu senti uma coisa estranha naquele momento. Algo que a muito tempo eu não sentia. Talvez, era a minha solidão, minha fraqueza, minha carência. Mas eu fiquei muito feliz com a ajuda dele. Me senti menos sozinha naquele mundo caótico. Ele entendia o que eu dizia, não me achava uma louca. Mas Kurogiri também era assim.
A diferença era que Satoru era uma pessoa de verdade, tinha um cheiro bom. Era suave, refrescante e intenso ao mesmo tempo. Um enigma como ele. E isso era o que era mais perigoso.
Confesso que ficar ali sozinha o fim de semana inteiro não foi uma coisa muito boa. Um bando de velhos andando de um lado para o outro em silêncio e sempre tinha algum Feiticeiro perto de mim. Eles vigiavam até a porta do meu quarto.
Eu mal dormi nesses dois dias. Tinha medo de fechar os olhos e ver a velha costurada de novo. De ficar presa no Reikai e nunca mais sair. E por mais que eu odiasse isso eu tive que dizer as palavras que ele deixou como chave para o selo.
Lógico que na primeira vez eu me esqueci e disse na frente de um dos feiticeiros que riu de mim até a barriga doer. Ainda disse: "acostume-se, o Gojo faz essas coisas mesmo". Parando para pensar acho que ele estava me fazendo de boba. Mas isso me ajudou, fiquei mais tranquila. A médica até curou meu braço. Não ficou nenhum um arranhou. Acho que o nome dela era Shoko. Bonita, com cara de tédio e tinha um cheiro sutil de cigarro que ela tentava disfarçar com bala de menta.
Quando a segunda-feira finalmente chegou, eu me levantei cedo. Ainda com receio é claro. Meu uniforme chegou no sábado. Vestir outro uniforme que não fosse o do Hokusei era estranho pra mim. Ainda mais aquele todo preto. Até as meias eram pretas exceto por um detalhe: o capuz era roxo escuro.
Eu segui para fora do quarto e fui guiada por um dos funcionários até a sala de aula. Tudo ali parecia velho, antigo. Como se eu tivesse voltado ao século passado. Eu respirei fundo quando cheguei na porta e abri devagar.
Haviam 3 alunos. Um menino de cabelo preto com cara de entediado, uma menina de cabelos castanhos curtos que falava alto e um garoto de cabelo rosa que falava mais alto ainda.
— Aluna nova! — O menino de cabelo rosa gritou e foi na minha direção. — Oi! Seja bem vinda.
— Aqui... é a sala do terceiro ano?
— Primeiro.
Eu olhei para o funcionário de óculos e terno que me levou até ali. Ele parecia mais ansioso do que eu que estava no meu primeiro dia.
— O-o Gojo achou melhor você rever o primeiro e o segundo ano durante algumas semanas para depois você ir para o terceiro.
— Eu tô voltando dois anos?
— Por favor, a culpa não é minha. — Ele disse se curvando.
— Não fica brava com o Ijichi. O sensei Gojo é meio imprevisível.
Eu estava começando a achar que imprevisível não era bem a palavra certa.
— Sou Yuji Itadori. — O menino de cabelo rosa disse sorridente, o uniforme dele era diferente assim como o meu.
— Eu sou Nobara Kugisaki, por que seu uniforme é diferente?
— O sensei deve ter pedido para personalizar como fez com o Yuji. Eu sou Megumi Fushiguro, é um prazer conhecê-la.
— Sou Akira Hatori. O prazer é todo meu em conhecer vocês.
Era estranho para mim não ser ignorada como sempre sou. Ninguém queria saber se eu era a bela adormecida e nem tampouco perguntou sobre mim e sobre a minha vida. Eles não ligavam para nada disso.
As primeiras aulas eram de fato "normais" por assim. Fiquei me perguntando quando aquele idiota iria aparecer. Fizemos uma pausa para o almoço, eles conversavam bastante. Era bom fazer parte de alguma coisa de novo, ou o mais próximo que eu podia.
— Aí, Hatori! — Era a Kugisaki, ela tinha uma auto estima elevada, era divertida, falante, quase como a Mori antes de virar uma cretina. — Você estava no terceiro ano?
— Isso. Na verdade... — Eu abaixei o olhar e fiquei encarando meu sanduíche de ovo. — Já era para ter terminado.
— Sério?
— É...
— Então, você tem o que? 17 anos? — Yuji me perguntou com uma empolgação de dar inveja.
— Tenho 19.
— O que? — Eles perguntaram em uníssono e tentei não parecer constrangida.
— Você repetiu de ano?
— Engravidou?
— Dá para vocês dois pararem de ser indiscretos? — Fushiguro era o único que podia ser respeitado para falar bem a verdade.
— Tá tudo bem, Fushiguro senpai.
— Isso é estranho. Teoricamente, você é senpai, já que é mais velha.
— É. Tem isso. — Eu dei um sorriso sincero pela primeira vez em muito tempo. — Era bom ter colegas outra vez. — Eu fiquei em coma por mais de um ano.
Um silêncio constrangedor ficou no ar. Eu acho que isso me incomodava tanto quanto incomodava os outros. Eu abri a boca para dizer alguma coisa mas Fushiguro se adiantou.
— Minha irmã também ficou em coma. Maldição desconhecida. Mas diferente de você, ela não teve tanta sorte. Ela acabou morrendo antes mesmo que eu pudesse achar uma solução. E quando a solução veio era tarde demais.
— Eu... — Era estranho falar sobre isso de maneira aberta. Na verdade, era difícil lembrar tudo. Pareciam fragmentos. Depois comecei a ouvir como se alguém citasse as coisas para mim. — Sempre tive sonhos estranhos. Eu ia em vários lugares que nunca tinha visto. Eu às vezes sonhava que caminhava dentro de casa, até me via deitada dormindo. Sempre achei que fosse normal. Aí um dia depois que... — Eu me esforçava para lembrar, mas não aparecia nada com clareza na minha mente. — Enfim. Um dia eu sonhei que estava andando num lugar estranho como os outros, mas não consegui acordar.
— Projeção astral. — Fushiguro disse franzindo o cenho. — É algo bem raro.
— Eu fiquei presa lá. Não achei o caminho de volta. E quando consegui... — Lembrei de Kurogiri naquele momento. Eu não havia conseguido sozinha. — Já havia se passado um ano e cinco meses.
— Cara... — Kugisaki até tentou, mas ela não conseguia dizer mais que isso e fazer uma cara triste.
— Eu sinto muito que tenha passado por isso. Deve ter sido horrível. — Itadori era gentil.
— Está aqui porque está amaldiçoada. — Não era preciso explicar muito para Fushiguro, estava bem óbvio na verdade. Afinal, por qual motivo eu estaria ali?
— Sim. Maldição desconhecida aparentemente.
— Vamos dar um jeito! — Itadori disse confiante.
— É... vamos sim. — Eu queria acreditar nisso. Queria acreditar do fundo do meu coração.
(...)
Naquele dia Gojo não apareceu. Fui com o primeiro ano para o treino de Jujutsu. Meu condicionamento físico não era dos melhores. Era um campo de basebol e nem era dos grandes, mas eu estava arfando na terceira volta.
— Vamos lá, Hatori! Você consegue! — Itadori entretanto parecia que estava só se aquecendo.
E pensar que eu era a número um em esportes há dois anos atrás. Eu acho que já podia morrer, a sensação já era de se estar morrendo mesmo. Na décima volta eu já estava deitada na grama respirando com dificuldade. Meu peito ardia. Pela primeira vez eu odiei esportes.
— Toma Hatori, precisa se hidratar ou sua pele vai ficar péssima. — Kugisaki me entregou uma garrafa de água e eu me sentei na grama ainda tentando respirar direito. — Só não bebe de uma vez para não passar mal.
— Ai... eu perdi o costume. — Eu nem lembrava a última vez que tinha usado uma roupa de ginástica.
— Vai pegar o jeito.
— Como é ser feiticeira? — Perguntei tomando um gole na minha água.
— Ah, a gente se acostuma. Bom mesmo é a grana.
— E como lidam com o medo? Ver coisas estranhas e tal.
— Quando eu vejo uma maldição eu só penso em acabar com elas e livrar as pessoas de coisas ruins. Dou minha vida por isso.
— Isso é muito legal.
— E você? O que fazia antes de tudo isso? — Kugisaki sentou-se ao meu lado.
— Bom, eu era uma adolescente normal como qualquer outra. Eu era bem popular na verdade. Uma adolescente idiota fazendo coisas idiotas. Eu tinha até um namorado!
— Aí sim hein, garota!
— Pena que ele me trocou pela minha melhor amiga, enquanto eu estava em coma.
— Babaca.
— Muito. — Dou um suspiro pesado e me apoiou sobre os braços os inclinando para trás. — Eu gostava dele. Ou pelo menos achava isso. Passei o pior ano da minha vida e ele estava com a minha melhor amiga. Tocando a vida em frente, enquanto eu passava meus dias sozinha, com medo, num lugar estranho e cercado de criaturas.
— Olha, Hatori, eu tenho uma ideia sobre isso. Tem coisas que são livramento, vai ver ele seria só um idiota escroto.
— É.
Mesmo assim eu queria ter visto com meus próprios olhos. Ter vivido de verdade. Uma parte da minha vida foi apagada. Deletada. Para todos durante um ano e meio foi como se eu estivesse morta. E depois de tudo a sensação ainda era a mesma. De se estar morta em vida. — Eu levantei e agradeci a Kusigaki pela água e corri os olhos ao redor do campo.
— Tá procurando alguém? — Kugisaki me perguntou e eu fiquei meio sem saber o que responder. Ainda estava pensando se era estranho perguntar pelo Gojo.
— O grandão vendado?
— O sensei Gojo?
— É... esse mesmo.
— Ele é bem ocupado. Às vezes ele sai para missões, viaja para o exterior. Mas se prepara que os treinos são ainda piores.
— Sério?
— Ele treina a gente individualmente, então, se prepara.
Eu dei um sorrisinho fino. De nervoso obviamente.
A gente dormia na escola. O que era estranho também. Depois de uns dias eles me devolveram meu celular que tinha sido retido de novo, mas às vezes eu sentia que tinha sempre alguém de olho em mim. Não sei se fiquei feliz ou triste com isso. Ainda tinha medo daquela velha aparecer de novo.
Eu olhei para o celular e fiquei pensativa. Eu devia ligar para casa e perguntar como estavam. Falar com a minha mãe, meu pai, meus irmãos. Eu deitei na cama de barriga para cima e fiquei olhando as mensagens.
Nenhuma.
Nem para saber se eu estava viva. Nem da minha família. Vai ver, eu estava mesmo morta para eles. Não sentiam minha falta, eu não significava mais nada para eles. Joguei o celular de lado e fiquei olhando para o teto fixamente.
A noite ia ser longa, provavelmente ia passar a noite em claro. Era melhor fazer uma boquinha. Levantei da cama e segui para fora do quarto. O corredor do alojamento estava bem silencioso. Pelo horário todo mundo já estaria dormindo. Eu caminhei silenciosamente até a saída, mas antes de pensar em sair ouvi alguém me chamar.
— Não pode sair senhorita. — Se normalmente os dormitórios já eram vigiados, no meu caso ainda era pior. Eu ainda era uma prisioneira.
— Eu só quero algo para comer.
— Já está meio tarde. Volte para o seu quarto e peço alguém para levar algo para você.
— Eu sou mesmo uma prisioneira aqui?
— Escuta aqui...
— Deixa, Kusakabe, eu acompanho ela. — Gojo disse de forma despretensiosa.
O tal Kusakabe soltou um suspiro pesado e preguiçoso e coçou a nuca. — Tá. Você quem sabe. Só que eu não quero ficar vigiando essa garota o tempo todo.
Ele virou as costas e seguiu meneando a cabeça. Gojo se aproximou de mim segurando uma lata de refrigerante na mão.
— Quer ir até ao refeitório? Pode pegar umas batatinhas na máquina.
Ele estava diferente. Usando roupas casuais. Camiseta branca, calça de moletom cinza, tudo bem justo. Era um exibido. Ele estava de óculos. Aliás, ele estava sempre de óculos ou de venda. Eu parei de buscar respostas naquele lugar.
— Vamos. Mas eu não tenho um centavo.
— Tá tudo bem. Vamos.
Eu calcei os sapatos e caminhamos pelo lado de fora dos dormitórios até o refeitório. Eu dei uma olhada na máquina, fazia tempo que eu não me dava ao luxo disso. Passei a base de uma dieta especial, evitando coisas gordurosas e cheias de conservantes.
— Pode escolher o que quiser. — Ele disse se aproximando da máquina com o celular na mão. Peguei um saco de batatas e um suco de maçã e fiquei um tempo em silêncio olhando para ele de soslaio. Era estranho estar perto dele, sem saber se estava com medo, com raiva ou angustiada. Acho que nossas últimas conversas não foram muito amistosas.
— Obrigada.
— De nada, mas não tem que agradecer. Eles te devolveram seu celular?
— Sim. Valeu. Não tem medo de eu pedir ajuda e fugir daqui?
— Não é prisioneira, Akira. Pode ir quando quiser.
— Não é o que parece.
— Mas acho que deveria pensar na sua mãe. Ela ficou muito preocupada com você.
Eu fiquei de cabeça baixa. Ouvir isso era doloroso demais para mim. O que eu ia dizer? Que eu fiz a minha mãe ficar dias e noites preocupada? Que eu estava amaldiçoada colocando a vida de pessoas em risco? Não. Que eu matei pessoas.
— Eu só fiz ela sofrer.
— Não fique se martirizando. Recompense o sofrimento dela fazendo o certo. Agora vamos, tenho que te levar para o seu quarto.
— Eu não te vi hoje... — Eu disse já me arrependendo. Ele devia ter o que? Uns cinco anos mais velho? Eu estava com dificuldade para distinguir meus pensamentos. Eu tinha que afastar aqueles sentimentos confusos.
— Viagem a trabalho. Foi mal, eu tinha te prometido que te veria na segunda, né?
— Não tem que se desculpar... Aliás... você é professor, né? Então acho que tenho que te chamar de Sensei.
— Não precisa ser tão formal se não quiser.
— Ah sim. Vou tentar ser formal. Minha mãe me mataria se eu te chamar pelo nome ou coisa do tipo.
— Eu vou continuar te chamando pelo nome, então acostume-se.
— Tá tudo bem, Sensei. Pode me chamar pelo nome.
Ele deu um último gole no refrigerante e amassou a lata sem nem ao menos tocar nela. — Tem tido pesadelos?
— Eu praticamente não dormi.
— Desse jeito vai ficar doente.
— Eu tenho medo, sabe? De ficar presa, de ver aquelas criaturas de novo. É aterrorizante.
— Falando nisso eu tenho uma coisa para você. Eu ia te entregar amanhã, mas já que te vi vou aproveitar. Vem, me segue.
Ele mandava. Era assim. Não era um pedido, era uma ordem. Estava sempre cheio de si e mantendo uma pose que eu me perguntava se era só de fachada. Com o tempo eu descobri que ele não era um dos homens mais queridos dali.
Paramos na entrada dos dormitórios dos professores e num piscar de olhos ele sumiu e voltou logo em seguida com um objeto parecido com uma etiqueta na mão.
— Aqui. Toma. — Ele me entregou o objeto. Era feito de tecido na cor branca com um fundo de madeira e com um cordão vermelho. — É um amuleto. Mantenha sempre com você.
— Obrigada.
— Agora vamos que já está muito tarde. Não vai ser legal para mim eu andar com uma adolescente a essa hora da noite.
Eu parei já na porta dos dormitórios femininos e olhei para por cima dos ombros. — Eu não sou uma adolescente.
— Eu prefiro pensar que é. Boa noite, Akira.
Eu vi ele se afastar e entrei no hall de entrada, quando coloquei os pés na madeira do piso eu ouvi me chamar. Era longe, quase como um sussurro.
Eles estão Mentindo
Eu virei o rosto rapidamente e olhei ao redor. Não havia ninguém. Apertei o amuleto fortemente. E então ouvi de novo.
Eles estão mentindo
Era a voz de Kurogiri. Eu tinha certeza. Eu precisava conversar com ele. Saber a versão dele. Eu soltei o amuleto e no instinto sai correndo o mais rápido que podia. A cada vez que ficava mais distante da escola a Voz de Kurogiri ficava mais forte, mais evidente. Avistei uma escadaria, quando me preparei para saltar, bati de frente em alguma coisa e caí para trás.
Eu senti as costas doerem e me ajeitei para erguer o corpo, mas ele já estava.
— A influência dele é bem forte, né? Vou ter que me esforçar mais um pouco.
A imagem do Gojo foi a última coisa que vi antes de apagar. De novo.
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