03 - A velha costurada

Fazia muito tempo que não dormia daquele jeito. Mas diferente das outras vezes foi um sono sem sonhos. Do tipo que você apaga e acorda num piscar de olhos. Meus olhos percorreram aquele lugar. Eu estava deitada numa cama de casal num quarto que com certeza não era o meu.

Não tinha muitos móveis. Arquitetura tradicional, mesinha no canto, janela fechada com cortinas brancas, muitos selos nas paredes e uma luz fraca amarelada vindo de muitas lanternas no teto. Eu me belisquei três vezes para ter certeza de que não era um sonho. 

Eu sentei na cama olhando ao redor, ainda estava de uniforme então talvez não tenha passado muito tempo. Eu perdi a noção de horário, dias e noites depois do coma. Eu caminhei até a janela e espiei pela vidraça, mas não tinha nada. Era uma parede preta. Eu dei dois passos para trás assustada.

— Não tem vista nessa janela. — Eu ouvi a voz daquele homem e me virei bruscamente. Eu estava aterrorizada porque cinco minutos atrás não havia ninguém ali.

— Onde estou?

— Num lugar seguro.

Como se houvesse algum lugar seguro o suficiente para alguém que a alma vagueia enquanto o corpo dorme. 

— Estou presa aqui?

O homem alto, de roupas pretas e olhos vendados encostou na parede e cruzou os braços. Era difícil saber o que ele estava querendo dizer ou fazer. A expressão dele era sempre a mesma. De calma. Não... era de confiança.

— Estar presa aqui vai depender de você. 

— Eu quero ir para casa. 

— Isso não vai ser possível. Seu caso é bem raro e muitas vidas estão em risco.

— Tá falando da história absurda que eu estou amaldiçoada?

— Você está. É um fato.

— Kurogiri jamais me faria mal.

Ele deu uma risadinha sarcástica e escondeu o rosto na gola alta de seu casaco. Depois ergueu a cabeça ainda com o sorriso no rosto. — É o que você pensa?

— É a verdade. 

— O que ele disse para você quando o trouxe do Reikai?

— O que? Eu... ele é só um gato. — Eu tentava reafirmar isso na minha mente. Precisava disso para manter a minha sanidade.

— O gato que ninguém na sua casa nunca viu?

— Acham que estou louca? — Eu perguntei com os lábios tremendo. — Eu queria que minha família tivesse me dito isso pessoalmente.

— Não os entenda mal, eles querem seu bem. Mas para isso preciso que seja sincera comigo.

— Você acha que eu estou louca? — Eu já não tinha muitas forças para falar a verdade. Tudo ali parecia estranho. Olhei para o rosto dele com mais segurança pela primeira vez, a luz amarela iluminava parcialmente seu rosto. Eu não podia ver seus olhos, mas sua postura não parecia me julgar.

— Não. Se você está, talvez eu também esteja. Quem sabe?

— Eu nunca mais vou sair daqui? — Eu belisco meu antebraço com mais força dessa vez.

— Vai depender de você. Preciso que me conte em detalhes sobre sua jornada no Reikai.

— Aqui é real mesmo? — Eu disse baixinho enquanto eu dava outro beliscão no braço.

— Por que você está se beliscando tanto?

Eu parei o que estava fazendo e olhei para o braço que tinha um hematoma do tamanho de uma laranja. O que eu estava fazendo era uma boa pergunta. 

— Eu... não tenho mais certeza...

— De quê?

— Se aqui é real...

Eu soltei o corpo pesadamente sobre a cama e levei as duas mãos à cabeça. As lágrimas escorreram pelo meu rosto e as vi cair sobre meu colo.

— Ficar se machucando não vai resolver nada. — Ele disse com a voz baixa.

— Eu sei. Mas... tem sido um inferno. Eu deitei para dormir e sonhei. E fiquei lá por mais de um ano. E parecia ter se passado apenas algumas horas. Eu tenho medo de dormir e ficar presa de novo. Você não faz ideia do quanto isso me aterroriza.

Ele ficou um tempo em silêncio e depois descruzou os braços e se aproximou um pouco. — Eu entendo que seja difícil. Por isso estou aqui. Preciso que me diga sobre sua experiência no Reikai e sobre o gato.

— Kurogiri não tem nada a ver com isso! — Ergui o rosto com as sobrancelhas franzidas.

— Como você pode saber?

— Ele salvou a minha vida! Foi ele que me tirou de lá, e se não fosse por ele... eu... — Eu percebi tarde que havia falado demais.

— Então, ele realmente veio com você do Reikai?

— Não vou te dizer nada.

— Akira, você tem duas maneiras de me dizer. — Ele disse erguendo a mão direita. — A primeira: Você me diz tudo numa boa e a gente elimina esse ser de uma vez por todas. A segunda, eu arranco essa confissão de você. Temos feiticeiros aqui especialistas em fazer você falar. E garanto que não vai ser nada agradável.

Ele conseguia me ameaçar sorrindo. Isso era o que me dava mais medo. — Minha mãe está de acordo com isso?

— Legalmente sim. Não é incrível? Ela assinou até um termo. Ela só pediu que fizéssemos o que fosse preciso para salvar sua vida e trazer a menininha deles de volta.

— Vocês querem me matar. Kurogiri me alertou sobre você! Acha que vou ficar presa aqui para sempre? Ele vai me ajudar!

— Estou contando com isso.

Eu estava perdida. Resumindo era isso. Presa num quarto quadrado 3x3 com selos nas paredes por todos os lados. A janela dava pra lugar nenhum e provavelmente a porta também não. Iria morrer ali, sozinha, assustada e com medo. Eu era uma ridícula mesmo. 

Levantei correndo até a porta e bati sem parar.

— ME DEIXA SAIR! SOCORRO!

— Não adianta gritar. — Ele disse tapando os ouvidos. Ele era debochado além de tudo. — Não vai sair daqui. Na verdade, tem sorte de estar viva. Com uma maldição como a sua não dá para facilitar. Mas não adianta matar você, só vai trazer sofrimento para sua alma. E em respeito a sua família, vamos tentar exorcizar a maldição sem que você seja afetada.

— Eu não acredito em nada que você diz!

— Não precisa acreditar, Akira. Em algum momento você vai descobrir por si só. Vai ver a verdade sobre seu gato amaldiçoado.

— O Kurogiri não é nada disso! Ele é meu amigo. Ele salvou a minha vida! Se não fosse por ele, eu ainda estaria lá! Ele vai me salvar, eu sei que vai.

— Comigo aqui? — O homem deu de ombros. — Acho pouco provável. Além de que ele não pode entrar no território em que estamos num raio de 15 km.

— Ele não vai me deixar morrer aqui.

— Então ele é o que para você? O que ele disse que era, na verdade?

Eu não sabia argumentar. Talvez fosse melhor ir na dele e dizer meias verdades. Era o único jeito de sair dali.

— Se eu te contar, você me tira daqui? 

— Eu estou disposto a te ajudar, se você me ajudar.

Eu soltei um suspiro pesado me dando por vencida. — Eu... não sei como fui parar lá. Acordei lá, não consegui sair, tinha uma velha estranha. A velha de olhos costurados. E depois Kurogiri apareceu e me salvou.

— E o que ele pediu em troca?

— Ele não pediu. — Eu disse desviando o olhar.

— Hum. E em que determinado monstro ele apareceu? No começo e depois você ficou vagando lá com ele?

— Eu... fiquei lá sozinha por muito tempo. 

Silêncio. Ele parecia analisar tudo em cada gesto, em cada palavra. 

—- Entendi.

— Por favor, senhor, me deixe sair daqui.

— Precisa ser sincera. Você foi amaldiçoada. Eu não posso te ajudar se não for sincera comigo.

— Eu não preciso de sua ajuda, eu queria que você e todo mundo aqui...

Antes que eu terminasse a frase ele já estava bem próximo de mim em um milésimo de segundo, eu nem vi quando ele se moveu. Ele estava em pé diante de mim tapando a minha boca com uma das mãos.

— Palavras tem poder. Cuidado com o que você deseja, com o que você diz. Nunca ouviu falar em Kotodama? — Neguei com a cabeça. — De acordo com o shintô, Kotodama é o espírito divino original antes de entrar no reino dos pensamentos. As palavras puras e sagradas tem o poder de criar o mundo à nossa volta. E as palavras de ódio, tem o poder de destruir. Existe um clã no mundo do Jujutsu que são mestres em fala amaldiçoada. Mas diferente deles, a sua maldição realiza seus desejos mais obscuros. 

Eu estava olhando para ele completamente aterrorizada. Lembrando de tudo que tinha acontecido nos últimos dias. Ele tirou a mão do meu rosto, mas ainda ficou bem próximo, curvado para a frente para ficar o mais próximo da minha altura. Estava tão perto que era possível sentir a respiração quente dele no meu rosto. Eu, por outro lado, mal conseguia respirar direito. Meus lábios tremendo, coração acelerado. A única coisa que consegui dizer foi:

— Foi... culpa minha?

— De certa forma, sim. Mas foi inconsciente. Porém, quando aceitou o pacto com o gato você também se tornou responsável.

— Como você sabe disso?

Ele deu um sorriso fino. — Foi um blefe.

— Você! — Eu não disse mais nada. Não tinha o direito de falar nada depois de saber que tudo que aconteceu era minha culpa.

— Qual foi o trato que ele fez a você?

— Ele me ajudou. Não é justo você dizer essas coisas sobre ele.

— A ajuda não foi de graça e você sabe disso.

— Eu... — Eu hesitei, mas dentro da minha mente havia um conflito entre o que era certo e o que era errado. Eu respirei fundo, nunca foi minha intenção falar sobre o Kurogiri, mas eu senti que precisava dizer a alguém, mesmo que eu não confiasse no Gojo, pelo menos ela acreditava no que eu dizia. Eu belisquei meu braço mais uma vez e depois ergui o olhar para o homem à minha frente. — Eu fiz um pacto. Ele pediu um pacto em troca.

— Que tipo de pacto?

— Ele é meu familiar.

— E o que mais? 

— Ele se transforma em qualquer animal, se mantém ao meu lado o tempo todo e assume também uma forma humana. Ele me guiou pelo Reikai até a saída e me protegeu das criaturas que estavam lá.

— Entendo. 

— Agora você vai me deixar sair?

Ele se afastou e juntou as duas mãos num tipo de selo e em questão de segundos ele desapareceu bem diante dos meus olhos. Só para me certificar, eu me belisquei de novo. 

Deitei na cama e fiquei lá por muito tempo até que a porta se abriu finalmente. Não era o homem de antes. Era outro com roupas mais tradicionais. Ele não disse nada, apenas acenou que eu o seguisse.

Seguimos por um corredor escuro até um elevador e depois estávamos no andar de cima. A claridade me incomodou um pouco. Parecia ser um templo onde eu estava, chão de madeira, várias pinturas e selos nas paredes, muitas velas espalhadas. O homem da venda já me aguardava com as mãos nos bolsos.

— Venha.

Eu o segui ainda receosa. Caminho lentamente olhando tudo com calma. O ar ers fresco e puro, com um leve aroma de pinho e terra úmida. Ao meu redor, árvores altas e antigas. O sol da tarde filtrava através das copas, criando padrões de luz e sombra que dançavam no chão.

Havia um pátio amplo, no centro, uma fonte de pedra jorrando água cristalina. Olhei tudo, tentando entender onde estava. As construções ao redor do pátio eram de madeira escura, com telhados curvos e ornamentados. Lanternas de pedra alinham-se ao longo dos caminhos, algumas ainda acesas.

Subi os degraus de um dos templos, sentindo a textura áspera da madeira do corrimão sob meus dedos. Olho para o homem alto, o Gojo, que não dizia uma palavra. Ele parou e deslizou a porta suavemente, revelando um interior simples. Aparentemente uma casa com vários quartos, o que me levava a crer ser um alojamento. Ele parou diante de uma das inúmeras portas, abriu e apontou para que eu entrasse. 

— Entra.

Eu olhei para ele meio desconfiada e entrei no quarto devagar. A cama de solteiro, um pequeno armário de duas portas de madeira escura, uma mesinha e várias caixas no chão. Sobre a cama estava minha mochila e uma mala que eu tinha certeza ser da minha casa.

— São minhas coisas?

— Sim. Sua mãe fez questão de arrumar tudo e mandar para cá.

— Eu... estou a quanto tempo aqui? — Digo erguendo o braço para sentir que odor eu exalava.

— Uns dois a três dias.

— Eca! Eu preciso de um banho.

— Aquela porta ali é um banheiro. Tome um banho e fique à vontade. Vou pedir a alguém para trazer algo para você comer.

Eu parei pensativa olhando minhas coisas sobre a cama. Eu ainda estava sentindo como se tudo fosse um sonho. Uma mentira. Nada mais fazia sentido para mim. Eu confesso que aquela foi a primeira vez em que desejei morrer. Mas parece que o Kotodama não ouvia lamúrias insignificantes. Eu me virei para Gojo que estava encostado na porta de braços cruzados.

— Que tipo de Maldição é?

— É desconhecida. Estamos investigando, mas eu tenho alguns palpites. 

— Eu nunca mais vou voltar para casa?

— Eu não posso te garantir nada. Não posso nem garantir que fique viva, mas faremos o que for preciso. Eu farei o que for preciso.

— Não quero que ninguém mais sofra por minha causa.

— Seu uniforme vai chegar amanhã. Na segunda você já começa com as aulas. Como eu disse, nossa intenção não é que vire uma feiticeira, mas se livrar desta maldição. Para isso você precisa treinar seu corpo e sua mente. Ah, e você tem aulas normais na parte da manhã. Ainda tem que terminar o ensino médio.

— Eu não posso simplesmente largar a escola? Faço 20 anos em alguns meses. 

— Não, a sua mãe me fez prometer que você concluiria o Ensino Médio. 

— Ela faz essas coisas mesmo.

Ele tirou o celular do bolso e olhou para a tela. — Tenho algum tempo, te espero do lado de fora para te mostrar a escola.

Eu dei um riso fraco e vi ele se afastar. Eu tranquei a porta e fui tomar um banho. Era tudo estranho, até mesmo fazer coisas simples como o banho. Eu sentia a água morna batendo contra meu corpo e ficava ali o tempo todo tentando entender o que havia acontecido para eu chegar até ali. Parte de mim sabia que eu nunca mais seria como antes. Nada mais seria como antes.

Parei em frente ao espelho embaçado pelo vapor do chuveiro e passei a mão para limpar e eu pudesse me ver melhor. Senti meu coração gelar quando olhei para meu reflexo. Eu vi atrás de mim a imagem da velha costurada sorrindo para mim. Dei um salto e virei para trás ofegante. Meu coração batendo acelerado, meus dedos gelados e trêmulos. belisquei o braço mais uma vez. Dor. Ainda bem.

Depois do susto tentei me recompor e mentalizar que era apenas coisa da minha cabeça e fui me vestir.

Sai do quarto ajeitando a camiseta da Hello Kitty metaleira que foi a única coisa que consegui achar no meio das malas que não fosse de alcinhas, ou decotada demais. Uma camiseta amarela não muito bonita que joguei por cima de um jeans qualquer, a estampa eu não me lembrava o motivo. Minha memória ficou meio confusa com o tempo. Eu respirei fundo e calcei as pantufas e saí até a entrada onde Gojo já me aguardava do lado de fora.

Olhando de longe era um homem bem atraente. Não tinha conseguido reparar em nada em meio a toda essa confusão. Mas ele era bem bonito, pelo menos o que dava para ver embaixo de toda aquela roupa preta. Coloquei os tênis já do lado de fora e o segui. 

Ele caminhou ainda com as mãos nos bolsos e virou o rosto por cima dos ombros. Eu ainda estava curiosa para saber como ele enxergava com aquela venda, mas acho que era cedo demais para perguntar.

— Camiseta maneira.

Eu olhei para a estampa da Hello Kitty Metaleira e fiquei pensando no que responder. Era um elogio de fato ou ele estava só zombando de mim? Nunca soube a resposta para essa pergunta no fim das contas. 

Conforme ele ia me mostrando a escola eu conheci um número considerável de feiticeiros e funcionários, até mesmo uma médica, o que me levava a crer que era a forma dele investigar em mim o que ele queria sem me assustar.

Cheguei a perguntar sobre os demais alunos, mas ele disse que só voltariam na segunda. Eles iam em missões e ganhavam dinheiro com isso. Não era tão ruim parar para pensar, mas a vida deles estava sempre em risco.

Ainda paramos para comer. Embora meu apetite não fosse dos melhores nos últimos meses. Fiquei parada em frente ao prato de arroz com os hashis parados no ar.

— Você tem que comer. — A voz do Gojo me tirou do transe em que estava. Estava lembrando da velha no banheiro. Será que foi ela que me amaldiçoou ao invés do Kurogiri?

— Eu vou tentar. Meu apetite não anda muito bom.

— Hum. — Ele estava sentado diante de mim com as pernas cruzadas no que eu acho que se chama posição de lótus, aquela que você senta no chão, ou almofada e cruza uma perna sobre a outra. Para mim ele parecia estar me analisando. Ele se recusou a comer. Disse que mais tarde ele iria procurar algo e que a prioridade era eu. 

O local onde eu estava era uma sala bem ampla e arejada, janelas de vidro do chão ao teto respeitando a arquitetura tradicional. A mesa era chabudai de uma madeira escura e brilhante. Eu coloquei uma porção de arroz na boca e olhei ao redor, os funcionários posicionados nos quatro cantos da sala.

— Aqui não é uma escola?

— Na teoria, uma escola religiosa.

— E cadê os alunos?

— Não são muitos, mas estão em missão. Deve estar aqui na segunda.

— Hoje é que dia mesmo?

— Sexta.

— Hum. — Eu olhei para ele disfarçadamente e soltei um suspiro. — Vai ficar me encarando em todo canto que eu vou?

— Eu também não gosto de ser sua babá, mas eu não tenho muitas opções no momento.

— Tá me chamando de criança?

— Para mim, você é.

Dou um riso pelo nariz e reviro os olhos. — Não sabe nada sobre mim.

— Eu vou dar um palpite: Garotinha de classe média alta. Bonita, corpão. Provavelmente era popular, os garotos faziam fila por você, mas... um dia foi brincar com algo que não devia. Talvez até um pouco fútil.

Eu levantei batendo as mãos na mesa e o encarando furiosa. — Seu babaca! Não sabe de nada!

— Toquei na ferida? — Ele disse mantendo a postura arrogante. Como se ele soubesse de alguma coisa.

— Não sabe de nada! 

— Conta as coisas direito, Akira! — Ele gritou. A primeira vez que ele alterou a voz desde que o conheci. Parecia estar sempre se contendo, mantendo a postura. Mas parecia ter perdido a paciência. — Eu não tenho tempo para perder com você! Uma garotinha mimada que acha que o mundo gira ao seu redor! Fale logo tudo que sabe e resolvemos isso de uma vez.

Eu acho que agi no impulso. Peguei a tigela de arroz e a arremessei na cabeça dele. Ela bateu diante dele como se tivesse uma parede ali e se espatifou para todo lado, ele tinha dois dedos erguidos para cima e não havia caído um único grão de arroz sobre ele.

— O que? — Eu perguntei dando um passo para trás. 

Ele se levantou e tirou a venda. Os cabelos lisos caíram sobre a testa, ele tinha os cílios longos e brancos. E os olhos eram ainda mais azuis do que eu imaginava. Ele olhava na minha direção, mas não era para mim.

— Então... era a sua presença que eu estava sentindo?

Eu travei naquele instante. O frio percorreu minhas costas. Um arrepio como dedos gélidos passando em minha pele. O cheiro de putrefação entrava em meu nariz e meu estômago revirou. Levei a mão à boca sentindo a ânsia de vômito, meus braços arrepiados. Eu não tive coragem de olhar para trás, mas vi pelo reflexo. E o pavor tomou conta de mim. Era a velha costurada.

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