Festas de aniversários, quem não gosta de comemorar com quem ama?

Esse aniversário em específico estava sendo um dos mais preocupantes para Remus Lupin. Tinha completado 17 anos e esse fato o deixava ansioso. As incertezas geradas por um contexto turbulento graças a Guerra, a dúvida sobre seu probleminha peludo e ter que se registrar no Ministério, ouvira falar que o tratamento dado aos lobisomens não era lá um dos melhores. Honestamente, isso era uma das coisas que mais andava perturbando a sanidade do menino.

E afetava sua autoestima. Pra caralho. Por mais que Remus quisesse dizer com orgulho que não tinha vergonha dessa sua condição, como ele poderia fazer isso se desde novo ele foi ensinado a se considerar um montro? Um ser cruel e horrendo, que não merecia nenhum tratamento minimamente humanizado. Se você é ensinado desde novo a odiar uma parte de você, como irá aprender amá-la algum dia?

Os marotos tinham organizado uma festança. Mesmo sendo chefe dos monitores, isso não impedia James de querer fazer uma festa a cada dois minutos. Lily era a pessoa que ainda conseguia apaziguar os ânimos do garoto, era incrível como em tão pouco tempo de namoro James havia, finalmente, amadurecido.

Ao longe Remus escutava alguma música do David Bowie tocar na vitrola que Sirius havia emprestado para a ocasião. A sala, mesmo com as janelas levemente abertas, tinha cheiro de baseado, bebidas alcoólicas e pessoas suadas, era incrível como adolescentes não pareciam se importar em controlar certos... sentimentos:

— Vamos, Remuu — Sirius diz, puxando as mãos do namorado — Você está sentado aí a festa inteira. Precisa dançar um pouco!

— Aqui está ótimo, Six — Remus diz — Fica perto da janela se eu quiser fumar e é relativamente perto da mesa dos comes e bebes.

— Você é tão chato, Remus Lupin — o garoto mais baixo diz, sentando no colo do castanho, desistindo da tentativa de puxar o amado para o meio do Salão Comunal.

— É o meu jeitinho — o garoto mais alto diz dando de ombros. Remus aproveitou a situação para acariciar os cabelos longos do namorado, eram tão macios e Sirius adorava um afago.

— Eu sei... Mas é seu aniversário — O Black diz, ajeitando-se para ficar mais confortável no colo do Lupin. — As pessoas normalmente usam essa desculpa para ficarem muito chapadas, dançarem até sentir os pés doerem e, em alguns casos, beijar muito.

— Você quer ir dançar então? Não acha que está mais confortável aqui? — Remus diz, próximo a orelha do outro, deixando um beijo em sua bochecha logo em seguida. O moreno apenas solta um murmuro de descontamento, já que havia perdido sua própria linha de raciocínio.

E o aniversariante ficou ali, sentando naquele lugar até quase o final da festa. Precisou levantar algumas vezes, é claro. Convencer Sirius era bem mais fácil do que James ou Lily, já que não podia persuadí-los com seu jogo mais baixo, vulgo carinho e atenção.

Apagou aquelas malditas velas logo após escutar a tão famosa canção dos parabéns. Lupin desejou que pelo menos por um instante aquele segundo pudesse durar para sempre. Era uma memória feliz e foi inevitável não lembrar de todos os outros anos em que os Marotos fizeram os tão ilustres rituais de aniversário. Cantar parabéns durante todo o dia e principalmente nas horas das refeições no Salão Principal, onde todos os alunos se juntavam num grande coro, fazendo Lupin ficar envergonhado todas as vezes.

Ou não conseguiu deixar de recordar todos os presentes e pós festas que os meninos fizeram para ele. Os suéteres que Sirius dava a ele, junto com barras de chocolates da Dedos de Mel. Os livros, os discos trouxas e mais chocolates que James, Lily e Peter davam a ele todos os anos. Sentia-se sortudo por ter conhecido e conseguido manter aquelas pessoas tão gentis em sua vida. Era um puta filho da mãe sortudo.

A festa acabou algumas horas antes da meia-noite. Ainda faltava o último tópico de aniversário para cumprir: a reunião pós-festa. Remus estranhou o fato de seu namorado não ter dado nenhum presente para ele durante a madrugada, já que normalmente eles acordavam a meia-noite no aniversário de cada um deles para trocarem os presentes.

Lupin não questionou, seria estranho perguntar algo assim e se contetou com a ideia de que a companhia do garoto era o melhor presente que ele poderia ter. Isso era clichê e piegas demais, porém ele não podia evitar:

— Rem... - Sirius diz meio sonolento — Será que os meninos se importariam se eu te roubasse uns minutinhos? Prometo que devolveria a tempo.

— Podemos sair furtivamente, irei avisar Lily. Ela pode enrolar os garotos um tempinho. Mas, por que essa ideia tão de repente? — Lupin diz, curioso.

— Vamos dividir um baseado. Lily disse que todo mundo já foi dormir e não posso mais fumar aqui — o garoto dos cabelos pretos diz — Aquela maldita bruxa ruiva! Está uma noite linda lá fora também. Bora?

— Se você diz... Deveríamos pegar nossos casacos primeiros, né? — Remus diz, andando lentamente em direção ao dormitório. Após pegarem seus casacos, saíram da Sala Comunal em direção a área exterior de fora. Por sorte, ou por serem portadores do Mapa dos Marotos, conseguiram passar pelos corredores sem acordar ninguém:

— Hum, eu vou sentir falta desse lugar — Sirius diz, acedendo o cigarro — Você sabe, aqui sempre foi e acredito que sempre será meu primeiro lar.

— Você era tão esnobe quando chegou aqui — Remus diz, pegando o cigarro e tragando — Hogwarts conseguiu transformar você em alguém suportável de se conviver.

— Palhaço... — Sirius diz, dando uma leve cotovelada nas costelas do mais alto — Eu sei que costumamos trocar os presentes a meia noite, faz parte do ritual e James fica putasso quando alguma coisa não ocorre como nossas tradições... Mas, sei lá, acredito que esse presente seja íntimo demais para trocar assim, na frente deles.

— Você não comprou o que eu acho que você comprou, né? — Remus diz, arregalandos os olhos.

— Parabéns, mente poluída do Remus, você estragou o momento fofo que eu passei o dia planejando — Black diz, tomando o cigarro de volta. — Era um livro, idiota. Pega, espero que goste. — o garoto diz, sorrindo da suposição de Remus e entrega uma cópia do livro "Animais Fantásticos e Onde Habitam". Os olhos de Sirius brilhavam na expectativa de saber qual seria a reação do seu garoto. Olhou atentamente a cara de decepcão de Lupin ao ver que era só uma cópia de um livro que eles já tinham usado anos atrás, e quis sorrir com o sorriso falso que Remus deu a ele.

Como planejado, o lupino começou a folhear as páginas. Parou antes de virar para a folha que continha as informações sobre lobisomens. Respirou fundo e olhou para ela. O livro era como antes exceto naquela página em específico. Sirius havia feito alterações escritas a mão nas informações daquela página. Remus não pode deixar de corar ao ver todas aqueles dados apagados com riscos levemente fortes de caneta. O Black havia juntado todas aquelas coisas que Remus passara anos digerindo e internalizando apenas para dizer "Hum, essas informações estão equivocadas". Quanta petulância!

No lugar daquela foto horrenda que Lupin passara o ano inteiro em que usou aquele livro evitando olhar, havia uma foto dele, Remus Lupin, segurando a mão de seu lindo namorado Sirius Black, com as bochechas coradas e algumas sardas aparentes em seu nariz devido ao sol. Ele lembrava de quando aquela foto tinha sido tirada, no meio de um escaldante verão. No texto, a classificação de periculosidade, antes dada como XXXXX, havia apenas X, com um pequeno lembrente embaixo escrito "Ele dobra e enrola as próprias meias, desculpas se não estou tremendo de pavor". Remus riu baixo e murmurou um "idiota" para seu namorado que o observava atentemente. Algumas outras alterações haviam sido feitas aqui e ali, contudo a favorita do rapaz era o lugar que podia se encontrar essa criatura. Aparentemente, o melhor lugar para encontrar lobisomens era "nos braços de Sirius Black". Remus sentiu algumas poucas lágrimas descer de seus olhos, o que ele fez o seu melhor para secar discretamente:

— Você é tão bobo, Sirius — Remus diz, passando seus braços ao redor do pescoço do moreno. — Obrigado, de verdade... é o melhor presente que já recebi.

— Eu não teria te dado se soubesse que o faria chorar — Sirius diz, sua voz saindo abafada devido ao fato de Remus ter apertado o garoto em seus braços — Saiba que eu acredito verdadeiramente nisso. Você é a criatura mais adorável que já conheci e eu te amo tanto.

— Eu te amo bem mais — Lupin diz com a voz levemente embargada. — Você foi uma das melhores coisas que já me aconteceu.

Remus diz isso sorrindo e afasta o garoto de seus braços, apenas para aproximar o rosto do seu e roçar seu nariz levemente contra o dele. Sirius aproveita a deixa e choca seus lábios contra os do namorado, puxando-o pela gola da camisa. Sirius adorava beijar Remus. E não no sentido carnal da coisa, mesmo que com frequência ele conseguisse ficar excitado só em tocar seus lábios contra os de Lupin. Entretanto, para o Black, beijar Remus era sua motivação para levantar da cama, principalmente porque Remus sempre lhe dava beijos de bom dia. Ele sentia que todos os anos que havia passado sem beijar o garoto precisavam ser recompensados e dessa forma fazia questão de tirar todo o atraso. 

Sirius subiu suas mãos pela nuca do rapaz, tocando as pequenas madeixas dos macios cabelos do lupino que a palma de sua mão conhecia exatamente a textura. Suas línguas exploravam a boca um do outro com devoção, aproveitando cada mísero contato e se prologando naquela sensação. Assim que o ar se faz necessário, o moreno se separa do amado, mas não sem antes deixar alguns rápidos selinhos nos lábios inchados do mais alto, sorrindo levemente com o estado que os dois se encontravam:

— Feliz aniversário, meu lindo garoto.

Notas: resolvi terminar esse imagine depois de um século com ele para terminar de escrever, percebi que se eu fosse escritora de livros seria do tipo que publica um livro uma vez na vida e outra na morte. Espero que gostem, não esqueçam de favoritar e comentar, gosto de ler e interagir com vocês. Não consegui anexar, mas esse one shot foi inspirado num post que vi no tumblr. Obrigada por chegar até aqui!!