Sereia
Com os olhos doloridos emergiu das águas, saberia ele o que fazer quando fosse chegada a hora? Ele tinha esta dúvida, não gostaria de cometer o mesmo erro, não gostaria de ter de fugir novamente e depois ser pego por algo que ele mesmo não tinha grande culpa.
Cada vez mais ele se aproximava da praia, sabia que seria perigoso demais estar ali mas tinha que correr o risco, ele sabia sim de todas as consequências. Teria que ser feito...
Aos poucos ele saia da água do mar e com o mar ficava a calda e dava um novo lugar para pernas que há muito não fora usada, era difícil de manter um peso que ele mesmo não sabia que tinha dentro do mar. Roupas, ele não tinha roupas, não as mesmas do povo da terra. Será que algas seriam belas para se vestir na terra?
Os primeiros raios de sol começavam a se mostrar e Myril não poderia se mostrar junto com o sol daquela forma que se encontrava, sem roupas e sapatos adequados para os pés! O que ele faria agora a não ser correr o mais rápido para debaixo das árvores e logo em seguida achar roupas, roubaria se preciso fosse.
Myril sentia aquele cheiro familiar, já tinha sentido o mesmo cheiro 3 vezes. A primeira quando foi liberto, a segunda quando se encontrou com o capitão daquele navio e a terceira quando afundou Belfor. Ele seguiria aquele cheiro, já sabia aonde daria, na toca do capitão e desta vez falaria a língua local. Ou pelo menos tentaria, mas não ficaria arrependido por não ter tentado.
Ia andando pelas ruas, becos estreitos até dar de cara com uma casa de construção alta. Não sabia o que fazer, mas o cheiro era forte ali, o cheiro do capitão era mais doce ali. O que faria para chamar atenção do Belfor. Cantaria uma melodia, muito atraente que ao ser ouvido pelo capitão traria ele até ali fora, mas ninguém seria capaz de ouvir.
Aos poucos o capitão ia saindo do seu quarto aonde estava deitado, ouvindo aquela melodia que apenas ele conseguia. Já sabia quem era dono da voz, era ele, Belfor seguiria aquela voz, mesmo que custasse a vida e ele mesmo sabia.
Lá fora o capitão conseguiu ver de onde vinha a melodia encantadoramente mortal. Vinha de um dos becos, adjacente a sua casa.
Olá... - disse Myril olhando para o chão, não queria fazer contato ainda com o capitão. Veio pela vontade enorme de esclarecer tudo, pedir desculpas por não conseguir controlar seus instintos predadores. Tentaria não fazer novamente. - Sim, eu falo a língua local. - disse o tritão antes mesmo de ser questionado.
Olá, o que faz aqui? - pulou qualquer tipo de apresentação. - Não sabia que podia estar aqui, ainda mais com pernas! - indagou o capitão.
O clima estava tenso entre eles, o local estava tenso. Talvez por tudo que tenha acontecido ultimamente e também tinha o fato de Myril ser um predador assíduo. Por isso e outras coisas Belfor não estava confiante em estar lá fora com aquela criatura, mas mesmo assim o encanto que ele tinha sobre o capitão era desigual. Encanto este vinha pelo fato da criatura ser do mar e ter feito isso outras vezes mais.
Na verdade nem eu sei o motivo de estar aqui, mas algo me puxou até aqui. Eu tinha que vir, e não e contentei até estar aqui em sua frente. - revelou a criatura, poderia ainda ter sentimentos sendo um ser caçador, imaginariam que não. Todos os povos do mar se relacionam entre eles, não tem o por quê sair do mar e vir para terra procurar companhia.
Algo de estranho esta acontecendo, sabia sobre histórias de vocês mas ver um nunca... - o capitão não entendia, sabia que tinha algo de errado desde o momento que a embarcação afundou e seus tripulantes morrerem. - Eu sei que foi você a fazer aquele horror, a noite estava escura, mas a lua ainda era visível. Eu vi o quê atacou a gente, era vos.
Por um momento a criatura desejou não ter vindo, deveria ter ficado no mar onde não deveria ter saído. Mas agora não tinha tempo de arrependimentos.
Por eles e por todos, a fome de uma criatura do mar é avassaladora, algo que não se contém. E além do mais estava presa, pelo Sol. Amaldiçoado fui... - o que ele não entendia era a vontade de colocar tudo para fora, onde não conseguia se segurar. Falar era necessário e isso era feito. - Peço sua ajuda, tem um reino muito antigo. Não sei o que aconteceu, não esta mais no lugar que deveria e eu sei que algo terrível aconteceu...
Isso é tudo novo pra mim, diferente do meu convívio e sabe, o mesmo seria eu aparecer para você e dizer coisas que não sabia serem possíveis! - Belfor já dizia tudo aquilo no automático, ele admitia, tudo era novo. - Mas se eu te ajudar, o que acontece depois?
Não tenho nada para te oferecer, humanos que fazem riqueza e não povos do mar. Mas posso te dar milhares de peixes, mais do que já viu em sua vida inteira. - Myril começava entender a relutância do capitão em sua frente, esse mesmo que não queria cooperar. Mas assim como humanos, todos seriam comprados. Dinheiro ele não possuía mas sim recursos para tal. E também sabia onde poderia encontrar alguns navios afundados, onde de fato encontraria riquezas indescritíveis.
Começa a entender a alma do negócio, comprar serviços é mais fácil do que pensa. - disse ele - Quero mais do que peixes, quero algo grande e de riqueza imensurável! - já estava na hora do capitão mostrar seus dentes, não foi por menos que se tornou capitão. Foi comprando pessoas e vendendo seus serviços que conseguiu seu primeiro e único navio.
Me encontre ao cair da lua, terei o que você tanto quer! - finalizando foi se afastando.
A criatura já se encontrava um pouco seca, passara tempo demais fora da água e isto era perigoso.
Aos poucos e longe de olhos curiosos foi entrando no mar, sentiu o seu corpo inteiro se modificando e partindo para dar passagem a calda luminosa. A dor que sentia era excruciante, mas já tinha se acostumado. Não era de hoje que escapava do seu povo e ia ver os mundanos.
Tomou impulso e navegou para longe da praia e mais fundo no mar. Escuridão foi tomando conta, seus olhos se adaptando até chegar em um lugar conhecido. Vários navios guardavam a entrada do foço, no centro que estava o valioso de todos eles.
A barca de ouro estava lá. A mais valiosa dos tesouros perdidos no mar, ele sabia...
Myril foi se aproximando mais e mais para pegar aquela barca tão valiosa. Quando menos se espera a água fica agitada, não seria a chegada da tempestade, estava muito profundo no mar bem perto do foço. Ele olhou para todos os lados com a barca em sua mãos já. Teria que sair dali o mais rápido possível, foi quando avistou um enorme tubarão raivoso. Deve ter sido pelo brilho próprio do ouro cravejado na barca.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top