⌑ 01. Snakes don't cry ⌑
01. Cobras não choram.
⌑ 01 de julho de 1971. ⌑
Era uma manhã particularmente fria nas terras inglesas.
A luxuosa mansão Avery se encontrava praticamente fazia, como era de costume.
Lyra, a descendente mais jovem do famoso bruxo Merlin, estava deitada em sua cama, em seu enorme quarto.
Um quarto enorme, frio, vazio e sem emoção, os quartos de menininhas de onze anos não deveriam ser assim.
Angus estava enrolado encima do estômago de Lyra, dormindo tranquilamente.
Angus era uma cobra negra com grandes olhos amarelos que não passava dos 70 centímetros, apesar de crescer cada vez mais a cada ano que se passava.
Mas em compensação com seu tamanho diminuto, o ofídio continha um veneno extremamente letal em suas presas.
Lyra havia o encontrado na antiga casa de sua mãe, a antes Willa Merlin e agora Willa Avery, a quatro anos atrás.
Angus estava nos jardins da mansão, era apenas um filhotinho, mal havia nascido e não sabia como havia acabado nos arredores da mansão Merlin.
Para Lyra foi uma surpresa enorme perceber que podia entender e se comunicar com Angus, isso até ela descobrir que a maioria de seus antepassados falavam a língua das cobras.
Ela não sabia de tudo, afinal, o livro que continha a história da família Merlin e todos os seus feitos, estava em uma sala da biblioteca da mansão Merlin protegido com feitiços de proteção muito poderosos.
O pouco que Lyra sabia vinha do irmão gêmeo de sua mãe que sempre a contava uma coisa ou outra.
Um barulho chamou a atenção da garotinha.
Uma coruja havia entrado por sua janela e agora se encontrava em sua escrivaninha piando.
Angus se mexeu incomodado ao ser acordado. Ele deslizou para o colchão totalmente emburrado.
ㅡ Posso matá-la?
ㅡ Não Angus. Ela me trouxe uma carta.
A garotinha se aproximou da coruja pegou a carta, abrindo uma das gavetas da escrivaninha e pegando o necessário para pagar a coruja.
A ave voou velozmente após ser paga.
ㅡ O que diz a carta?
ㅡ Acalme-se Angus, eu não a abri ainda.
Ao olhar bem a carta o coração de Lyra saltou de seu peito.
Era a carta de Hogwarts.
Lyra deu um gritinho feliz e puxou Angus para um abraço desajeitado, afinal, cobras não são muito boas em demonstrações de afeto.
ㅡ É a carta de Hogwarts Angus! Eu fui convidada pra estudar lá! ㅡ A garotinha pulava, gritava alegre e rodava com a cobra em seus braços.
Era o sonho de toda criança bruxa estudar em Hogwarts.
Ela soltou Angus quando ele mostrou as presas pra ela.
Não que ele fosse fazer algo contra ela. Ele nunca a machucaria.
A garotinha subiu em sua cama e começou a pular. Angus a observava do tapete com tédio.
ㅡ Você ainda tinha dúvidas de que iria para Hogwarts? És descendente de Merlin.
ㅡ Não seja chato Angus. Eu estou tão feliz. ㅡ A garotinha ainda pulava.
ㅡ Senhora Lyra está tudo bem?
ㅡ Tydd, o elfo doméstico da família Avery aparatou para dentro do quarto de Lyra claramente preocupado.
ㅡ A carta de Hogwarts chegou Tydd! Eu vou pra Hogwarts! ㅡ A garotinha puxou o elfo para um abraço apertado que Tydd retribuiu desajeitadamente.
ㅡ Meus parabéns senhora Lyra. Tenho certeza de que a senhora se tornará uma bruxa muito poderosa.
ㅡ O elfo respondeu ao se soltar da menina.
ㅡ Obrigada Tydd. Meus pais já chegaram?
ㅡ A senhora Avery ainda não chegou, mas o senhor Avery acabou de chegar e se encontra no escritório. ㅡ Tydd respondeu.
ㅡ Eu vou atrás dele. ㅡ Lyra disse se dirigindo para a porta do quarto.
Angus se enrolou nela ainda emburrado.
ㅡ Se eu fosse a senhora eu não iria. O senhor Avery não parece muito feliz. ㅡ O elfo avisou.
ㅡ Ele ficará feliz quando souber da notícia. ㅡ Ela rebateu e saiu correndo.
Ao bater na porta do escritório Charles murmurou um "entre" seco.
ㅡ Papai eu tenho que contar uma coisa. ㅡ Lyra se aproximou feliz. Angus estava enrolado no pescoço e ombro da menina.
ㅡ Espero que seja rápida Lyra. Eu tive um dia totalmente estressante. ㅡ O homem respondeu sem nem olha-la.
ㅡ O que houve papai? ㅡ Perguntou se aproximando mais do homem.
ㅡ Estão aceitando que a escória trabalhe no Ministério. ㅡ O homem respondeu ainda sem olhar para ela.
ㅡ O senhor está falando dos nascidos trouxas?
ㅡ Sim. Estou falando daquela laia de sangue ruins. ㅡ O homem respirou fundo tentando manter a calma. A filha não tinha culpa de nada daquilo.
ㅡ Eles são tão bruxos quanto nós papai. ㅡ A pequenina rebateu.
O homem pela primeira vez olhou para ela. A olhou com fúria nos olhos.
ㅡ Não nos compare com a escória bruxa Lyra. Não somos nada como eles. Somos sangue-puros. Somos melhores que eles. ㅡ O pai se levantou da cadeira para ficar de frente para a filha.
ㅡ Eu não sou preconceituosa como o senhor pai. Não importa o sangue. Somos todos bruxos.
O homem ficou sem palavras por um segundo.
ㅡ Lyra Avery! ㅡ Gritou. ㅡ Nunca mais ouse dizer essas baboseiras.
ㅡ Eu vou continuar dizendo. Porque eu só estou dizendo o que eu acredito. Nem o senhor nem nenhum sangue puro é melhor que nascidos trouxas. ㅡ A garotinha discordou.
Charles em um ataque de raiva levantou a mão direita para bater em Lyra.
Angus, agora bem acordado se colocou na frente do rosto da garotinha e mostrou as presas para o homem.
Charles não precisava ser um ofidioglota como a filha para saber o que a cobra queria dizer. Estava bem claro.
ㅡ Você não toca nela.
Lyra arregalou os olhos ao constatar o que o pai iria fazer.
Charles abaixou a mão transtornado. Ele iria mesmo bater em sua garotinha?
ㅡ Vá para o seu quarto Lyra Avery.
ㅡ Charles ordenou ao voltar a se sentar em sua cadeira.
Lyra o encarou por alguns instantes e se virou caminhando até a porta em silêncio.
ㅡ Eu prefiro Merlin. ㅡ Ela murmurou.
ㅡ O quê? ㅡ O homem perguntou confuso.
ㅡ Eu prefiro Lyra Merlin. ㅡ Ela respondeu e abriu a porta do escritório. ㅡ E a propósito, minha carta de Hogwarts acabou de chegar. ㅡ E com essas palavras a garotinha bateu a porta com força atrás dela.
Charles encarou a porta de seu escritório enquanto respirava fundo.
Ele havia estragado tudo. Era pra ser um momento feliz. A chegada da carta de Hogwarts era motivo de comemoração para as famílias.
Charles passou as mãos pelo rosto. Ele havia estragado o momento da filha.
A visão da garotinha era nublada por conta de suas lágrimas.
A porta de seu quarto se abriu assim que ela virou o corredor do segundo andar.
A magia de Lyra sempre foi um tanto descontrolada, forte e sensível às suas emoções.
A Merlin se jogou na cama enquanto chorava.
Angus se aconchegou ao lado dela.
Ele não entendia porquê a menina estava chorando.
Afinal, cobras não choram.
Cobras são bem mais práticas que humanos em relação aos sentimentos. Mais de qualquer maneira, ele não sairia do lado dela.
ㅡ Ele estragou tudo Angus. Tudo.
ㅡ Ela murmurou. As lágrimas molhavam seu travesseiro.
ㅡ Ele não merece suas lágrimas pequenina. Sei que você não é fraca desse modo. Você não deveria chorar.
ㅡ Me deixe chorar Angus, apenas dessa vez. ㅡ Ela pediu.
ㅡ Tudo bem. Mas não se esqueça, ele não merece. Você é uma cobra, apesar de pequena.
A garota deu um minúsculo sorriso ao ouvir Angus a chamar de pequena.
ㅡ Você é uma cobra. E cobras não choram.
Angus completou e se aconchegou mais a menina.
Mas só por aquela noite Lyra iria chorar.
Chorar pela mãe que nunca estava em casa.
Pelo pai preconceituoso e explosivo.
Pela vida de fachada que ela vivia.
Pelos segredos que sua família escondia.
Choraria por tudo.
Mas no final estava tudo bem.
Ela sempre teria Angus ao seu lado.
Ele era tudo o que ela precisava no momento. E ela não iria chorar tão cedo.
Afinal, ela era uma cobra. E cobras não choram.
I. Oiiee pessoas! O que acharam do capítulo? Gostaram? Se tiverem alguma dúvida ou algo do tipo é só falarem.
II. Por hoje é só, mas nos vemos em breve.
Byee 💚.
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