capítulo único.


•───────── 独身 ──────────•


life gives you good
and bad things, only
those who really love
you are at your side
at all times . . .

   O SABOR DO PECADO tinha um gosto amargo. A acidez que vinha do fundo de sua garganta a fazia sentir vontade de vomitar. Pela primeira vez, o gosto do pecado dominou seu paladar. Não era injusto, e Violet sabia disso. Suas ações que a levou estar acorrentada, pronta para ser devorada e substituída por um novo guerreiro de Marley não era nada comparado ao o que ela tinha feito, porém, ela não estava arrependida.

  Agora, enquanto olhava para um dos mais antigos guerreiros de Marley, que tirava uma injeção da mala e ia em direção a pessoa que iria substituír seu titã, Violet sorriu minimamente e fechou os olhos, logo o barulho de explosão chegou até seus ouvidos. Estava na hora, estava na hora de finalmente descansar e esquecer todo o mal que causou, principalmente a aqueles que ela amava, e principalmente a aquele que ela mais amou.

  Enquanto sentia os passos pesados do titã recém-criado indo em sua direção, Violet deixou que as boas lembranças dominasse sua mente.

  A quase seis anos atrás ela, Reiner e Bertoldt haviam destruído a muralha Maria com a missão de exterminarem os demônios de Eldia. O plano era simples, enquanto os titãs blindado e colossal destruíam os portões, a titã martelo de guerra eliminava o máximo de Eldianos que pudesse com seu martelo e suas lâminas.

  A princípio, enquanto exterminavam quase metade dos habitantes de Eldia, Violet imaginava que voltaria para casa mais rápido do que achava. Nunca foi uma escolha ter se tornado uma guerreira. Violet apenas o fez para orgulhar seus pais, visto que esse sempre foi o plano deles; ter uma criança e fazê-la se tornar um guerreiro, para assim os tirar da situação que viviam. Nunca foi amor, mas Violet gostava de acreditar que sim.

  Ela pensava que a missão seria simples e rápida, e realmente foi assim, até ela e os companheiros serem obrigados por si mesmos a se misturarem, fazendo assim os quatro entrarem para o recrutamento militar. Esse havia sido seu pior erro, mas os momentos mais felizes de sua vida foram foram graças a esse erro.

  Derrepente, Violet não sentia mais os pesos da correntes em suas mãos, elas não estavam mais apertadas quanto estavam antes. E, por breves momentos, ela pensou que aquilo era apenas sua consciência tirando o peso de tudo que aconteceu de suas costas. Seu corpo estava leve, e ela estava pronta para morrer.

  Um pouco longe dali, Reiner e Bertoldt observavam a nova titã substituta de Violet caminhar em passos lentos até a mulher acorrentada. O loiro, por sua vez, tinha o olhar arregalado e a ardência em seus olhos fazia eles quererem derramar mais lágrimas do que deveria. Não era para Violet estar ali! Quando voltaram para Marley, ele estava pronto para mentir sobre o que havia acontecido durante a captura e do por que não conseguiram trazer Eren. Porém, Violet o surpreendeu ao contar toda a verdade.

  Reiner se perguntava do por que ela entregou sua vida, preferindo morrer por aqueles demônios. Mas ele não entenderia, e talvez nunca pudesse. Violet não só havia traído Marley ao ajudar os Eldianos a recuperar Eren, mas também havia os traído no momento que entrou para o recrutamento, quando seu caminho se cruzou com Jean kirstein.

  As memórias passavam pela mente de Violet como um sopro, um lembrete de que a morte estava a apenas alguns passos de si.

  A primeira lembrança era do primeiro dia no recrutamento. Violet analisava cada um dos recrutas, a fim de descobrir quem poderia ser uma ameaça ao plano. E foi naquele momento, enquanto o instrutor Shadis gritava com uma menina que comia batata, que Violet fixou seus olhos em um garoto que estava perto de Annie.

  Ele era alto, podendo se dizer que quase do mesmo tamanho que Bertoldt. E que mesmo sendo diferente, seu cabelo tinha um charme peculiar que chamou sua atenção. Derrepente, ela se viu imaginando como o cabelo dele ficaria ainda mais bonito se ele deixasse a parte clara crescer. Seu rosto tinha uma expressão séria, como a dela, mas quando ele se virou minimamente para ver o que acontecia, seus olhos se abriram lentamente quando viu a garota de olhos violetas.

  Violet se lembrava de ficar mais de segundos o encarando de volta, ela se lembrava de gostar da primeira sensação de algo voando dentro de seu estômago. Ela se lembrou de sorrir minimamente, e ele retribuir com um sorriso maior que o dela.

  Dias se passaram desde o primeiro contato visual, e durante isso, ela era constantemente pressionada por Annie para ter mais foco. Isso fazia Violet se sentir cada vez mais inútil, pois ao invés de tentar capturar o máximo de informações, ela passava seu tempo no pequeno jardim quase morto do recrutamento.

─── Mais flores nasceriam se você trouxesse água toda vez que vem aqui.

  Violet se assustou com a voz que vinha atrás dela, mas não se deu o trabalho de levantar. Ela olhou para cima e viu o garoto dos cabelos claros corar e levar as mãos para a cabeça e coçando, como se estivesse envergonhado com o que acabara de dizer.

─── Não que eu tenha obersevado você durante esses dias... Quer dizer, eu com certeza não fiz isso.

Violet levou a mão até a boca e riu mais do que gostaria. Jean corou mais ainda ao ouvir o som de sua risada, ele olhou para baixo e respirou fundo, logo, ele não sentia mais suas bochechas quentes.

─── Talvez eu me lembre disso na próxima vez. ─── Ela o olhou pelo canto quando ele se sentou ao seu lado. ─── Porém, apenas uma delas eu farei questão que viva por mais tempo.

O Kirstein levantou a sombrancelha.

─── A margarida. ─── Respondeu antes que ele pudesse fazer a pergunta. ─── Não me importo com as outras, as deixariam morrer facilmente como estão morrendo agora.

─── E por que a margarida é mais especial que as outras?

─── Simples. ─── Ela se virou para ele e fechou os olhos, um lindo sorriso foi se formando em seu rosto. ─── É a minha flor favorita!

  Jean não pode conter de corar mais uma vez ao olhá-la. Seus rosto era tão delicado e sua voz combinava perfeitamente com ele. O garoto de cabelo claros sorriu junto, e guardou na memória aquele sorriso doce e gentil que ela deu para ele. Ele já estava encantado por ela, apenas não sabia disso ainda.

  E durante dias, mesmo sem dizerem uma palavra para o outro, durante trocas constantes de olhares, sorrisos eram trocados pelos dois. E em uma madrugada, enquanto estava voltando para o quarto depois de ficar quase a noite inteira no pequeno jardim, ela ficou surpresa ao ver uma única margarida em cima de sua cama. Um sorriso involuntário surgiu em seu rosto, seu coração batendo constantemente e sua mente trabalhando mais do que deveria. Ela sabia que tinha sido Jean, mas não imaginava que sua coragem era tanta ao ponto de entrar em um quarto lotado de garotas apenas para colocar aquela flor ali.

  Violet se perguntou se o mesmo sentimento que crescia dentro de si, também crescia no garoto. Mas, infelizmente, sua mente a trouxe de volta para a lembrar do por que ela estava ali. A garota de olhos violetas sentiu seu coração apertar.

  Meses se passaram, e com ele, o sentimento que crescia mais dentro de seu peito. Em poucos tempos, Violet se viu em um grupo composto por Connie, Sasha, Marco e Jean. Por conta dessa amizade, ela se viu mais próxima do garoto que gostava mais a cada dia. Eles se viam com mais frequência e riam com mais frequência. Jean havia despertado um sentimento que ela jamais imaginaria que estava ali.

  Ela podia sentir os olhares que Reiner, Bertoldt e Annie lançavam para ela, e Violet os ignorava com precisão. Ela estava gostando desse novo sentimento que estava a dominando, estava gostando tanto que esqueceu dos motivos que estava ali. Pela primeira vez na vida, ela sentiu que merecia algo, sentiu que merecia um lar. E os amigos que estava fazendo durante o caminho eram seu lar.

Principalmente Jean kirstein.

  Quando finalmente o último dia de recrutamento chegou, todos estavam felizes. Com exceção de uma pessoa, e Jean notou a tristeza da garota. Violet sabia que naquele dia Bertoldt destruiria a muralha em sua forma de titã, e em conjunto, era para ela também destruir a lugar com o seu titã martelo de guerra, mas ela não queria fazer aquilo. Violet deu um desculpa qualquer alegando que ficaria com o pessoal para não levantar suspeitas.

  A situação já estava ruim por ter que ver mais pessoas sendo mortas e consequentemente seus amigos também e não poder fazer nada, porém, ficou ainda pior quando Eren Jaeger surpreendeu a todos se transformando em um titã. Violet chorou. Chorou porque a missão estava chegando ao fim, eles poderiam voltar para casa e como troféu, levar Eren com eles.

  Ela sentia a culpa o suficiente para culpar a si própria por isso e não poder se alto consolar, mas ela não poderia fazer aquilo com Jean, cujo havia acabado de saber que Marco havia morrido. Violet não se afastou dele durante o resto do dia, seu coração pesava quando via que ele estava prestes a chorar, mas não fazia por que a garota estava perto.

Ela a abraçava como se fosse a última vez, e poderia ser.

  Depois da tragédia, era finalmente o dia de entrarem para as comporações que queriam. Reiner e Bertoldt ficariam no reconhecimento e Annie entraria para a polícia militar. Conforme o plano, Violet teria que entrar para a guarnição. Eles não ficariam por mais tempo em Eldia, por isso teriam que tirar o máximo de informações que conseguiriam das divisões.

  Durante o discurso do comandante da divisão de reconhecimento, Erwin Smith, Violet sentia seu coração bater forte em seu peito. Aos poucos, ela viu cada pessoa que não queria entrar para o reconhecimento sair, ela viu Annie passar ao seu lado a olhando, um olhar severo estava no rosto da loira, querendo avisar para Violet a seguir, mas ela não conseguia se mexer.

  Violet estava petrificada no lugar, suas mãos tremiam e seu rosto pingava suor. Seus lábios estavam fechados, mas dava para perceber que seus dentes rangiam um contra o outro. A garota olhou para o lado e ficou surpresa ao ver Jean ainda parado ali, na mesma situação que a dela. Ele estava em dúvida se ouvia seu cérebro para entrar na polícia militar como queria, ou se ficava no reconhecimento, como seu coração mandava.

  Lentamente, o garoto dos cabelos claros olhou para a garota dos olhos violetas. Ali, nenhum dos dois tinham mais dúvidas, seus olhos ficaram firmes e acenaram juntos com a cabeça. Eles fariam aquilo juntos. Violet sentiu seu mindinho roçar com o mindinho de Jean, e aos poucos, suas mãos se encontraram e seus dedos foram entrelaçados.

  A partir daquele momento, Violet não seguiria mais o que seus parceiros de Marley mandariam, ela apenas seguiria o que seu coração mandava. E seu coração seguiria Jean até o momento que não pudesse mais.

  Ela se lembrava de Reiner ficar raivoso quando viu que ela ainda estava ali depois do discurso do comandante, mas Violet apenas fechou a cara e seguiu com seus amigos.

Ela não precisava voltar para casa, por que ali já era sua casa.

  Em uma noite, algumas luas antes da primeira expedição do reconhecimento, Violet se encontrava observando as árvores cujo ficavam em frente do quartel. A garota não conseguia dormir, pois os roncos de Sasha estavam mais altos do que deveriam. Enquanto soltava um suspiro, Violet se lembrava dos rígidos treinamentos que adquiriu em sua infância para herdar o titã martelo de guerra.

  Era realmente doloroso lembrar de quando chegava em casa cansada após levantar vários pesos, correr em campo aberto e lutar, seus pais apenas falarem que ela deveria se esforçar mais para os tirar daquela situação.

─── Perdida em pensamentos?

  A garota dos olhos violetas olhou para Jean e deu um sorriso sincero e culpado por não o ter notado ali.

─── Apenas memórias passadas que não gostaria de relembrar. ─── Mais um suspiro.

─── Sei como se sente. ─── Ele apertou os lábios e deu lentamente um passo para mais perto dela. ─── Estou nervoso por causa da expedição.

─── Não fique, mesmo estando com bastante soldados nessa missão para uma simples expedição, tenho certeza que teremos poucas baixas... além do mais, os melhores soldados acabaram de entrar! ─── Brincou, querendo o fazer se sentir menos tenso.

─── Apesar de termos o Eren, você está certa.

Dessa vez, ela não deixou de rir.

   Jean parou de rir e a encarou estático, seu subconsciente dizendo as mesmas palavras que disse nos últimos meses e seu coração batendo no mesmo ritmo que sempre batia quando estava perto dela. Jean estava apaixonado por Violet e ele sabia disso. Quando percebeu que ele a olhava, Violet corou fortemente e olhou para a frente, totalmente envergonhada.

─── Seu sorriso é lindo. ─── Corou quando falou.

  Violet sentiu novamente algo dentro de seu estômago mexer. A sensação de meses atrás voltou novamente e dessa vez por mais tempo que esperava, a garota colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e se virou para ele. Ela apertou suas mãos fortemente e sentiu suas unhas cravar sua pele, em um ato de coragem, ela soltou:

─── Eu estou apaixonada por você, Jean!

  Quando recebeu o silêncio de Jean, Violet se desesperou. Ela não mediu sua impulsividade, ela não pensou em suas próprias ações, apenas disse de uma vez o que seu coração queria dizer a tempos. Antes, a ideia de dizer que gostava dele parecia tímida em sua mente, ela corava com a possibilidade e imaginava que ele retribuiria os sentimentos. Mas agora, vendo o terrível silêncio que se instalou, a ideia parecia o inferno em sua mente.

  Violet esperou mais tempo, e o tempo parecia estar a matando. Quando percebeu que não aguentaria mais aquela humilhação, ela virou seu corpo e começou a andar em direção a porta do quartel. Ela sentiu seu nariz arder e seus olhos quererem derramar lágrimas, mas antes que pudesse levar a mão em direção a maçaneta, ela sentiu Jean a puxando, fazendo assim seu corpo bater contra o dele.

─── Eu também estou apaixonado por você, Violet!

  E num ato súbito que ele jamais se arrependeria, Jean a beijou. Violet estava com os olhos abertos, ainda surpresa com o que estava acontecendo no momento. Uma lágrima caiu de seu olhos. Era um beijo simples, apenas um selar de lábios. Quando eles se afastaram, os dois se olharam nos olhos em busca de se encontrarem. A garota dos olhos violetas e o garoto dos cabelos claros não acreditavam no que haviam acabado de fazer.

  Era o primeiro beijo de ambos, e eles não se arrependeram de terem sido um com o outro. Violet nunca pensou que algum dia beijaria alguém, tampouco que teria a oportunidade de se apaixonar. Mas Jean a mostrou algo bom, um sentimento verdadeiro e que mesmo impossível, ela se imaginou passando o resto de sua vida ao lado dele.

  Era um pensamento maravilhoso e válido, se não fosse pela situação que a trouxe ali. Violet pensou em toda a dor que trouxe não só as pessoas de Eldia, mas também para o próprio Jean. Ela se lembrava da dor que Jean sofreu quando perdeu Marco, se lembrava de como ele a abraçava fortemente e tentava não chorar. As pessoas de Eldia não era os demônios que ela cresceu sendo ensinada, e sim, ela era.

Jean era um anjo, e um demônio jamais poderia dividir o mesmo céu que um anjo.

  Esses pensamentos ainda estavam em sua mente quando Jean a beijo pela segunda vez naquela noite. Seus lábios se moviam com rapidez, e mesmo com a dor de estar fazendo aquilo com ele, ela se deixou levar pelo seu beijo. Ela queria o sentir antes que ela se perdesse em seu próprio caminho. Seus lábios eram macios e mesmo com o beijo quase bruto, ainda sim ela sentia a sensibilidade deles.

  Jean a beijava com certa força, mas ao mesmo tempo delicadamente. Era como se ele estivesse beijando uma flor, era assim que ele a via, como a única flor em seu jardim repleto de grama. A mão de Violet foi em direção aos fios claros de Jean, e mesmo com os olhos fechados, ele os revirou. A sensação de sentir os dedos de sua amada em seu cabelo era uma das melhores do mundo.

  Quando se separaram, os amantes estavam com os lábios inchados, Jean limpou a antiga lágrima que caiu dos olhos dela e sorriu nervoso. Ele ainda se sentia nervoso ao estar tão perto dela. Os dedos de Jean passearam pelo rosto de Violet até chegar na altura da bochecha, ali, ele deu um simples selar e a olhou nos olhos mais uma vez.

─── Uma das coisas que mais amo em você são seus olhos. ─── Jean não sabia de onde estava vindo toda aquela coragem, mas ele agradecia aos céus por estar tendo-a. ─── No dia do recrutamento, quando te vi com aquela feição que você geralmente tinha, a primeira coisa que pensei era como era possível as estrelas finalmente terem um concorrente na altura delas.

  Violet corou, ela levou as mãos até suas bochechas e abaixou lentamente a cabeça. Não conseguia o olhar naquele momento, estava envergonhada o bastante. Era incrível como Jean a fazia sentir daquele jeito com simples palavras.

─── E todas as noites eu olhava para o céu, imaginando seus olhos juntamente com seu sorriso ganhar esse briga sem nenhuma dificuldade. ─── Declarou.

  Era um momento único que eles levariam para toda a vida. Eles não queriam acabar com aquele momento, mas teriam. Daqui a algumas horas o amanhecer chegaria, e eles precisavam descansar para o treinamento do dia seguinte. Dando mais um beijo no garoto de cabelos claros, Violet se afastou um passo e mordeu os lábios ansiosa. Sua mão foi em direção ao cabelo do rapaz e sorriu.

─── Gosto de seu cabelo.

  Então, ela entrou no quartel e correu até o quarto com um grande sorriso no rosto. Enquanto deitava na cama, ela se perguntou como uma única noite poderia ter sido melhor que todos os anos de sua infância.

  Quase duas semanas se passaram, e a mente de Violet estava um caos. Annie havia sido capturada, e ela não poderia fazer nada, pois não sabia onde a colocaram, e para piorar a situação, Reiner e Bertoldt se revelaram e fugiram, levando Ymir e Eren com eles. Violet não sabia do por que terem pego Ymir, mas seus pensamentos não estavam nessa questão.

O que Violet deveria fazer agora?

Obviamente, eles não voltariam por Annie, e se também deixaram ela para trás, era porque também haviam desistido dela. Mas Violet não poderia se dar ao luxo de também pensar que fora deixada para trás. Havia chegado a hora de finalmente escolher em qual lado lutaria.

─── Está abatida. ─── Seu corpo tremeu ao ouvir a voz de Jean atrás de si. ─── Aquele idiota sempre se deixa ser capturado, e como sempre, somos nós que temos que pagar com nossas vidas para salvá-lo.

  Violet nada disse. O barulho em sua volta estava fazendo seus ouvidos arderem, os soldados da policia militar estavam nervosos pois pela primeira vez sairiam de dentro da muralha para lutarem contra titãs. Violet só pensava em quantas pessoas iriam morrer naquele dia, tudo porque três adolescentes decidiram destruir as muralhas a anos atrás.

Violet se perguntou como seria sua vida se ela não tivesse virado uma guerreira.

─── Jean, me desculpa. ─── Seus lábios tremeram e seus olhos se ameaçaram marejar. Jean ficou confuso e surpreso com o pedido dela, mas antes que pudesse falar algo, ela continuou. ─── Vamos, Hanje quer falar com todos.

  A garota dos olhos violetas se levantou e seguiu até onde todos estavam reunidos. As palavras de Hanje faziam sua cabeça doer, ela sabia que Reiner e Bertoldt não parariam mesmo com um exército atrás deles, e mesmo eles tendo a menor chance de recuperar Eren, Reiner iria até o fim pela missão. Era capaz deles seguirem até Marley e se isso acontecesse, os soldados de Eldia seriam pegos de surpresa e acabariam sendo estraçalhados. Eles não teriam chance, apenas se Eren fosse recuperado antes disso acontecer.

  Não demorou para todos estarem indo em direção a floresta cujo Hanje informou do possível paradeiro deles. Violet ainda estava apreensiva, e cada vez que chegavam mais perto, seu coração se apertava dentro de seu peito. A resposta parecia fácil, mas ela não conseguia escolher.

  Não poderia simplesmente abandonar seu passado e abraçar o presente, fingindo que nada aconteceu. O peso de todas as pessoas que matou ainda estava em suas costas, não era fácil esquecer. E, pela primeira vez em anos, a opinião sobre seus parceiros a deixou em dúvidas. Todos eles foram enganados, pensando que os Eldianos eram de fato os demônios que Marley tanto falava ferozmente.

Não havia dúvidas, Violet não achava mais isso, mas ela não poderia dizer o mesmo de Reiner e Bertoldt.

─── Ei, o que está acontecendo?

  A garota foi tirada de seu pensamento por Jean. Ele cavalgava ao seu lado e parecia visivelmente preocupado com ela. Violet apreciou o gesto.

─── Não se preocupe. ─── Respondeu firme. ─── Lembra de quando nos falamos pela primeira vez?

Jean corou ao se lembrar.

─── Impossível esquecer.

─── E dias depois, você deixou uma margarida em minha cama. ─── Um singelo sorriso apareceu em seu rosto.

─── Aonde quer chegar? ─── Logo, os olhos de Jean arregalaram. ─── Não está achando que...

  Violet o olhou tristemente, ela não sabia qual decisão iria tomar a partir daquele momento. E fazer Jean achar que ela estaria morta era uma ótima forma de recompensar suas futuras ações.

─── Preciso que se lembre daquele momento toda vez que pensar em mim... Seja o que for que acontecer hoje.

─── VOCÊ NÃO VAI MORRER, PARA DE FALAR BESTEIRA! ─── Gritou desesperado. ─── Vamos recuperar o Eren e no final de semana, quando finalmente estivermos seguros depois disso, você irá almoçar em minha casa! Minha mãe quer a conhecer.

  Violet ficou surpresa com a declaração, seus olhos marejaram e mais um sorriso surgiu em seu rosto. Ela claramente estava apaixonada, e faria qualquer coisa para o proteger, mesmo que isso custasse a sua vida e seu futuro.

─── Eu adoraria conhecer sua mãe!

  Jean sorriu orgulhoso, mas logo o sorriso escapou de seu rosto quando um raio apareceu no meio da enorme floresta. Um titã havia se transformando.

─── ESTÁ NA HORA, DISPENSADOS! ─── O comandante gritou. Violet junto com seus amigos cujo se formaram junto com ela, seguiram para dentro da floresta.

Não demorou para a situação virar um caos, muitos já estavam mortos e os que estavam mais perto do titã blindado não conseguiam o perfurar. Violet tentava fazer seu cavalo correr o mais rápido que conseguia, ao longe, ela podia ver Mikasa chegar no blindado, eles tinham uma chance de recuperar Eren.

Logo, Violet ficou em pé no cavalo e usou o DMT para pousar em cima do titã blindado. Jean, Connie, Sasha e Armin já estavam ali.

─── Boa sorte com isso Bertoldt, é difícil deixar ele calmo. Ele é o cara mais irritado que conheço. ─── Ela ouviu Jean dizer assim que pousou no blindado. ─── Eu sei bem do que que tô falando, odeio ele tanto quanto você! Então vamos dar um jeito nele juntos, por que você não sai daí?

─── BERTOLDT DEVOLVE ELE!

─── É brincadeira, né? Isso é sério mesmo? Vocês engaram a gente? Porra, que sacanagem!

─── Vocês dois, digam por favor que é um engano!

  Violet lembrou de sentir a tristeza a dominar. Ela se arrependeu amargamente de todo o sofrimento que causou. As palavras de Connie e Sasha tocaram no fundo de seu coração. Seu maior pecado até então não havia sido apenas matar quase metade da população de Eldia, mas sim, trair as pessoas que confiavam cegamente nela.

─── NÃO FOMOS OS ÚNICOS, OU VIOLET JÁ REVELOU QUEM ELA É? ─── Bertoldt gritou furioso.

  Violet não ficou surpresa com o que acabara de acontecer, mas quando seus amigos a olharam ao mesmo tempo, ela não conseguiu controlar as lágrimas que caíram de seus olhos. Era como se ela finalmente estivesse tendo sua sentença depois de anos. Ela sentia seu mundo desmoronar.

─── Hum? Violet, do que ele está falando? ─── O garoto de cabelos claros perguntou.

─── AH, ENTÃO ELA NÃO DISSE, NÃO É? VAMOS, VIOLET! ESTÁ NA HORA DE ESCOLHER QUAL LADO VOCÊ IRÁ FICAR. ─── Estava claro que Bertoldt queria a manipular para ela os ajudar. ─── VAI VOLTAR PARA CASA OU FICAR PARA SER MORTA?

─── Violet...

  Naquele ponto, todos entenderam o que Bertoldt estava dizendo.

─── Você! ─── Mikasa murmurou e rapidamente avançou sobre ela, mas Sasha e Connie conseguiram a segurar a tempo.

─── Violet, o que ele está dizendo? ─── Jean deu um passo em direção sua direção. ─── Me diz que é apenas uma brincadeira. Por favor, Violet! Por favor...

  Seu rosto estava com uma feição desesperada, ele não queria acreditar que a garota que ele estava apaixonado era um dos titãs que ajudou a destruir seu lar. A razão não falava mais por si, e sim a emoção. Jean também sentia seu mundo desmoronar.

  O silêncio de Violet foi a resposta que eles não queriam acreditar.

  Violet Gardner finalmente fez sua escolha, e Jean Kirstein infelizmente não estava incluso nela. Soltando um suspiro, ela olhou para seus amigos, principalmente Connie e Sasha, cujo compartilharam diversas risadas ao longo dos anos.

─── Espero que possam me perdoam um dia. ─── Soltou lentamente. ─── Vocês são mais que meus amigos, são minha família, e eu jamais irei esquecê-los.

  Em seguida, se virou para Jean. O garoto tinha os olhos vermelhos, ele não sabia se sentia raiva ou tristeza. Era uma mistura de sentimentos que jamais imaginava algum dia sendo dirigidas para Violet. Ele se sentia traído, e mesmo assim, não conseguia a odiar profundamente como estava odiando Reiner e Bertoldt.

─── Lembrarei de você até meu último suspiro. ─── Em seguida, se aproximou mais dele, levando suas mãos para seus cabelos claros. ─── Desde o momento que o vi pela primeira vez, imaginei o quão ele ficaria mais bonito se o deixasse crescer. ─── Violet fez um último carinho em seus cabelos em desceu a mão para seu rosto.

Lágrimas caíam dos olhos dos amantes.

─── Adeus, Jean!

  Então, Violet desamarrou o dmt e deixou seu corpo cair. Enquanto caia, ela conseguia visualizar perfeitamente o rosto desesperado de Jean. Aquela seria a última vez que veria o rosto do garoto de cabelos claros. Um lágrima solitária caiu de seu rosto e ela sorriu. Violet estava em paz, ela protegeria Jean mesmo que isso custasse a sua vida.

  Quando sentia que estava a tempo demais caindo, ela levou a palma de sua mão até sua boca e a mordeu fortemente. O sangue metálico entrou em contato com sua língua e logo ela sentia seu corpo mudar. Dois segundos depois, todos os soldados ficaram apreensivos ao ver o enorme titã branco, a última vez que o viram, foi a seis anos atrás. A titã martelo de guerra afastou os titãs que iam em direção a Reiner e com um passo, correu ao lado do blindado.

  Jean, Connie e Sasha não sabiam o que fazer. Não sabiam se a matavam ou deixavam o titã de lado. Seus sentimentos falavam mais alto que suas mentes. Porém, quando menos esperavam, a titã de quase vinte metros deu fortemente um soco na cabeça do blindado. Seus amigos que estavam em cima do blindado saíram a tempo. E com o soco, isso deu brecha para Reiner tirar as mãos do pescoço a revelar Bertoldt segurando Eren.

  Sem perder tempo, a titã martelo de guerra pegou Bertoldt e o afastou de Eren, virando o rosto, ela viu quem estava mais próximo dela e jogou Eren em direção a Mikasa, cujo era a mais próxima. Violet não se arrependera do que fez, e quando percebeu Mikasa já no chão com Eren, ela colocou Bertoldt e Ymir em seus ombros e correu dali, indo para longe o mais rápido que podia.

─── VIOLET! ─── Ela podia ouvir a voz de Jean a gritando.

  Dentro da nuca de sua titã, Violet tinha lágrimas manchando todo seu rosto. Ter os ajudado a salvar Eren garantiria a sobrevivência de todos, principalmente a de Jean. Ela não se arrependeria, por isso, mesmo que triste, um largo sorriso surgiu em seu rosto. Um pouco longe, Jean tentava de todo jeito ir na direção que Violet corria.

  Não importava o que ela tinha feito, ele a perdoava se isso fosse a ter segura ao seu lado. Porém, Connie conseguia o segurar com uma força impressionante. Aos poucos, Violet desaparecia de sua vista, e momentos depois, ele já não a via mais.

──── Preciso que se lembre daquele momento toda vez que pensar em mim.

  As palavras de Violet ecoava em sua cabeça. Ele finalmente entendeu o que ela queria dizer. Seus dentes rangiam um no outro e seu nariz ardeu, ele não queria lembrar daquele momento, ele queria que todas as memórias de Violet fossem apagadas de sua mente. Jean não sabia se conseguiria seguir em frente sem a garota dos olhos violetas cujo estava apaixonado.

  Enquanto sentia a mão do tita recém criado em volta de seu corpo, Violet tinha os olhos fechados e um enorme sorriso em seu rosto. Sua vida não havia sido longa como ela imaginava que seria a de Jean, ela não teria filhos e não envelheceria ao lado da pessoa que escolheu amar. Contudo, os últimos anos que viveu foram os melhores que ela poderia ter. Ela esteve em uma família que a amou, e esteve com a pessoa que mais amou.

Para aonde quer que ela fosse ao fechar os olhos, ela sorriria cada vez mais ao se lembrar de Jean Kirstein.



...FIM

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