Reflexões
Após subir os degraus da escada de madeira, estico minha mão para baixo na tentativa de ajudar o oriundo a sair do buraco mais rápido.
- Valeu. - Seguro a sua mão, puxando-o.
Matthew baixa-se e começa a cobrir o buraco perto dos seus pés, com o acervo de galhos, folhas e terra.
Mexo na minha mochila e lhe entrego uma toalinha.
- Então, o que você achou? - Ele começa a limpar a sua mão.
- Decerto é uma descoberta surpreendente. Há uma lenda sobre essa estátua, mas até então não havia indícios de onde ela podera está. - Começamos a seguir a trilha de volta pra casa. - Se alguém conseguir provar a existência dessa estátua e seus mistérios a pessoa, ou no caso, aqueles caras - Ele fala com desprezo - com certeza conseguiriam uma bolada de dinheiro, fora a fama e prestígio.
- Eles são pessoas perigosas, não podem conseguir o que querem.
- Enquanto eu estiver aqui, eles não terão sucesso.
Chegamos na porta de fundos da casa e o convido para entrar.
- Você quer uma água ou comer alguma coisa?
- Se possível, eu gostaria de lavar as mãos.
- É claro, é só você seguir reto. Primeira porta à esquerda. - Aponto para a porta indicada.
Enquanto Matthew se limpa, eu sento em uma cadeira alta que há na cozinha e jogo minha mochila em cima do balcão na minha frente.
É surpreendente os próprios moradores nunca terem encontrado a Estátua e eu, com poucos meses morando na cidade, dou de cara com esse mistério... Se bem que com certeza ninguém deve ter ouvido uma voz lhe guiando. Não adianta nem eu contar isso pro Matthew, já que ele não consegue escutar e de qualquer forma, duvido que acreditaria.
- Então, o que vamos fazer? - Pergunto para Matthew, assim que o vejo saindo do banheiro.
- Bom, o que quer que façamos, sejamos cautelosos.
- Você sempre fala formal desse jeito?
- Só com quem não tenho intimidade. - Ele responde com desdém. - De qualquer forma, tenho que investigar mais.
- Como assim? A gente tem que tomar alguma atitude agora. - Falo indignada.
- Na situação que estamos temos que tomar cuidado. - Matthew parece tão aborrecido quanto no dia anterior. - Nós não sabemos o que exatamente eles querem.
- O que eu te disse e te mostrei não é o suficiente pra você?
Matthew suspira impaciente.
- Sinceramente, isso é o que você me disse. Eu não sei até onde isso é verdade. Não se esqueça que você é alguém de fora, alguém que eu não conheço e não confio. Que garantia eu tenho que você está me dizendo a verdade? Pode ser que você esteja tentando me enganar apenas "pra" conseguir informações sobre Angela.
Fico calada, chocada, ouvindo todos os absurdos.
- Supondo-se que seja tudo verdade, antes de mais nada preciso saber exatamente quem são eles. Não podemos agir por impulso.
Mesmo estando completamente aborrecida pelos insultos, penso com cuidado.
- Ok, você está certo. - Coloco a mão na cabeça. - Ah! Que tal você me passar seu número? É mais fácil "pra" gente se comunicar e trocar informações.
- Não podemos nos falar na faculdade? - Ele parece não gostar da minha ideia.
- Nunca se sabe quando pode acontecer uma situação emergencial, onde eu precise falar com você. - Argumento. - E é claro, tenho certeza que se eu descobrir alguma informação sobre esses curiosos, você não vai querer esperar. - Dou a cartada final.
Matthew pega sua mochila que havia deixado ao pé da porta do banheiro, puxa seu caderno e uma caneta, começando a escrever algo. - Aqui. - Ele rasga o papel e coloca em cima da bancada.
Ao me aproximar da bancada, vejo alguns números escritos no papel.
- Eu vou indo. A gente se fala na UA. - Ele guarda suas coisas e joga mochila por cima do ombro, deixando-a suspensa.
- Você mora aqui perto? Se você quiser eu posso te oferecer uma carona.
Ele para por um tempo, pensando, até responder a minha pergunta.
- Eu aceito. Você pode me deixar até a estação rodoviária. Tenho algumas coisas "pra" resolver.
- Ok, você só tem que me guiar. - Ele assente.
Pego a chave do carro e nos dirigimos até a porta da casa.
É claro que a viagem foi aquele mesmo silêncio no caminho de ida. Os únicos momentos que Matthew não ficou calado foi quando ele falava "dobra na próxima esquerda", "dobra na próxima rua" ou "segue reto por mais um tempo". Fora isso ele se calava completamente, aparentando está pensando e eu espero que seja numa solução para o grande problema que Angela pode encontrar em um futuro não tão distante.
- É aqui. - À uma distância de mais ou menos 10 metros observo um grande movimento de pessoas indo e vindo, algumas atravessando a rua, outras saindo da estação rodoviária e outras saindo e entrando de lojas e restaurantes, me mostrando a área comercial da cidade.
Paro o carro não muito longe da muvuca.
- Pronto. Está entregue.
- Valeu. - Sem nem olhar na minha cara, o mau humorado agradece e sai do carro. Ele passa pela frente do carro e para quase na frente da porta do motorista quando é abordado por uma jovem loira com o cabelo longo ondulado.
- Matthew! - Ela acena para ele e me olha. - Quem é ela? Nunca a vi pela cidade. - Aparentemente ela viu ele descendo do carro.
- Ela é uma caloura do curso de antropologia. Se mudou a pouco tempo para cidade - Ele responde com desdém. - Essa é... - Ele se vira para trás, olhando-me meio confuso.
- Charllotte Miller. - Estico a minha mão e sorrio.
Ela a aperta, sorrindo também.
- Nossa, nunca imaginei que te veria sendo amigo de alguém de fora. - Ela soa gentil. - Me chamo Laylah.
- Como ele é meu veterano, eu pedi pra ele me contar um pouco mais sobre o curso, já que o nosso primeiro contato na sala de aula foi breve. - Minto descaradamente.
Ele me olha com desprezo. Esse olhar tá começando a me irritar.
- O que você está fazendo por aqui? - Matthew ingada.
- Eu vim almoçar com o pessoal da UA e a minha irmãzinha. Você quer se juntar a nós? - Ela se agarra nos braços de Matthew. Só de olhar pro rosto dele, posso perceber que ele está incomodado.
Percebo uma mulher se aproximando, bem parecida com Laylah, mas dessa vez com o cabelo curto e usando um óculos.
- Eva! Que coincidência te ver por aqui! - Reconheço minha colega de classe e me surpreendo.
- Oi Charlie. - Ela sorri discretamente - Eu vim acompanhar a minha irmã.
- Ah, que legal. De fato, vocês são bem parecidas.
- Obrigada. Fico lisonjeada em ser comparada com uma pessoa tão bonita quanto a minha irmã. - Claramente Eva admira muito sua irmã mais velha.
- Eva, querida, lembra do que eu te disse mais cedo na universidade sobre confiança?
Ela assente, confusa.
- Isso vale pra sua beleza também. Você é linda e deveria começar a ver isso. Bom, - Olho o relógio em meu pulso. - Caso você esteja livre amanhã, que tal você me mostrar a cidade depois da aula?
Olho rapidamente para Laylah, seu olhar está direcionado para sua irmã. Ela parece está surpresa com alguma coisa.
- É claro, mostro sim. - Ela parece feliz.
- Legal. Agora estou indo para casa. Tchau tchau - Sorrio e aceno. - Foi um prazer te conhecer, Laylah. Tchau, Matthew, obrigada pela conversa. - Me despeço e saio com o carro.
*Horas mais tarde*
Após eu passar a tarde toda pensando em como poderia intervir de alguma maneira com o avanço das descobertas daqueles desconhecidos, a noite chega e me reúno com meus pais na mesa de jantar.
- Charlie - Meu pai me chama.
Apenas o olho, dando toda a minha atenção.
- No próximo final de semana haverá um baile organizado pelo departamento da polícia para elite da cidade para homenagear um historiador de prestígio.
- As pessoas vão encontrar seus pretendentes lá? Por que esse nome tão formal?
- Foi o nome que deram para festa. - Meu pai parece não se importar.
Dou de ombro.
- Outra coisa que não entendi é o porquê a polícia organizou uma festa para um historiador? - Estranho.
- Quem tá por trás da festa mesmo é o prefeito, mas é a polícia que tá organizando.
- Ah sim, entendi.
- Então, a sua mãe e eu fomos convidados e achamos que você poderia se interessar em ir. Já que vocês são de áreas semelhantes, talvez você quisesse conversar com ele.
- Apesar de eu achar que não terei uma oportunidade de me aproximar dele, não posso perder essa chance. - Assento com a cabeça. - É, eu vou.
- Já que você vai, tenho uma companheira pra fazer - Ela segura as minhas mãos e as levanta freneticamente para o alto. - compras!
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