Novas interações
Quando finalmente não escuto mais nenhum passo ou qualquer tipo de barulho na floresta, corro mais rápido que qualquer outra vez que já corri na vida, direto para casa.
Rapidamente tiro a chave de casa do meu bolso e tento colocar várias vezes na fechadura, mas sem sucesso. De tanto nervosismo deixo a chave cair no chão, pego e finalmente consigo destrancar a casa, mas na mesma velocidade que eu a destranco, tranco-a novamente. Fecho todas as cortinas da casa e subo para o meu quarto, tranco a porta e encostando minhas costas na porta, vou deslizando até o chão.
- Respira fundo, Charlotte. Respira fundo e tenta se acalmar. – Me escuto e respiro fundo três vezes. – Eu vi algo que não pode ser desvisto. O que vi pode custar a minha vida... Preciso pensar muito bem em qual será o meu próximo passo. – Levanto-me e começo a andar de um lado para o outro dentro do quarto. – Quem eram aqueles caras? Quem quer que sejam, não estão para brincadeira. – Paro e sento na cama. – Eu vou entrar nessa sozinha? Não, não posso. Eu preciso de alguém que saiba o que exatamente eles querem ou pelo menos alguém que conheça bem a história de Angel's Land, pois uma coisa é certa: o que eles estão atrás tem relação com Angela. – Penso um pouco e um único nome vem à cabeça. Matthew. – É isso! – Pulo da cama. – Preciso falar com Matthew! Ele é a pessoa certa. Se ele for como a professora Dina falou, com certeza ele não vai ficar de braços cruzados. Ele parece conhecer bastante a história de Angela e quem sabe até os caras que estavam no campo. A primeira coisa que vou fazer ao chegar à universidade amanhã será procurar por ele!
Faço movimentos de ir e vir na minha nuca tentando aliviar um pouco a dor.
– Fiquei tão tensa com toda essa história que agora estou muito cansada. Acho que vou tomar um banho e ir me deitar depois.
Vou ao banheiro, ao olhar no espelho vejo uma imagem lastimável: meus cabelos castanhos escuros e lisos, preso em um rabo de cabelo, estavam cheios de folhas e alguns pequenos e finos galhos, deixando-os totalmente bagunçados. Minha pele que normalmente é branca, estava avermelhada e com alguns cortes superficiais, que eu deduzo que tenha acontecido no momento que me enfiei no meio da floresta correndo e meus olhos castanho claro estavam cansados e vermelhos, até parece que fumei uma erva. Definitivamente não sei lidar com situações como essa. Tiro minha roupa e tomo o banho que mereço.
Antes mesmo de vir para Angel's Land eu fiz várias pesquisas para tentar entender mais a sua trajetória, mas consegui pouquíssimas coisas sobre o passado e os mitos. Além de obter informações sobre o que normalmente encontramos de todos os países quando pesquisamos a sua história, como cultura, culinária, costumes, religião, seu campo geográfico, flora e entre outras coisas, eu encontrei o mito de Angel's Land de uma forma muito vaga, mesmo sendo o suficiente para despertar o meu interesse por Angela, onde diz que os anjos desceram a terra para investigar o estilo de vida dos humanos e reportar a Deus se nós estávamos seguindo as suas palavras e mandamentos, porém, os anjos que fizessem isso não poderiam voltar aos céus e perderiam as suas asas, sendo assim, tiveram que viver como os humanos e gerar descendentes, o que segundo a lenda, seriam os habitantes de Angel's Land. O mais intrigante dessa história é que tal fato aconteceu em torno de 1.000 anos atrás e, é só isso que se sabe sobre essa terra, mesmo com tantos cientistas, historiadores e arqueólogos pesquisando sobre esse povo. Dizem que os pesquisadores tiveram muitos problemas com os habitantes em questão de divulgação das suas descobertas, fazendo com que suas buscas ficassem apenas por aqui e não se espalhassem pelo mundo. Isso apenas torna tudo ainda mais intrigante. Porque tanto mistério? Será que existe... Sei lá... Algum tipo de minério que os humanos, investidores e gente de muito poder poderiam se apropriar... Ou algo que vá além da compreensão humana? Eu acredito que seja exatamente esse o ponto: os habitantes sabem além do que o mundo afora sabe e não querem que isso se espalhe. Talvez seja essa a questão daqueles caras. Claramente eles não são quaisquer historiadores, eles não estão trabalhando em favor da história e das descobertas da humanidade... Eles vieram pegar algo e evidentemente vão levar a qualquer custo.
*No dia seguinte*
A primeira coisa que faço ao chegar à universidade é ir atrás de Matthew, entretanto eu não sei onde ele assiste aula, então vou à sala dos professores onde posso encontrar a professora Dina ou o professor Querubim.
- Bom dia. – Comprimento um jovem rapaz sentado sob uma mesa, que creio ser o secretario da sala dos professores. – Você poderia me informar se a professora McCurry ou o professor Owen estão por aqui? Ambos são do setor de arqueologia.
O rapaz puxa um caderno, folheia algumas paginas e desse o dedo indicador até parar em um ponto:
- O professor Owen não virá hoje, e a professora McCurry... – Ele volta a mexer de uma forma desordenada até parar novamente. – Ela está...
- Alguém quer falar comigo? – Vejo professora Dina saindo uma sala, dentro da recepção.
- Bom dia, professora. Me chamo Charlotte Miller, sou sua aluna do curso de arqueologia e estou no primeiro semestre. Posso tirar uma duvida com a senhora? – Pergunto.
- Primeiramente não me chame de "senhora", sou nova demais para isso. "Você" é o suficiente – Ela brinca. – E é claro, no que eu puder ajudar.
- Desculpe, "você" então. Você poderia me informar onde é a sala da turma do ultimo semestre de arqueologia?
- Com certeza. Fica no 4º andar, sala 407, no bloco A mesmo.
- Muito obrigada, professora. Tenha um bom dia. – Saio da recepção da sala dos professores quase correndo.
Sigo as instruções da professora e chego até a sala direcionada. Olho rapidamente para dentro da sala, através de um vidro que tem na porta e vejo que a pessoa por quem procuro ainda não chegou. Sento em um banco que tem ao lado da sala e espero impacientemente o "bendito" chegar. Tiro um livro da minha bolsa e começo a ler, contando que o tempo passe rápido.
Em torno de 15 minutos se passam e vejo se aproximando o jovem que é tão branco quanto aquele vampiro que brilha no sol, com os olhos de uma cor que ainda não consigo identificar.
- Eu estava te esperando. – Caminho até Matthew.
- Te conheço? – Seu olhar sério e penetrante me intimida por um breve momento.
- Prazer, - estico minha mão na sua direção. - Me chamo Charlotte e sou uma dos calouros de arqueologia que você tentou assustar.
- Ah tá, - Ele me olha com desprezo e começa a andar, deixando-me para trás, porém rapidamente me jogo em sua frente, impedindo-o de andar.
- Preciso falar com você.
- O que uma garota de fora quer comigo? – Ele começa a me dar atenção.
- Temo que não possa falar o que é. – Olho para os lados discretamente. – Tenho que te mostrar.
- Me dê um motivo para te dar ouvidos. – Ele cruza os braços.
- É sobre a cidade e sua história. É do seu interesse.
Repentinamente Matthew me joga contra a parede, apoiando-se com o seu braço direito na parede e inclinando-se em minha direção, deixando o seu rosto perto do meu:
- Acho que fui claro o suficiente quando fui à sua sala e disse para tomar cuidado com o que vocês fazem em relação à Angel's Land. – Seu tom de voz me irrita.
Eu o empurro, fazendo-o dar um passo para trás e aponto o dedo na sua cara:
- É bom você parar de ser arrogante e grosso ao falar comigo, seu metido. Acabei de dizer que o que tenho para te falar é do seu interesse. Não estou aqui para foder com a cidade, muito pelo contrario, eu quero salvar essa cidade e o que vocês tanto querem proteger: a história de vocês.
Começo a andar quase decidida a esquecer de Matthew, quando ele me segura pelo braço:
- O que é que você quer dizer com "salvar"? – O jovem esquentadinho parece está receptível.
- Me espera na frente do chafariz, no jardim da universidade ao meio dia. – Puxo meu braço e sigo o caminho para minha sala. – Cara babaca... – resmungo.
* Horas mais tarde *
A aula termina e todos os alunos começam a sair da sala, ficando apenas eu e uma menina loira, de cabelos curtos e usando óculos.
- A aula foi bem... dinâmica, não é? – A menina parece ser tão tímida que tem dificuldades para falar. – Essa ideia... De fazer os alunos... Interagirem... Entre si, é uma ótima forma para fazer com que... Os alunos se conheçam e... Socializem... – conforme a menina ia falando, o volume da sua voz ia diminuindo. – Eu... Gostei de trabalhar com... Você.
- Éééé... – Tento lembrar o nome dela.
- Evangelina... Evangelina Fitzpatrick...
- Isso, Evangelina. Vem cá, - Coloco meu braço no seu obro, puxando-a para mim. – Você quer se aproximar de mim, certo? Quer ser minha amiga?
Evangelina assente, meio relutante.
- Então é o seguinte: você precisa ser mais confiante e começar a falar normal, para nós podermos conversar direito e nos aproximarmos mais. Acha que estou certa? Errada?
Primeiro ela balança a cabeça positivamente depois negativamente.
- Ótimo, então, posso te chamar de Eva? Seu nome é muito longo.
Ela concorda.
- Então posso te chamar de... Charlie? – Mais uma vez ela parece relutar.
- Claro que pode. – Solto-a – Agora vamos embora, que eu estou doida para comer.
Ela pega as suas coisas e saímos da sala.
- Aqui – estico a minha mão – me empresta o seu celular.
Eva não pergunta nada e apenas me entrega o celular, onde eu anoto uns números.
- Gravei meu telefone, qualquer coisa você pode me ligar ou me mandar mensagem.
Pode parecer impressão minha, mas noto uma pequena felicidade vindo de Eva, o que acaba me deixando feliz também.
"Ela não deve ter muitos amigos" - Penso.
Chegando ao hall de entrada do prédio, Eva se despede de mim e segue seu caminho. Olho no meu relógio e bate exatos 12h10.
"Espero que ele já esteja lá." - Penso.
Conforme vou me aproximando do chafariz, vejo Matthew aparentemente ansioso, com uma de suas pernas agitadas.
- Podemos ir. – Bato no seu ombro.
- Pontualidade mandou tchau, né? – Ele reclama.
- Deixa de ser chato. Estou aqui, não é? – Começo a andar. – Vamos, meu carro está logo ali.
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