02| Villa Bella
"Duvida da luz dos astros"
- William Shakespeare
No momento que contei à Jane que iria para Itália, ela não conseguiu dizer nada. E assim com todas as minhas amigas e amigos. Olhos curiosos e fofoqueiros foram direcionados a mim por quatro semanas. Odeio ser o centro das atenções.
Mamãe é doutora em História da Arte e sempre foi seu sonho trabalhar com isso na Itália. Ela queria se mudar para lá desde antes de Frida nascer, mas nosso pai nunca deixou. Achava que era bobeira, desperdício de tempo. Priscila se libertou depois do divórcio.
Era tarde da noite e Frida está dormindo. Estou no telefone com Jane, pesquisando sobre o lugar que vamos morar.
— Villa Bella? Parece nome de cidade de livro. — Jane declarou. — Esse é o lugar então?
— É. Vou embora em... — Disse, olhando para o relógio do meu celular. — Quatro horas. Não dormi nada, Jane. Vou capotar de sono no avião.
— Isso é bem a sua cara mesmo. — Ela falou, brincando. — Ah, Ursula, você vai ficar bem. Não é como você estivesse indo para um lugar onde você não fala a língua. Isso seria bem complicado!
— Jane, eu não falo italiano! — Mesmo por ligação, dava para notar que ela estava com sua cara de deboche. Seu rosto fica franzido e ela levanta a sobrancelha. — Posso até falar nove idiomas, mas eu não sei italiano e ponto. Não sei porque está todo mundo implicando comigo.
— Ah, Ursula, pelo amor de Deus! Ninguém está implicando com você, todo mundo está com inveja! Você vai para a Itália, isso é glorioso! Charlotte Jenkins já começou a planejar as viagens falsas dela, para poder te superar. De acordo com ela, esse ano a família vai para a Suécia! — Jane contou, deixando claro o que realmente estava acontecendo. Ri das fantasias de Charlotte e da família Jenkins. Ela sempre soube como distorcer a verdade e mesmo que outra pessoa tenha a razão, Jenkins e seus cabelos loiros-cacheados fazem a mágica. — Ela vai sumir por duas semanas, postar algumas fotos em algum cenário de fundo verde e voltar.
— Ir para uma vila no meio do nada na Itália não é glorioso, Jane.
— Ninguém precisa saber desse detalhe. Tenho certeza que você vai gostar de lá. Deve ser um lugar gracioso. Só o nome me diz que um romance clichê lhe aguarda, senhorita Williams e você provavelmente vai conhecer alguma garota que vai fazer você duvidar da luz dos astros. — Ela afirma, me fazendo rir. — Não ria de mim, você sabe que eu estou certa! Vai dormir agora, princesa, você tem três horas e meia de sono. Faça bom proveito delas.
— Eu farei, Jane. Boa noite. — Respondi, com um sorriso que apenas Jane sabe como arrancar de mim.
— Boa noite, amiga. Tenha uma viagem segura. — Despediu-se e desligou a chamada. Vou dormir, porque senão, eu não acordo nunca mais.
Acordei com três despertadores tocando três músicas diferentes na minha cabeça. Mamãe fez isso por precaução. Temos uma grande fama de se atrasar. Levantei e estava parecendo um zumbi platinado. Meu cabelo curto estava todo para cima e minhas olheiras quilométricas estavam fazendo um bom trabalho em piorar a minha aparência. Nem todo o corretivo do mundo iria consertar a minha situação.
— Ursula! — Mamãe me chamou. — Está acordada?
— Como não estar? — Respondi com a voz cheia de sono.
— Acorda a sua irmã para mim. — Ela gritou de volta. — Seus métodos são eficientes. — Me arrastei para fora do meu quarto, batendo na porta do quarto de Frida. Ela não deu sinal de vida, então, entrei. Abri as cortinas, deixando a claridade tomar conta do espaço. O triângulo cor-de-rosa da parede dela brilhava, refletindo em seu rosto matinal. Frida escondeu-se entre os lençóis, numa tentativa de me ignorar. Puxei os lençóis para longe dela, que grunhiu em desaprovação.
— Acorda, peste, estamos atrasadas. — Eu disse, vendo que ela não estava nem um pouco feliz com aquilo.
— Sai, desgraça, me deixa dormir em paz. — Frida respondeu, me fazendo rir. Ela enfiou seu rosto no travesseiro e puxei o travesseiro para longe dela. — Sai, Ursula! Que inferno, garota!
— Frida, sai da cama. — Pedi, com uma almofada na mão.
— Não. — Ela respondeu e eu joguei a almofada nela. Frida continuou na cama. Joguei mais uma e ela pegou, para jogar de volta. Ficamos nessa guerra até ela desistir. — Tá bom, tá bom! Meu Deus, você é muito irritante!
— Mamãe que pediu. Vai se trocar, tem café da manhã pronto. — Eu mandei, saindo do quarto. Voltei para o meu, para poder me trocar. Optei por uma calça jeans e uma blusa branca. Peguei minha bandana vermelha e fiz um laço, tentando esconder o caos. Estava ótima para as sete da manhã depois de três horas de sono.
Desci as escadas que levam para a cozinha, vi Frida e mamãe comendo e me sentei para comer também.
Embarcamos no avião alguns minutos antes dele sair e voamos por longas nove horas e meia. Chegamos ao Aeroporto Internacional de Florença de madrugada e conseguimos pegar um táxi para Villa Bella, depois de vinte minutos tentando descobrir que outra língua o motorista falava. No final das contas, Gianinni falava espanhol e grego antigo.
Estava amanhecendo quando chegamos na casa. Villa Bella era um lugar bonito. Era uma cidade portuária, onde conseguíamos ver ao longo o píer e alguns barcos. As árvores ganhavam tonalidades laranja, por estarmos no início do outono e ventava.
A brisa passou. Consegui sentir no meu corpo o vento frio e estremeci com a mudança de temperatura.
Entramos na casa, que parecia ser bem velha. Era pequena, mas confortável. Frida entrou correndo, para poder escolher o seu quarto enquanto eu e mamãe exploramos o local.
Com uma lareira na sala de estar, eu imaginei que ali deveria ficar frio no inverno. Um sofá marrom encontrava-se no meio daquele espaço, dividindo a sala de estar da sala de jantar. A cozinha parecia ter sido reformada há bastante tempo, pois alguns azulejos, que eu imagino que um dia foram brancos, estavam amarelados. Havia uma escada de madeira, que levava ao segundo andar, onde os quartos se encontravam.
Subi-as, enquanto tentava levar a minha bagagem para o quarto ao lado do de Frida. Abri a porta.
Era um quarto confortável, com móveis em tons claros, como branco e cinza. Uma penteadeira estava posicionada na direção da janela. E a cama, bem embaixo da janela. Agradeci aos céus. Joguei minha mochila em um canto qualquer e caí de cara no colchão.
Eu precisava daquilo.
Ooi, aqui está o capítulo!
No próximo, nós já conhecemos a Francesca e se preparem para os gays panics da Ursula skksks
É isso, amores
Beijoos
Nalu
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