5. Longa viagem

A camisa está grudada nas minhas costas, molhada de suor, no meu rosto e cabelo, o suor se mistura com a sujeira, estamos caminhando a dias. Estou com sede e fome, mas sou incapaz de dizer qualquer coisa a ele. A três dias atrás, quando Josh disse que começaríamos a viagem para a Cidade Mãe, eu fiz o que ele mandou e quando começamos a caminhada tudo o que ele disse foi, "fique atenta". Ele não conversou comigo desde então, suas palavras são coma, beba, durma...

Sinto o frio característico, há muitos refugos espalhados entre os escombros, esses monstros são capazes de estraçalhar uma pessoa em minutos, são sempre violentos, nojentos e medonhos.

_Precisamos encontrar um lugar para acampar, ou um lugar alto ou no meio da terra, se vir alguma coisa.

_Tem refugos aqui... - eu digo olhando para os lados. - eles estão esperando o sol se pôr para atacar... - os pêlos do meu corpo voltam a se erguer.

_Eu sei.

_Você também pode senti-los? - estou sussurrando e nem sei porque.

_Sentir? - ele não me olha mas vejo suas sombrancelhas se unirem em dúvidas. - Como sentir? Você pode senti-los de alguma forma? - os grandes olhos verdes dele pairam sobre mim.

_Sim, eu posso. - Respondo simplesmente. Essa não é uma informação que ele não poderá usar contra mim.

_Isso é muito bom! Muito bom mesmo. Pode saber quantos estão ao nosso redor? - depois de três dias de viagem essa tem sido nossa conversa mais longa.

_Cerca de uns cinquenta. Não é como se eu conseguisse contar, tipo um número exato. Mas tenho uma ideia...

_Ciquenta... - ele repetiu com um longo suspiro. - acho que um abrigo na terra seria melhor, o casulo vai aquecer e mantê-los afastados... Você não tem medo de lugares apertados ou coisas do tipo, tem? - Balanço a cabeça negando. Já tive que me esconder e dormir em lugares tão pequenos e apertados que ele ficaria surpreso. - Vamos encontrar um lugar para montar um casulo então.

Caminhamos uns cem metros e encontramos um lugar que algum dia foi um jardim, algumas flores e matos se misturavam no espaço, o sol estava começando a querer se despedir no final da tarde. Josh colocou o aparelho estranho sobre a terra e ele começou a se transformar e cavar, a terra se mexeu e algum tempo depois um buraco iluminado se abriu.

_É melhor você ir primeiro. - ele disse. - é seguro e estarei logo atrás de você.

Sem dizer qualquer palavra eu entro pelo buraco de metal o interior não é escuro como imaginei, pequenas luzes se espalham por todo espaço e algo como um travesseiro do mesmo material está em canto, dá pra sentir o ar aquecido circular por entre a caixa. Não é o muito confortável mas já tive que dormir em lugares muito, muito piores. Josh entra em seguida e o buraco se fecha nos separando da claridade do restante daquele dia. Logo estará escuro e os monstros estarão a solta.

_Consegue senti-los mesmo aqui dentro? - seu rosto está iluminado apenas pelos pequenos pontos, ele está olhando diretamente nos meus olhos.

_Consigo. - respondo.

_Os casulos são seguros, o vem de fora, é aquecido e filtrado, depois de passar por nós passa por outra filtragem e pela terra para esconder nossos cheiros. Você só precisa manter a calma, eles vão circular ao nosso redor, pode ser que cheguem a cavar mas são muito raras as vezes que um refugos consegue quebrar um casulo. Na maioria das vezes o usuário se apavora e sai ou algo do tipo. Sabendo quantos estão do lado de fora nós dá uma vantagem, mas nunca podemos arriscar. Tudo bem?

_Sim. Tudo bem.

_Você está com medo? - Ele pergunta surrando, tão próximo ao meu rosto que eu posso sentir sua respiração.

_Não, eu não estou com medo.

_Se sentir frio ou calor a temperatura do casulo é ajustável, podemos chegar a um consenso.

_Desse jeito está muito bom. - respondo me sentindo estranhamente confortável.

_Boa noite pequena Tina.

_Boa noite Josh.

...

Meu corpo inteiro treme de frio, existem mais monstros acima do que havia uma hora atrás, consigo ouvir eles grunhirem, ou talvez seja minha cabeça. Meu ossos doem e o meu maxilar está travado para que eu não bata o queixo.

_Você está gelada... - o grandalhão diz mexendo em uma espécie de painel. - Eu aumentei o aquecimento do casulo.

_Não é o aquecimento. - resmungo. - Tem muitos outros refugos. Eles, eles estão se mudando... - eu estou tremendo tanto que meu corpo inteiro parece estar sendo sacudido.

_ O que eu posso fazer para te ajudar, para te aquecer... - o rosto parcialmente iluminado de Josh reflete preocupação, eu teria achado engraçado se não estivesse com tantos tremores. - Me diz o que eu posso fazer? - ele repete passando os braços ao redor e me abraçando apertado.

_Não... Tem... Nada... Quando... se... afastarem... Eu...

Ele me apertou ainda mais em seus braços. Passando a mão grande ao longo das minhas costas. Seu rosto colado ao meu estava me deixando confusa. Os tremores deixando meu corpo lentamente. Das outras vezes que isso aconteceu eu fiquei completamente exausta e apaguei quase instantâneamente depois me aquecer um pouco.

_Tina, eles estão indo embora? - a voz dele estava distante.

_Não, tem centenas deles acima de nós. Espere o dia amanhecer. Espere... Eu... Vou ficar bem...

É o que eu digo antes de ser completamente entregue ao sono.

...

Sinto a respiração de Josh roçar pelo meu cabelo, suave e continua. Ele está agarrado a mim mesmo com o calor que faz dentro dessa... Coisab! Ainda assim, estou confortável, me sinto estranhamente segura e nunca me sinto assim. Ele se mexe e murmura alguma coisa me abraçando ainda mais. Levanto meus olhos tentando ver o rosto dele, seus olhos se abrem, não consigo ver a cor dos seus olhos, mas sei que são verdes e estão mais pela manhã.

_Tina... - ele diz enquanto mexe seu corpo e aproxima seu rosto do meu. Ele para muito, muito perto e eu fico confusa, um comichão se apodera do meu estômago. Josh se afasta com um suspiro. Toca em lugar e as pequenas luzes ficam mais fortes. - Amanheceu algumas horas, temos que sair daqui, você está bem?

_Estou... - eu queria ter agradecer pelo cuidado que teve comigo, mas não consegui. Não sabia como fazer.

Seus olhos me examinaram com cuidado, passando por todo rosto até ele respirar fundo e fazer esse negócio se mover para sairmos.

O sol estava quente e o fim da manhã já se aproximava quando começamos nossa caminhada. Outra vez o silêncio foi ouvido, ele gritava enquanto sentia Josh me analisando. Me perguntava se ele era assim com todos ou somente comigo.

Paramos para comer e beber em algum momento e depois de voltar a caminhar, enquanto atravessamos uma cidade, com os prédios mais inteiros que tinha visto toda a minha vida. Com janelas de vidro escuro, fachadas quase que completamente visíveis. Essa é a cidade mais completa que eu já tinha visto. A maioria é só escombros e buracos.

Meus olhos passavam por todos os lugares, imaginando como seria esse lugar se tivesse vida. Como seria se...
O arrepio sobe minha pele e fico em alerta. O lugar onde estamos tem um longo caminho de sombra, uma sombra espessa e fria.

Um enorme refúgo aparece tão rápido que quase não sou capaz de registrar.

_NÃOOOO!!!! - eu grito vendo aquele mostro pular sobre Josh.

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