2. Josh
- A garota está com um ferimento infeccionado; precisamos de muitos antibióticos para cuidar dela. - A voz de Emaí sai quase como um sussurro, cheia de receio. Ele teme a reação de Silas, pois, ao que parece, a jovem é importante. - Ela está muito fraca e ferida. Não sabemos há quanto tempo não se alimenta e... - justifica-se.
- Quais as chances? - pergunta Silas, mantendo o olhar fixo na garota.
- Com o que temos aqui, diria que uns trinta por cento... - Emaí balança a cabeça, visivelmente lamentando. Apesar de sua aparência descuidada, a menina é bonita, e sua jovialidade a torna ainda mais deslumbrante. Os longos fios loiros, que parecem feitos de ouro, caem em cascata por seu rosto. Pequenas manchas distintivas são visíveis no nariz e nas maçãs do rosto, enquanto seus grandes olhos azuis refletem um mundo de inocência. Sim, ela é muito bonita, talvez até demais para alguém tão jovem e vulnerável. Suspeito que Quizar a enviou com um propósito, para seduzir e iludir todos ao seu redor, não posso subestimar o risco de ser enganado, não novamente. - Josh, segure os braços dela com firmeza. Vou limpar essa ferida. Emaí, traga antibióticos, analgésicos e, se possível, opióides. Todos injetáveis e uma agulha que não seja de metal. Pen, prepare um banho para ela, está visivelmente há dias sem tomar um. - Silas ordena, e sigo suas instruções, segurando os frágeis braços da garota. - Segure bem! - Ele me recrimina. Ele estava certo; está claro que ela não toma banho há algum tempo o cheiro que emana dela é a prova.
Se Silas quer salva-la, deve haver algo de bom nela.
Aperto mais forte o pequeno corpo enquanto me pergunto por que Quizar a quer tanto como nossos espiões disseram. Deve ter apenas dezoito anos, é pequena e magra, parecendo incapaz de se proteger. Chegar até aqui já é uma vitória impressionante! Existe algo mais nessa história, algo que Silas sabe, e que não vai dividir.
Emaí aparece com o material e o coloca sobre um móvel desgastado. Silas veste luvas e empunha as gazes. Ele me lança um sorriso, um daqueles que denuncia que algo está errado - um aviso silencioso de que posso me meter em encrenca. Assim que a gaze molhada com alguma coisa toca sua pele, a jovem acorda com um grito, e a eletricidade que emana dela invade meu corpo com uma força arrebatadora. Quase não consigo conter a energia que ela libera; meus músculos travam e, por um fio, evito desmaiar no chão empoeirado.
- Você... - é tudo o que a pequena Tina consegue murmurar antes de desmaiar novamente.O suor escorre pelo meu corpo, meu coração disparado faz meu peito doer. Como alguém tão pequena pode ter tanta força? Como ela conseguiu me atingir sem destruir todo o prédio? O que mais ela consegue fazer? Será que está fugindo de Quizar ou foi enviada para acabar com o que restava de nós? Que poderes ela possui quando está bem alimentada e em pleno vigor?- Pronto! - Silas exclama, e Emaí corre para encontrar uma veia na mão da garota, que não pode mais machucar ninguém.
- Eletricidade? - pergunto a Silas, que sorri de maneira enigmática. - Ela é bem poderosa... - resmungo, sentindo o cansaço afetando cada músculo do meu corpo após conter a força desenfreada daquele ser pequeno.
- Ela está muito fraca ou teria destruído seu escudo e fritado você. - Silas dá de ombros, exibindo um sorriso de quem sabe o que está dizendo. - Você ficará aqui nos próximos dois dias de vigília, mas quando ela acordar... Quero que todos estejam prontos, pois ela pode despertar assustada e não queremos provocá-la.
Não consigo lembrar a última vez que nos unimos para conter os poderes de alguém; isso já aconteceu alguma vez? Geralmente um de nós, é o suficiente.
- Ela é muito pequena para ser tão perigosa, podemos confiar nela? - pergunto com uma dúvida sincera.
- Ela não controla apenas a eletricidade. - Silas diz, voltando seu olhar para a garota. O que ela realmente é? Uma fugitiva, ou uma armadilha? - Ouvi relatos de que ela controla água, terra, fogo e até mesmo é capaz de curar... Aposto que tem muito mais habilidades, mas só saberemos quando acordar e se decidir nos contar. Quando a ser confiavel, algum de nós é?
A pergunta é lembrete daquele dia em que eu perdi tudo, quando fui enganado e traído por alguém que amava e isso me fez perder... tudo!
- Não é perigoso termos alguém assim aqui? - pergunto, misturando medo e incredulidade. Silas não nos colocaria em perigo, se não, por uma boa razão.
- É perigoso, sim, termos alguém assim contra nós, garoto. Tina é um presente dos céus para nós. Ela pode mudar o rumo desta guerra a nosso favor, nos oferecendo uma chance real de vencer após anos de conflito. Ela não nos fará mal, não se souber que está segura.
Uma confiança, uma fé ou talvez uma loucura...
- Quem garante que ela é tão forte ou que realmente estará ao nosso lado? - indago ao homem que é o responsável por manter esse potencial explosivo, se ela realmente tão poderosa.
- Eu garanto. Ela lutará ao nosso favor e está disposta a sacrificar-se pela nossa causa. Garanto a você, Josh, ela é o milagre que estávamos esperando. É exatamente o que precisamos, e você logo verá que estou certo. Agora fique de vigia, ela não está segura aqui. - Silas responde, saindo do quarto e me deixando sozinho com ela.
EU NÃO QUERO FICAR AQUI!!!!
Não era preciso que dissesse que devo ficar de olho na garota, para evitar que alguém a machuque ou que ela nos machuque. Por isso, deito-me na cama ao lado com um livro que encontrei há cerca de uma semana em uma casa abandonada. Espera-se que a noite e os dias sejam longos antes que eu consiga descansar de verdade. Sinto um alívio por todo treinamento que recebi dos vermelhos; mesmo que muitos deles tenham me levado ao limite, agora faço a diferença no meu papel e me tornei um homem muito mais forte e decidido que o Josh de algum anos atrás.
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