Ⓔ05 Ⓒ02 ✖ BREE

Os olhos intensamente azuis faiscavam de ódio enquanto observava Luna adormecida sob os cuidados do alemão. Após dois dias ele ainda não conseguira apurar quem tinha fornecido o veneno para Bree e punira todas as Ninfas até que uma se descaísse e falasse algo. Eventualmente uma delas falaria e rapidamente descobriu que seria Beth, uma das novatas.

Se Bree já não corresse risco de vida e sua obsessão por ela não fosse tão grande que seria inimaginável perdê-la, Alf já a teria matado no mesmo segundo que soube porque ela se envenenara. A tentação para tal feito era enorme a cada segundo que olhava as ecografias mostrando o feto sem vida que seria expulso do ventre dela em poucos dias.

Gertha deitava numa maca ao lado de Brigitte, completamente desfigurada. Olhos roxos e inchados, um braço engessado, tronco enfaixado e várias outras mazelas causadas pelo ódio de Alf, que só não a matou pois Fany era uma das Ninfas mais requisitadas.

Alf tinha chegado há pouco mais de duas horas com uma nova Ninfa. O pedaço de satisfação que sentia era apenas por saber que ela seria a mais cara de todas, visto nem sequer ter nove anos de idade direito. Faria um leilão pela sua virgindade e, conseguinte a isso, cobraria altos valores para qualquer homem que quisesse deitar com ela. Quanto mais novas, mais caras, e Aletta com certeza era a mais nova que alguma vez tiveram.

As pestanas grossas e alouradas de Bree bateram algumas vezes enquanto despertava. Suas orbes azuis se focaram no teto por alguns segundos antes de seu rosto se virar para o lado esquerdo e ver a sua melhor amiga em coma. Suas mãos correram rapidamente para tapar sua boca no intuito de reprimir um grito, e lágrimas grossas caíram pesadamente por suas faces, molhando sua almofada em grandes poças salgadas.

— Isso é o que acontece quando você faz algo que eu não gosto. Pensei muito no que você fez quando puni sua amiga por ter ajudado. Se você preza pelas outras Ninfas, nunca mais faça nada igual — Alf segredou bem no ouvido do lado direito dela, enquanto a loira ainda encarava o estado de Gertha.

— Você é doente. — As palavras saíram sem força, ainda que a raiva estivesse presente nos dentes cerrados.

Schuller soltou uma risada e se recostou para trás na sua cadeira, fitando o expositor de exames onde estava pendurada a ecografia de Bree.

— O alemão falou que você já está boa para regressar à sua cela. Vista-se, tem uma nova companheira de quarto para ensinar tudo o que já aprendeu. — Sua frase tinha um carregado senso de ironia e Bree franziu o cenho. Sabia que para ele falar daquele jeito e anunciar uma coisa que ela estava acostumada a assistir todas as semanas, era porque aquilo iria afetá-la de algum modo doentio.

Apreensiva, Brigitte se ergueu vagarosamente, ainda sentindo seu corpo ressentir o grande ataque que tinha provocado nele dias antes. Sua garganta ainda estava dolorida e custava um pouco a engolir, mas ela não se arrependia de ter abortado. Mesmo lamentando profundamente o estado da sua melhor amiga, ela não lamentava ter terminado com o fruto da sua desgraça. Não queria sequer pensar o que Alf faria com aquela criança depois que nascesse. Principalmente se fosse uma menina.

Lentamente ela despiu a bata hospitalar sob o olhar intenso e interessado de Alf e vestiu a roupa velha que estava vestida quando foi internada.

Recordou o enorme enjoo que sentiu minutos depois de ter engolido o veneno: a intensa vontade de vomitar, que ela segurou pois não queria expulsar o que propositadamente tinha ingerido. Lembrou das intensas dores no baixo ventre que fizeram lágrimas involuntárias derramarem por seu rosto e dos calafrios, formigueiro e dormência por sua pele.

Depois disso veio a escuridão e os sons difusos e distantes de várias pessoas ao seu redor.

Sua caminhada pelos corredores foi silenciosa, mas não solitária. Pela janela quadrada das portas de ferro, várias Ninfas a encaravam com olhares diferentes. Uns demonstravam apoio e lamento, outros raiva e desprezo, outros tristeza e inveja.

Quando por fim chegou na sua cela, sabia que ia encontrar Liesbeth, mas era a nova Ninfa que ela estava curiosa para conhecer. Por que o sorriso sarcástico e maquiavélico de Alf não saia de seu rosto? De algum modo aquela Ninfa seria uma punição indireta para ela, ainda que ela não compreendesse o porquê.

Quando ele abriu a porta e ela encontrou uma criança nos braços de Beth, a palidez já acentuada no rosto de Bree, triplicou, a fazendo parecer a própria personificação de um fantasma.

Alf empurrou Bree para o interior e trancou a porta. Beth chorava desmedidamente, protegendo Aletta em seus braços, que apesar de assustada, não derramava uma única lágrima. Brigitte se aproximou lentamente das duas e se agachou na frente da nova Ninfa, uma criança pequena que não aparentava mais de sete anos de tão pequena e singela que era. A raiva cresceu em seu peito, correu suas veias e tonalizou suas faces. O olhar faiscante de Bree se incendiou e ela se ergueu de rompante.

— Por favor me diga que ele não vai fazer com ela o que ele faz com todas as outras — Beth implorou aos choramingos, prendendo a menina em seus braços protetoramente.

— Isso não, ela não! Se ele pensa que eu vou permitir que isso aconteça, ele não me conhece realmente. Eu mato aquele canalha e todos os outros antes de permitir que alguém toque nessa criança! — Bree garantiu peremptória.

O plano para a rebelião começou pelas condutas de ar, entre sussurros passados de cela em cela. A novidade sobre a nova Ninfa rapidamente se espalhou e gerou revolta em todas as outra, que pela primeira vez se uniram, sem exceções.

À hora do jantar as portas foram abertas e um batalhão de homens armários, carregando tasers e cassetetes, as esperava como sempre, a fim de as guiar para o refeitório de forma ordeira.

Sem dúvidas aquilo parecia uma prisão feminina na maneira como era conduzido.

Quando Bree, Beth e Aletta saíram das suas celas, todas pararam para averiguar a menina. Esta se encolheu de medo e observou tudo e todas de olhos cabisbaixos e uma a uma, as líderes de cada cela acenaram para Bree num sinal de concordância com a rebelião.

O jantar transcorreu tranquilo entre conversas que pareciam normais aos olhos dos guardas, mas secretamente palavras eram passadas de como e quando a rebelião iria começar.

Era consenso geral que precisava começar no corredor para as celas, pois era o mesmo com acesso para a saída. Como elas iriam conseguir acesso para lás das grades elétricas seriam outros quinhentos metros.

No final ficou aceito que era precipitado agir já sem todas se prepararem nem sem planos secundários e pelos dois dias seguintes os dutos de ar se encheram de segredos, conspirações e revoltas.

Foi depois de uma outra visita de Alf para fotografar Aletta, que as Ninfas resolveram agir o mais rápido possível. Depois que aquelas fotos vazassem, o tempo para ela ser vendida e corrompida era rápido.

O sabor nervoso se instalava na boca de Bree. Ela tentara impedir que Alf levasse Aletta para essa sessão de fotos, se fingiu interessada por Schuller e mesmo após ser rejeitada e enxotada, ela conseguiu fazer com que ele a levasse junto para preparar Aletta.

O quarto onde ocorria a sessão de fotos, era o mesmo que Bree estava acostumada a ser levada por Alf e o mesmo lhe trazia recordações dolorosas. Foi difícil ver a menina vestir roupas sensuais e adultas, por algumas vezes quase regurgitou os restos de comida em seu estômago, mas se fez de forte por Aletta.

A menina precisava de si mais do que tudo e Bree precisava protegê-la das mãos sujas de Alf durante a sessão de fotos. Não importava o que ela tivesse de fazer para isso.

— Você está diferente. O que está armando? — Alf perguntou sem rodeios, conhecendo bem demais a sua Luna.

— Eu andei pensando... estou arrependida do que fiz — mentiu com todos os dentes que tinha, suspirando pesadamente e fitando o chão falsamente entristecida.

— Está falando do veneno? — Ele questionou mais incisivo e num tom mais baixo e vacilante.

— Sim. Eu estava com raiva de você. Ainda estou, mas... eu te amei e você me apunhalou pelas costas. Eu agi sem pensar e matei... matei o nosso filho. — Lágrimas pesadas rolavam por suas bochechas redondas e coradas e Alf viu ali a inocência da garota por quem se apaixonou, o seu anjo.

— Você está falando sério?

Havia grande comoção em suas palavras ansiosas e duvidosas. Seus olhos brilharam com a ideia de poder voltar a ter aquela doce menina aos seus pés, ao mesmo tempo que teria seu corpo selvaticamente e quem sabe conseguisse iniciar um futuro com ela.

A verdade é que desde que se aficcionada por Brigitte, ele não conseguira deixar nenhum outro homem deitar com ela. Ele a guardava só para si e só ele usufruia do seu corpo.

— Sim. Se você ao menos pudesse me tirar daqui. Eu não pertenço ao Ninho. Em quatro meses eu nunca fui vendida para ninguém, as outras Ninfas me odeiam e me invejam de tal maneira que eu tenho medo que algum dia elas atentem contra a minha vida. — Verdades camufladas com mentiras tornava o discurso da loira muito mais real e credível para Schuller e isso se via em seu olhar hesitante e pensativo.

— Alguém está ameaçando você? Me diga quem e eu punirei! — ordenou com um tom raivoso, segurando o braço dela apertado. Não por ódio dela, mas por querer manter ela por perto, protegida por si. Ele se sentia um cavaleiro, um salvador de donzelas em perigo e Bree era sua dama.

— Não, mas eu também não me sinto protegida — negou de braços cruzados e ombros encolhidos.

— Eu verei o que posso fazer. Talvez consiga mudar você de vez para aqui e não terá mais que conviver com as outras. — Suspirou pesadamente e coçou a testa pensativo, se sentindo num mix de sentimentos indecifráveis.

— E viver mais confinada do que eu vivo? Isso é um inferno! Eu não lembro mais da cor do céu, do cheiro do ar, do som das coisas. Eu tenho saudades de quando você me levava para passear e víamos o mundo juntos com outras cores. Vamos viver aquele sonho de fugir de tudo e todos, Alfy. — A loira manhou, se aproximando lentamente e sedutora dele e enlaçando seus braços ao redor do seu pescoço, contrariando as vontades do seu corpo de se manter distante.

— Você me chamou de novo de Alfy. — Um largo sorriso se abriu nos lábios do homem, que agora segurava Bree possessivamente. O coração da garota pulava em seu peito e não era de emoção ou alegria e sim de repulsa e ódio de estar novamente presa nos braços daquela demônio.

— Arrume um apartamento para nós, um lugar vigiado por seus seguranças. Só me tira daqui. — Suas palavras saíam agora sussurradas ao pé do ouvido dele, enquanto vez em outra ela mordiscava e sugava o lóbulo da sua orelha.

Em seu baixo ventre ela sentiu a vigorosidade de Alf crescer imediatamente contra si e por pouco ela não o empurrou e o rejeitou como tantas outras vezes.

— Uma pena que hoje eu tenha o dia todo ocupado e atarefado — murmurou rouco de tesão, apertando a bunda dela e a afastando a contragosto. — Já podemos terminar essa sessão? — questionou para o fotógrafo, que assentiu e começou arrumando tudo.

Alf beijou Bree vigorosamente e apenas se separou dela pois um dos guardas o relembrou da hora do seu próximo compromisso.

Brigitte ajudou Aletta a se trocar, sentindo a pele gelada e trêmula da garota, e a vontade de chorar presa em sua garganta.

A menina tremia por dentro, temerosa do que fosse acontecer em seguida, mas por fora demonstrava força e coragem que apenas faziam Luna ficar admirada e orgulhosa.

— Você está sendo muito forte, Aletta. Gostaria de ter sido que nem você quando aqui cheguei — Luna confessou acariciando os cabelos castanhos claros da garota e limpando a maquiagem carregada em seu belo rosto.

— Eles vão me machucar? — Aletta questionou num fio de voz, olhando por cima do ombro para Schuller e percebendo o olhar perverso sobre elas.

Bree virou o rosto para trás e sorriu forçadamente para Alf, que se despediu e murmurou algo para um dos guardas antes de se retirar de vez.

A adolescente demorou um pouco antes de a responder, pois não estavam sozinhas. Aproveitou que precisava tirar as roupas sexuais da menina, a encaminhou para o banheiro, longe dos ouvidos alheios e se agachou.

— Você não irá precisar sofrer o que sofremos, disso eu garanto. Juro com a minha vida que você irá sair daqui sã e salva. — A loira garantiu em murmúrios, abraçando a pequena e sentindo uma força para lutar crescer dentro de si.

Depois de devidamente vestida, Aletta puxou Bree pela barra da camisa dela antes de saírem do banheiro.

— O seu namorado... ele também é namorado da tia Elise. Eu não gosto dele.

— Ele não é meu namorado. Aquilo que você viu foi apenas um teatro que precisei fazer para proteger você — Haumann explicou e Aletta assentiu entendendo. — Sua tia Elise tem que idade? — Bree questionou pensando se essa tal tia seria mais uma vítima de Alf.

— Ela é amiga da senhora que acolheu a mim e a meus irmãos na casa dela. Foi ela que nos entregou para o cara mau — contou e Bree ergueu os sobrolhos surpresa por descobrir que Alf tinha uma cúmplice.

Antes de conseguir perguntar mais alguma coisa, o guarda bateu na porta do banheiro e ordenou que as duas saíssem. Elas assim o fizeram e foram acompanhadas pelo homem pelos corredores de volta às celas.

Seus olhos topázios se desviavam vez em quando para as portas das celas onde várias ninfas encaravam as duas pela janela quadrada. Aquela era a hora e o momento.

Bree inspirou fundo e terminou de caminhar, parando à porta da sua cela e esperando o guarda abrir a mesma.

Ao mesmo tempo que a porta foi aberta, Liesbeth saiu correndo, empurrando o guarda contra a parede oposta.

Não houve tempo para dizer nada. Bree empurrou Aletta para dentro da cela e trancou a porta. Sem tempo a perder, ela se atirou em direção ao guarda, esmurrando seu rosto antes de ele ter tempo de se recuperar do ataque de Beth.

Ambas bateram no homem até o deixar inconsciente e antes de algum outro guarda se aperceber do que acontecia, Beth arrancou o molho de chaves que ele carregava e foi abrir as outras celas. Rapidamente o tumulto causado chamou a atenção e o corredor se encheu de Ninfas enfurecidas de um lado e de guardas segurando tasers e cacetetes do outro.

— Essa é a hora — Luna gritou e todas assentiram, correndo em direção aos guardas ao mesmo tempo que Bree dizia: — Liberdade ou morte!

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