Ⓔ04 Ⓒ03 ✖ KAT e STOKER
O ar parecia faltar em seus pulmões. Era como se Theodore tivesse desaprendido a respirar ou como se tivessem sentado em cima do seu peito; e nem afrouxando o nó da sua gravata ou abrindo os botões da sua camisa social ele conseguia aliviar essa sensação desesperadora de insuficiência respiratória.
Sua mente estava perdida num turbilhão de pensamentos desconexos, como um trem desgovernado ou uma montanha russa descarrilando.
Levou ambas as mãos aos ouvidos tentando fazer o zunido persistente sumir, mas quanto mais apertava suas mãos contra suas orelhas, mais alto o zunido soava.
Num acesso de fúria e descontrolo ele varreu todos os objetos que encontrou na sua frente, deixando o seu apartamento num estado caótico de destruição.
Quando percebeu que não tinha mais o que destruir, Theodore respirou sofregamente, cambaleou e tropeçou pelos destroços, fazendo um caminho curto até o seu quarto. Se jogou na cama e deixou que a escuridão o consumisse e aplacasse a dor que estava sentindo.
Sua noite foi atormentada por pesadelos com Kat, Mina e a jovem garota que chamara Clara de mãe. As duas primeiras seguravam a adolescente que tentava correr até ele. Elas gritavam para ela e a alertavam de que ele era um monstro, mas a jovem parecia não acreditar. Por fim a menina conseguiu se soltar e correu na direção dele, mas a cada passo apressado que ela dava em sua direção os dois pareciam cada vez mais distantes.
Stoker percebeu que se não corresse até ela talvez a perdesse de vista para sempre e então correu como se sua vida dependesse disso. Assim que alcançou a adolescente, ele a puxou para um abraço apertado, sentindo no íntimo do seu interior que aquela era a filha que ele achava ter morrido por sua culpa. Mas tão cedo o abraço iniciou apertado, quanto afrouxou enquanto ela sussurrava em seu ouvido que ele era um monstro desprezível e que sentia apenas nojo dele.
A cor branca pintava todo o semblante de Stoker, que se afastou brevemente da jovem para ver o olhar frio e odioso da sua própria filha, o repudiando.
Atrás dela surgiram novamente Kat e Mina, apoiando suas mãos nos ombros da adolescente e a levando para longe dele de forma protetora.
Stoker acordou aos gritos, desesperado pela solidão agonizante que sentiu no sonho ao vê-las sumir diante dos seus olhos.
Depois de um banho demorado para tirar o suor que escorria por si e para acalmar seu corpo e sua mente, Stoker saiu de casa em direção ao Moulin Rouge. Tudo o que pudesse fazer para manter sua mente focada em qualquer outra coisa que não o encontro com Clara e a sua filha seriam bem vindos.
Entre essas distrações estava Katerina, que entre brigas e pegações fazia de tudo para conseguir alguma pista que indicasse o caminho certo. Ela necessitava conseguir o que precisava para desmantelar o negócio horrendo que Stoker cabeceava.
Em um desses dias, Kat estava fingindo dormir no chão do escritório de Stoker, depois de ter feito sexo várias vezes seguidas. Assim que baques surdos e repetitivos soaram na porta, ela ficou alerta. Theodore se mexeu cuidadosamente, saindo de debaixo de Kat e se certificando de que ela estava realmente dormindo e então se encaminhou até o batente da porta, a entreabrindo o suficiente para ver quem era.
— Entre, mas fale baixo — Stoker sussurrou, olhando para o corpo aninhado de Kat, que mantinha o rosto virado para o lado contrário de onde ele estava. — O que você quer?
— Chegou um catálogo novo — Alf informou num tom baixo, estendendo uma maleta prateada para Stoker.
Este olhou para a mesma e então olhou novamente para Kat.
— Você não devia ter trazido isso sem me avisar.
— Foi preferível trazer sem avisar do que andar com isso por aí esperando o momento certo em que você acabasse de foder ela.
Kat escutou a porta do escritório bater devagar, mas ainda assim violentamente. Stoker não tinha gostado da forma como Schuller se dirigira a ele em relação a Kat. Com ela ali dentro, ele não tinha como aceder ao cofre secreto que ele tinha escondido atrás de uma parede falsa, mas se a acordasse, ela poderia ver a maleta e perguntar o que era e ele não queria ter que mentir ainda mais para ela.
Stoker sabia que estava sendo egoísta quando se tratava de Kat. Não a queria por perto, mas também não a queria longe. A tratava mal, mas precisava dela. Era uma relação que ia do oito ao oitenta e sabia o quanto isso a machucava.
Preferiu aproveitar que ela ainda estava adormecida para esconder a maleta atrás do sofá e então se esgueirou para o pé dela a fim de a acordar.
— Ei, dorminhoca. Acorde! — sussurrou ao pé do ouvido dela, distribuindo beijos pela linha do seu pescoço.
Kat sentiu uma sensação boa por aquele carinho inesperado. Fingiu se espreguiçar e acordar aos poucos, abrindo os olhos sonolentos para encarar o rosto sereno de Stoker, a encarando.
— Adormecemos aqui de novo. — Ela constatou olhando em volta como se se fizesse de desentendida e surpresa.
Ok, internamente ela estava surpresa. Com Stoker não tinha isso de dormirem juntos depois de uma transa, mas ultimamente isso parecia estar acontecendo direto! Na verdade, muita coisa parecia diferente desde há uns dias. Ele parecia mais atencioso, calmo e menos violento com ela. O sexo parecia mais intenso e menos carnal, mas Kat achava que isso eram apenas coisas de sua cabeça e de seu coração apaixonado, fantasiando que ele estava começando a correspondê-la.
— Temos de parar de ficar dormindo no escritório. — Ela comentou, se erguendo e despindo a camisa social dele enquanto caçava desnuda pelas suas roupas.
— Eu preciso sair. Vou pedir para Däniel levar você para casa. — Stoker preferiu mudar de assunto e Kat percebeu certa frieza da parte dele ao dizer aquilo, fazendo um pedacinho do seu peito se apertar.
— Não preciso que Däniel me leve. Eu chamo um táxi — negou a oferta, terminando de vestir suas roupas. Seu tom foi igualmente frio, mas então ela lembrou da maleta e suavizou sua voz, se voltando para Theodore com um sorriso malicioso no canto dos lábios. — Você passa lá depois? Terminar o que começamos aqui — questionou sapeca, caminhando até Stoker e passeando a mão por seu corpo até tocar em seu membro e o apertar delicadamente.
— Você está fogosa. — Ele afirmou, a segurando pela cintura e a empurrando até prensá-la contra a parede.
— Você não? — questionou retórica, beijando o queixo dele e passando as unhas por sua nuca, fazendo um breve arrepio passar por seu corpo.
— Me espere. Daqui a uma hora estarei lá — anunciou perto do ouvido dela, sugando o lóbulo da orelha dela e segurando a pele entre os dentes.
Kat soltou um gemido ao sentir a barba curta dele ralar em seu pescoço, tensionando todos os músculos do seu corpo, principalmente aqueles entre suas pernas. Outro gemido abandonou os seus lábios, mas dessa vez era um choramingo frustrado pelo afastamento brusco do corpo de Stoker para longe do seu.
— Deixemos o resto para depois. — Ele indicou com um sorriso sacana no canto dos lábios, se afastando para vestir a camisa que ela largara em cima da cadeira dele e que continha todo o perfume de Bauer.
A ruiva assentiu e saiu vagarosamente do escritório, mantendo sempre seus olhos sobre Stoker de um modo sedutor. Quando ele desviou o olhar de si ela fitou o sofá, vendo um pequeno vislumbre da maleta ali escondida.
Seus passos foram rápidos indo ao encontro de Däniel, que estava no bar conversando com outros seguranças e dançarinas. Ao olhar para Kat e perceber o sinal discreto dela para a seguir, ele se desvencilhou dos seus companheiros assim que Kat saiu de vista e foi atrás dela a passos apressados.
— Não acha que é muito arriscado estarmos falando aqui na frente do Rouge? — Ele questionou olhando em volta preocupado.
— Preciso que você me diga se ele vai entrar no carro com uma maleta prateada ou não. Te explico melhor depois, mas me diga algo assim que ele entrar no carro — pediu apressadamente, olhando igualmente em volta e saindo da beira de Däniel sem sequer dar a ele mais chances de falar.
Poucos minutos depois Stoker surgiu e nas mãos ele não trazia absolutamente nada. Com o celular na mão, Däniel enviou um simples NÃO para o número de Kat, apagando a mesma mensagem de imediato.
Stoker entrou no carro e pediu que Däniel dirigisse novamente para Oud Zuid, mais especificamente para a frente da mansão de Clara.
Quando o carro parou, Stoker ficou olhando pela janela da sala de estar a casa cheia, como estava desde a primeira vez que ele foi lá, depois do confronto com Clara no shopping.
Naquela noite ele pensou em ir lá e bater à porta, mas quando viu aquele homem levar duas crianças pequenas da sala de estar e deixar Clara para trás com um jovem rapaz, Stoker percebeu que ela realmente tinha seguido em frente e refeito sua vida com outro homem.
Em sua mente aquelas crianças eram filhas dela e do outro homem. Talvez até mesmo a adolescente que a acompanhara da outra vez no shopping fosse do homem e não sua.
Contudo havia algo no olhar de Clara, o desespero quando a menina surgiu e deu de caras com Stoker, a pressa com que as duas fugiram depois que a jovem a chamou de mãe, tudo isso lhe dizia o oposto. TodaviaStoker não sabia se isso eram apenas seus instintos ou a vontade de que fosse verdade falando mais alto.
Däniel recebera uma nova mensagem de Kat, falando para ele atrasar Stoker e não o levar de volta para o Moulin Rouge ou para casa dela tão cedo e apreensivo Däniel aceitou, respondendo um OK e apagando de imediato as mensagens dela do seu celular.
Ele não sabia como haveria de atrasar Stoker, mas arranjaria um jeito e esperava que Kat conseguisse se despachar no que quer que ela estivesse fazendo.
A mesma entrou pelas traseiras do local sem ser vista, se dirigindo até o escritório de Stoker a fim de procurar a maleta. Se ele não tinha saído com ela, com certeza ela ainda estava no escritório e ela iria achá-la.
Mantendo as luzes desligadas ela vasculhou primeiramente atrás do sofá, apenas para garantir que ele realmente não a tinha deixado ali, mas ela sabia que ele não seria tão burro. Então continuou investigando, vasculhando cada cantinho possível, movendo livros a fim de encontrar uma porta secreta, procurando gavetas com fundo falso, olhando atrás de quadros, mas nada. Ela não conseguia encontrar nenhum local secreto onde Theodore pudesse ter escondido a maleta.
Já pensando em desistir, Kat se jogou no sofá e bateu a cabeça na parede, como um gesto derrotista e o som do baque surdo a fez lembrar de outra coisa.
Sua mente trabalhou em retrocesso, voltando a minutos atrás quando estava se despedindo de Stoker e ele a jogou contra uma parede e o som que escutou era bem diferente daquele em que ela tinha batido a cabeça.
Colocando-se imediatamente de pé, ela caminhou até essa exata mesma parede, tateando por alguma brecha que confirmasse que havia um fundo falso e então ela sentiu um pequeno relevo perto da estante de livros. Pressionou a saliência e esperando alguma coisa acontecer. De imediato, a parede se moveu num clique e se abriu vagarosamente até revelar atrás um cofre secreto.
Kat olhou o cofre com o coração na garganta, não sabendo se ficava feliz em ter achado ou se ficava desesperada com o que pudesse encontrar. Pegou na sua bolsa, retirou de dentro um pincel de rosto e uma sombra castanha escura, encharcou o pincel com o pó e pincelou sobre as teclas numéricas do painel. Isso revelou que os números pressionados tinham sido apenas 5, sendo que eram precisos 8 para destrancar a fechadura. Se ela quisesse abrir aquele cofre o mais cedo possível, Däniel teria de empatar Stoker.
Num bloquinho que ela sacou da sua bolsa, Kat foi anotando os 5 números e os organizando por ordem numérica: 0, 1, 2, 4 e 9 e então começou pensando em números que pudessem ser importantes para Stoker. A primeira combinação foi a data de aniversário dele, mas haviam números que não estavam ali. A segunda opção foi a data do seu aniversário, mas faltavam ali números.
Katerina tentou outras datas que batessem com o perfil de Stoker e de Alf, mas nenhuma delas combinava com a sequência de 5 números que estavam demarcados e já se havia passado demasiado tempo. Alguém podia entrar ali e a apanhar em flagrante.
Sua primeira tentativa tinha caído por terra, mas ela não desistiria tão facilmente e tentaria arrancar de Stoker ainda aquela noite.
Por sua vez Stoker desistira de ficar olhando para a casa de Mina em segredo e decidiu ir embora, para nervosismo de Däniel que esperava que seu plano desse certo. Tomara um laxante, pensando mentalmente que Bauer ia pagar por isso.
Após alguns metros dirigindo Däniel pediu ao patrão para parar num posto de gasolina pois precisava urgentemente ir no banheiro. Lá dentro ele demorou o tempo necessário até Stoker aparecer e indicar para Däniel ir para casa se recuperar que ele apanharia um táxi de volta ao Moulin Rouge.
Desesperado Däniel enviou uma mensagem a Kat informando que Stoker tinha ido embora sem ele. A mensagem de resposta de Kat veio rápida, informando que ela já estava em seu apartamento, o que tranquilizou o segurança.
Em seu apartamento, Kat o arrumou com uma decoração romântica, esperando o momento que Stoker aparecesse. Segundo Däniel, ele tinha voltado para o Moulin Rouge e isso preocupava Katerina para a possibilidade dele ter voltado lá para mudar a maleta de esconderijo. Nervosa ela o esperou chegar, não havia nada que ela pudesse fazer.
Colocou velas aromáticas espalhadas pelo apartamento, uma música ambiente sedutora e vestiu o seu melhor conjunto íntimo, pronta para o seduzir.
Stoker chegou na casa dela emocionalmente exausto. A dúvida se realmente deveria ter ido até lá permaneceu todo o tempo, porém a promessa que fizera a ela o fez recuar em sua vontade de passar a noite sozinho.
De qualquer das formas a companhia dela o ajudaria a superar o barulho ensurdecedor que se fazia em sua cabeça.
Kat recebeu Stoker com um copo do seu whisky preferido, o puxando para sentar no sofá junto a ela. Ao mesmo tempo ela distribuía massagens pelo seu corpo a fim de relaxar a tensão visível e palpável que se fazia em seus músculos.
— Como é possível que você saiba exatamente o que estou precisando? — Ele questionou num murmuro, mantendo sua cabeça encostada para trás e os olhos fechados.
— Eu conheço você — respondeu, mas Stoker riu sarcástico.
Kat se levantou, ficou de frente para ele. Pegou no comando do som que estava pousado na mesa de apoio ao lado do sofá e aumentou o som que estava passando. Sensualmente, ela dançou ao som da música, cantando as frases certas para ele ao mesmo tempo que o seduzia, o tocava e o olhava no fundo dos olhos.
— Somethin' 'bout you makes me feel like a dangerous woman. — Ela cantou, puxando Theodore para ficar de pé, enquanto ela dançava ao redor dele. Passeando suas mãos pelo corpo dele, a ruiva foi desapertando os botões da camisa no processo e o puxando pela gravata de forma dominadora.
Stoker grunhiu por estar sendo dominado por ela e se deixou ser guiado por ela até a cama, sendo jogado na mesma enquanto ela rastejava por cima de si. Enlouquecido quando seus lábios beijaram o fundo da sua barriga, Theo prendeu a respiração e se deixou levar pelo momento, sentindo os beijos subindo em direção ao seu peito e os olhos esmeralda o fitando com aquele olhar ardente que dizia sem palavras o quanto o desejava.
Sem conseguir mais resistir ou se conter, Stoker a puxou pela cintura e a girou contra a cama, ficando por cima dela e atacando o seu pescoço como um predador. Desceu suas mordidas pelo colo dela, deslizando a alça da baby doll com uma das mãos. Revelando o seu seio intumescido, ele abocanhou com vontade salivando de prazer.
— All that you got, skin to skin, oh my God don't ya stop, boy! — Kat cantarolava, mas as palavras não saíam com a mesma intensidade com que eram cantadas na música, pois o ar lhe faltava pelos beijos que Stoker distribuía em seus seios.
De olhos fechados, Kat o sentiu dançar contra sua cintura e o restante das peças de roupa desabitarem seus corpos e serem jogados para qualquer canto.
A intensidade com que ele a invadiu foi um misto de violência e necessidade gritante dela. Bauer mordeu os lábios e agarrou os lençóis de cetim como se sua vida dependesse disso. O ar rareava em seu peito pelos beijos que agora Stoker roubava dos seus lábios, sugando sua língua e investindo em si em movimentos rápidos e profundos.
O vício um pelo outro não se regia somente pela sede de se terem como um só. Ia além da compreensão de ambos. Era algo muito mais que físico, mas nenhum deles queria admitir isso. Ele, porque não se permitia ser amado nem amar novamente. Ela, porque isso arruinaria a sua carreira e os seus reais objetivos relacionado a Stoker.
Contudo, parecia cada vez mais difícil para ambos ocultar o que sentiam. A maneira como se tocavam era diferente, o olhar que trocam era mais profundo, os beijos tinham mais significado e as palavras não ditas gritavam em seus peitos, no ritmo que seus corações batiam.
Quando seus corpos não conseguiram aguentar mais, depois de várias horas investindo e pertencendo um ao outro, Stoker rolou na cama e ficou de barriga para cima, fitando o teto. Sua mente viajava perdido, pensando em quando as coisas ficaram tão sérias com a bailarina. Ele se preocupava demais com ela e pior, ela mexia demasiado com ele.
Kat se deitou de lado o encarando com um olhar além, como que tentando desvendá-lo. Em sua mente ela pensava no quanto estava se afundando cada vez mais em Stoker e o quanto necessitava que aquela missão acabasse logo, antes que ela não conseguisse mais se desprender emocionalmente dele.
O silêncio entre eles durou até Stoker decidir que ele não podia mais continuar ali do lado dela como se fossem um casal. Ele precisava tornar a tratá-la com desprezo, como tratava todas as outras mulheres.
— Onde você vai? — Ela questionou o encarando confusa.
— Isso não te diz respeito — respondeu azedamente, fazendo Kat engolir em seco e se questionar o que tinha feito de errado para ele estar a tratando assim.
— Está tarde, Theo. Que mal há em você ficar o restante da noite? — Ela insistiu, se colocando sentada na cama com o corpo envolto no lençol.
Stoker não respondeu de imediato. Caçava suas roupas as vestindo sem muito investimento de parecer arrumado; parecia apressado para sair dali e Kat percebeu isso.
— Nenhum. Apenas quero dormir sozinho — respondeu secamente, cruzando o quarto até a porta de saída do mesmo, se travando com a pergunta seguinte que a bailarina fez:
— Fiz alguma coisa de errado?
Stoker olhou por cima do ombro, a vendo de relance e suspirou derrotado ao perceber que ela exibia uma expressão triste no rosto.
— Eu não preciso de motivos para ir embora.
— Porque não tem motivos para ficar — Kat murmurou em resposta, baixando o rosto até suas mãos.
Estava desviando os seus objetivos para outro foco e se culpava por isso. Talvez seus superiores tivessem razão quando a acusaram de não ser capaz de separar o profissional do pessoal. Talvez seus colegas estivessem certos quando a acusaram de fraca. E talvez ela estivesse errada quando tentou provar o contrário e se dedicou de corpo e alma àquele caso. Acabou se entregando mais do que queria e acabou provando a todos que ela estava errada.
No entanto ela era persistente, talvez teimosa e orgulhosa, e mesmo que saísse dali com o coração despedaçado ela sairia vitoriosa. Engoliria sua derrota pessoal e esfregaria na cara de todos os seus feitos.
— O que você quer que eu diga, Bauer? Quer que eu minta? — rebateu colérico.
— Não. Eu sei que você não dá a mínima para o que sinto, que eu sou só mais uma bonequinha para entreter você, que um dia você vai cansar de mim e me largar como se eu fosse um pedaço de pano velho que não lhe dá mais serventia. Eu sei que você me trata mal e que eu mereço alguém melhor, que eu não deveria me subjugar a você — começou irritada, cuspindo as palavras com acidez, mas sua voz ia esmorecendo aos poucos. — Contudo você é meu patrão. Você me tirou das ruas, me acolheu, me fez sua e de mais ninguém, me impediu de cair nas mãos de homens nojentos, cuidou de mim, ainda que do seu jeito torto e agressivo... — Suas palavras ganharam novo significado em sua boca, como gratidão distorcida.
— Onde você está querendo chegar? — interrogou a interrompendo, como se quisesse dar a ela uma segunda chance de voltar atrás com o que iria dizer.
— Eu me apaixonei por você. O quão clichê e doentio isso é? — Kat indagou, soltando uma gargalhada fraca e sarcástica.
— Por que você se apaixonou por mim? O que você viu em mim que fez você se apaixonar? Depois do seu discurso eu não consigo ver nada que a tenha feito se apaixonar por mim — rebateu descrente, enfiando as mãos nos bolsos das calças, enquanto se mantinha no batente da porta.
— Seu coração — respondeu sem rodeios, o encarando com compaixão nos seus olhos esmeralda. — Você é só uma enorme camada de um monstro que criou, tentando esconder e proteger seu coração do mundo.
— Quem te garante que eu tenho um coração? — rebateu ultrajado.
— Eu vejo em seus olhos, Theo. Você esconde muito bem, mas quando está comigo, quando se entrega a mim, você fica vulnerável, baixa as guardas e me deixa ver um vislumbre do seu coração — argumentou docemente.
— Vulnerável? Você acha que eu fico vulnerável quando estou com você? Ou será que é você que inventa essas histórinhas para se refugiar do jeito que eu trato você! — contestou agastado, rindo ironicamente de tudo o que escutava.
— Você nunca me bateu, pelo menos não de um jeito agressivo e cruel. Você só grita comigo, discute, rebate. E você sempre me protegeu de Schuller e de qualquer outro homem que ousou erguer a mão para mim. Do seu jeito rebuscado e primitivo, você sempre cuidou de mim — retrucou enérgica.
— Você está delirando, imaginando um príncipe encantado por trás de um monstro. Acho que você está sendo influenciada pela febre Grey — ironizou, exibindo um sorriso de canto e um olhar descrente, esfregando a testa com impaciência.
— Você não é um monstro. — A ruiva argumentou.
— Você não me conhece — ripostou crispando os lábios.
— Eu posso não saber tudo sobre você, seus segredos mais negros, seu passado, mas eu conheço você — insistiu certa do que dizia.
— Pare de se iludir, Bauer! Eu não sou nem nunca serei o homem certo para você. Ultrapasse essa paixonite pois ela está atrapalhando nossa relação — disse revoltado, desviando o olhar dela e fitando qualquer outro ponto do apartamento, longe de onde ela estava.
— Você está com medo do quê? De se apaixonar por mim? — esbravejou se erguendo de supetão.
— Entenda uma coisa, Katerina, eu nunca poderei amar você — respondeu num tom mais brando, mas ainda cheio de sentimentos controversos.
— Por quê?
— Porque eu não tenho um coração.
— Pare de mentir para você mesmo! — gritou em resposta, encurtando o espaço entre eles e o segurando pelos ombros para o fazer olhá-la nos olhos, não se importando do lençol ter caído no chão e deixado seu corpo desnudo.
— Eu não estou mentindo! — gritou de volta a empurrando contra a parede e a prendendo lá. — Eu perdi meu coração muito tempo atrás, quando me envolvi com Asmus Stoker! Talvez se você me tivesse conhecido na altura, isso pudesse ter dado certo. Talvez eu não tivesse destruído a vida dela e perdido meu coração no processo!
A cólera que havia em suas palavras e seus gestos poderiam assustar qualquer um, mas para Kat aquilo era uma vitória. Ele estava começando a se abrir, a desvendar seus mistérios, os porquês dele ser tão duro consigo mesmo e tão fechado.
— Você falou que destruiu a vida dela. Houve uma mulher em sua vida. Que você amou — comentou num tom baixo, quase beirando o sussurro enquanto o olhava com ternura.
— Você está entrando em terreno perigoso Katerina. — murmurou entredentes, se afastando a passos largos dela.
— Theodore, eu estou implorando. Por favor, me deixa entrar — pediu de mãos juntas, sentindo lágrimas em seus olhos.
— Se eu deixar você entrar, você será arrastada pelo buraco negro que é a minha vida — rosnou em raiva por estar se sentindo tentado a ceder.
— E de que me adianta eu estar com um pé dentro e outro fora? Eu estou presa! — confessou num suspiro.
— Então vá embora! Eu não estou prendendo você, Kat. Você nunca pediu para sair, mas se é isso que você quer, então parta... — retorquiu num suspiro cansado, se sentando na ponta da cama e enterrando seu rosto em suas mãos.
— Porra, será que não entende? Eu amo você, eu não quero ir embora! — gritou a plenos pulmões tudo o que tinha preso dentro de si e que estava retendo fazia tempo.
Stoker ergueu o rosto para a olhar chorando e novamente fechou os olhos, os apertando com força e se permitindo chorar também. Ela tinha razão quando falou que ele se tornava vulnerável perto dela, mas ele queria que aquela fosse a última vez que isso acontecesse.
Os soluços de Kat preenchiam o ambiente, mas Theodore preferia ser estrangulado pelo silêncio do que ouvi-la chorar por si.
— Me perdoe, Kat... — sussurrou tão baixo que foi quase impossível ela escutar. — Eu não posso amar você de volta — decretou num fungo, se colocando em pé determinado a sair de vez do apartamento, mas novamente ela o impediu.
— Prove que você não sente nada por mim! — Ela exigiu, segurando o rosto dele.
— Eu não tenho que provar nada, Bauer — rebateu rispidamente, engolindo as lágrimas que ainda insistiam em sair.
Desprendendo-se das mãos dela, Stoker cruzou o pequeno espaço entre o quarto e a saída do apartamento.
— Por favor, fique. — A ruiva implorou desmanchada em mais lágrimas.
Sua mão ainda segurava a maçaneta da porta, travando uma luta interna entre o que achava certo e o que seu coração queria.
— Por que você foi se apaixonar por mim, garota? — indagou num suspiro derrotado, abrindo a porta pronto a partir.
— Não pense que eu não lutei contra. Mas eu não consigo mais — respondeu entre soluços, o vendo partir sem mais palavras.
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