Ⓔ03 Ⓒ01 ✖ BREE ▬ Parte 1

AVISO!
Este capítulo contém cenas fortes que podem ferir a susceptibilidade dos leitores.
Leiam com cautela.

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Os sons pareciam difusos e distantes para Bree, como se ela estivesse debaixo d'água e ouvisse os barulhos ao seu redor de uma forma distorcida. Sua visão estava turva e seus olhos pesavam como se carregassem pedras nas pálpebras.

A loira tentou se movimentar, porém seu corpo não obedecia aos seus comandos. Sentiu um leve desespero por aquilo, mas logo pensou no fato de poder estar sonhado e sofrendo de uma paralesia de sono.

Seu subcosciente a obrigava a se manter de olhos abertos, ainda que a luta para tal fosse tremenda e exaustiva. Seus olhos foscos captavam imagens de vultos ao redor dela e uma conversa de fundo. Bree tentou identificar os vultos, contudo não lhes conseguia ver os rostos.

Tentou então perceber onde estava e não era, de todo, o local onde ela havia estado quando adormecera.

"Isso é só um sonho", pensou para si, na tentativa de não surtar.

O local à sua volta era escuro e tinha um cheiro intenso de mofo. Os vultos conversavam calmamente entre si e gargalhavam.

Depois de um tempo, um deles se aproximou da adolescente e seu rosto ficou mais em foco para os olhos cristalinos dela. Não era um rosto conhecido para a jovem e isso lhe dava um certo medo, principalmente pelo modo como ele a olhava.

— Essa daqui vai render uma excelente grana. — Bree o escutou dizer, ainda que a frase soasse distorcida aos seus ouvidos.

— Tem uma cara de santa, mas esse corpo. Céus, estou todo duro. — Outro deles falou, se aproximando também e apertando a coxa dela.

Aquele toque pareceu real demais e mesmo que aquilo fosse um sonho, Bree não queria sonhá-lo. Seu estômago se contorcia em nojo e uma ânsia de vômito surgiu. Mais uma vez, Bree lutou para acordar. Comprimiu seus olhos com força e lutou para despertar daquele que parecia ser o começo de um pesadelo. Tentou se mexer e se livrar daquela mão que subia pelo interior da sua perna, mas nada acontecia. Seu corpo parecia não ter qualquer reação aos seus comandos. E seus olhos continuavam extremamente pesados.

— Podíamos aproveitar um pouco dela antes do chefe chegar. — O primeiro voltou a falar, desabotoando a camisa que Bree vestia.

— Se ele descobrir que usamos das mercadorias, vai haver problemas. — Um terceiro respondeu se mantendo distante e "invisível" aos olhos desfocados de Bree.

— Se ficar de bico calado ele não vai descobrir. — O segundo respondeu, continuando a subir a mão até a intimidade de Brigitte.

Sua garganta emitiu um som gutural, ainda que não fosse alto suficiente para ser ouvida para além daquele quarto. Os homens riram das tentativas de Bree e continuaram investindo sobre ela, retirando suas roupas uma por uma até a deixarem completamente nua.

Brigitte continuava lutando e rezando para que aquilo fosse apenas um pesadelo, mas os toques e sons que ambos faziam eram reais demais.

Lágrimas quentes começaram escorrendo por seu rosto redondo e novos sons semelhantes a gritos baixos vibravam em sua garganta.

De repente ela só queria dormir. Ela queria dormir e não sentir nada. Não queria sentir aquelas mãos a tocando, nem aqueles homens a penetrando, um por um, em investidas brutas e intensas. Seu interior quase virginal se ressentiu numa dor inimaginável que parecia durar para sempre.

Aquele pesadelo era apenas o começo do seu inferno.

Seus olhos se mantinham fechados se abstendo de observar as caras de joio dos seus estupradores, mas rapidamente se arregalaram quando um barulho de tiro ecoou na sala. Bree ainda não conseguia ver bem porém percebeu um quarto homem segurando uma arma na mão. Sua figura ainda parecia desfigurada sob o seu olhar no entanto quando ela escutou a sua voz, imediatamente reconheceu o seu salvador.

— Eu juro que não fiz nada. — O terceiro homem respondeu de mãos erguidas, encostado à parede e encolhido de medo.

— Mas olhou e não fez nada para impedir. — E um terceiro tiro foi-se ouvido.

A frieza com que Alf disparou a deixou extremamente assustada, contudo o alívio de ter sido salva da continuação do seu estupro se sobrepôs, chorando pelo surgimento do seu herói.

— Agora eu estou aqui, minha pequena. Você está a salvo. — Schuller cantarolou perto do ouvido de Bree, a pegando em seus braços e a carregando para fora dali.

Bree estava mais desperta agora do que estivera minutos atrás. Seus olhos não pesavam tanto, os sons não pareciam mais tão distantes e as imagens eram menos desfocadas.

Seu corpo se aninhava perfeitamente no colo de Alf, que a segurava por suas pernas e costas, enquanto sua cabeça permanecia encostada no ombro dele.

Seus olhos captaram vislumbres de um corredor bolorento e enferrujado, com luzes fracas amareladas e várias portas de ferro trancando o mistério por trás delas, como se se tratassem de dormitórios de um manicômio ou de uma prisão de alta segurança.

Não importava o que era, apenas que davam arrepios.

Sua boca estava seca e sua garganta arranhava pelos gritos contidos de mais cedo. Aquela memória não sairia tão cedo de sua cabeça, contudo agora ela tentava pensar em outras coisas na tentativa de se abstrair do que ainda estava sentido.

Onde ela estava?

O que havia acontecido com ela depois que adormeceu no hotel ao lado de Alf?

Porque ele tinha uma arma e como sabia onde a encontrar?

Onde ele a estava levando?

Poderia mesmo confiar nele?

Todas essas perguntas dançaram em sua mente, no entanto havia uma dormência em seu peito e ela só queria esquecer por um tempo que existia e que aquele não era apenas um pesadelo.

Seus olhos se fecharam por segundos, apenas sentindo a movimentação macabramente silenciosa ao seu redor, tendo apenas o som dos passos de Alf ecoando numa marcha fúnebre pelos corredores daquele lugar.

Bree não sabia por quanto tempo ele caminhou, para onde ele foi e onde eles estavam e apenas se despertou quando sentiu seu corpo ser depositado em algo fofo e super confortável.

Seus olhos se abriram, se deparando com um quarto luxuoso e amplo. Houve estranhamento da sua parte sobre aquele local, mas sua cabeça doía demais para conseguir questionar alguma coisa.

Seus sentidos estavam quase todos novamente obedientes aos seus comandos. Ela já conseguia se mexer, ver e ouvir melhor, mas a sensação de recobro não era de todo prazerosa.

Agora ela sentia com mais pujança e intensidade a dor de ter sido estuprada. Cada centímetro do seu corpo pulsava dolorosamente, como se ela tivesse sido atropelada, e ainda havia a dor da sua alma que doía mil vezes mais que tudo isso junto.

Alf tinha desaparecido para lá de algum outro cômodo daquele quarto. Pelo som da água correndo, Bree supunha que ele estava no banheiro e isso mais tarde se confirmou quando ele retornou ao quarto e pegou o corpo desnudo de Bree, a transportando até o interior de um banheiro completamente branco. Aquela cor costumava trazer calma e paz à adolescente, mas naquele instante lhe transmitia um sentimento de frieza, dor e desconforto.

Lentamente ela entrou dentro da banheira de louça branca como a neve. A água estava a uma temperatura adequada, ainda assim foi-lhe difícil entrar por completo dentro dela.

Manchas de sangue boiavam na água turva e lágrimas afiadas como facas acompanharam aquele acontecimento.

Alf havia retirado o casaco e se mantinha agora de colete e com as mangas da sua camisa social arregaçadas, pronto a banhar Brigitte. Ele pegou em uma esponja, a molhou na água, espremendo a mesma em seguida e a passou pelas costas de Bree.

O banho foi lento e cuidadoso e quando terminou, Alf a levou de volta ao quarto e a aconchegou no interior dos lençóis da cama.

— Alfy. — Sua voz saiu rouca e baixa, como se tivesse medo de ser ouvida.

— Shhhh, não fala nada. Você agora precisa de descansar. — Alf acariciou seus cabelos loiros e a empurrou contra a cama, a forçando a se deitar.

— Eu só quero entender o que aconteceu. Onde eu estou? — Seu corpo se aconchegou ao conforto do colchão, sentindo cada músculo relaxar e a aliviá-la da dor que sentia.

— Não vamos nos preocupar com o que aconteceu, agora. Descanse anjo. — E com aquelas palavras, ela o obedeceu, ainda que contrariada.

Um fato era certo e consumado, ela estava exausta e dolorida e apenas queria ter um momento de descanso. Mesmo que toda aquela dor e lembranças a fizessem ficar acordada por décadas, com medo de tornar a acordar na mesma situação, seu corpo foi vencido nessa batalha e fez Bree mergulhar num sono turbulento.

A jovem não soube por quanto tempo dormiu, mas quando acordou parecia ter dormido um dia inteiro e se não fosse pelo pesadelo que tivera, talvez ela tivesse dormido um pouco mais.

No sonho ela estava com Alf no quarto de hotel. Bree se via fora do seu corpo, como observadora. Ela estava deitada, dormindo sozinha na cama de casal e Alf estava ao pé da porta entreaberta, como se esperasse por alguém.

O corpo de Brigitte parecia estático demais para quem estava dormindo e isso trouxe um sentimento de medo à Bree que observava de fora.

Ela se aproximou lentamente e tentou perceber se a outra Bree ainda respirava e suspirou aliviada quando constatou que sim, para além de verificar que seus olhos não estavam completamente fechados.

Quando estava para se afastar, o espírito da jovem se apercebeu de uma mancha vermelha redonda numa zona do seu pescoço, mas antes de poder detetar o que era, dois homens apareceram do nada dentro do quarto.

O choque se apoderou da compreensão dela quando imediatamente os reconheceu como sendo os homens que a estupraram, entrando e conversando com Alf como se fossem velhos conhecidos.

Em pânico, a Bree observadora viu a Bree do sonho ser colocada dentro de um saco de plástico preto e levada como se fosse uma mercadoria estragada para fora do quarto de hotel.

Brigitte quis ir atrás porém parecia que seu espírito estava preso dentro daquele quarto e a angústia de não poder fazer nada, de não poder evitar o que iria acontecer, a fez acordar sobressaltada.

Seu peito doía pelo esforço constante da sua respiração irregular.

Ela parecia buscar por ar cada vez mais, na falsa sensação de que o oxigênio era escasso.

Suas mãos se elevaram ao seu pescoço, tentando entender porque não estava conseguindo respirar direito e então sentiu um pequeno e quase imperceptível buraco na lateral do pescoço onde havia visto a marca vermelha no seu sonho.

Desesperada, Bree correu até o banheiro e se olhou no espelho. A constatação da veracidade daquela simples e inocente ferida destruiu todo o seu mundo.

Lágrimas grossas e pesadas arranharam o seu rosto pálido, percebendo o grande erro que tinha cometido.

Um enorme pavor se apoderou do seu peito e em desespero e pânico ela correu até a porta do quarto, querendo escapar das garras daquele monstro. Contudo foi surpreendida ao dar de caras com uma porta de ferro, igual às outras que vira ao longo do corredor macabro que passara mais cedo, camuflada atrás da falsa porta de madeira do quarto..

Suas mãos se encontraram com o objeto duro e enferrujado, batendo com força exagerada, tentando por tudo derrubar aquela porta com uma força que ela sabia que não tinha.

Desistindo de continuar tentando, ela olhou ao redor, chorando audível e histericamente, percebendo as comportas de madeira que davam para as janelas.

Talvez ela conseguisse escapar por ali, mas rapidamente ela constatou que não quando, ao abrir as comportas, Bree se deparou com parede.

Sua garganta arranhou dolorosamente com os gritos de raiva e frustração que soltou, novamente esmurrando o obstáculo à sua frente até suas mãos sangrarem.

O som da porta sendo aberta a fez parar e se voltar de frente para o seu demônio.

Naquele momento ela não soube ao certo o que sentir, se ódio, raiva ou nada.

Alf se aproximou cautelosamente, com um sorriso maquiavélico no rosto e um olhar divertido.

— Não se machuque agora, anjo. Você terá bastante disso pelo resto da sua vida.

— Me tira daqui, por favor. — Ela implorou com medo, na última tentativa de acreditar que ele se importava com ela, ainda que sua expressão dissessem exatamente o contrário.

A risada aterrorizante que ele deu diante das súplicas de socorro dela, a fez estremecer e se encolher de medo. Mais lágrimas banharam o seu rosto e um sentimento de impotência tomou seu corpo.

Como ela não viu aquele olhar antes?

Como ela não percebeu aquela aura negra?

Como ela foi burra ao ponto de acreditar que ele realmente a amava?

Como ela se deixou iludir com as propostas dele?

Como ela não viu as más intenções dele por trás da sua cara de príncipe encantado?

Bree tentava se culpabilizar por tudo o que estava acontecendo, mas não conseguia. Ela não tinha culpa de acreditar no melhor das pessoas.

Ela não tinha culpa de ter se apaixonado.

Ela não tinha culpa de estar ali.

O único culpado de destruir seus sonhos, sua vida, seu coração, seu corpo e sua alma era única exclusivamente o monstro à sua frente.

Bree não tentou lutar quando ele se aproximou. Sabia que não tinha hipóteses de fugir dele, então deixou que ele a agarrasse, a abusasse, batesse e aprisionasse pelos conseguintes quatro meses.

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