⍟ Provação
Olá, mores! ^3^
Aqui está o segundo capítulo dessa neném. ♡ Eu espero que vocês gostem, porque eu adorei escrever sobre esse casal. Espero conseguir escrever mais sobre eles em breve. Por favor, se puderem, me digam o que acharam!
Boa leitura e até as notas finais.
PROVAÇÃO
⍟
O que é ter um coração em frangalhos? Uma ferida que sangra sem parar? Memórias de sorrisos compartilhados que jamais retornarão? Como continuar quando não há mais nenhum fio de esperança? Quando tudo que restou foi a dor da perda e a solidão?
Naquele momento, todos esses questionamentos, os sentimentos de perda foram deixados para trás. Como açúcar se dissolvendo em água. E tudo que tinha restado era um sentimento de jubilo, como se todas as feridas tivessem começado a se cicatrizar para sempre. Quando os dois se separaram e Hinata abriu os olhos, encontrando os aquamarine dele, ela percebeu o que tinham acabado de fazer e toda a magia desapareceu.
— Oh, Deus! — ela murmurou, tocando os lábios com a ponta dos dedos. — Eu... Eu... — As palavras ficaram presas em sua garganta.
— Hinata. — O nome dela saiu em um sussurro áspero.
— Eu tenho que ir! — disse apressada e afastou-se dele. Correu para a saída e empurrou algumas pessoas no processo.
Gaara demorou a raciocinar e perceber o que estava acontecendo. Ficou estancado no lugar, as pernas tensas e duras não o deixavam se movimentar. Estendeu a mão na direção dela com atraso, apenas vendo o cabelo preto-azulado e longo revoar e sumir entre os outros convidados.
— Hinata! — gritou inutilmente, sua voz sendo facilmente abafada pela música alta. — Espera! — E só nesse momento Gaara conseguiu se mover.
O rapaz correu na direção em que Hinata tinha ido ao mesmo tempo que afastava as pessoas com pressa, recebendo protestos e lamurias. Quando alcançou a saída, só viu um vurto dobrando a esquina. Droga! Por que ela tinha que ser tão rápida? Foi nessa direção, precisava alcançá-la.
Por que ela estava fugindo dele? Tinha errado quando pensou que Hinata queria um beijo? Tinha estragado tudo porque fora precipitado? Pensar na possibilidade da morena nunca mais olhar na sua cara, não perdoá-lo... Machucava. Já tinha perdido tanto e agora também iria perder sua preciosa amiga? Logo ela que tinha lhe dado forças para continuar?
Isso era cruel.
Virou a esquina e se deparou com Hinata parada ali, encostada à construção de tijolos vermelhos, ofegante, e visivelmente confusa, atordoada. Não pareceu notá-lo, que estava bem do lado dela, observando-a com cuidado; os membros cheios de tensão e as palavras entaladas na garganta. Apenas esperando para serem ditas.
— Não faça mais isso, por favor. — Foi o que conseguiu dizer depois de alguns segundos. Ela levantou o rosto para ele, as bochechas em brasa e os olhos ardendo pelas lágrimas que ainda não tinham transbordado de seus olhos perolados. E ele acrescentou, como se explicasse: — Não saia correndo por ai desse jeito.
— Gaara, eu sinto muito! — E realmente sentia, com a voz embargada, continuou: — Eu não deveria, quer dizer... Aquilo não deveria ter acontecido! Nós somos amigos, droga! Me perdoe...
— Espera, espera! Do que você está falando? — interrompeu-a bruscamente, dessa vez, sem conseguir conter a onda de emoção que o invadia. — Hinata, você não precisa pedir perdão. Perdão pelo quê? Por termos nos beijado? Fui eu quem tomei a iniciativa, sendo precipitado e estragando...
— Eu correspondi, a culpa não é sua. A verdade é que estou confusa, não consigo entender o que acabou de acontecer. Não quero que nossa amizade acabe por causa disso. Gaara, você é muito importante para mim.
— Você é louca cara! — Riu, a mão tapando parcialmente o seu rosto. — Hinata, você é louca por achar que eu poderia me afastar de você por algo como isso. Sinceramente...
— Bem, eu... — murmurou sem graça, desviando o olhar. — Então podemos apenas ignorar o que aconteceu? — indagou apreensiva, apertando os dedos na roupa com força.
— Creio que não — ele soou tão sério, e não hesitou em encará-la diretamente nos olhos. — Você sentiu, não é? Não tem como fingir que nada aconteceu. Nós temos química, e bem, eu não me importaria em repetir.
— Você quer dizer que deveríamos repetir? — Estava em dúvida.
— Eu quero dizer que acho que está na hora de seguirmos em frente, mas de verdade. Já se passaram meses e está mais do que na hora de tentarmos arrumar nossas vidas. — Como esse tipo de atitude era totalmente atípica de Gaara, aproveitando o embalo da coragem que tinha conseguido, terminou: — Nós somos amigos e nos conhecemos.
Ambos pareciam estar totalmente alheios que estavam no meio da rua, quase de madrugada, conversando sobre um assunto, no mínimo, delicado. Estavam presos em um mundo particular, um mundo que só pertencia à eles. Um mundo em que compreendiam a dor do outro. Que sabiam as barreiras, as provações que tinham passado, e, principalmente, estavam dispostos a seguir em frente.
— Você está me convidando para sair, Senhor Gaara? — Ficou impressionada ao constatar que dessa vez não havia nenhuma hesitação ou dúvida em sua voz. Apenas sinceridade e carinho.
— Hm... Talvez — replicou, fingindo não saber sobre o que ela falava com certo humor. Ficou feliz de ver que não havia mais resquícios de lágrimas nos olhos bonitos dela. — Por que? A Hyuuga-san quer ir em um encontro comigo?
— É assim que convida alguém para sair? Parabéns — ironizou, os braços cruzados sobre o busto farto em uma posição que a deixava infantil.
Gaara se demorou em uma risada. Uma risada tão contagiante e gostosa, que a morena o acompanhou segundos depois. Esse ato singelo, serviu apenas para aquecer seus corações.
— Você quer sair comigo, Hinata?
— Eu adoraria. — Um pequeno sorriso brotou nos lábios rosados.
E foi olhando naquele mar esverdeado que eram os olhos de Gaara, que ela teve a certeza que sua vida não seria mais a mesma.
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Hinata não conseguia se lembrar qual havia sido a última vez que tinha se arrumado para um encontro. Na verdade, não conseguia se recordar qual tinha sido a última vez que poderia ter se arrumado para sair e que não precisasse se esconder feito uma criminosa que acabou de escapar da prisão.
Apreensiva, fitou-se no espelho de corpo inteiro que estava preso no seu espaçoso banheiro. Dúvidas preenchiam sua mente. Devia deixar o cabelo preso ou solto? Devia usar saltos ou sapatilhas? Algo formal ou mais casual? Por fim, acabou deixando o cabelo solto, prendendo uma única mecha com uma presilha de borboleta negra, optou por um vestido preto de mangas curtas, que ia até os joelhos, com um cinto que ressaltava seus seios e valorizava sua cintura fina. E depois de tanto pensar, optou por calçar sapatilhas prateadas — que combinavam com o cinto.
— Será que está exagerado? — murmurou, dando uma voltinha e arrumando a parte de trás do vestido, que estava vergonhosamente preso a sua calcinha. — Oh, Deus! Estou tão nervosa. Pareço uma adolescente que vai para o primeiro encontro.
A campainha tocou e ainda de cara limpa, ela correu para atender a porta. Tropeçou no meio do caminho, e esbarrou em um móvel; soltou um xingamento em voa baixa. Ignorando a dor na lateral do quadril, abriu a porta dando de cara com Gaara. Inconscientemente, um sorriso brotou em seus lábios.
— Gaara! Você chegou cedo! — exclamou.
— Na hora certa. — Olhou para o relógio de pulso, apenas para garantir. — Se distraiu outra vez? — perguntou sem esperar resposta, estendeu uma única rosa vermelha na direção dela. — Para você, Hinata-swan.
Surpresa, Hinata abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu de seus lábios. Acabou apenas por pegar a rosa da mão dele e admirá-la. Cheirou-a em seguida.
— Obrigada, Gaara — agradeceu, o sangue se espalhando por seu rosto adoravelmente. Depois soltou uma risada e empurrou o ombro dele levemente. — Seu estúpido! Não me chame por esse apelido ridículo!
— Ai! — gemeu e começou a massagear o lugar que ela tinha batido. — Olha quem fala. Você me chama de Pudim de Areia. Quem em sã consciência daria um apelido assim para alguém? — Revirou os olhos. — Vai me deixar plantado aqui fora?
Ela deu espaço para que o ruivo entrasse no apartamento. Assim que ele o fez, fechou a porta.
— A propósito, você está linda — elogiou, surpreendendo-a outra vez, com um abraço carinhoso por trás. Cheirou o cabelo preto-azulado e macio.
A Hyuuga fechou os olhos para poder apreciar aquele contato quente, e apesar de sutil, extremamente íntimo. Estava se sentindo tão protegida e amada. Sim. Amada. Virou-se para ele e retribuiu o abraço, afundando o rosto no peito musculoso e segurando a camisa dele, para depois afundar os dedos finos em seus braços.
Sem graça, afastaram-se um pouco constrangidos.
— Me dá mais um minuto? — Hinata perguntou, os dedos ainda afundados no braço dele.
— Claro, mas só um minuto — brincou.
Ela correu para o banheiro novamente e com a respiração rápida e descompassada, encarou a si mesma no espelho. Seu coração batia tão rápido, que parecia que iria sair pela sua garganta a qualquer instante. A circulação do seu sangue estava ligeira e conseguia ouvir o pulsar em seus ouvidos. Todos os poros estavam eriçados.
Aquelas sensações... Fazia tanto tempo que não as sentia.
Tentando controlar o ritmo da respiração, maquiou-se rapidamente e saiu do recinto. Pegou a bolsa em cima da mesa de canto e anunciou:
— Estou pronta! Vamos?
— Vamos! — Levantou do sofá e foi na direção da porta. Abriu para que ela passasse. — Rápido, porque o dia será longo.
— Para onde estamos indo? — quis saber, curiosa.
— Sur-pre-sa!
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Gaara se divertia ouvindo Hinata perguntar onde estavam indo de dois em dois minutos.
— Santo Deus! Cale a boca! Será que não pode ficar menos ansiosa? — repreendeu-a, não verdadeiramente irritado.
— Eu odeio surpresas! — reclamou emburrada. — Já passou quase uma hora desde que estamos nesse carro indo para sei-lá-onde. É normal eu querer saber, não acha?
— Acalme-se, Hinata-swan — pediu, parando o carro. — Chegamos.
— Ai! Ainda bem, não aguentava mais ficar sentada aqui dentro.
— Então poderia ter ficado sentada no lado de fora — brincou e ela o fuzilou com o olhar.
Hinata olhou através da janela e percebeu que estavam em um parque. Pegou-se surpresa. Durante todos aqueles anos morando naquela cidade, nunca tinha reparado naquele lugar. A grama era perfeitamente aparada, e as árvores eram tantas que ela desistiu de tentar contar. As flores se espalhavam em canteiros vastos e bem cuidados. Havia um lago, e dali, dava para ver um casal de patos nadando despreocupadamente. Sorriu quando viu crianças correndo e brincando de um lado para outro. Também havia casais sentados em panos, fazendo piquenique.
— Uau! — exclamou depois de olhar para todos os lugares que a visão dali permitia. — Aqui é muito bonito.
— Achei que iria gostar de algo assim — disse em um tom ameno e tirou o cinto. — Vamos. — Desceu do carro e deu a volta para abrir a porta para ela. — Vamos fazer um piquenique.
— Ah! Isso é tão legal! — confessou e aceitou a ajuda dele para descer do carro. O toque da mão dele na sua fez com que o calor se espalhasse pelo seu rosto. Ainda que em tantas outras ocasiões eles tivessem se tocado. — Obrigada!
O Sabaku sorriu em resposta e foi até o porta-malas. Ela o seguiu, poucos passos atrás. Ele abriu o compartimento, mostrando que havia uma cena enorme ali dentro, junto com uma toalha vermelha e branca quadriculada. Também havia uma caixa térmica.
— Você realmente pensou em tudo, não é? — murmurou, satisfeita.
— Claro. Queria que nosso encontro fosse perfeito — admitiu. — Você se importa de pegar a toalha? Eu carrego o resto.
— Okay. — Na verdade, iria se oferecer para ajudá-lo a carregar a caixa térmica, mas ficou calada. Entendia bem como funcionava essa coisa de orgulho masculino. Então, pegou a toalha e foi andando na frente. — Onde vamos ficar?
— Debaixo de uma daquelas árvores perto do lago. Com esse tempo quente, lá é mais fresco — respondeu. Empilhou as duas caixas para depois segui-la.
Foram por uma pequena trilha, que era feita com pedras cinzas desiguais, apesar de terem algum tipo de charme. Ficaram em completo silêncio até alcançarem uma árvore robusta e alta. Hinata estendeu a toalha na grama e depois correu para ajudá-lo.
— Deixa eu pegar essa cesta, Gaara. Parece que você está morrendo. — Ele soltou um murmúrio de protesto, mas ela o ignorou completamente e pegou a cesta mesmo assim. Depois acrescentou, zombeteira: — O que foi? Não vai se sentir menos homem por causa disso, não é?
— Tsc. — Isso a fez rir. — Sente logo aí.
Ainda rindo dele, Hinata colocou a cesta em um canto e sentou-se. Gaara deixou a caixa térmica próxima de si e juntou-se a ela. Abriu a caixa e tirou uma caixa de suco de laranja.
— Pegue os copos dentro da cesta, Hinata — pediu. — Como "estamos" dirigindo, achei melhor não comprar nada alcóolico.
— Isso é bom. — Estendeu os copos de plástico na direção dele para que ele os enchessem. — Se bem que, quando nos reencontramos, você não se importou em dirigir aquela moto. E você estava muuuuuuuito bêbado.
— Não jogue isso na minha cara. — Bebeu um gole do suco e revirou os olhos. — Aquilo era diferente, eu estava deprimido. E se me lembro bem, você subiu na moto comigo mesmo assim.
— Porque você insistiu. Eu poderia ter ido para casa a pé. — Pausa. — Nós podíamos ter morrido.
— Não vai acontecer de novo. — Sorriu matreiro e ela balançou a cabeça, concordando.
— O que você trouxe para comer? Admito que eu estou faminta.
— Bom... Acho que vai gostar disso. Lembra daquele bolo de chocolate que comemos uns meses atrás? Quando fomos àquele show de rock e...
— Estávamos morrendo de fome depois de pular pra caramba e fomos naquela lanchonete 24h. O melhor bolo de chocolate de toda a minha vidaaaaaa! — Lembrou-se deliciada. — Vai me dizer que trouxe ele? Por favoooor!
— Exatamente. — Gaara tirou uma caixa de porte médio de dentro da cesta e abriu-a em seguida. Havia quatro enormes fatias de bolo de chocolate, que fizeram Hinata salivar. — E de um dia para outro, como você gosta.
Ela soltou um grito de felicidade e sem pensar, disse:
— AMO VOCÊ!
Gaara olhou para ela, um tanto surpreso. Entendia o significado daquelas palavras, afinal, eles eram amigos e já tinham dito isso outras vezes. Tentou não dar muita importância para o assunto. Porém, Hinata pareceu constrangida com a situação.
— Eu... Desculpe. — Abaixou o olhar.
— Hinata, olhe para mim — pediu, na tentativa de amenizar o clima tenso que caiu sobre eles. Quando ela fixou o olhar nele, Gaara deslizou a mão pela toalha, até alcançar a dela e cobrir com a sua. — Pare de se preocupar. Nós estamos bem, não precisa ficar tensa. — Com a mão livre, passou o dedo pela cobertura do bolo e sujou o nariz dela. — Hinata-swan.
— Ei! — Deu uma risada. — Não desperdice a cobertura desse jeito, seu bobo!
— Cale a boca e come seu bolo! — murmurou com um sorriso de canto.
— Com prazer! — Pegou a colher de dentro da cesta e partiu um pedaço, para enfiar na boca em seguida. — Hmmmmmm! Isso está maravilhoso!
A expressão de felicidade que invadiu o rosto dela foi o suficiente para que ele ganhasse o dia. Sorriu com isso, porque sentiu-se calmo. Não havia mais dor ali, talvez, tentar fazer as coisas darem certo com Hinata, era uma forma de se redimir e de voltar a encontrar a felicidade.
— No que está pensando? — ela perguntou com a boca cheia.
— Eu estava pensando... — Deu uma pausa e pensou melhor: ainda não. — Que é melhor eu pegar logo um pedaço desse bolo, antes que você coma tudo sozinha.
Ela deu uma risada e eles dividiram o mesmo pedaço.
O Sabaku se atentou a maneira que os dedos dela se prendiam ao garfo e como ela colocava o cabelo atrás da orelha toda vez que deslizava pelo rosto bonito. O sorriso que se estendia pelos seus lábios e o modo que ela fechava os olhos, apreciando o sabor do chocolate.
Queria guardar esses detalhes.
— Por que você está me encarando? — Hinata interrompeu os devaneios dele. — Estão tão bonita assim? — Abriu um sorriso.
Ele tossiu, na tentativa de disfarçar a vergonha por ter sido pega no flagra.
— Sua boca está suja — murmurou. A morena pareceu igualmente envergonhada, e ele aproveitou o momento para se aproximar. — Eu sei que você gosta de bolo de chocolate — começou, enquanto pegava um guardanapo e aproximava do rosto dela —, mas não precisa comer que nem uma criança, se sujando toda. — Limpou o canto dos seus lábios com cuidado, os olhos se demorando ali mais do que o necessário.
— Olha quem fala — desdenhou através do guardanapo. — Você estava tão encantado com minha beleza que estava errando o caminho da boca? — Também pegou um guardanapo e passou pela boca dele, mas de maneira totalmente desajeitada.
— Eu tenho minhas dúvidas se você está mesmo limpando ou sujando mais. — A voz saiu abafada, já que ela esfregava sua boca, sua bochecha e parte do seu nariz. Soube que ela estava brincando quando ela começou a esfregar a sua testa. — Mas que... É assim que você quer, OK.
Começou a fazer igual a ela e espalhou o resto de bolo para todo lado, enquanto Hinata fazia o mesmo. A risada dos dois ficou mais alta, à medida que a brincadeira se intensificava. Só pararam quando ela não conseguia mais respirar de tanto rir.
— Agora você está toda descabelada — Gaara avisou, ainda com um sorriso.
— E adivinha de quem é a culpa? — retrucou ironicamente, tentando dar um jeito nos fios escuros que tinham se espalhado para todo o lado. Até mesmo a presilha tinha escapulido para algum canto. — E você não está muito melhor do que eu.
— E adivinha de quem é a culpa? — ecoou as palavras dela, com divertimento.
Esticou a mão e começou a ajudá-la a colocar o cabelo no lugar, os dedos deslizando entre os fios com cuidado, para depois ajeitá-los atrás da orelha. A mão parou ali, e Hinata olhou para ele. Os dedos ásperos deslizaram pelo rosto dela, até parar em sua bochecha macia. Ele se aproximou um pouco, como se estivesse pedindo permissão para o que faria a seguir, e em resposta, ela fez o mesmo: aproximou-se até que suas pernas se encostassem, e fosse possível sentir o seu hálito. Piscou algumas vezes, sentindo a respiração agitada.
Gaara trouxe o rosto dela para ele, e tocou os lábios com os seus de maneira delicada. Ela fechou os olhos, apreciando o contato, a boca unida na outra cheia de carinho, até que ela tomou a iniciativa de passar o braço pelo pescoço dele e se aproximar mais; o ruivo rodeou a cintura dela e a manteve perto de si, enquanto aprofundava o beijo de maneira calma, lenta e sensual. Hinata o correspondeu com igual intensidade, sentindo o fôlego ir embora, mas não quis parar. Os dedos ásperos dele em sua pele, a forma que ele a segurava tão próximo de si e o carinho que demonstrava, fez com que ela se derretesse em seus braços.
Quando o beijo se findou, eles se separam apenas alguns centímetros, as testas encostadas, os olhos ainda fechados. A morena se pegou pensando se sempre seria assim: cada vez que eles se beijassem seria mágico dessa forma? O coração batia agitado e ela teve medo de abrir os olhos e tudo não passar de um sonho, um truque de sua mente. Gaara voltou a encostar os lábios aos dela, dando pequenos beijos, para só então se afastar definitivamente. O ruivo apreciou as bochechas coradas e como os lábios rosados e cheios se entreabriam, como se ela procurasse dizer algo e não encontrasse as palavras certas. No final das contas, tudo que Hinata fez foi lhe oferecer um sorriso pequeno e tímido, para depois voltar a comer a sua fatia de bolo em completo silêncio.
Gaara fez o mesmo, ciente que ainda levaria tempo para que Hinata se acostumasse completamente com a relação que eles estavam tendo agora. Admitia que em algum momento a hesitação veio, começou a se perguntar se talvez não estaria dando um passo maior que suas pernas ao arriscar esse tipo de relacionamento com sua melhor amiga. Os dois tinham acabado de sair, quase que literalmente, da fossa, se algo desse errado... Não sabia se poderia suportar toda a dor outra vez.
— No que você está pensando? — A voz suave de Hinata o despertou dos seus pensamentos. — Você está com aquela expressão que fica com o cenho franzido, como se estivesse pensando em algo muito importante. Assim. — Tentou imitar a expressão dele, o que só serviu para fazê-lo sorrir.
— Eu estava pensando, que seria bom você ir devagar nesse bolo, porque eu também trouxe — Inclinou-se para a cesta e a puxou para perto, para depois agarrar um saco de papel fechado e tirá-lo dali. Hinata o encarava com curiosidade, até que ele abriu e mostrou o que era — isso aqui.
— Bolinho de queijo! — A felicidade era visível no rosto dela, Gaara bem sabia a melhor forma de agradá-la: Hinata era amante de comida. Ela pegou um e deu uma mordida generosa. Os olhos se fecharam por alguns segundos e isso significava que ela tinha adorado. — Foi você que fez?
— Se tivesse sido, provavelmente você já teria caído nessa toalha com a boca espumando. — Ela riu. — Eu sou bom em muitas coisas, infelizmente, cozinhar não é uma delas.
— Bom, se vale de conforto, está ótimo. Independente do lugar que você comprou isso aqui, precisa me levar lá depois! — pediu, bem-humorada.
Ele apenas assentiu, feliz pela felicidade dela. Será que sempre seria assim?
Gaara esperava que sim.
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— Obrigada, Gaara. O dia foi maravilhoso — Hinata disse com sinceridade, assim que ele parou o carro bem em frente ao prédio dela. — Nem consigo me lembrar qual foi a última vez que fiz um piquenique! — confessou em um tom mais baixo.
Já tinha anoitecido, eles tinham passado muito tempo no parque; rindo, conversando e namorando. Mal tinham visto o tempo passar, quando se deram conta, o sol já estava se pondo no horizonte, e isso foi o aviso que eles precisavam voltar pra casa.
— Podemos repetir no futuro — Gaara murmurou em resposta. Os olhos aquamarine brilhavam de uma maneira indescritível e Hinata sentiu-se tentada a desvendar todos os segredos que ele ainda guardava.
— Você quer subir? — ela perguntou depois de alguns segundos de silêncio. Mordeu o lábio inferior, ansiosa pela resposta dele. Agradeceu por estar escuro dentro do carro, porque só assim ele não seria capaz de ver o rubor se espalhar por seu rosto. Porque Hinata sabia o que esse convite significava.
— Você quer que eu entre? — ele retrucou, só pra ter certeza de que era aquilo que a Hyuuga realmente gostaria.
— Eu adoraria — Hinata disse por fim e abriu a porta do carro, saindo em seguida. Do lado de fora, o vento fez o cabelo longo dela voar e ela estremeceu um pouco antes de emendar: — Você vem?
— Claro — Gaara respondeu prontamente, já terminando de ajustar o carro, para depois sair e parar ao lado dela na calçada.
Enquanto eles caminhavam na direção do elevador após passar pela portaria, Hinata voltou a sentir aquela sensação engraçada no estômago, o coração acelerado, as mãos suando. Praguejou mentalmente por estar agindo igual a uma adolescente na puberdade, agora ela era uma mulher experiente; já não era igual a Hinata de dezesseis anos, extremamente tímida que sempre gaguejava de nervosismo. Esse foi um traço que ela fez toda questão de deixar pra trás. Estava disposta a deixar outras coisas pra trás além disso.
Por isso, ela procurou a mão dele — ainda um pouco nervosa — e quando achou, entrelaçou os dedos com firmeza nos dele, Gaara retribuiu o gesto, talvez porque já a conhecesse tão bem que entendia o que aquilo significava para ela, ou talvez porque também estivesse nervoso. Não tinha como Hinata saber, mas não hesitou.
Subiram pelo elevador em completo silêncio, apenas as mãos juntas e os dedos entrelaçados. Ele a puxou para fora do cubículo assim que chegaram no andar dela, Hinata se embananou com as chaves na hora de abrir a porta, mas depois de alguns segundos, finalmente acertou a entrada da fechadura. Foi ele quem abriu a porta e deu espaço para que ela entrasse na frente, depois que fez o mesmo, fechou a entrada do apartamento.
Ele ficou encostado ali, incerto do que deveria fazer, Hinata tinha parado há alguns metros de si, ainda de costas. Perguntou-se se ela tinha se arrependido de convidá-lo para entrar, se ela estava com medo, igual a ele. No momento que ia abrir a boca para perguntar se ela estava bem, Hinata virou para si, largando a bolsa no chão e voltou a se aproximar em passos cuidados; ele a observou por debaixo dos cílios, em dúvida sobre o que ela planejava.
Quando já estava perto o suficiente, Hinata encostou a cabeça no peito dele e os braços rondaram a cintura masculina em um abraço apertado. Gaara a abraçou de volta, os dedos de uma mão se embrenhado nos fios escuros dela. A voz dela saiu baixa e abafada quando ela começou a dizer:
— Você é o meu melhor amigo e eu estou medo de estragar tudo. — Ficou em silêncio por alguns segundos e continuou, ainda em voz baixa: — Eu fiquei muitos anos presa em um relacionamento sujo, às escondidas, eu não sei se ainda sei como fazer isso de um jeito... Normal.
Gaara a soltou só para fazer com que ela levantasse o rosto e o olhasse nos olhos. Ele passou os polegares pelas bochechas quentes e macias dela em um carinho suave, para dizer:
— A gente não precisa se esconder, Hina. Você também é minha melhor amiga e eu quero que isso dê certo. Então, vamos tentar parar de se preocupar o tempo inteiro sobre estragar tudo e apenas viver.
Ele não precisou dizer mais nada, porque no segundo seguinte, os lábios já estavam colados aos dela em um beijo sedento, quase desesperado. O medo foi embora e junto com ele, as roupas, que foram atiradas a esmo no chão. Os toques foram apaixonados, às vezes cuidadosos, mas sempre cheios de carinho. Hinata lhe tirou o fôlego para em seguida mostrar como se respirava outra vez; as mãos grandes e ásperas de Gaara ensinaram o caminho para o prazer e a guiaram até lá com maestria, às vezes com selvageria. Ela sussurrou e gemeu coisas que pareciam muito certas, enquanto ele a amou de todas as formas que poderia.
E mais uma vez, eles encontraram no outro a resposta para todas as dúvidas; não precisavam mais delas quando tudo parecia perfeito.
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Gaara fez o caminho mais longo na direção do mercado mais próximo da sua casa, ainda era bem cedo e o clima estava frio. Ele gostava de caminhadas matinais, principalmente com o tempo como estava agora. Andar ajudava a pôr os pensamentos no lugar — não que ele precisasse disso, já que agora tudo que havia em sua mente eram olhos perolados e grandes, sorrisos e bochechas adoravelmente coradas —, sem contar que ele gostava de fazer exercícios.
Poderia se dizer que os dois últimos meses tinham mudado radicalmente sua vida, estar com Hinata fazia com que ele sentisse que nunca tivesse sido realmente feliz antes dela. Ela fazia com que ele quisesse ser uma pessoa melhor, para ela, para si próprio. Hinata sempre incentivava seus projetos e costumava dar as melhores perspectivas das piores situações quando ele estava prestes a desistir de algo. Gaara não sabia mais dizer quem estava se mudando para o apartamento de quem, já que havia tantos objetos pessoais dos dois em ambos apartamentos, que já não dava para saber.
Cada segundo, minuto ao lado de Hyuuga Hinata era precioso. E vendo todo o caminho que tinha o levado até ela, pensou que a dor teve seu propósito no final das contas. Parou de devanear quando chegou no mercado, minutos depois, precisava comprar umas coisas para cozinhar um jantar para Hinata naquela noite — ela estava realmente empenhada em ensiná-lo a cozinhar! — e não queria decepcionar.
Pegou uma cesta e foi juntar os ingredientes para a massa que pretendia fazer. Foi andando entre as prateleiras, que Gaara a viu. Matsuri estava parada em frente a secção de frios, muito concentrada em ler o rótulo de um dos produtos que tinha pegado. Uma sensação estranha o invadiu, porque ele não estava preparado para vê-la, mesmo que já tivesse se passado meses que eles tinham terminado. Milhares de perguntas se passaram por sua cabeça em apenas um segundo. Deveria fingir que não tinha a visto? Ir cumprimentá-la? Nada parecia muito certo.
E como se tivesse sentido que alguém a observava, Matsuri levantou os olhos e o mirou diretamente. Gaara percebeu como ela engoliu em seco e sua pele empalideceu, os olhos se arregalaram por alguns segundos antes de voltarem ao normal. A boca dela se abriu e fechou várias vezes, como se estivesse procurando algo para dizer, mas nenhum som foi proferido.
Um rapaz se aproximou dela e lhe chamou atenção para algo que tinha em mãos, e foi só nesse instante que ela desviou os olhos de Gaara. O rapaz a beijou na boca rapidamente depois de alguns segundos e se afastou. Matsuri voltou a procurar por ele, mas Gaara não estava mais lá.
O Sabaku se pegou surpreso ao perceber que diferente do que passou muito tempo pensando, não sentiu absolutamente nada ao vê-la com outro. Ela tinha seguido em frente e ele também tinha feito isso. O alívio o invadiu, porque ele soube naquele momento, que não a amava mais. Seu coração pertencia à outra pessoa e Matsuri agora era só alguém que ele costumava conhecer.
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Hinata observou atentamente Gaara passar de um lado para o outro na enorme cozinha do apartamento dele. Ela notou como ele parecia mais agitado e pensativo que o normal e isso chamou sua atenção.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou quando ele parou na pia para escorrer o macarrão.
— Hm, o quê? — questionou distraído. — Falou alguma coisa?
Hinata sorriu para ele e se aproximou, abraçando-o por trás e encostando o rosto nas costas dele.
— Perguntei se aconteceu alguma coisa, você parece tão distraído — murmurou, os lábios roçando na camisa fina que ele usava.
Gaara largou a panela ainda quente dentro da pia e se virou para ela, abraçando-a de volta. O queixo apoiado no topo da cabeça dela, os fios preto-azulados faziam cócegas em sua pele. Foi em um suspiro que ele disse:
— Encontrei Matsuri no mercado mais cedo e ela estava com outra pessoa.
Hinata levantou os olhos claros para encontrar os dele, havia tantas emoções nas pérolas que ele prendeu a respiração por alguns segundos.
— Você está bem? — ela perguntou, por fim, com certa preocupação.
— Estou — afirmou sem hesitar. — Foi só estranho, não foi nada parecido com o que eu achei que seria.
— Entendo. — Hinata suspirou e fechou os olhos por alguns segundos, inspirando o perfume gostoso que ele usava.
— Hina — Gaara chamou com a voz baixa, o que fez com que ela abrisse os olhos para encará-lo. Ele segurou o rosto dela com as duas mãos, os lábios dela se entreabriram e ele continuou: — Eu amo você.
A boca dela se abriu de surpresa e ele sorriu um pouquinho diante da reação dela. Entretanto, ele não esperava que ela lhe desse uma resposta, não precisava. Então, tudo que ele fez foi puxar o rosto dela para si de forma delicada e a beijar nos lábios carinhosamente, para se afastar em seguida.
— Agora vamos ver se dessa vez eu acerto nisso aqui — ele disse ao se virar para a pia mais uma vez e continuar o que fazia antes dessa pequena conversa com Hinata.
Ela se afastou dele ainda sem reação, porque no fundo, não esperava que esse tipo de declaração aconteceria tão cedo. Eles se conheciam bastante, sabiam das dores e receios do outro, e uma coisa que Hinata tinha certeza era que Gaara amava Matsuri; e amor não era um sentimento que sumia de uma hora para outra. Ela bem sabia disso, porque tinha passado tanto tempo da sua vida amando Naruto, que em um momento era estranho pensar que as coisas tinham só... Acabado. Então, ela não soube o que dizer de volta e ele não pareceu magoado por isso, o que de certa forma, deixou-a aliviada.
Ainda não tinha plena certeza do que sentia, sua única certeza é que era realmente feliz ao lado de Gaara, como nunca tinha sido em muitos anos. Poder viver livremente um amor trouxe alegria e mais cores para a sua vida, o fato de não precisar se esconder e só demonstrar tudo que queria não tinha preço.
Foi com um sorriso que ela observou carinhosamente Gaara preparar o jantar dos dois daquela noite.
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Se houvesse uma palavra para descrever Hinata naquele momento, seria "concentrada". Desde o problema com o contrato de exclusividade com sua editora, estava tendo sérios problemas para escrever. Saber que seu esforço não estava sendo valorizado, fazia seu sangue ferver e isso a desmotivava a escrever. Há alguns dias teve uma ideia nova para um livro e depois de tanto tempo estava empenhada em escrever algo novo.
Como estava em casa, não vestia nada além de uma regata folgada e um short de tactel. Levantou-se da escrivaninha com o notebook aberto quando a campainha tocou; achou esquisito porque o porteiro sempre interfonava antes de alguém subir. Qual tinha sido a última vez que alguém tocou a campainha? Nem se lembrava.
Abriu a porta de uma vez só e ficou totalmente paralisada quando encontrou Naruto parado em frente a sua porta. Ele tinha uma expressão séria, que não combinava em nada com seu rosto geralmente tão calmo, os olhos azuis ainda era aquela tempestade silenciosa da qual ela se lembrava. E ele continuava tão lindo que Hinata ficou sem fôlego.
— Naruto. — Foi tudo que ela conseguiu dizer em um fio de voz.
— Achei que só vindo pessoalmente pra você parar de ignorar minhas ligações e eu ter notícias de você.
Hinata continuou parada, sem reação, por mais alguns segundos. Até que engoliu em seco e deu passagem para que ele entrasse. Naruto passou pela porta e ela a fechou em seguida. Ele ficou parado perto do sofá, em uma posição ereta demais, que demonstrava sua tensão. Quando ela se virou para encará-lo, as mãos tremiam e sua cabeça não passava de um emaranhado de lembranças confusas.
— Você vai me dizer por que você parou de atender as minhas ligações? — quis saber, ainda sério.
Hinata não se aproximou dele. Continuou de pé perto da porta.
— Você tem certeza que não sabe o porquê? — respondeu em um sussurro. Perante o silêncio dele, ela continuou: — Eu não queria mais viver daquele jeito, Naruto. Eu não queria mais ser sua amante, achei que você entenderia.
— Hina — ele começou e deu um passo na direção dela. Hinata recuou e sentiu as costas encostarem na porta. Naruto parou. — Eu sei que você não estava feliz com a forma que encontramos de continuar juntos. Eu também não estava. Mas eu pensei que... — Engoliu em seco e continuou em um tom mais baixo: — Juntos a gente conseguiria fazer isso.
— Por muito tempo eu também acreditei nisso, Naruto. Pensei que o amor seria o suficiente. — As lágrimas vieram aos olhos perolados típicos dos Hyuuga, havia tanta dor neles que qualquer um poderia ver. — Mas não foi. Só amor não é o suficiente, Naruto.
— Nunca quis que você se machucasse tanto com isso, Hina — Naruto murmurou e dessa vez cortou a distância que os separava em poucos passos. Mas ele não a tocou, só ficou perto o suficiente para que ela conseguisse sentir o calor do seu corpo. — Você é a mulher da minha vida, sempre foi. E isso não mudou.
O coração de Hinata se apertou no peito e ela precisou de muito esforço para respirar normalmente. Ela pensou que não era justo que ele voltasse dessa forma e bagunçasse sua vida. A vida que ela tinha se esforçado tanto para pôr no lugar depois que decidiu que não queria que Naruto fizesse parte dela.
— Por que você está aqui, Naruto? Eu não vou voltar a ser sua amante. Não vou — repetiu com a voz embargada.
— Eu me divorciei, Hinata. — O rosto dele era uma máscara perfeita de calma e amabilidade. O mundo inteiro dela parou assim que as palavras saíram da boca dele. — Eu vim, porque agora podemos voltar a ficar juntos, sem culpa, sem se esconder.
A Hyuuga fechou os olhos com força, sentindo a cabeça girar. Aquilo não deveria estar acontecendo. Sentiu o rosto molhado das lágrimas que não tinha conseguido segurar, os soluços vieram antes que se desse conta e os braços de Naruto a rodearam com força, na falha tentativa de consolá-la.
Ela quis aquilo por tanto tempo que não conseguia entender porque não estava feliz.
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Havia mais de uma porção de coisas que Gaara começou a fazer por conta da presença de Hinata em sua vida. Ele nunca tinha sido o tipo de cara que ia a docerias ou cafeterias, passava muito mais tempo em casa trabalhando do que na rua. Mas desde que tinha reencontrado Hinata, eles meio que tinham um ritual em que toda sexta-feira iam a uma cafeteria ou doceria diferente pela cidade. Ela adorava doces e ele amava café. Um equilíbrio perfeito.
Então no final da tarde daquela sexta-feira, ele seguiu de moto para o lugar que eles tinham combinado previamente no começo daquela semana. Sentia-se nervoso, porque estava com um pressentimento estranho. E rezou para que tudo não passasse de uma coisa da sua cabeça.
Depois de estacionar a moto em uma das vagas livres, rumou na direção da entrada. Fazia frio e ele apertou a jaqueta em volta do corpo enquanto andava. Quando atravessou a porta, o sino em cima dela anunciou sua chegada; Gaara encontrou o olhar perolado de Hinata há algumas mesas de distância de onde estava. Foi na direção dela, um sorriso discreto enfeitava o rosto masculino com feições tão suaves, ela tentou retribuir o sorriso, mas logo ele notou que havia algo errado.
Sentou na cadeira de frente para ela, percebeu que os olhos de Hinata estavam muito vermelhos, denunciando que havia chorado. Gaara estreitou os olhos, preocupado.
— O que aconteceu, Hinata? — ele perguntou.
— Você não quer pedir nada primeiro? — Ela tremia, pouco, mas tremia. — Café?
— Isso vai te fazer me contar porque você está assim? — Hinata assentiu de leve com a cabeça e ele suspirou. Chamou uma garçonete que passava e fez o seu pedido rapidamente.
Eles esperaram o pedido chegar em silêncio. De vez em quando Hinata o olhava de forma apreensiva, para desviar o olhar em seguida para a mesa ou para as próprias mãos. A garçonete serviu café para ele e chá para ela, afastou-se depois, deixando-os a sós.
— E então? Você vai me dizer o que aconteceu? — Ele procurou a mão dela por cima da mesa e segurou seus dedos gelados e pequenos.
— Gaara — Hinata começou —, Naruto veio me procurar. Ele se divorciou.
O maxilar dele se travou no mesmo instante e o coração falhou uma batida. Conseguia sentir a tensão nela e perguntou-se se aquilo tudo era o que ele estava pensando. A garganta secou e precisou se esforçar para não pigarrear e se livrar da sensação desconfortável.
— Você está me deixando? — Gaara perguntou, sua mão ainda tocava os dedos gelados dela.
— Eu precisava fazer uma escolha. E por mais difícil que tenha sido, eu fiz. — Sorriu, só um pouquinho e ele teve a impressão que o tempo tinha parado. Só voltou ao normal quando ela terminou: — Mandei Naruto ir embora.
— Por que? — ele quis saber.
— Porque nosso tempo já passou, foi o que tinha que ser. E por um motivo muito mais importante do que isso, Gaara. — Os olhos dela brilhavam e era uma das coisas mais lindas que ele já tinha visto. — Eu amo você. Sei que demorei a dizer, mas agora eu tenho certeza, Deus, como eu amo você! — As bochechas dela ficaram extremamente vermelhas ao dizer isso, porém, ela respirou fundo e continuou: — Eu quero ir além, quero construir algo e só vejo você lá comigo. Meu amor... Nunca vai ser perfeito, porque uma parte de mim foi embora e ela nunca mais voltar. Eu não posso prometer que...
— Eu não me importo, Hinata — Gaara disse como se recitasse uma poesia. — Nenhum amor é perfeito. O que importa agora é que eu amo você e você me ama. A única coisa que eu posso prometer pra você é que eu sempre vou lutar por nós dois. Nós vamos fazer isso dar certo, não é o suficiente pra você?
Hinata sorria e uma única lágrima solitária descia pelo seu rosto bonito. Ela entrelaçou os dedos aos dele e nada parecia melhor do que isso quando ela respondeu:
— É mais do que o suficiente pra mim.
Essa fic significa MUITO pra mim, porque quando eu escrevi, pensei que às vezes a gente fica preso a uma pessoa, pensando que nunca mais vamos amar ninguém; sendo que não é assim. Podemos reencontrar o amor (não necessariamente o romântico) em outras coisas e/ou pessoas. Se você leu até aqui, vote no capítulo e se possível, comente.
Beijo e até a próxima! ♥
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