II
Janeiro era o último mês para encerrar a nona série, e estava passando super rápido, era feliz e triste, feliz pelo motivo de poder ir para o Ensino Médio, e triste porque teria de deixar seus amigos, cada um iria para um lugar, para escolas diferentes, e provavelmente sua mãe a colocaria na escola mais próxima possível de casa, e então teria toda a luta para fazer amigos novamente.
-Eu daria tudo para me casar com qualquer um dos meninos do BTS!-dizia Jussara toda empolgada no final da aula de língua portuguesa.
Clara sempre ficava um pouco por fora daqueles assuntos, não sabia se ajustar muito bem naquelas horas, era aí que começava a falar de Ciência sem parar como se fosse o fim do mundo, era o assunto que entendia, era a sua grande paixão, o seu grande amor, e agora mais do que tudo queria ser neurologista, mais especificamente uma neurocirurgiã robótica e pesquisadora, se interessava por genética desde criança também, logo também se dividia entre aquelas áreas, por outro lado também era apaixonada pela neuropediatria.
-Para Clara casar tem de ser um cara com pelo menos um 450 pontos de QI!-disse Rafael com os pés para cima da cadeira.
-Quanto de QI é o aceitável amiga?-indagou Maria Eduarda tirando a garota de cabelos cacheados já armados do seu mundo da Lua.
Clara sabia que o valor de QI não definia ninguém, apreciava mesmo era aqueles com alto nível de QE, algo que ela mesmo não tinha, amargurada respondeu: - Deixe-me ver! Reza a lenda da Internet que Stephen Hawking tinha 160 pontos de QI, e rumores dizem que o QI de Edward O. Wilson beirava aos 123, então com 283 pontos de QI já seria de bom tamanho. - E levantou-se em seguida para ir ao banheiro, era a sua vez.
O banheiro das meninas estava no horário de limpeza, então precisou ir até o de baixo da quadra poliesportiva, naquele momento estava sentindo uma imensa vontade de chorar, mas não sabia o motivo, mas logo avistou a criatura, lá estava ele tentando correr todo atrapalhado, todo magricela, e naquele momento levou uma baita bolada na cara atirando os óculos para o lado, tinha acabado de ter uma contusão nasal, dava para ver as lágrimas escorrem dos olhos escuros, aquilo era fofo, ele deixava-se guiar pelos sentimentos, não escondia as emoções tidas como frágeis a um homem, aquilo era o nível de inteligência emocional proeminente aos nossos tempos. Ao olhar seu relógio notou que já estava próximo de tocar o sinal do intervalo, e já estavam trazendo o colega de escola para ver o que havia com seu nariz, pelo visto o óculos também tinha fraturado um pouco, mas voltou logo para sala para pegar seu livro sobre psicologia, estava afim de ler naquele intervalo.
Quando colocou os pés na sala o sinal tocou, Rafael já foi apressando ela, mas ainda assim deu um jeitinho de entrar para pegar o livro de capa preta que assustava as amigas, foi no banheiro mesmo dessa vez, e deixou os amigos na fila do lanche, achou uma mesa vazia para caber todo mundo atrás de João e seu amigo, o mais engraçado é que eles sempre sentavam-se de costas para a mesa para lanchar, os cabelos castanhos escorridos não estava lanchando também, estava desenhando, e como desenhava bem, a boca não parava de falar do passado da humanidade, era uma máquina do tempo em forma de gente, tinha a coluna um pouco encurvada, provavelmente passava altas horas enfurnado em um quarto.
-Não fica assim amiga! Não é porque foi ruim com seus pais que com você seria igual, vai achar seu cientista perfeito, um neurologista ou um físico maluco. - disse Jussara com animação imaginando que o estado diferente do habitual da amiga era em decorrência dos assuntos de casamentos, assuntos esses que a menina estava sempre a correr, a Ciência era sempre colocada acima de tudo e todos.
Ao notar que o garoto viraria para o lado deles tratou de erguer seu livro de psicologia para tapar a cara, era estranho, nem ela entendia por qual motivo estava observando ele tão intensamente, paixão não deveria ser, diferente das suas amigas não tinha nenhuma imaginação com beijos ou algo do gênero, um encontro com a criatura no máximo seria pela praça a céu aberto, ou quem sabe uma tarde de domingo pintando, por algum motivo agora tinha a hipótese de que ele deveria desenhar ou pintar telas aos fins de semana, mas de certa forma era um par perfeito para uma criatura que gostava de escrever histórias de bichinhos em cadernos com letras feias, apostava que ele não implicaria com seus cabelos cacheados esbugalhados, com seus laços, ou mesmo seus óculos nerdolas, também não a assustaria com algum grito, sua voz era uma mediana entre o grave e o agudo, bastante suave aos ouvidos.
-Como está nosso cachorro, amiga?-disse Estefany, tirando Clara do seu universo paralelo.
-Ah! Ele está enorme, bonito, pretendo levar pão de queijo na volta para ele.-disse ela, lembrando-se do amigo de quatro patas que uniu as duas.
Quietinha ali, notou que o garoto era tão baixinho quanto ela, eram da mesma altura, ou aproximada, ele não tinha mais do que 1m e 60cm, parecia a simetria proporcional do universo, e no meio de suas observações o intervalo acabou de uma vez.
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