Meus 19 anos: Amizade com pizza
hoje um capítulo leve, pra tirar a tensão sexual dos dois, justo pra ansiedade aumentar... 👀
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Jamais pensei que ia namorar em casa sob a supervisão dos pais.
É esquisito, pois sendo eu um rapaz gay, numa família crente nunca me imaginei apoiado.
Tive uns dias pra pensar nos meus dezenove anos e o que faria nos meus próximos anos. Sempre fui de sofrer por antecipação e não foi apenas uma vez que tive medo de não dar certo.
Virginianos pensam a longo prazo e eu queria traçar objetivos, cumprir metas fossem no trabalho, fosse na faculdade e outros aspectos. Cheguei a ponderar sobre me amarrar outra vez, não que eu comparasse ambos, mas refleti sim sobre o que é ser livre e descompromissado.
Cada um de nós, em algum momento vai encontrar aquela pessoa que nos faz mudar um pouco, que quando vai pra casa, deixa um vazio quase dolorido, que ocupa cada pedacinho vago da nossa mente e às vezes entra até onde está reservado para outros assuntos.
Eu não tinha maturidade pra separar as coisas. Raramente alguém, quando é pego pela paixão, fica ileso e age da mesma forma. Com Antônio, eu sentia algo mais que tesão, o sentimento era mais pleno, era algo bom e doce ao mesmo tempo. Estávamos construindo algo.
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E quem não tem um ou uma best pra se confessar de vez em quando? Marielen soube me ouvir, me deu aqueles conselhos de quem tem quase a mesma idade, ficou feliz por mim e comentou sem cobrança que eu tinha me afastado nos últimos finais de semana.
— Ai miga... eu sei. Mas é que no comecinho é assim. Acho que é.
— Antes tu não tinha namorado no findi e agora tem, pode esnobar a gente. Sou forte. — ela debocha — não conheço ele, mas parece que é uma coisa mais séria né.
Atualizo minha amiga sobre as novidades do ex e ela me dá uma ideia de conversar com a suposta mulher do cara.
— Não vou fazer isso! Ela tá grávida, imagina o choque. E ele já provou que é bem cachorro, capaz de ainda inventar que eu dava em cima.
— Espera, eu não acredito que ele já tinha um relacionamento de um ano ou mais, com ela. Alguém teria contado sobre as caronas que você pegava com ele. Na minha opinião, ele deu em cima dela, ela sabia de você, botou pressão nele e acha que venceu a guerra.
— Só não quero que ele me persiga ou ameace o Antônio.
─ Por isso eu acho que você tinha que encarar a fulana. Se ela furou teu olho na época, tu já vai dar o troco.
— Não sinto a menor vontade de fazer vingancinha envolvendo o ex.
— Mas queria.
— Antes do Wolf.
— Ainda acho que devia pegar os dois juntos e falar no assunto.
— Tá. Mas só se acontecer de ele me ligar outra vez, senão, deixa quieto que tenho mais o que fazer. Vamo se pirulitar que a hora da merenda acabou, mona.
A gente se abraça e de braços enganchados nos despedimos na porta da sala onde estudo. Mando mensagem pro lobinho que comenta que acabou de jantar um miojo. Me parte o coração, porque sinceramente miojo não é comida. Eu odeio.
Acabo sorrindo mesmo com poucas palavras suas. Sinto saudade o tempo todo, mesmo na manhã seguinte quando ele chega, retira a jaqueta de couro já surrada e coloca atrás de sua cadeira. Sempre me olhando e sorrindo, tenta arrumar o cabelo pro lado, mas tá espetado.
— Cortei o cabelo, você notou?
— Ficou mais gato ainda. E vê se ajeita essa gola que me dá agonia. Não posso ficar te alisando aqui com essas câmeras fofoqueiras. Hoje tem reunião.
— De novo?
— Você que me avisou.
— Ah é, é. Tem mesmo.
Oh pessoa distraída.
Não vou dizer que no nosso setor tudo é cem por cento, porque tem dia que tem serviço até pelas tampas. Às vezes o pessoal do setor fiscal/contábil nos enche o saco quando esquecemos de fracionar os produtos, tipo um pacote com sessenta dúzias de botões que sem querer lançamos como uma unidade e por isso precisa estornar o documento pra corrigir. Não que eu nunca tenha feito, mas confiro duas vezes o meu serviço e não adianta pedir pro colega fazer o mesmo. Ele não faz. Se bem que não erra tanto assim e se vê algo meu, me avisa pra evitar problemas.
Na reunião que acontece depois do café da tarde, a Hidelgard que confere os estoques, comenta sobre o quanto diminuiu os erros de lançamento e que a equipe (eu e ele) está indo muito bem, mesmo com um funcionário a menos do que sempre foi, pois antes eram três pessoas para fazer a mesma coisa.
Na produção, que funciona mais ou menos assim, uns cortam as peças, uns costuram os detalhes em bolsos, golas, outros costuram o "corpo" da camisa (casaco, jaqueta) e colocados os bolsos, depois são costuradas as mangas, gola... lá acontece com frequência do pessoal errar a costura, cortar fora do molde, cortar demais as casinhas dos botões, desperdiçar material que é encontrado quando a pessoa da limpeza faz seu serviço e até furto, que culminou em duas demissões meio recentemente.
Sobre a embalagem, faturamento, estoque e despacho, também são pauta e pelo visto está tudo em ordem. O melhor de tudo, é que saímos meia hora mais cedo e numa calmaria gostosa eu caminho ao lado do Antônio, com ele me falando que resolveu adotar o gato que entra na sua casa pra procurar comida.
— Tenho que comprar ração porque o coitado cheira a casa toda.
— Ele não fazia xixi no seu tapete?
— Fez um dia, mas joguei o tapete fora.
— Ei, não era mais fácil lavar?
— Não.
— Bicho preguiça... — toda a gostosura do momento é detonada quando ouvimos o ronco da moto do falecido. Ele acaba de chegar pra buscar a fulana que tava na reunião E, graças a Deus, não olha na minha direção. Eu viro a cara também e pego o Antônio me olhando, que não diz nada sobre, mas comenta que vai buscar o casaco que esqueceu na sua cadeira e pede se eu posso espera-lo.
Me sinto meio perdido, meio errado e até medo eu tenho quando ouço o ronco agressivo do escapamento furado. Rodrigo parece querer chamar a atenção de todo mundo que está saindo e quando sai, acelera feito louco, deixando comentários que ouço enquanto permaneço de costas para a cena.
"Tu viu que louco?"
"Que abobado. E se a Viviane cai?"
"Gente, e pensar que ela largou do marido, deixou a filha com o cara pra ficar com esse daí."
BAFO!
— Já peguei a jaqueta. Ei, quer ver meu gato?
— Seu danado, já tô vendo um gato. — abaixo muito o tom porque tem olhos curiosos e orelhas de pé. — Não tem capacete, moço.
— Vou em casa e pego, você me espera ali no ponto. Por favor.
— Ah... tu quer me derrubar por terra? Não dá tempo e eu não posso faltar mais às aulas. — fiz muito disso pelo ex e não quero falhar comigo outra vez, porém... — Eu espero sim, mas assim, eu não posso ficar faltando, só fico o tempo da primeira aula.
— Yes! Já volto e... quer comer o que? Eu passo na padaria. Ou a gente faz janta... ou eu compro uma pizza.
— Nada não. Vou ficar só uns minutos pra conversar.
— Pode beijar, lá... em casa?
— Pode.
Ele se manda pra casa numa animação que só vendo. Dez minutos depois, dois ônibus já passaram levando quase toda a galera e eu enxoto mentalmente os que sobraram.
O pessoal conversa entre si, alheios ao frio do final da tarde, o ventinho que balança árvores altas, os clarões no céu que indicam que logo vem chuva e que vai esfriar ainda mais. Se eu fosse pra faculdade dava tempo porque ainda faltavam cinco minutos para meu ônibus passar. Ao longe, ouço um ronco de moto, me apavoro quando o conduto acelera porque consigo reconhecer o que está por vir.
Com pessoas no ponto, ele não para de início, mas passa bem perto e faz a volta. Eu não sei se torço pro Antônio vir rápido ou pra ele demorar até o cara ir embora. Mas o pior acontece, Rodrigo para com a moto e eu tenho uma ideia, saco o celular e começo a fotografa-lo de um jeito bem indiscreto e falo super alto.
─ Olha gente, aquele cara lá era meu namorado, hoje é da Viviane e fica me perseguindo, fazendo essas cenas. — comento com os colegas da empresa.
— É um ridículo mesmo. Tira foto e manda pra mulher dele.
Rodrigo ouve tudo, recoloca o capacete e zarpa. Eu continuo a fotografar sem a intenção de mandar pra ex, mas para me precaver. Fico me perguntando como pode uma pessoa que era tão próxima, namorou comigo e por quem me apaixonei, de repente se torna tão estranho.
Acredito que o próprio Rodrigo não vá ter a cara de pau de tentar me passar a conversa outra vez, mas penso que ele deve estar com raiva e sentindo-se rejeitado por uma pessoa que antes aceitava ficar com ele sem maiores explicações.
Caso eu converse com a namorada dele, se eu fizer isso, não faço ideia de qual será a reação da moça. Ou quem sabe ele queira se vingar se eu estragar o esquema dele. De qualquer maneira, estou prestes a pisar num terreno perigoso.
O ônibus leva o pessoal restante, logo a seguir, Antônio chega de moto e comenta que a vizinha pediu ajuda pra trocar o gás. Eu baixo o olhar meio enciumado e preocupado com a recente cena do ex que comento com ele. É a vez do Antônio ficar quieto olhar para o lado e por último abre um sorriso de desmontar um filho de Deus. Recoloca o capacete e segue sem falar qualquer coisa até onde ele mora. E adivinha onde ele mora? Quem chutou que é a mesma quitinete do falecido, acertou.
Diferente do lugar arrumado que era antes, me dá mais certeza de que tinha uma mulher na jogada. A bagunça do Antônio começa com livros sobre o sofá/cama (desarrumado), louça na pia, toalha de louça nas costas de uma cadeira (a única) e a toalha de banho jogada por cima de várias peças penduradas num varal de chão. Nem quero entrar no banheiro. Mas preciso, porque sou dessas que precisam ir no banheiro pra reparar e se a pessoa fala "não repara a bagunça", só digo: nem tem bagunça.
Eu juro que no caso do Antônio eu tinha que dar um toque, mas o banheiro tava limpo, limpo no sentido de bem tapeado onde aparece. A toalha de rosto tava limpa, isso conta pontos comigo e o vaso sem pedra sanitária (que algumas pessoas usam pra disfarçar o fedor). Sou chato e conheço um cara que é pior que eu (sr. neura), mas abafa senão o meu conto fica pela metade, haha.
Ai que medo.
— Cadê seu gatinho? — pergunto quando saio do banheiro.
— Ele deu pra dormir dentro do armário da roupa. Tá obeso o coitado.
— Ah, posso ver? — Eu até queria falar que fui para o quarto do boy, mas é tudo junto. Encontro o bichano amontoado sobre as camisas do Antônio. Realmente uma bola muito grande de pelos. — Que gato pançudo (???)
— Ei... vou pedir uma pizza. Tem prova hoje?
— Wolf, eu não posso faltar mais...
— Ah tá... eu... desculpa. Só pode ficar a primeira aula?
Eu penso: tenho dezenove anos (até 02 de setembro de 2014, que tava perto), preciso ter responsabilidade, também consertar coisas que fiz pela metade, tenho que cumprir horário, pago a mensalidade e deveria aproveitar com sede o conteúdo do meu curso, mas por outro lado, eu tenho dezenove e O amanhã colocaria O hoje no passado e quem sabe o que pode acontecer amanhã. Eu queria poder ficar uns minutos na companhia gostosa do cara que não tava me agarrando ou se esfregando em mim, forçando pra uma foda rápida, mas que queria pedir uma pizza e conversar.
— Pode pedir, amo pizza de chester.
— Hummm, meia de chester e meia de bacon?
— Pode ser, mas não como bacon tá.
Pedido feito, eu lavo a louça e ele seca, porque pedi. Gente que menino pra fugir dum servicinho caseiro. Arrumo a toalha de banho no varal, ele liga uma música e diz que não existe melhor voz que da Tina Turner e que é fã de Michael Jackson.
— Olha isso... — eu quase morro de rir quando ele faz o passo Moonwalk. — é fácil, quer que eu te ensine?
— Antônio, eu não sei dançar.
— Eu também não, mas Moonwalk é cultura. Michael Jackson é religião. Eu adoro. Ei tu não samba?
— Eu não, e você?
— Não, eu achei que você gostava de samba, de balada... eu gostava de sair com o pessoal, mas eles fumavam muita "erva" e como eu era o careta, além de aguentar o sarro, podia me foder se a polícia um dia batesse lá onde eu morava.
— Será que não foi por isso que o pai da Milena te proibiu de falar com ela? Pode ser né?
— Nem sei. Agora que você falou que percebi que pode ser isso mesmo. Eu sou meio lento às vezes.
— Então... — ele é lento sim e provo com mais essa —Antônio, aquele seu gato não é uma gata?
— Naaa, é macho.
— Pra mim, ela tá procurando um ninho pra criar.
— Não né... é macho.
— Tá bom. Não vou adotar nenhum filhote. Lá em casa não tem nem cachorro e animal de estimação é quase um tabu. — de repente me lembro sobre um assunto que queria conversar — Sobre sua família, como que você se relaciona com eles?
— Normal. Não falo com minha irmã, só.
— Você nem falou que tinha uma irmã. Só o irmão que é promotor. Porque não fala com ela?
— Porque ela não aceita a religião da mãe, desde que optou pelo evangelismo, passou a destratar a coroa. Meu pai é meio grosso com a mãe, meu irmão vive a vida dele e não se importa mais com assuntos de família e eu perdi a cabeça com a Aparecida, minha irmã. Falei um monte de coisas pra ela, mandei até o cunhado ficar na dele porque quis encrespar comigo e depois disso, nem sei como ela tá. Eu sou muito calmo, na minha, mas cansei de ver minha mãe sendo tratada como o anticristo da família.
— Problemas com religião... gente. Tem tanto crente legal, mas tem uma meia dúzia que faz a caveira né?
— Pois é... Mas um dia te apresento pra minha mãe. Os demais não me interessam.
— São sua família.
— Família é quem a gente escolhe.
Desse modo meio seco, Antônio encerra a conversa e olha pela janela. Eu sorrio pra amenizar o clima e me aproximo pra ganhar um abraço.
— Cinquenta tons de Antônio.
— Um dia a gente podia reprisar uma cena daquelas? — ele pergunta animado.
— Seu safado!
Íamos comer a pizza e conversar, enfim, o clima era mais que perfeito para isso. Parecíamos os amigos que combinamos de ser, só que mais tarde eu ia sentar naquele colinho, ah se eu ia.
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Doce doce feito doce de de batata doce. Hoje estou acabadinho de cansado, mas não podia deixar de postar. Dia desse tem mais. Beijos♥
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