Uma nova expectativa
Acima é a cidade de São José - SC, terra Natal do Adriano, faz parte da região chamada Grande Florianópolis. Essa área em torno da capital tem um sotaque parecido com o "pexerês" de Itajaí, porque a cultura açoriana ali deixou sua contribuição também. Só que lá a gente chama o povo de "manezinho"... Oh gente pra falar rápido! Vou anexar um vídeo no final do capítulo, caso alguém tenha curiosidade. Não pode rir, entendesse?
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Calmamente atendi aquela ligação com a certeza de que estava tudo resolvido.
- Davi meu lindo, tás tranquilo?
- Sim, tô bem. Ah desculpa pelo outro dia, no sábado retornei, mas não atendias.
- É, fiquei meio chateado contigo. Mas já passou, não consigo te odiar nunca. Então tás aonde? Tô aqui em Itajaí, posso te ver? Queria te segurar um pouco nos meus braços...
- Charles – eu me afastei do pessoal, ficando atrás de um pavilhão da distribuidora pra ter mais privacidade. – eu não podia te ligar, lembra o que eu te falei?
- Te adoro, sabes disso né?
Senti meus olhos molharem e doeu minha garganta. Ele não entendeu? Não queria ser rude, mas optei pela franqueza:
- Eu te disse que tô namorando. Me acertei com... – eu falei segurando pra não desabar naquele lugar.
- Ah para né, só pode ser piada tua... – Ele me interrompe com grosseria. – eu te esperando esses meses todos. Todo santo dia olhando pro celular. O tempo todo pensando em ti com carinho e tu tá com outro. Porra, Davi...
- Charles, eu te adoro, mas não deu certo...
- Porque tu tava com a cabeça naquele cara que só te fazia de otário. - Ele grita comigo ao telefone.
- Eu nunca te mereci...
- Ah vai se fuder, Davi. Quem disse que não me merecias, a Sol? Claro que merece, Davi...– ele fungou com a voz meio alterada. – não diz pra mim que não adianta eu ter esperanças contigo... por favor.
- Desculpa, mas eu voltei com aquela pessoa...
Ele desligou o telefone na minha cara. Doeu, mas eu senti um grande alívio por ter falado.
Antes de me enturmar novamente fui lavar o rosto.
Agora sim, eu queria ir embora e devia ter ido. Aquele era o momento certo! Podia deixar meu presente com alguém e inventar qualquer coisa. Fui me localizando outra vez e após o café da tarde, durante o amigo secreto, o chefão avisou que ia ter chopp em barril...
Amigo secreto é legal, mas regado a bebida alcoólica fica tenso e as brincadeira excediam os limites. A revelação foi da forma clássica, ou seja, eram dadas as características opostas às que correspondiam a pessoa. São uns quarenta e poucos funcionários e eu não conhecia bem nem a metade, quando começaram os palpites, não arrisquei. Já haviam sido revelados só uns dez "amigos" e aquela ansiedade me deixava inquieto.
- Meu amigo secreto, fala pelos cotovelos é meio burro e começou ontem na empresa. - O próximo colega iniciou.
Na hora pensei que era eu, porque eu era o mais novo da casa, mas foi viagem minha.
- Só pode ser o Claudinho - Depois de uns palpites, o gerente comercial chutou. – não fala, trabalha há seis anos aqui, só que inteligente, tenho minhas dúvidas... Acertei?
Todo mundo caiu na risada e ele também. Primeira vez que vi sorrindo.
Ele foi falar então.
- A pessoa que peguei é grossa, feia e conheço pra caramba.
- Ficou difícil... – todo mundo aos palpites até que alguém diz meu nome, e puta que pariu, era sacanagem comigo.
- Claudinho, tás dizendo que o Davi é bonito? - Perguntou um outro colega que eu não conhecia nem por nome.
Ele estava meio bêbado e só riu, sem abraços ou aperto de mão, me entregou uma sacola do boticário vermelha e brilhante. Disse-lhe obrigado e ele nem olhou pra trás como os outros pra ver se eu tinha gostado. Ganhei um hidratante feminino. Gente, eu havia pedido um CD, camiseta P, chinelo... não pedi creme. Ele tava afim de atazanar mesmo.
- Meu amigo secreto não vai ouvir características ao contrário, conheço pouco, mas quero que ele saiba o quanto é simples e querido. - Falei na minha vez.
- Mais é um curisco, quem será...é o Flavinho? - Um motorista acertou o palpite.
- Flávio... – olhei pra ele sorrindo e ele veio me esmagou num abraço.
- Tu que é uma pessoa querida, ouvisse. A gente tá feliz que tás no nosso setor.
- Ei, eu nem ganhei um abraço desse. – Claudio que tava com outro copo de Chopp na mão, veio na minha direção e me pegou de surpresa num abraço apertado. No meu ouvido ele disse: - Feliz Natal.
Ouvi assobios e gargalhadas, porque uns colegas acharam graça quando ele me agarrou descaradamente. Na hora dei-lhe um empurrão forte e me soltei. Ele falou alto.
- Que foi retardado, acha que vou te beijar?
Ele não havia feito nada diferente do que o Flávio fez comigo, foi apenas um abraço e o pessoal ficou sem entender a minha reação. Só que foi eu quem ganhou um creme hidratante feminino e tive mais que um "encontro"desagradável com ele. Calado, esperei mais uns minutos e quando o povo começou de folia, carquei fora.
Em casa eu só queria que a hora voasse pra ficar com meu homem, ganhando carinho enquanto ele assiste algum documentário ou ouve suas músicas. Mais tarde quando chega, ele olha dentro da sacola de papel.
- Ganhasse creme? Não dissesse que ias pedir um chinelo?
- E é feminino.
- Sério? Vai e troca... – ele deu uma risada, sentou no sofá e me puxou no colo todo apaixonado. – deixa essa merda pra lá que eu tenho um presente melhor pra ti...
Eu sorri na hora, nem quis comentar meus infortúnios da tarde.
- Eba, é bem grandão o meu presente? De morder ou de chupar?
Ele riu alto, ai que sorriso, ai a barba...
- Bicho caco, um dia desses vai arrancar meu pinto, andas muito violento... – me beijou e falou: - peguei cinco dias pra gente descansar e passear. Já me organizei com a minha colega e vou relaxar um pouco. Agora tô com fome de comida, gosta de sushi, né? Vamos sair e jantar sushi... Seu caco, sem vergonha, já pro banho. – quando levantei ele me deu uns tapinhas na bunda como se estivesse me enxotando pro banheiro.
Primeiro dia de férias e o Adri só pra mim, não podia ser verdade. Acordei na manhã de natal com um rock mais animado tocando. Adriano catando junto parado perto da janela, é um charme, enquanto espicha o pescoço, que é seu costume pra ver como o tempo amanhece.
- Isso é Guns?
- AC/DC. Eu curto esse tipo de música, desde que o pai disse que foi em 85 no rock in rio só pra ver a banda.
- Nossa, o teu pai foi? Ele era roqueiro? - Perguntei abraçando o corpo dele por trás, dando o beijo de bom dia em suas costas onde apoiei a bochecha.
- Não, só tinha bom gosto ao contrário de "certas pessoas" que ouvem Anitta.
- Eu ouço e adoro mesmo... não fala mal, senão fico brabo contigo. Não falo mal das suas músicas, tá.
- Coisa linda... e pensar que aparecesse na minha vida desmaiado e drogado.
Eu emburrei, mas só um pouquinho...
Viver é bom!
Mesmo sendo um cara sem religião, acho que essa oportunidade de acordar e passar por tudo que a vida proporciona, é Divina. Não deixo de agradecer a Grande Força, Deus, Jesus ou quem nos criou, todos os dias. Final de ano, geralmente fazemos esses balanços e conseguimos perceber que de um ano para o outro, sempre ganhamos mais do que perdemos.
No nosso segundo dia de férias pela manhã, ficamos deitados cheios de preguiça assistindo clipes dos anos 70/80, com ele me falando sobre aquelas bandas, que entrou aos 19 na faculdade de medicina na Federal de Floripa, mais por vontade do seu pai que já era médico. Que ele não nasceu ali no litoral e sim em São José, que seus pais separaram quando ele tinha uns 8 anos e ele com o irmão foram morar juntos com seu pai. E contou que tinha uma irmã mais nova por parte de mãe. Aí o banzo aqui resolve contar pra ele que comeu um cara pra ganhar dinheiro.
- Tu não presta mesmo, né baixinho... – Ele chorou de rir e reclamou que a barriga doía, quando fui imitar o "escândalo " do cara. Pior que aquilo me irritou, porque qualquer assunto que eu iniciava depois, ele começara a rir da minha cara.
- Te coloca na minha reta pra ver... – Dei piti. – Chega né! Nem devia ter comentado contigo, palhaço.
Ele me olhou rindo com aquela cara de safado e disse:
- Ah, agora que fizesse a propaganda quero também, mas de graça. Quer um beijo de cachorro?
- Como é? – Pergunta a besta aqui e ele começa a lamber minha cara toda.
Depois dessa doçura de apodrecer os dentes...
Como moramos em região litorânea, ele quis ir para o interior onde no verão é baixa temporada em hotéis fazenda. Assim fica mais sossegado e poderíamos aproveitar pra descansar e curtir nosso romance. Pra eu o lugar não importava, juro, mesmo que ficássemos em casa juntos, eu já estaria "cagando" de felicidade, como ele diz. Fizemos o que tinha que ser feito em casa e depois do almoço fomos para Lages, onde esqueci de todo e qualquer problema que já tive na vida. Não acho palavras adequadas pra dizer o quanto foi bom estar assim com meu homem, ganhar presente e ser mimado. Voltamos pra casa no dia 29, bem tarde da noite.
Depois disso, no dia 30 eu tava sozinho e fiz a tolice de ligar pro Charles, pensando que era uma boa ideia.
- Oi, tudo certinho. – consegui falar com tranquilidade.
- O que tu quer? – ele falou muito seco.
- Só queria perguntar se ficou tudo bem... Não fica com raiva, por favor. Charles eu não queria te magoar, mas tu sempre soubesse...
- Nem me liga mais, tenho mais é que me fuder mesmo, mas nem te culpo... o burro fui eu de insistir. Queres o que agora?
- Era só isso... desculpa. Não vou te ligar mais. Fica bem, vou sempre torcer pra ti...
- Ah, nem perde teu tempo! – ele me cortou. – Feliz natal atrasado.
Mesmo sentindo o quanto ele estava magoado, acho que ficou mais resolvido que antes. Agora sim, bola pra frente! Aí o telefone convencional toca...
- Adri? – Uma voz feminina pergunta logo que atendo.
- É o Davi. Quem gostaria de falar com ele?
- É Alda! Quem é o Davi? Não conheço.
Eu também não sabia quem era Alda, então falei sem receio, pra marcar território mesmo.
- Sou namorado do Adriano.
- Me passa pra ele.
Cadê a educação, sua grossa?
- Ele deu uma saidinha...
- Tá deixa que ligo no celular. – Assim, ela desligou na minha cara. Ai que ódio, virou costume todo mundo fazer isso comigo. Quem era essa vaca? Mal educada, grossa!
Ele me ligou dizendo que passou no hospital e já estava voltando e eu nem lembrei de perguntar se alguém tinha ligado. Depois chegou meio estressado, falou pouco e foi tomar banho, esquecendo de levar a toalha.
- Adri, posso entrar contigo? – Perguntei e ele nem respondeu. Sentei do lado de fora do box e puxei assunto. – Adri, ligou uma mulher depois do almoço. Alda, tu conheces?
- Ah, falasse com a mãe? – ele deu uma risada e abriu a porta do box. – Conhecesse a sogra?
Ufa, quase que eu xingo a mulher.
- Não falamos muito, porque ela queria mesmo falar contigo, até desligou na minha cara. Não ligou no teu celular?
- Não, depois ligo pra ela. Quer entrar? – Ele ficou animado de repente, mas eu não.
- Ela sabe de nós?
- Sim, comentei com a Amanda, que já deve ter levado quente pra ela. Na verdade quase não me sobra tempo pra ligar ou visitar, e ela que fica chateada, sabes como é, mal tenho tempo pra ti.
Eu amo olhar ele esfregar com a esponja cheia de sabonete suas canelas peludas com pelos escuros, as coxas meio grossas, os pentelhos não aparados, o cacete amolecido que balança quando ele esfrega outras partes do corpo e aquele filete de água que escorre, fazendo uma imagem sensual demais. Outro momento que gosto de olhar é aquele simples gesto de retrair o prepúcio e expôr a glande para lavar aquele lugarzinho que passa a maior parte do tempo protegida pela pele. Mesmo o macho mais dominador parece indefeso nesse momento em que se lava despreocupado.
Ele termina e diz:
- Vira. - Imagina se eu não obedeço essa ordem pra ganhar um banho completinho...
Depois do banho, janta, conversa e mais conversa, esquecemos da mãe dele. Não tô nem aí! Aquela grossa!
Na manhã seguinte acordo bem cedo pra fazer café e arrumar a mesa, enquanto ele toma banho, depois vem do quarto com a sacola do Boticário e pergunta:
- Que que é isso?
- Ganhei do amigo secreto, já tinha te falado.
- Foi um cara? Joga no lixo essa bosta. Nem usa.
Raro isso, ele com ciúme, aaahhhhh. (grito de menina)
- Vou trocar por uns sabonetes ou um shampoo.
Adri ligou pra ela e recebemos a intimação para ir almoçar em sua casa, onde os irmãos iam se reunir.
- Como ela é, és parecido com a tua mãe?
- Vais conhecer ela daqui a pouco. Sempre me pareci mais com o doutor Álvaro. Igual tu e o teu pai que tem o mesmo nariz pequeno, parece das bonequinhas...
- Credo... ele é todo preconceituoso, não ia gostar da comparação.
- Até na altura, és parecido. Não chegas no 1,60, quanto calças?
- Como não, tenho sim 1,60.
- Ah ah, tasshh tolo, és menor que teu pai rapaz...
Saco essas brincadeiras com minha altura, deixa pra lá, preciso manter a disposição pra conhecer a mulher, a sogra! Dentro de mim eu sentia que não ia gostar dela, tava cabreiro com aquele jeitão seco. Eu cheguei dizer que era namorado e ela não me tratou melhor por isso.
Não quero sofrer por antecipação.
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Obrigado sempre pela oportunidade e pela acolhida de vocês. Beijo do Jota...
Abaixo, caso alguém se interesse em ver, é o sotaque do pessoal da Capital, o nativos mais velhos na verdade. É um pouco parecido com o pexerês, mas é bem diferente... (heim?)
https://youtu.be/c4V4PnmPIbk
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