Tensões

Acima está a Avenida Beira Rio de Itajaí, mostrando um pedacinho do nosso Rio Itajaí-Açú. Coisa massshhh quirida!

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Quando Chales me levantou pelo braço e me sacudiu, juro que fiquei esperando por um tapa... mas tudo que aconteceu foi um aperto dolorido e seus olhos raivosos pra cima de mim.

- Para Charles! Tu passasse por mim de carro quando eu tava voltando...Charles, me solta. – ele me soltou então e me abraçou.

- Oh Davi... – Sua voz tinha um tom de arrependimento.

Eu chorei me sentindo o culpado por aquilo. Será que eu só sabia fazer merda nessa vida?

- Me diz, tu ias me bater? – Eu soluçava feito criança. 

Senti meus erros e injustiças comigo, me soterrarem naquela hora. Estávamos na frente de casa e claro, um ou outro vizinho pôs o cabeção para fora para nos espiar. Ele me abraçava forte tentando me acalmar, eu me agarrava a ele como se estivesse em choque.

Demorei pra me acalmar e ele pedia desculpas baixinho no meu ouvido. Já no sofá, fiquei no seu colo e ambos ficamos bem quietos até que ouvi seu estomago roncar e quase dei risada. Ele também tinha chorado, percebi quando olhei em seus olhos.

- Fome? – Eu perguntei o óbvio, porque nenhum de nós tinha almoçado e já passava das três horas da tarde.

A "tempestade" daquele sábado passou, mas o clima ficou "nublado" durante a semana e não conseguimos dissolver aquela mágoa, apenas nos cuidávamos para não haver outros motivos tensos que nos levassem a outras discussões.

Na importadora, a Sol percebeu que eu andava triste e comentou que depois de receber o "faz-me rir" a gente poderia se reunir em uma petiscaria da Beira Rio, lugar bacana que eu já tinha ido com Charles.

- Só vou se ele for comigo, ele é muito ciumento e não quero dar motivo... – Eu nunca pensei que falaria do Charles com receio, porque até então, o ciúmes dele eu levava meio que na brincadeira.

- Então vou combinar de todo mundo levar o marido, a esposa, que tua acha Vanda?

- Só se for sábado, durante a semana a Lelê tem aula e não pode. Tá fica combinado para sábado.

Em casa, aproveitei um dia onde tava mais tranquilo para a abordagem...

- Charles, vamos sair com o povo do escritório sábado?

- Não é sushi, né? Não gosto daquilo, já disse.

- Nem sushi, nem big Mac. – Eu sorri para tentar, mas só tentar mesmo, deixar o clima mais leve.

- Vou ver se não estiver muito cansado... mas se quiser ir sozinho, fica a vontade.

Ele sorriu pouco durante a semana, me fazendo ficar meio arredio e isso estava me matando.

- Não quero ir sozinho, quero me exibir com meu nego gostoso... – Ponto pra mim! Ahhh, fiz ele sorrir.

- Nem és exibido, né seu branquinho safado.

Sentei no seu colo e ele me beijou.

- Essa semana foi um inferno, Davi. Não tem ideia de como eu to por dentro. – Nós sempre nos olhamos nos olhos para conversar fosse o que fosse. – Me perdoa?

- Perdoo sim... – Eu respondi.

Melhor que uma foda, é uma foda de reconciliação e dormir agarradinho depois de uma semana dormindo bunda com bunda, é melhor ainda.

Sábado... oh dia "bão"! 

Fomos todos para a petiscaria, casais casados ou de namorados. Só tinha a Solange e a Ana Lara (nunca fui com a lata dela) solteiras.

O Salésio ao cumprimentar o Charles me olhou de um jeito bem estranho, mas nada disse. Comemos, conversamos, rimos e até bebemos um pouco. Eu e o Charles morávamos perto e dava pra ir "de a pé" embora. O momento era bem descontraído e tocava O Rappa com Zeca Pagodinho:

"♫Se eu quiser fumar eu fumo, se eu quiser beber eu bebo, pago tudo com suor do meu emprego, confusão eu não arrumo, mas também não peço arrego..."

Percebi o Salésio e a Sol aos cochichos e fiquei grilado, ainda mais quando peguei umas duas olhadas para eu. Sim, tinha coisa errada naquelas olhadas. Não queria esquentar a cabeça antes da hora e menos ainda queria pensar que poderia ser prejudicado pelo que houve no sushi. Adriano não me procurou mais e eu evitava pensar neste, já que eu tinha uma casa, um maridinho e faculdade para ocupar minha linda cabeça.

Qual seria a reação do Charles se caísse no ouvido dele a história do beijo com o outro? Não dava pra prever. Diz que quanto mais se mexe na bosta, mais fede, então deixa por isso...

- Davi. – Eu levei um susto quando ouvi a Vanda me chamar. – Eu tava conversando com a Lelê, de só nós quatro – ela se referia a si e Alessandra, eu o Charles. – marcar uma jantarzinho lá em casa.

- Ah que legal. – Eu respondi e o Charles interrompeu:

- Opa comida, claro que vamos. Outro dia, vocês que vão lá em casa que vou assar uma tainha na brasa pra nós... – Ele disse.

- Oba tainha na brasa, seu triste, também quero. –  Sol se meteu, meio se escalando.

- Só casadinhos, Solange! – Vanda brincou com ela, mas a Sol fez uma expressão estranha que senti um ruim por dentro.

- Porque, vai rolar troca de casais? – Ela não era do tipo que tinha preconceito, mas acho que se sentiu rejeitada e atacou. E Vanda retrucou:

- Oh banza, tás pensando que só rola promiscuidade e sexo entre a gente? - Depois ela se amenizou - Larga de ciúme, coisa tola, sabes que te amo.

Solange deu risada, mas no fundo eu fiquei ressabiado com ela. Acabei flagrando ela olhando para o Charles mais que uma vez e me fazendo de tolo, o chamei para ir embora. Senti-me estranho com aquela culpa e que havia algo inacabado naquilo tudo, como uma nuvem densa se formando em cima da minha cabeça.

***

Dias depois ainda andava reflexivo e hoje penso muito bem antes de abrir o coração a novas amizades, creio que alguns de nós tivemos que aprender isso à duras penas.

Quando tínhamos pouco serviço as amizades se aprofundaram no trabalho e abri meu coração para Sol que conseguiu desfazer a impressão negativa que tive há uns dias. Lhe contei até mesmo sobre o doutor Adriano e o quanto mágico tinha sido nosso lance, pelo menos pra mim. Cheguei a confessar que não conseguia crer que fui um caso passageiro dele, mesmo que tenha sido. 

- Que loucura Davi, aquele macho é muito lindooo. – Sol babava muito. – Mas ele atende onde?

Contei tudo sem poupar um só detalhe miserável até o beijo que rolou no banheiro do sushi. Percebi que estava com os olhos molhados e dei uma disfarçada indo ao banheiro.

Me fez bem conversar a Sol que me tranquilizou dizendo que o Charles não saberia nada através dela. Eu tinha me afastado um pouco dos meninos, o Cley me proibia de falar o nome do Adriano na sua frente e o Abi que num acesso violento de sinceridade me disse que eu estava usando meu atual pra esquecer o outro e achava que isso não terminaria bem.

Viver juntos pode ser maravilhoso, mas a rotina vai dissolvendo o romantismo muito rapidamente quando não estamos focados. Eu não sabia como funcionava com outros casais e no meu caso me apeguei àquela estabilidade. 

Chegamos em julho. Tivemos mais momentos bons que ruins e também nunca mais vi o outro, por isso tinha cada vez mais a certeza que aquela página estava virada.

Charles tinha seus compromissos em Palhoça mais seguidamente e isso favoreceu aquela saudade de ficar namorando gostoso que eu não deixava passar em branco quando ele chegava.

- Já tá dormindo. – Ele chegava quase nove horas nas sextas-feiras, porque é comum o trânsito intenso mesmo com BR 101 duplicada. Quando entrou no nosso quarto e me viu tampadinho até o pescoço, esperando por ele peladíssimo, cheiroso e todo gostosinho, chegou pertinho, me deu uns beijos e chamou pra sair.

- Ah não Charles, quero tu só pra mim. Vai tomar um banho que te dou uma coisa bem gostosa pra comer que tá esconda aqui debaixo.

Ele puxou o cobertor empolgado e acabou com a surpresa, claro que tive um ataque de criancice e emburrei, me vesti e disse de um jeito bem grosso.

- Que merda! Custa fazer o que peço uma vez na vida, eu tava todo prontinho, tu acabasse com o clima. – Fui passar por ele que me puxou pelo braço, apertando como da outra vez.

- Me fala quando é que eu faço o que quero nessa merda? – Falou isso sacudindo-me com força, depois pegou a chaves saindo puto de casa em alta velocidade.

Eu não conseguia chorar e pensei em dar um fim naquilo tudo, então fiquei assustado com meus pensamentos e liguei para o Abi, que era mais tranquilo de lidar.

- Oi Davi, que foi amado?

Eu expliquei o que tinha acontecido, pedi ajuda e levei aquele sermão:

- Ah ah, nego. Não me põe nos teus rolos... te resolve com ele antes.

- Abi, eu acho que não demora, ele vai me bater. Já é a segunda vez que tem esse comportamento. Eu tô de saco cheio do Cley dizendo que mereço um pé na bunda. Poxa, eu não desejo isso pra ninguém... – desabei.

- Davi estimadinho, eu sempre achei que tinhas que sentar com o outro que é de quem tu gostas de verdade. Te resolves com ele e depois fica um tempo sozinho. Pensar no que tu quer pra tua vida, sai dessa tristeza e aí sim fica com alguém, mas com menos afobação, nego. Fizesse tudo errado no calor da empolgação, agora fica aí tentando enterrar um "defunto" que nem morreu ainda.

Eu não sabia fazer outra coisa que não fosse chorar.

- Desculpa amor eu te dizer tudo isso, mas tens que descobrir o que queres antes. 

Eu realmente me empenhei muito pra ser a pessoa a caminhar ao lado do Charles e sempre vou admirar a pessoa batalhadora e bacana que ele é. Mas Abi tava certo.


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Cada momento com esse pequeno... Tadinho do papa-peixe do Davi, o que o Jota fez com ele?

Nada é tão ruim, que não possa piorar, hahahaha. 

Tô brincando, acho que chega de angústia para o Davi ou o "espirro de pica" vem aqui em casa me dar umas bofetadas e exigir que eu já poste o final feliz... Que ainda tá longinho.

Ahh, claro... muitos abraços e carinho a vocês!♥


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