Sem pressa agora...
Esse é um pedacinho da Praia Brava - Itajaí SC, essa praia o povo usa mais pra surfar, mas de noitinha é perfeita pra parar o carro e ficar conversando do lado de cá desse trapiche aí...
************************************************
- Ah deixa te apresentar o Fê, Davi Luiz esse é o Fê, Fê esse é o Davi, minha mana do coração.
Cumprimentei ele meio enciumado, afinal Abi era meu amigo e o tal do Fê estava ganhando toda a sua atenção só pra ele. Imaginem que ele me deixou em casa só pra ficar com o outro. Senti que não tinha mais tesão em fazer esse tipo de farra e "pegar" macho, tinha que ir com a turma da bagunça, curtir e tirar do meu foco: o conhecer alguém.
Há uma semana do casório da Ana, eu me tornei uma pecinha que não encaixa em lugar algum. Era só Ana, Diego, a mãe do Diego, o Pedro(quem?), Joaçaba, Jaborá... cada nome de cidade! Eu podia sumir que nem ia fazer diferença, até que a dona Denise (mãe do Davi) me lembrou de um detalhezinho: EU.
- Já comprasse uma calça, nego? Tem que levar na costureira e ajustar. E só tem mais quatro dias porque sexta a gente carca pro oeste.
Eu tava numa "empolgação" que só vendo ainda mais com a mãe me aporrinhando que queria ir junto.
- Não nem pensar teu gosto é duvidoso, mulher. Tem que ser social? Vou ficar todo rengo...
- Rengo tu já anda, seu triste. Olha pra ti... parece que anda morrendo, que as calça vai cair. Bom, isso é bem melhor que aquelas calça justas que tu usavas...
- Eu emagreci, não visse? Mas deixa eu ir, nem me espera pra almoçar que como qualquer coisa por aí.
Eu amo olhar vitrine, falo mesmo! Fiquei sassaricando um tempão até encontrar a calça social. Naquele calor dos infernos e tinha que ir com essa roupa, usshh fiquei arrenegado! Mas eu tinha que dar uma causada e quem sabe arrumar um colono rico pra casar por lá. Sonha este ser! Meu celular vibrou, mas como o número era estranho não atendi, tocou de novo e de novo, então atendo...
- Oi..
- Quem? – a pessoa perguntou.
- Davi.
- Oi pequeno, te achei. Trocasse de número? Então por isso que não me atendias? – Meu corpo todo reagiu e despertou ao som da voz do Adriano.
- Adriano, como tens meu número?
- Conhece um tal Avilson? Eu te vi com ele algumas vezes e tive meio que perseguir o cara pra conseguir teu número. Tás bem?
Eu comecei a rir.
- Sim.
- Onde tás agora? Posso te ver?
Queria dizer que não, mas e como que faço isso?
- Não dá hoje... Eu tenho que ir pra casa. A minha mãe anda surtando porque a tata vai casar sábado e acabei de comprar a calça.
- Quero te ver agora, por favor... bem rapidinho, sem loucuras dessa vez... – ele repetiu com um tom de voz que não dava pra dizer não. - Davi?
Eu sou dele, meu corpo e minha alma... tinha que tirá-lo do coração, mas como? Não paro de me perguntar... Enfim, eu o quero. Mas... mas agora é como eu quero!
- Tá vou comer um pão de queijo na padaria da Schmithausen... lá a gente conversa rapidinho e olha, se demorar muito vou embora. – não creio que disse isso, ai sério, se quer quer, senão tem quem quer...
- Já tô pertinho, fazendo a rótula agora. Fica aí.
- Terminando meu pão de queijo tô indo, sério, não posso demorar.
Fiquei sentado quieto comendo aquele pão de queijo que me entalou na goela.
Senti-me arisco em me permitir algo outra vez. Ou endurecer demais e perder o cara que eu sempre achei ser o meu cara. Tava com um baita medo e isso me fez engolir aquele pão rapidinho e decidi que ia me mandar pra casa. Levantei a raba da cadeira e fui ao caixa, onde a atendente baixinha e muito fofa, fez uma brincadeira comigo sobre as pessoas pequenas que são tinhosas.
Por trás eu senti aquele apertão gostoso na minha cintura, um beijo na bochecha e o cheiro do seu perfume. Mesmo que rápido registrei a cara de espanto da atendente e sorri pra ela.
- Meu pequeno, que rapaz difícil de encontrar...
- Aprendi contigo. – fui grosso? – Que queres com minha linda pessoa?
Não era assim que eu me comportava quando ele aparecia antes. Mas não conseguia agir diferente.
- Quero essa linda pessoa. Mas vamos dar uma volta que preciso falar contigo.
Olhei pra moça do caixa que estava pink.
- Melhor a gente falar aqui... Eu tenho que ir logo, a mãe ligou umas vinte vezes.
- Se não vir comigo vou te beijar aqui. Vem Davi, só uns minutos...
Devo ter aprendido uma ou duas coisas com essa história toda. É confuso, sabe, ouço os conselhos ou ouço meu coração? Não ia aceitar fazer papel de besta de novo. Mas também... não ia desprezar o cara que eu queria pra mim.
Lembrei-me das palavras do Cley quando disse que um médico bem sucedido era algo além do que eu merecia (não necessariamente com essas palavras). E se ele sentisse algo por mim? Será que sentia?
Aquela distância e o tempo entre o nós, tinha me acalmado e de certa forma isso era bom, porque se pensa melhor assim. Ele continuou dirigindo até a praia Brava, onde era mais sossegado para conversar. Dei uma ligada pra mãe que me passou um sermão e avisei que ia demorar ainda mais.
O que eu tava fazendo?
- Então, fala! – mandei na hora assim que saímos do carro.
- É complicado, me aconteceu tanta coisa...
- Tenho tempo agora, fala de uma vez, poxa... Eu fiz papel de idiota, né. Eu gostava de você, não me diz que não sabia. Olha eu não vou ficar quieto e se acha que não tem que me ouvir, me leva embora. Mas não me faz de bobo, não me ignora, merda. Tu mesmo dissesse que viu minhas chamadas, não retornou, brigou comigo, não demonstrava nenhum interesse...
- Quando que eu briguei contigo? Quem disse que não tinha interesse?
- Ai que raiva, Adriano... Quando que tu me ligou ou mandasse mensagem que fossem apenas duas ou três palavras? Quando te liguei, desligasse na minha cara, esqueceu?
- Depois disso cansei de ir na tua casa e tu nunca estava por lá. Buzinava, apertava o teu interfone, é claro que cansei. Teve um dia que te vi saindo de um edifício comercial, mas dai entrasse em um carro branco, no natal cansei de te ligar e não atendias, no shopping tavas apavorado comigo e no sushi me desse outro fora.
- Sei...te disse que tava namorando no natal e o que me tu me falou... que ficou feliz de me ver bem. Aí me beijou e eu perdi meu namorado por causa da cena do banheiro... – minha voz falhava porque formou um caroço dolorido na garganta.
Ele não respondeu.
- Não moras mais lá, né? Pergunta um dia àquela mulher que tem cabelo de pica pau. Eu realmente perdi as contas de quantas vezes passei por lá, perguntava e ela dizia que tu quase não ficavas mais lá...
- Nó discutimos várias vezes e ela fazia de tudo pra eu me sentir desconfortável por lá.
- Viu como não tive toda a culpa.
- Deixa pra lá... eu estou morando com o pai e a mãe. Agora me diz o que tu quer comigo? Porque tanto mistério? Meu Deus! Eu achava que tu era maluco... – meu senhor que vontade de beijar... de abraçar e me fundir àquele homem.
- Davi, eu acho que fui muito rápido contigo naquela vez, eu gostava sim de você só que preferi dar uma freada, eu sai muito machucado do meu relacionamento anterior, ainda não tinha resolvido aquilo direito e quando tu me aparecesse tava numa época toda complicada. Mas te afastei porque ia acabar sobrando até pra ti...
- E que culpa eu tinha? Podia ter explicado e não me ignorado. Todo mundo tem problemas tá.
- Tu ia te afastar...
- Ah me poupe... tu mesmo fez isso. Se colocou no meu lugar? Nunca, porque senão, não tinha me feito de otário, me pedindo pra te esperar por ti aquela noite... Fiquei horas esperando, mandando as mensagens e ligando e... chorando...
Chorei na sua frente e ele me abraçou ali fora do carro onde estávamos encostados e beijou minha cabeça e cheirando meu cabelo.
- Eu te machuquei né?
- O que mais me irrita é que tu não te abre, não diz nada.
- Queres que eu diga que quando saía contigo meu ex-namorado voltou?
"Ex-namorado", porra... que choque, senti uma ciumeira absurda ao ouvir isso.
- Eu tive um relacionamento de quase oito anos entre idas e voltas. No meio desse tempo tentamos viver juntos... Bom, não vou falar dele nem bem nem mal pra ti, porque ele faz parte do meu passado e foi importante. Apenas te digo que ele era individualista e não pensou muito em mim quando me trocou pela Espanha. Eu sofri um tempo, me refiz, tive outros relacionamentos e eis que ele volta e pede uma chance...
- Foi quando a gente se conheceu?
- Não. Fazem uns anos que ele voltou. Aí a gente tentou consertar o "vaso quebrado" e começou o vai e vem outra vez. Um dia ele... deixa quieto, enfim ele conseguiu comprar um apartamento e eu segui a diante. Sabe quando uma pessoa vive só pra si?
- Igual tu fez comigo?
- Davi... – ele falou num tom chateado. – eu podia estar farto, mas batia o tesão e começávamos tudo de novo e depois da segunda vez que ele fez... eu terminei de vez, discutimos feio com ele me atirando na cara que eu só penso em trabalho e mereci o que ele fez. Eu achei melhor ficar sozinho um tempo, depois ficava com alguém sem compromisso às vezes e sentia aquela carência de ter alguém, sou um tipo que gosta de ter namorado... gosto disso... aí eu te conheci e sei que fiz um monte de maluquices...
- Prossegue... – eu fiz uma cara aborrecida que ele mesmo ali me abraçando viu.
- A partir daí já sabes...
- Não sei de nada... - Senti irritação, porque eu precisava ouvir ele falando.
- Ah eu gosto de ti...
- E porque...
- Ele começou a pôr pressão outra vez, me ligar, ir na clínica, seguir, mandar flores, me esperar no prédio onde moro... não dava pra te deixar no meio dessa encrenca nossa...
- Encrenca? Vocês transaram?
- Um dia sim...
Eu senti um ciúmes tão grande em ouvir isso que tentei me soltar do abraço, mas ele me segurou. Adriano podia ter me ignorado, mas hoje senti que ele era sincero, pois poderia ter omitido o "fato" com o ex e pintar o quadro de um demônio o usando como inspiração. Mas ele não o fez. Foi respeitoso com suas lembranças com o outro e me permitiu ler nas entrelinhas que foi traído.
- Quando?
- Ah mô Deus do céu, Davi! Foi naquelas épocas no natal, uns dias antes de te ver naquela lojinha do shopping. Esquece agora... me dá aquela chance? Ah sou terrível com essas coisas. Entendeu?
Eu ri tanto com esse jeito dele que meu corpo tremia, mas ainda assim eu chorava.
- Só se rolar pedido oficial...
- Nem inventa, curisco... vou com calma dessa vez meu menino carente, fazer certinho. Só aviso que não sou romântico! Agora pode pular fora se quiser.
Belisquei ele e apoiei minha bochecha contra seu peito. Parecia um sonho aquele meu momento, quanto senti as mãos dele afagando minhas costas e seus beijinho no topo da minha cabeça. Ter Adriano perto de mim outra vez... eu acreditava nesse momento, mesmo quando esse era apenas sonho.
– Posso te beijar? - Ele sussurra a pergunta.
- Não...– Eu queria muito, mas tava me segurando pra não ceder.
- Lembra aquele dia que eu desliguei na sua cara? - Ele me pergunta. Até parece que a gente esquece disso. - Um colega da minha equipe estava sendo investigado depois que o acusaram de negligencia e claro que todos nós estávamos tensos. A morte de pessoas pra nós da medicina é um fato natural, seja provocado ou acidental, ela é inevitável. Aí as vezes a gente ouve: "esses médicos são tudo açougueiros, caiu no hospital público já era, caixão pra ti, eles preferem deixar morrer que dá menos trabalho, atendem de qualquer jeito, eles têm má vontade em atender... "e por aí vai... sei que é um prato cheio pra família do paciente quando perdemos alguém. Mas já tinha dito pra ti o quanto é desgastante, né, baixinho... agora pode?
- Que merda!
- O que Davi?
- Isso tudo que tu me falasse...
- Sim, faz parte. Nosso psicológico tem que nascer pronto quando escolhemos essa área de atuação. Agora quero meu beijo, só esse e te levo pra casa.
Meu Deus aquela barba por fazer, o cheiro dele, a boca, suas mãos me segurando pela cintura...
- Não, Adriano. Calma, né! Aí depois me leva embora e faz igual antes... - Falei mexendo no botão da camisa social dele. Sei que tomei um safanão na bunda.
- O que?
- Meu beijo...
Puxei ele pelo pescoço e dei só um selinho.
- Me beija direito, rapaz, isso é beijo pra dá na cabeça da pica...
- Credo seu boca suja... – Sequer terminei e sua boca colou na minha, a qual foi invadida me cobrando um beijo e me dando aquele que tanto ansiei.
********************************************************
Oi quanto tempo??? hehehe... Seu Jota, o senhor por aqui? Não gostaria de entrar e tomar um xícara de café? Eu adooro café....
Beijão em todo mundo... Aqueles estaladinhos na bochecha.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top