Doutor cara dura... parte 2


Mal desliguei o celular e duas bichas escandalosas deram um grito.

- AAAAAHHHHHHHHH! - É hoje que a dona do sobrado me expulsa.

- É vamo... que tem gente que vai ganhar essa noite. – Abi comentou.

- Não esquece da chuca, viado. - Cley é terrível.

- Gente que feio, estão me deixado com vergonha, o cara não vem me comer... gente que horror!

- Ah tá, ele vem te trazer a palavra do senhor. - Abi pega pesado sempre.

- Não, ele vem medir a pressão dele.

- Na verdade vai enfiar o termômetro no Deividi. – Agora o Abi me chamando do nome que eu odiava.

- Valeu Avilson. – Eu devolvi.

- Bora – Disse o Cley. – Depois liga e conta os detalhes, tamanho e grossura.

Eram nove horas e ele veio. Tinha vizinha que ia surtar. Era bom mesmo que surtasse...

- Oi rapaz, teve farra aqui hoje?

- Não, por quê? – Eu respondi olhando em volta e tudo estava na mais perfeita ordem.

Pensei no absurdo da situação: ele um médico, devia ser casado ou incubado, gente boa, mas meio grossão versus eu Davi, lavador de cães e gatos, gay que estava fazendo supletivo do terceirão.

- Que foi aquela gritaria?

Cacete, ele ouviu.

- Dois amigos, dois escandalosos... - Eu fiquei roxo. – Tá com fome?

- Na verdade muita . – Ele chegou perto, me puxou pela cintura e beijou.

Você não consegue raciocinar no começo de tão bom. Era gostoso, erótico que achei que ia desmaiar. Estava molinho sem força que ele podia fazer o que quisesse comigo.

- Sou capaz de comer você todinho de tanta fome.

Será que ele era canibal? Eu ainda achava que ele podia ser um psicopata. 

Eu fiquei mole outra vez, juro por tudo que nunca nem em fantasias absurdamente eróticas fiquei tão excitado.

- O senhor é... ? – Poxa que brochada ele deu na hora. Deu pra sentir, ainda que não estivéssemos pelados, era só beijo mesmo, mas eu não conseguia crer que ele era um mítico Monaocó, como o Cley chamava.

- O senhor é o caralho, sou...

Eu ri e ele me beijou de novo, então me soltou e me virou de costas pelos ombros me deu um tapa na bunda e disse:

- Eu disse que tô com fome, rapaz - Ele abriu minha geladeira.

Gente que homem é esse? Não tinha um botão de pause nele? Abriu meu congelador e achou minha lasanha congelada da Sadia. Não era algo bom para um médico, eu pensava...Mas ele não parecia preocupado.

- Quanto tempo isso demora? – Ele tirou da embalagem, enfiou no micro e ligou. Depois me puxou de volta e beijou de novo. – Treze minutos... que beijo gostoso...

Me soltou e disse:

- Teu pai já foi para casa, né?

- Sim, não foi o senhor que deu alta dele?

Ele passou a mão no rosto irritado.

- Não sou o médico dele, mas tava na equipe que fez a cirurgia. – Ele deu um tapinha na coxa – Senta aqui.

Mas eu fiquei parado e meio chocado com a rapidez daquilo. Eu devia estar de joelho na frente da igreja agradecendo, mas aquilo era estranho demais... Ninguém é tão apressado, assim...

- Porque eu?

- Porque, o que? Ah, tem meses que queria te ver de novo. Eu sou assim quando gosto de alguém, meio impulsivo... E para de me chamar de senhor que tenho só 34.

- Ah... - Eu tava cabreiro demais, mas louco pra deixar ele me amassar. Sempre fui meio porra louca, só que fiquei com medo dele. - Foi naquela vez do exame?

- O que? Foi nada. Eu sou muito profissional, nem faz ideia de quantos pênis eu vejo todo dia, não ia me apaixonar pelo seu pinto, não. Na verdade há um ano atrás chegou um tansinho com overdose e tive que atender porque o doutor Irineu, que é o chefe da equipe tava puto. Te achei ajeitadinho...  Te vi outras vezes e ficava olhando seu jeitinho, seu narizinho bonito e essa nuca...Todo pequeno...

A gente ficou se olhando um pouco e eu fiquei mole quando o ouvi.

Depois contei que tinha bebido naquela balada porque uns caras pagaram um monte de bebidas e um me beijou, passando um negócio que parecia uma bala e depois nem lembro de mais nada.

- Como pensei, é um tanso mesmo! Acha que um cidadão vira homem assim? Ontem eu tinha dezessete era um bosta e hoje fiz dezoito, sou homem e sei de tudo. Ainda vai nesses lugares?

- Não, foi só meu aniversário como contei pro senhor... você .

- Vem me dar um cheiro até a lasanha esquentar, depois tenho que ir dormir porque amanhã não tem choro, é o dia inteiro na clínica e a madrugada no P.A.

De repente, parecia que éramos casados há anos e eu não queria acordar desse sonho.

Eu fui tipo um zumbizinho, sentei em seu colo e ganhei um beijo mais comportado. Ele era e continua sendo muito direto, então eu tinha que me acostumar em nome da minha sanidade.

- Chega de beijo hoje, amanhã às seis da matina preciso levantar e tenho uma cirurgia as oito. Vem comer comigo que depois preciso ir.

Eu ainda estava embuchado de tanta comida, então recusei.

- Não brigado, eu já comi demais...

- A gente combina algo para sábado de madrugada, saímos e conversamos mais. Meu turno mudou no sábado e agora só faço das 14 às 24, aí só volto na segunda.

- Como você trabalha! Vai ficar rico!

- Que olhos bonitos, rapaz... – Ele nem ouviu o que eu disse e meu deu mais um beijo. – Tenho que ir pra casa, tô louco para ir ao banheiro.

Eu estava em estado de graça, "vejo o céu se abrindo ouço os anjos cantando", se eu fosse dormir corria o risco de acordar e achar minha única lasanha no congelador, ah eu ia chorar feito uma Madalena.

O sono venceu e me derrubou. Alguém dúvida que esse rapaz pequeno foi conferir o congelador logo cedo? Pois é eu fui.


Só um boboca igual eu para fazer esse tipo de coisa, olhei no congelador e estava vazio, não sei como isso pode deixar um bobo alegre, mas deixou. Então não foi sonho.

Estávamos na primeira semana de junho daquele ano e minhas férias passavam voando. Nada de interessante para fazer nem dinheiro sobrando para gastar, o negócio era ficar em casa vendo sessão da tarde nos dias de chuva ou se encher de roupa quente e descer pro centro pra bater perna.

O pai em recuperação ficou muito emotivo e pedia pra mãe me convidar para passar um domingo lá, comer um "surraxco" (como ele fala churrasco) e ver o Vascão jogar.

Eu decidi ir, fazer minha parte e ceder, se precisasse eu até pediria perdão por ter nascido de um jeito que ele não queria. Mas isso seria no sábado de tarde, pois de madrugada, hã nego, eu ia receber visita e por nada do mundo que eu ia ficar lá no centro.

Sábado me joguei no primeiro coletivo que passou, porque queria voltar antes de ficar escuro e me preparar para "bater aquele papo" com o médico na madrugada. Eu não conseguia fechar a boca de tanta vontade de sorrir. Estava frio com aquele vento suli, mas estava uma delícia, o céu estava cinza, nunca vi um céu tão lindo.

Às vezes ficava achando que tinha algo suspeito naquela história toda, ele era muito homem para eu. Tá, eu até que me pegava se eu não fosse eu, (quase não se acha), mas era muito rápido e perfeito demais, que eu tinha medo de falar alguma merda e perder a chance de ter ele pra mim.

Foi um sábado bem esquisito, fiquei conversando com o pai que ficava mais deitado por causa da sonda urinária, nossos assuntos eram: os canários dele, o Vascão dele, a outra casa que nos tínhamos lá na praia de Porto Belo que alugava para veraneio que era dele, tudo que era dele. Até disse que tinha dó porque estava com uma casa vazia e o filho pagando aluguel. Acho que tinha pensado que ia passar desse lado para o outro, nunca vi aquele homão de 1,55 de altura tão fragilizado e aquilo me cortou o coração.

Mas papo vai e vem... eram umas quatro horas e caiu um toró, um dilúvio mesmo e eu fiquei meio preso e de cara a mãe me disse que eu devia dormir ali.

- Dorme aqui, nego. – Ela pediu. – Tem teu quartinho do mesmo jeito, vai sobe toma um banho e pega uma roupa do pai, visse.

- Ah mãe, eu preciso ir mesmo. Eu gosto de ficar em casa.

Que eu ia dizer? Eles escolheram por mim há quatros anos, hoje eu não queria baixar a cabeça.

O Municipal era ali no centro e até ficaria melhor para o Adriano me buscar. Mas como eu ia explicar um macho me buscando depois da meia noite. Eles se sentiriam mal por isso e eu preferi não dar motivo para outra confusão. Botei na cabeça que ia embora assim que passasse a chuva, mas ela não passava e eu já começava a me sentir todo errado, num certo momento achei que aquele médico não ia me procurar mais e pensei em mandar uma mensagem para ele. Pode ser que eu fosse atrapalhar em alguma coisa, desconcentrar o homem, era melhor esperar. Tive até uma dor de barriga de tão nervoso.

Eram oito e pouco da noite e parou aquela chuva, mas o busus já era, comecei a me conformar que teria que dormir ali mesmo. As horas demoravam a passar, pareciam ter passado doze horas, mas o ponteiro mal chegou no dez. Eu queria que a meia noite chegasse de uma vez para poder mandar uma mensagem para ele, cheguei digitar e salvar no rascunho. O foda era explicar para a mãe (o pai já roncava) que estava esperando alguém.

Então a Ana desce toda produzida.

- Uia, guria que poder. Vai onde? – Eu perguntei

- No Café xx com o Diego.

- Ainda tá com ele, ih vai dar casamento.

- Mãe não me espera, vou dormir na sogra. – Minha irmã disse sem medo de ser feliz. – E tú Davi?

Naquela hora minha mãe levantou a orelha.

- Eu to legal, to bem.

- Isso eu percebi, tás namorando?

Eu olhei para a mãe sem graça, ela voltou a secar a louça e depois foi para a lavação fumar.

- Mais ou menos, mas abafa. – Eu respondi com receio.

Onze e quinze, a mãe parecia uma coruja.

- Pode ir dormir mãe – Eu fiquei ali enrolado num cobertor no sofá vendo Matrix que passava na TV a cabo, estava com baita frio, mas não tinha perdido a esperança de ir para casa. De repente a mãe decidiu que gostou do filme e sentou no sofá pequeno e dê-lhe conversa. Meia noite eu esqueci da vida e enviei a mensagem: " Oi, doutor Adriano, estou aqui no centro na casa da mãe, qualquer coisa esse é o endereço... vou te esperar, pode me ligar, beijo"

Que besta, sabe quando a gente relê trezentas vezes a mesma frase e se sente um idiota depois de enviar. Bom já era meia noite e vinte e nada, eu tava com o olho quase fechando, ficava olhando para a tela do meu LG e não vinha a mensagem dele.

Eu peguei no sono, sabe-se lá que hora... 

Se eu tava brabo? Não tinha perdão, paixão deixa a gente egoísta e não demorou para eu levar minha lição merecida.

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Hoje cheguei cansar vocês, hehe... Amanhã posto mais um ou dois, enquanto escrevo o capítulo final do Profi e o Policial.

Obrigado pela atenção e recebam abraços e todos meu carinho!



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