Capítulo 5

A cabeça latejava com o chacoalhar do carro. No banco de trás, eu tinha a companhia de uma mulher forte, com uma pistola em uma das mãos. Já nas minhas, apenas algemas sobre os pulsos, e um comunicador desligado.

— Pra onde estão me levando? — Pergunto confusa, mas a mulher se limita a fazer um sinal de silêncio, e não tenho muita opção.

O carro para em frente a um prédio com traços europeus, provavelmente um antigo hotel modesto do passado que agora era usado pelos Maltas.

E sou retirada do carro pela mulher, que me leva para dentro do prédio.

Passamos pela recepção, onde homens armados nos encaram. A mulher me leva até uma sala outrora branca, que agora estava pintada de sujeira em suas paredes.

Sete jovens algemados se encontravam deitados no chão, sendo vigiados por dois homens com fuzis na mão. Ao longe, reconheço Lara, a namorada do meu irmão, entre eles, mas não consigo encontrá-lo.

— Cadê meu irmão? — Pergunto, mas a resposta é um chute na junta do joelho, me fazendo ajoelhar. Não iria apanhar em vão, por isso não insisto, e me deito ao lado dos jovens.

O turbilhão de pensamentos sobre meu irmão cessa quando ele aparece e se deita ao meu lado, entre gemidos de dor pelo ferimento no ombro.

— Onde você estava? — Sussurro.

— No porta-malas. — Ele diz fraco e ensanguentado. — Não queriam sujar o carro.

— Calem a boca. — Grita um dos homens, intensificando a dor de cabeça.

Minha boca estava seca, e o peito cheio de dúvidas. Não acreditava que iria morrer ali, embora a possibilidade fosse gigantesca. Eu tinha que cuidar da família, me tornar psicóloga, me apaixonar perdidamente, construir minha família e recomeçar minha vida.

As motivações para seguir em frente me fizeram distrair do medo. Mas ele ainda estava lá, dizendo que Adam morreria por minha culpa. Deveria ter chamado John, ou alguém da família, ou compreendido antes a real situação. Poderia ter feito mais.

Sabia como os Maltas trabalhavam. Eles serviam como a proteção da cidade, atuando como os cumpridores das leis que a Zelândia criava. Também tinham autorização para matar todos aqueles que estavam na lista negra.

A voz do homem que invadira a minha casa entrou na sala.

— Encontrou todos? — Ele perguntou.

— Sim, senhor. — Respondeu a mulher que veio comigo no carro, agora estava no meu campo de visão.

— De joelhos, todos. — Pediu o homem, e assim fizemos com rapidez. — Eu sou Pierre Ferrari.

O tom do homem era calmo, como se não passássemos de animais.

Pierre estava com uma camisa longa vermelha que contrastava com a pele negra. Seus músculos eram visíveis por cima da roupa. Ele era mais bonito do que eu imaginava, o que era uma grande façanha.Mesmo com um curativo no rosto que deduzi ser por minha causa.
A mulher era um pouco sem brilho. Tinha pele branca e cabelos lisos presos em um rabo de cavalo.

Pierre tomou a frente, analisando um por um, e então começou a falar tranquilamente.

— Acho que sabem por que estão aqui. Vocês assaltaram o supermercado do Sr. Modric, e ainda bateram nele e em sua filha. E acabaram dando um prejuízo de... — Ele apontou para a mulher ao lado.

— Oitenta e oito mil. — Ela respondeu.

— Ou seja, vocês vão pagar cento e cinquenta mil para mim, ou todos morrem. Dúvidas?

Um silêncio reinou no salão; eles estavam com muito medo. Eu pensei em quebrar o silêncio e explicar minha situação.

— Ah, já estava me esquecendo. A menina que vocês espancaram é minha afiliada. — O rosto de Pierre mudou de tom, e uma ira tomou seu olhar, agora ele parecia o Pierre que eu imaginava. — E caso ela morra, todos vocês serão desmembrados ainda vivos. Já vou avisando que sou bem criativo. Então aproveitem que estão de joelhos e comecem a pedir aos céus pela vida dela. Sabemos que toda oração é bem-vinda.

Pierre se voltou para a mulher ao seu lado e esboçou sair, mas eu intervenho.

— Sr. Ferrari — disse com toda a confiança que encontrei, chamando a atenção para mim. — Eu não tenho nada a ver com isso. Se eu pagar a parte do meu irmão, o senhor nos deixa ir?

— Seu irmão. — Ele apontou para Adam, que pressionava a ferida cabisbaixo. Pierre foi até ele e o observou. — Eu fico abismado com os homens de hoje em dia, precisam da irmãzinha para cuidar de vocês. Olhe para ela. — Pierre pegou em seu rosto e o virou na minha direção, nos obrigando a nos encarar. — Implore para ela te salvar. Não deixe eu morrer por ser ladrão e espancar homens de bem até a morte. Por favor, irmãzinha, gaste tudo que você tem para que ele não me mate. — Adam desabou em choro, o que fez Pierre se irritar mais. — Implorar agora. — Gritou com firmeza e nojo.

— Por favor. — Disse Adam, encarando meus olhos. — Me salve.

Pierre se ergueu e olhou para mim:

— Seus pais devem estar orgulhosos, não acham? — Disse sarcástico, e deu um chute na cabeça de Adam, fazendo-o cair.

Gritei seu nome aos prantos, acompanhada pelo choro de Lara, que se destacava ao longe, mas fui interrompida.

— Você não vai sair daqui. Na próxima vez não se mete nos problemas dos outros.—Ele diz apontando para o seu curativo, aonde eu havia o ferido.

— Quem você pensa que é, para tratar alguém assim? — Disse, contendo as lágrimas. — Você não passa de um monstro.

— Não, monstro não. Eu sou a consequência que pessoas que ferem outras têm que lidar. Você só não vê isso porque está do lado errado. Então pague o que você tem que pagar, ou você morre, assim como seu irmão.

— Ninguém vai morrer aqui. — Ouvi a voz de Jorge invadir o salão.

Olhei para a porta, entre um casal armado. Lá estava ele. Nossos olhares se encontraram, e sorri ao vê-lo. Ele veio por mim, pensei.

— Pois não? — Perguntou Pierre com frieza convencional.

— Tem um minuto? — Disse Jorge com uma seriedade que não havia visto naquela noite.

Pierre não respondeu e foi ao encontro de Jorge.

— Qualquer gracinha, atirem. — Disse aos seus subordinados.

Os dois saíram do salão e entraram no prédio. Adam se levantou aos poucos do chão sujo, lutando para controlar o sangue que saía da ferida de bala.

— Ele poderia ter chegado mais cedo. — Disse entre gemidos.

— O que você realmente fez, Adam? — Perguntei, com as palavras de Pierre em minha cabeça.

— Silêncio. — O vigia disse novamente.

E ali esperei a conversa de Jorge e Pierre.

A crença de que iria ser salva diminuiu, e as dúvidas sobre quem realmente era Jorge cresceram como erva daninha. Quem era o homem que me beijou? Com quem planejava passar aquela noite? Um desconhecido que conheci ao lado de uma rica mimada, talvez ele seja um herdeiro assim como ela, ou pior, um assassino como Pierre.

Alguns homens nos trouxeram água, e nós permitimos sentar até a volta de Pierre.

Como iria sair dessa? O pensamento fazia meu cérebro trabalhar, ignorando a incômoda dor de cabeça. Sabia que minhas economias estavam em risco, já que não imaginava que os adolescentes ali presentes tinham dinheiro considerável. Meu irmão sangrava, e meu pedido para que o ajudassem era ignorado, mas torcia para que minhas preces a Deus não fossem em vão. Não deixe meu irmão morrer. As lágrimas insistiam em retornar.

Moleques idiotas, pensava, buscando a explicação para o motivo deles terem roubado o supermercado, sabendo das consequências. Se fossem maiores de idade, todos estariam mortos sem nenhum pingo de piedade. De quem foi a brilhante ideia? E por quê? Não consegui achar as respostas.

Após quase uma hora, ou mais, ouvi passos vindo da direção da porta. Pierre e Jorge voltaram ao salão.

— Adam, levante-se. — Ordenou Pierre. — Vamos fazer um curativo nesse braço.

— Ellen, venha. — Disse Jorge, acenando para mim, e o obedeci.

— Aonde pensa que está indo? — Pierre o encarou.

— Esse era o trato, ela está fora disso.

Pierre soltou uma gargalhada.

— Você não sabe o que está fazendo, né? — Ele disse debochando. — Mas eu vou te ensinar agora. Você vai lá fora e cumpre o nosso trato, e quando eu tiver a confirmação, aí sim, você busca a sua gatinha. — Pierre falava de forma sádica.

— Vai dar tudo certo. — Jorge disse com uma voz paternal, acompanhado por um sorriso reconfortante. Retribuí o sorriso, acreditando nele.

— Até mais ver, Jorge. — Disse Pierre, acompanhando-o até a porta.

A mulher do carro me levou a uma pequena mesa de madeira adornada com um acabamento peculiar do tempo das realezas, onde me sentei.

— O que vai acontecer agora? — Perguntei à mulher.

— Vou te confessar uma coisa, senhorita Ellen. — Pierre se aproximou do meu ouvido e me fez paralisar. — Eu sou um monstro sim. — Uma risada sádica invadiu meus ouvidos, e agora só Jorge podia me salvar. Não sabia como, só sabia que era minha única chance de sair viva daquele lugar.

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