X. Paciente Medeiros

Segunda feira de manhã não é o meu melhor momento.

Acordo antes do despertador e hoje o dia estava nublado e o friozinho de manhã tornou mais difícil a tarefa de sair da cama. Carol estava deitada do meu lado, na sua posição de costume, abraçada num travesseiro.

Não tenho coragem de acorda-la.

Me levanto, vou para o banheiro, tomo meu banho, deixo meus cabelos soltos enquanto secam e depois vou para a cozinha começar a preparar o café da manhã. Na hora de acordar a Manu, vou no quarto dela e acordo a minha princesa.

– Manu minha princesa, vamos acordar, está na hora da escola...

– Já mamãe? Ainda estou tão cansada...

– Sim meu amor. Imagino que você deve estar mesmo, passou o dia inteiro ontem brincando...

– Não posso dormir nem mais dois minutinhos?

– Só se em dois minutos você levantar e não ficar com mais preguiça.

– Ih mamãe, impossível. Vou levantar logo.

E mesmo fazendo biquinho minha filha levanta e vai escovar os dentes. Mesmo sem eu mandar. Orgulho que dá.

Satisfeita, volto para cozinha e vou terminar de preparar o café da manhã. Faço umas panquecas e ovos mexidos. Coloco algumas pra minha filha, coloco para mim e deixo as que eu fiz para a Carol dentro do forno para não esfriarem tanto.

Minha filha aparece toda vestida com a farda do colégio, mas ainda sem calçar os tênis. Senta à mesa e come tudo o que eu coloquei em seu prato com um sorriso no rosto.

Depois de lavar os pratos e panelas do café da manhã eu vou pro meu quarto terminar de me aprontar e menos de quinze minutos depois já estou pronta para mais um dia de trabalho.

Depois de deixar a minha filha no colégio eu me apresso para o prédio. Não que eu tivesse alguma consulta pelo primeiro horário da manhã, mas era que eu gostaria de dar uma olhada nas avaliações de alguns dos meus pacientes, e pela manhã é sempre o melhor horário para fazer isso.

Aperto o botão do meu andar e subo até o meu escritório sozinha no elevador.

A sala está com o mesmo cheiro que eu deixei. De limpeza clínica. Sento na minha poltrona confortável no fundo da sala, ligo uma lâmpada que comprei exclusivamente para melhorar a minha leitura e caio de cara nas avaliações.

Sempre que leio pela segunda, ou terceira vez minhas anotações sobre os pacientes posso entender melhor como pensam e como eu posso ajudá-los a melhorar com os seus problemas.

Batidas na porta me chamam a atenção. Olho para o relógio e acho estranho. Ainda tenho uns quarenta minutos antes do meu primeiro paciente chegar.

– Pois não?

– Lice? – Cauê fala do outro lado da porta e já a abre.

– Cauê, entra meu dentista favorito...

– Obrigado Alice, e como vai você? Não nos falamos no final de semana... Fiquei com saudades de você, aproveitei que a minha cliente de agora faltou e vim te fazer uma visitinha rápida.

– Senta aqui Cauê, realmente meu final de semana foi bem puxado, mas bem família...

– Família nada, que eu não estava lá...

– Devia muito bem estar enroscado num rabo de saia se eu bem te conheço Cauê, seu aniversário prometeu...

– Mas quem estava conversando com vários caras era você lá na boate...

– Nada disso! Já sei que eu conversei apenas com um...

– Pessoalmente, mas o seu telefone não parou de tocar... – lembrei da ligação do Ricardo e de como eu falei com ele, e o vi, e desmaiei... – Ih, Lice, pelo visto parece que ligou e não gostou... Posso saber o que aconteceu?

– Pode Cauê... É que tudo aconteceu tão loucamente que eu nem falei com você ainda, e ontem passei o dia tentando esquecer de tudo.

– Não to gostando dessa história...

– E não vai gostar também quando eu te disser que uma das pessoas que eu falei no final de semana foi o Ricardo?

– Ricardo, falecido para mim e pai da Manu?

– Sim, ele mesmo, em carne e osso...

– E o que vocês conversaram?

– Bem não foi muito bem uma conversa sabe? Ele conseguiu meu número só Deus sabe onde e me telefonou na sexta, no seu aniversário. Mas pela quantidade de bebida que eu ingeri só consegui falar com ele sábado, e quase tenho um infarto!

– Imagino Lice, mas ele não tentou nada não, não é? Senão eu faço questão de arrancar dente por dente daquele desalmado.

– Não, ele não tentou nada, mas acabei por encontrá-lo no sábado num encontro que eu tive...

– Encontro dona Alice? Está saidinha viu? Mas gostei de ver que eu você não se deixou abalar por aquele idiota.

– Carol me ajudou muito... Então eu o vi no meu encontro e acabei por desmaiar quando percebi que era ele na minha frente.

Cauê ficou bem sério olhando em meus olhos, quando de repente ele abriu um enorme sorriso e começou a gargalhar bem alto.

– Cauê! – brigo com ele.

– Desculpa Lice, mas é que eu estou tentando imaginar a cena, você saindo com outro cara, encontra o seu ex e cai durinha na frente dele, tadinho do seu encontro deve ter ficado sem entender nada...

– Ficou mesmo Cauê, mas eu contei para ele. Falei que ele era o pai da Manu.

– E como ele reagiu?

– Acho que ele aceitou bem... Até porque ele me chamou pra sair com ele novamente e eu aceitei...

– O cara sabe que você tem uma filha e ainda por cima conheceu o pai dela? O que esse cara está querendo fazer? Garantir a sua entrada no céu?

– Ih Cauê, está dizendo que eu não sou interessante o suficiente? Que o cara assim que escuta isso corre pra longe? Que não pode enfrentar um contratempo? – sei que isso em muitos casos é verdade, mas o Samuel era diferente.

– Não estou dizendo isso... Mas uma coisa Alice, um contratempo é morar longe, ficar com uma alface presa no dente o encontro inteiro, sei lá. Mas tenho certeza que ter uma filha, encontrar o pai dela e desmaiar na frente do seu ex não é um contratempo...

Touché.

– Sei que você vale a pensa Alice, e se não for esse cara com quem você saiu a perceber isso, tenho certeza que outra pessoa irá...

– Obrigada Cauê, você me anima muito assim...

– Estou falando sério, se eu não te conhecesse e te considerasse uma irmãzinha para mim, você não me escapava...

– Ai Cauê, que horror!

– Vai dizer que você não gostaria?

Caímos na gargalhada e eu ri tanto que até a minha barriga começou a doer. Cauê era um irmão mais velho que eu nunca tive. O amo como se fosse da minha família.

Ficamos sentados no meu divã, jogando conversa fora e ele me contou como tinha sido o seu final de semana. O tempo voou e já estava na hora da minha consulta com o meu novo paciente.

– Cauê meu amor, eu sei que você não se importa, mas eu ainda tenho que pegar direitinho os dados do meu novo paciente. A hora da consulta já está chegando... Pode ficar à vontade por enquanto...

– Puta merda Lice! Perdi a noção do tempo, já estou é atrasado para a minha limpeza, merda, não gosto de correr com os horários! – Cauê fala, levantando da cadeira em um pulo. Ele confere o relógio mais uma vez e não fica feliz em ver a hora.

– Calma Cauê, você vai conseguir fazer tudo sem se apressar...

– Eu sei, mais tarde falo com você – ele me dá um beijo na testa e sai apressado pela porta. Rio da sua pressa, tenho certeza que ele tem um tempo livre entre as consultas, tenho certeza que ele pode apertar um pouco seus horários de folga.

Arrumei a sala como pude, e deixei tudo pronto para a chegada do meu paciente. Meu bloquinho de anotações estava pronto. Sentei novamente na minha cadeira e fiquei fazendo pequenos desenhos na última folha do bloquinho.

Com vinte minutos de atraso, meu paciente chega. Ele bate na porta e eu vou abrir a porta do consultório para ele. E, assim que abro a porta, tenho vontade de fechar novamente. Não era o meu cliente, era o Ricardo.

– O que você está fazendo aqui? – pergunto em um tom de poucos amigos.

– Não é meio óbvio? – ele tenta fazer uma brincadeira, mas quando vê o olhar que eu lanço para ele, acho que teve vontade de engolir as suas palavras.

– Não, para mim não é Ricardo.

– Vim para a minha consulta...

– Consulta, o seu nome...

– Esqueceu que o meu sobrenome é Medeiros?

– Errr... – realmente tinha esquecido... Na realidade, acho que o termo mais correto era não querer lembrar do nome dele. Tenho que começar a fazer uma pesquisa antes de aceitar paciente assim...

– Posso entrar?

Pensei na possibilidade de fechar a porta na cara dele e continuar o meu dia como se nada tivesse acontecido. Tá certo, como se eu fosse conseguir...

– Como conseguiu meu número?

– Você é uma psicóloga renomada Alice, não foi nem um pouco difícil... Com sites e cartões de visita, qualquer um pode ter seu número...

– Mas eu tenho certeza que eu não tenho o número do meu celular no meu cartão de negócios...

– Tá certo, você me pegou... Conversei com um dos seus pacientes. Disse que era um dos seus pacientes e disse que tinha perdido seu número...

– Isso foi errado...

– Eu sei que foi Alice, mas eu tinha que falar com você...

– Passou pela sua cabeça que talvez eu não queira falar com você?

– Alice, eu sei que depois de tudo que passamos eu não tenho direito de...

– Depois de tudo que passamos vírgula, não passamos por muita coisa Ricardo. Quando íamos começar a viver nossas vidas, você simplesmente sumiu!

– Eu posso explicar Alice.

– O período para você explicar já passou. Há muito tempo.

– Então você poderia pelo menos me ouvir? Por favor.

Aquela educação dele me pegou de surpresa. Não me lembrava dele daquele jeito. Ele parecia mais centrado, de alguma forma diferente.

– Eu sei sobre a Emanuela Alice – ele fala tão baixo que por um momento eu pensei que ele não tinha falado aquilo. Mas no meu coração eu sabia que tinha escutado aquilo.

Finalmente eu saio da porta, dando espaço para ele passar. Ralhei comigo mesma por ainda gostar do seu cheiro forte de madeira. Ele analisou a minha sala interia com seus olhos. Abriu um sorriso quando voltou a olhar para mim.

– Você fez um ótimo trabalho, esse escritório é muito bonito e bem planejado. Vi seus diplomas ali, fico feliz por você ter concluído seus estudos...

– Mesmo depois de você me abandonar grávida?

– Juro por qualquer coisa que você quiser Alice, eu não sabia que você estava grávida, se eu soubesse, nunca teria ido embora...

– Salve suas palavras Ricardo. Você quer sentar?

– Obrigado.

Ele ajustou seu corpo enorme em cima da cadeira que era reservada para os meus pacientes. Ele ficou olhando para os sapatos lustrosos e parecia escolher muito bem as palavras que iria falar agora.

– Você não disse que queria que eu escutasse? Onde estão suas palavras? – não deixo de alfinetar. Tenho tanto rancor ainda guardado que não consigo ter uma conversa normal com ele. Mas se só ele falasse quem sabe eu poderia entender o seu lado da história.

– Alice... É muito difícil o que eu tenho para te dizer... Não sei por onde começar...

– Que tal com coisas básicas, como porque você fugiu, porque não deu notícias, porque, depois de tanto tempo você resolveu voltar... – as palavras saiam da minha boca como um trem descarrilado, e eu não poderia prever a destruição que elas poderiam ocasionar.

– Eu mereço isso...

– Você merece pior Ricardo – eu olho dentro de seus olhos azuis e por um minuto me deixo amolecer. Eles eram tão iguais aos da Manu. – Desculpa, pode continuar a falar...

– Obrigado. Alice, você merece saber o motivo pelo que eu fui embora – e então ele começou a sua narração.

“Na época da faculdade, eu me envolvi com pessoas que eu não deveria. Me envolvi com drogas, que me deixavam ligado para malhar e acompanhar a rotina das provas. Meus pais são de classe média alta como você sabe, mas eu não podia ficar esbanjando dinheiro assim.

Foi então que eu fiz o que não deveria ter feito. Pedi dinheiro emprestado de um dos piores agiotas que eu já tive o desprazer de conhecer. E quando o prazo chegou, e eu não tinha o dinheiro para lhe pagar, ele não quis saber de nada. Me ameaçou de morte e disse que iria me encontrar. E que eu iria pagá-lo, nem que fosse com a minha vida. Me lembro das exatas palavras dele até hoje: ‘Vou te matar e a sua família e amigos que vão sentir a sua falta. Não eu.’

Nem preciso dizer que isso me amedrontou, e muito. No auge do meu medo, fugi. Fugi sem deixar rastros. Não liguei para ninguém, não disse para onde ia para ninguém, não queria que ninguém corresse riscos.

Nenhuma ligação com as pessoas com que eu verdadeiramente me importava. A pessoa que eu mais senti falta durante todo esse tempo foi você Alice, eu ainda pensei em te procurar quando as coisas se acalmaram, mas tinha se passado tanto tempo, achei que você tinha me esquecido...

Avisei para minha família onde estava, quando tudo passou, mas ninguém sabia de você.

Então foi que apareceu uma oportunidade para mim por lá. Abri uma empresa, de fundo de quintal mesmo, e quando eu dei por mim, já tinha construído um pequeno império.

Não vou negar que o poder me subiu a cabeça, quando mais dinheiro eu ganhava, mais eu investia e foi assim até que decidi voltar para o Brasil. Estou precisando de estabilidade, ficar com a minha família, quem sabe até começar uma... Você sempre esteve povoando os meus pensamentos.”

Se eu tivesse escutado essa história no meio da minha gravidez, ou quem sabe até um tempo depois, eu teria me derretido, teria ficado ao lado dele, mas agora, não sou só eu. Eu tenho a minha filha e ela tem que vir em primeiro lugar.

Saber dos motivos dele ajudou a diminuir um pouco da minha mágoa, mas foi só um pouco mesmo...

– E eu senti sua falta Ricardo. Você não sabe o que eu tive que passar... Fiquei sozinha e perdida por um tempo, não sei o que seria de mim se não fossem meus amigos.

– Nem consigo começar a imaginar como deve ter sido difícil para você Alice, e também sou grato por ainda existirem pessoas boas nesse mundo.

– Eles foram a melhor coisa na minha vida, junto com a MINHA filha – fiz questão de frisar a palavra. Ele não vai voltar e com uma explicação que não tenho certeza nem se é verdadeira e vai conhecer a minha princesa.

– Posso lhe fazer uma pergunta?

– Acho que sim.

– Como ela é? É esperta?

– Sim, ela é uma das mocinhas mais espertas que eu conheço – me perco toda vida que falo da minha filha. – Tão inteligente e bondosa. Um amor de menina.

– Disso eu não tenho dúvidas, se ela tiver um décimo do seu caráter ela já vai ser uma pessoa de ouro.

– Faço de tudo para criá-la da melhor maneira possível. Eu a amo mais do que a mim...

– Não duvido disso também. Você sempre se doou inteira, e com a relação de mãe e filha não poderia ser diferente.

– Ela sofre um pouco por não ter um pai, você a privou de muita coisa. Meu amigo é uma figura masculina para ela, mas nunca será uma figura paterna.

– Palavras não expressam o meu arrependimento por não acompanhar o crescimento dela. Não ver os seus primeiros passos, sua primeira palavra.

– Você perdeu muita coisa Ricardo. Eu sei que você é o pai, mas saiba que você não vai voltar para a vida dela agora. Não vou fazer isso com a minha filha.

– Não quero separar vocês duas. Não tenho o direito de fazer isso. Mas por favor Alice, não me prive da oportunidade de conhecer a minha filha. Sei que perdi a maioria da sua infância, mas tem tanta coisa que eu nunca sonhei em fazer e que agora eu não vejo a hora para que aconteça...

– Ricardo, é a minha filha. Eu tenho que decidir se isso vai ser bom para ela...

– Você não disse que ela sente falta de uma figura paterna? Eu estou aqui Alice.

– Mas por quanto tempo.

Ricardo fica calado ao escutar minhas palavras. Ele sabe que eu estou certa. A expressão que ele fazia quando percebia que tinha perdido uma briga era a mesma da de quando namorávamos.

– Vejo que a sua mágoa de mim não diminuiu nada Alice...

– Não diminuiu nenhum milímetro. Ricardo, você nunca vai entender o que você me causou... As coisas que aconteceram por sua causa.

– Me diga Alice, quem sabe eu não posso ajudar...

– Ajudaria se você tivesse uma máquina do tempo e voltasse oito anos e nunca tivesse ido embora. Ajudaria se você não tivesse me custado o amor da minha família. Ajudaria se você não me tivesse perder oportunidades por causa da minha bebê. Não me leve à mal, eu a amo, mas você sabe como é difícil conseguir um emprego, ou terminar a faculdade quando você tem que cuidar de uma filha? Quando você tem uma barriga enorme que não te deixar fazer nenhum esforço?

– Não sei o que te dizer Alice...

– Como eu já tinha te dito, não tem muita coisa que você possa me falar que mude o meu pensamento por você.

– Eu te amo – ele fala sem desviar o seu olhar do meu, sem pestanejar, sem rir ou qualquer coisa.

Ricardo nunca tinha me falado essas palavras. Nem quando estávamos juntos ele falou que me amava. Ele disse que só falaria quando realmente sentisse, que eram palavras bonitas demais para ser faladas de qualquer jeito.

Arregalei os olhos. A respiração prendeu de um jeito na minha garganta que eu tive que tossir diversas vezes somente para conseguir que o ar passasse para meus pulmões. Se eu tivesse tomando qualquer coisa, cuspiria o conteúdo. Se eu tivesse um problema cardíaco, esse seria o momento que eu teria um infarto.

MAS QUE MERDA ERA QUE O RICARDO ESTAVA PENSANDO PARA FALAR AQUILO PARA MIM?

– Não espero que você responda nada Alice. Só precisava tirar isso do meu peito. Agora eu percebi. Eu sempre te amei. Você foi a melhor coisa que já aconteceu comigo.

Vou ligar lá pro térreo do prédio e pedir para que eles procurem o meu queixo, pois tenho certeza que ele desceu tanto que deve estar lá por baixo, dando um passeio...

– Eu te amo, e me dói saber que não posso lutar por você... Mas não me deixe longe da minha filha Alice, me deixe amar esse pequeno pedaço de você. Ou qualquer coisa que posso ajuda-la. Dinheiro, qualquer coisa...

– Tenho que pensar Ricardo...

– Tenha o tempo que precisar... Quer dizer, tente não pensar por muito tempo, cada momento que eu passo longe dela, parece uma eternidade. Tenho que começar a tentar recuperar o tempo perdido com ela.

– Tudo bem Alice. Gostaria de te agradecer por me escutar... Foi muito importante para mim saber que você finalmente sabe o que aconteceu comigo.

– Não sei se consigo acreditar nessa sua história. Tão pouco eu consigo te perdoar Ricardo, mas quem sabe por agora eu saber de tudo, eu consiga encerrar esse capítulo da minha vida.

– Assim também espero Alice. E eu estou falando a verdade, não tenho porque mentir. Tudo o que eu mais quero é conhecer a minha filha, e vejo que o melhor jeito de me aproximar de vocês duas é com a verdade.

– Começou bem Ricardo, nisso não posso negar, mas como eu disse, você tem um longo caminho ainda a percorrer para conhecê-la.

– Eu sei Alice...

– Então acho que estamos conversados...

– Posso passar o resto do meu tempo aqui no consultório Alice? Prometo que não irei mais falar... Só queria passar um pouco mais de tempo na sua presença, ela tem alguma coisa que me acalma.

– Ricardo...

– Não irei falar nada. Só gostaria de ficar um pouco mais de tempo aqui. Eu senti a sua falta.

– Você me fez muita falta Ricardo, mas teve uma hora que eu aprendi a viver sem você... – falo sentindo o peso dessas palavras. A verdade me surpreendeu tanto quanto a ele.

Ricardo me olha com uma cara que não consegui identificar o que era, e olha que eu sou muito boa em ler as feições de uma pessoa. Eu levantei da cadeira que estava sentada, não consegui mais ficar parada.

– Posso não ser a melhor pessoa do mundo, mas nunca fingi ser que eu não sou...

– Mas isso não justifica o fato de você ter ido embora, sem dizer nada, sem me mandar nenhum recado. Eu não sabia onde você estava, ninguém sabia, você tem noção como isso era uma tortura?

– Não consigo nem imaginar...

– Como eu pensei Ricardo. O tempo passou, mas não mudou nada para mim. O que você fez, pelo motivo que fosse, não se faz...

– Alice, eu sinto muito.

– Também não duvido que você sente. Mas o fato é eu não te perdoo. Ainda vai passar muita água debaixo dessa ponte para que eu um dia possa te perdoar.

– Mas você um dia sabe se você vai conseguir?

– Ricardo eu sinceramente não criaria esperanças...

– Mesmo passando tanto tempo assim você ainda não consegue esquecer?

– Não teve um só dia que eu esqueci o que aconteceu comigo Ricardo. Não teve um só dia que eu olhasse nos olhos da minha filha e não lembrasse de você. Ela é a alegria dos meus dias, mas não teve um momento que eu a olhasse e não lembrasse de tudo pelo que passei.

– Não sei expressar o quanto eu sinto...

– Tudo bem Ricardo, deixa quieto. Eu que nunca pensei também que um dia teria essa conversa com você...

– Espero que um dia você encontre a força necessária para me perdoar.

– Outra coisa que eu quero que fique bem clara Ricardo, eu posso até deixar você ver a milha filha, fazer parte da vida dela. Mas eu nunca vou voltar pra você. O fato de você me amar não muda nada. Eu te amei por muito tempo, me magoei demais. Meu coração está completamente fechado para você. Se um dia você conhecer a Manu, você vai ser o pai dela. E SÓ.

A postura de Ricardo fica dura, sua mandíbula tensa, e por um momento penso que ele irá se exaltar. Mas isso não acontece. Ele respira fundo e foi como se eu não tivesse falado nada. Ricardo levanta da sua cadeira e me olha.

– Obrigado por ter me escutado Alice. Mas agora vou indo.

Não respondo, não me levanto.  Fico observando ele se levar até a porta. Fica alguns segundos encarando a madeira, e não sei o que ele está esperando. Abre a porta, e antes de sair, me olha uma última vez com seus incríveis olhos azuis.

– Nos esbarramos por aí Alice – ele fala sorrindo, lembrando com certeza da cena do restaurante.

Ao escutar o som quase imperceptível do trinco da porta fechando, começo a tremer. Tremo quase que violentamente sentada na cadeira. Aquilo tinha mesmo acontecido?

Digito os números da Carol e quando ela atende me resumo a falar.

– Carol amiga, espera só um minuto, não desliga – então coloco a chamada em espera e disco o número do Cauê, e quando ele atende conecto as linhas e tenho dois dos meus três pilares na linha.

– Alice? – Carol pergunta preocupada.

– Carol? – Cauê fala, visivelmente intrigado pela minha ligação e o motivo dela está sendo compartilhada com a Carol.

– Vocês dois, preciso contar uma coisa...

E começo a relatar tudo o que tinha acontecido naqueles minutos, nos mínimos detalhes...

Boa noite amados e amadas do meu coração! Como estão vocês? Desculpem a demora, mas é que com a volta da minha faculdade, meus horários ainda estão um pouco desorganizados... Mas eu já estou me programando para termos um capítulo por semana!

Quem imaginaria o Ricardo hein? Marcando uma consulta com a Alice, coitada, quase que desmaia de novo, kkkkkkkkk Vocês gostaram do confronto? Espero que sim, escrevi com muito amor, hahahaha

Hoje esse capítulo é especial, pois é aniversário de um dos meus leitores mais fofos. Parabéns Ilke lindo ^^ Muita felicidade, amor, paz, saúde e sucesso pra você. Muitos aninhos de vida. JUÍZO hein? hahahah. Mas meus parabéns, fica aqui meu votos pra você. Um beijo ENORME  no seu coração :D

Amores, estamos com 3K de leituras!!! São mais de 300 votos também e quase 150 comentários. Obrigada a todos que estão me apoiando nesse projeto tão especial ;D Estou MUITO feliz. Alegria que nem tem tamnho :D

Esse capítulo é dedicado à @Mikaela-Evelyn, uma menina super gente boa, nova no grupo e que está me dando um super apoio também. Obrigada Mika pelo carinho ;D E espero que você acompanhe essa história até o fim.

Beijos amados e até o próximo capítulo :*

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