Um

Quando o solavanco do ônibus acordou Diana do atordoado sono que ela estava, foi o fim da viagem mais desconfortável e desafiadora de sua vida.

Mas finalmente havia chegado em Petrópolis, a cidade que tanto sonhara em morar. E depois de um processo doloroso e demorado, finalmente ela poderia estudar na UCP - Universidade Católica de Petrópolis.

Ao sair do ônibus, um grupo pequeno se aglomerou em frente ao guarda-malas do transporte. Pacientemente, Diana esperou que todas as pessoas ali pegassem suas malas para aí então, sem nenhuma pressa, poder pegar tudo que havia levado para a cidade.

Com a mochila nas costas e uma mala de rodinhas, Diana olhou para os lados. Alguém deveria estar esperando para buscá-la, mas parecia que ninguém estava ali além das famílias e amigos dos outros passageiros.

Pegou seu celular e digitou rapidamente um "Cheguei!". Minutos depois o remetente respondeu "estou chegando".

Enquanto estava esperando sentada em um pequeno banquinho, ficou olhando para a o verde que estava bem à sua frente. A cidade era bem bonita e arborizada. Também era um pouco nublada, mas talvez fosse a época. Havia saído de tão longe para chegar ali, não procuraria motivos para não estar.

Finalmente sua prima, uma quarentona super de bem com a vida, chegou em seu fusquinha verde, já conhecido pelo povo da cidade. Diana engoliu o riso quando a mesma saiu do carro e gritou seu nome, chamando a atenção de todos ao redor. Como se ao chegar no local não tivesse chamado atenção por causa da sua roupa e o seu cabelo ruivo.

— Oi Magda, obrigada por ter vindo me buscar. — Falou enquanto entrava no carro.

— Não se preocupe, menina. Estou feliz por finalmente alguém daquela família vir me visitar. Mesmo que seja pra fazer uma faculdade. — Ela sorriu antes de dar a partida no carro. — Como foi a viagem?

— Cansativa. Estou feliz por ter chegado.

O fusquinha era lento e dava muitos solavancos. Porém Diana achava engraçada a forma que Magda tratava o carrinho.

— Vamos para casa primeiro, você ainda vai querer ver a universidade hoje, não é?

— Sim. Finalizar algumas pendências. Espero que não tenha problemas.

— Nenhum. Quando você veio pra fazer o vestibular, viu que moro pertinho.

— Sim, fico feliz por poder ir andando.

E isso era verdade. Era incrível poder economizar com as passagens. Ela já tinha pouco dinheiro, então logo precisava achar algum trabalho.

— Não se preocupe. — Magda falou quando ela comentara sobre a questão do emprego. — Aqui sempre tem alguma coisa.

Animada com aquela notícia, Diana colocou seus fones e curtiu a vista até a casa de sua prima.

***

Estar novamente na universidade de Petrópolis era como estar de alma lavada. Durante tanto tempo estudou a possibilidade de sair do interior do Ceará para conseguir o mundo. Fazer o curso que tanto sonhava e ainda estar à um passo do mundo que tanto queria conhecer.

Andando pelo campus, observou que todos os alunos estavam se dirigindo aos CAs de seus cursos para finalizar a matrícula. Apressou seu passo para adentrar o bloco, mas algo a chamou a atenção.

Ele estava rodeado de pessoas, todos bem vestidos e e alinhados. Parecia jovem, talvez sua idade fosse a mesma de Diana. Era alto, tinha cabelos claros e pele clara. Não parecia perceber a presença de mais alguém além daqueles que estavam ao seu redor conversando calorosamente.

Ao passarem pelo seu lado, viu todos virarem o rosto para ela. Diana sentiu o rosto esquentar, provavelmente estava vermelha como um tomate. Virou o rosto e continuou andando. Quando já estava há alguma distância do grupo, olhou para trás e os viu parados, conversando. Mas aquele que estava no meio ainda olhava para ela. Imediatamente ela sentiu um estranho incômodo. Balançou a cabeça e continuou andando, adentrando o bloco.

— Seja bem-vinda a UCP. — A moça simpática entregava um saquinho com todos os panfletos institucionais e alguns brindes após os trâmites necessários para a matrícula.

— Obrigada. — Diana estava empolgada com aquilo.

Enquanto andava pelo bloco, viu um quadro de aviso com vários anúncios de estágios, a maioria para alunos mais avançados. Porém um a chamou atenção: trabalho de meio período na biblioteca.

Seria perfeito. Seus horários ainda estavam tranquilos e teria tempo de sobra para ganhar alguma grana.

Anotou o número em seu celular, ligaria assim que tivesse na casa de sua prima. Já estava cansada e com fome.

A caminho de casa em uma rua estreita, avistou a casa amarela de sua prima bem em cima do morro. Sorriu. Diferente de Sobral, aquela sim era uma cidade arborizada e fria.

Entrou em casa com a certeza que Magda havia cozinhado algo super gostoso. Sentou-se à mesa com a prima e comeu enquanto conversavam sobre besteiras da vida de morar sozinha.

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