Capítulo 7: Estagiários?
— Quando vamos ter os novos estagiários? — foi a primeira pergunta disparada assim que Derek Hale entrou no ambiente que ele considerava seu verdadeiro refúgio.
Para muitos, o lugar parecia escuro demais, com luzes fracas e uma bagunça constante. Computadores com várias telas piscando códigos, teclados iluminados por LEDs e o cheiro inconfundível de cup noodles no ar. Mas, para Derek, aquilo era mais do que suficiente. Era o coração pulsante do laboratório de desenvolvimento e criação de software da Moonlight.
A responsável pela pergunta foi Kira Yukimura, uma alfa de olhar determinado e longos cabelos negros presos em um rabo de cavalo ligeiramente desalinhado. Ela usava uma camiseta larga com os dizeres "A vida gamer é a verdadeira vida", que, apesar de folgada, não escondia completamente as curvas do seu corpo. Kira era uma das programadoras mais talentosas da pequena equipe de Derek — e, definitivamente, a mais impaciente.
— Bom dia para você também... — resmungou Derek, cruzando os braços enquanto a encarava.
— Desculpe pela falta de formalidade, senhor Hale, mas já pedimos os estagiários há... Tipo... semanas! Quase um mês! — disse Danny Mahealani, sem tirar os olhos de sua estação de trabalho.
Danny, outro jovem programador da equipe, era havaiano e fazia questão de exaltar suas raízes de um jeito, digamos, peculiar. Sua mesa estava cheia de fotos da sua enorme família, com muitos sorrisos calorosos e paisagens tropicais ao fundo. E, claro, havia os bonecos havaianos: pequenas figuras de dançarinos com saias de grama e hula hoops que se mexiam incessantemente. Para Danny, eles eram uma forma divertida de celebrar sua cultura. Para Derek, eram... perturbadores. Especialmente porque pareciam zombar silenciosamente de tudo ao redor.
— Ainda estamos esperando a aprovação final do RH — respondeu Derek, o que era apenas uma meia-verdade. Na realidade, a aprovação já havia sido concedida, mas a situação estava atrelada à recente reunião com sua mãe. Talia Hale não apenas exigiu que ele participasse de encontros com ômegas, como também decidiu impor limitações diretas ao seu trabalho. Não bastava bloquear o acesso aos documentos mais importantes; agora, setores com os quais Derek tinha mais contato estavam presos em um limbo burocrático, sem avançar em suas demandas.
Derek achava tudo aquilo insano. Ainda assim, a proposta de Peter — de agir bem no próximo encontro e trazer o tal ômega para o jantar de Natal — começava a parecer, no mínimo, atraente. Se isso apaziguasse a preocupação de sua mãe e retirasse os "grilhões" que ela havia imposto, talvez fosse um sacrifício aceitável.
— Senhor, é verdade a fofoca que estamos ouvindo? — perguntou Jordan Parrish, oferecendo uma caneca de café recém-feito a Derek.
Jordan era o beta mais velho da equipe, mas ainda assim mais jovem que Derek. Ele era conhecido por tentar se portar de maneira mais "profissional" e menos excêntrica do que o restante do grupo. Claro, isso só era verdade até você perceber o Nintendo Switch que descansava casualmente sobre um monte de relatórios da empresa. Derek notou que o console ainda estava ligado, pausado em algum jogo — provavelmente durante uma batalha épica que Jordan fingia não estar ansioso para retomar.
— Que fofoca? — Derek arqueou uma sobrancelha e lançou um olhar irritado para o trio. O famoso olhar Hale. Apesar de estarem acostumados, os programadores ainda evitaram encará-lo diretamente, tentando disfarçar o desconforto.
— A fofoca de que você está... procurando um ômega — respondeu Kira, sempre a primeira a falar demais. — Digo, nada contra! Eu mesma estou procurando um ômega. Quer dizer, não agora, talvez daqui a alguns anos. Mas, você sabe, a busca está sempre aí, né?
— Eu não estou procurando um ômega! — Derek frisou, o tom de voz firme o suficiente para ecoar pelo espaço. Mesmo assim, ele viu os programadores trocarem olhares incrédulos.
— O que mais essa fofoca diz? — perguntou ele, voltando sua atenção a Jordan, que bebericou sua xícara de maneira suspeita. Derek franziu o nariz. Não era café — seu olfato não mentia. Era energético. Claro que era.
— Bem... — Jordan começou, claramente hesitante. — Dizem que... talvez a chefe Hale esteja te limitando na empresa.
— Você não vai ser demitido, né? — interrompeu Kira, impaciente e alarmada.
— Kira! — Danny a repreendeu, virando-se para ela com um olhar de censura.
— O que foi? Estamos preocupados! — disse Kira, gesticulando energicamente com as mãos. — Outro chefe vai nos deixar mergulhar tão profundamente nas nossas pesquisas quanto o chefe Hale? Eu digo que não!
E era verdade: Derek não só permitia que sua equipe tivesse liberdade criativa, como ele mesmo passava boa parte do horário de trabalho naquele laboratório. De fato, ele tinha uma estação de trabalho própria, um pouco afastada do trio, mas devidamente equipada com várias telas de computador. E, como um raro vislumbre de sua personalidade fora do trabalho, sua mesa exibia algumas miniaturas de naves da série Star Wars. Era uma das poucas evidências de seus hobbies que não envolviam programação, algoritmos ou... mais trabalho.
— Eu não serei demitido. Quanto a isso, podem ficar tranquilos — começou Derek, tentando parecer mais calmo do que realmente estava. Mas ele sabia que, se continuasse falando, acabaria tendo que entrar em detalhes sobre os encontros forçados e as preocupações da sua mãe com sua vida amorosa, algo que ele definitivamente preferia evitar.
Felizmente (ou não), a porta se abriu antes que ele precisasse elaborar. Erica Reyes entrou no laboratório, acompanhada por Lydia Martin.
— Eu disse que ele estaria aqui — anunciou Lydia para Erica, com um meio sorriso que exalava superioridade. Derek soltou um suspiro pesado.
— O que vocês querem? — perguntou, sem sequer tentar disfarçar a irritação.
— Calminha aí, chefe! — respondeu Erica, erguendo as mãos em um gesto de falsa inocência. — O RH acabou de mandar esta lista para o escritório, e eu vim entregar pra você.
— Está assim tão estressado porque levou um fora de um ômega? — provocou Lydia, o sorriso agora mais afiado.
— Derek, levando um fora? — Kira perguntou, como se a ideia fosse absurda demais para ser verdadeira.
— Esta é a lista de candidatos ao estágio na Moonlight, para o laboratório de desenvolvimento e criação de software — disse Derek, ignorando o comentário provocativo enquanto analisava o papel com alívio. Finalmente, algo relacionado ao trabalho e nada mais de fofocas sobre sua vida amorosa e ômegas.
— Até que enfim! — comemorou Danny, com um entusiasmo que contrastava com o cansaço evidente no restante da equipe.
Derek entregou a lista para Jordan, que começou a passar os olhos rapidamente pelos nomes.
— Não tem muitos candidatos, pelo que estou vendo... — comentou Jordan, franzindo levemente a testa.
— Eles tiveram que passar por uma prova, não é? — lembrou Danny. — E, se não me engano, uma parte dela foi feita pelo próprio chefe Derek...
Derek se lembrou de ter redigido a prova online que os candidatos precisaram enfrentar. Talvez ele tivesse, levemente, elevado o nível das questões. Mas, em sua defesa, aquele laboratório precisava de pessoas que estivessem à altura das expectativas e demandas do trabalho.
— E vejam só! — exclamou Kira, espiando a lista por cima do ombro de Jordan. — Tem até um ômega entre os candidatos que passaram!
— Um ômega? — Derek franziu o cenho, claramente surpreso. — Impossível.
— O que foi? Ômegas não podem ser programadores? — Lydia interveio com aquele tom crítico que só ela conseguia dominar.
Derek apenas revirou os olhos, como se fosse óbvio que não era isso que ele quis dizer.
— Não estou dizendo que não podem... Mas, em todos os meus anos como programador, raramente encontrei um — respondeu, o tom prático e direto.
— Mas aqui está dizendo que tem um tal de... Mi... Miec... — Kira estreitou os olhos, tentando decifrar o papel em suas mãos.
— Mieczy...slaw? Stilinski? — arriscou Jordan, sua voz carregada de mais incerteza do que convicção.
— Esse nome sequer é real? — Derek questionou, olhando para o grupo com descrença absoluta.
— Agora vai implicar com o nome dele? Além de ele ser um ômega? — Lydia interveio, arqueando uma sobrancelha. — Aposto que ele é o melhor candidato. Esse tal de Mie... Meic... Bem, Stilinski!
Derek deixou escapar um suspiro, passando a mão pelo rosto antes de responder:
— Vejamos... — disse ele, esboçando um meio sorriso que era mais desafiador do que amigável. — Se ele passar na entrevista.
A ideia de entrevistar aquele candidato peculiar — especialmente um ômega — já começava a tomar forma na mente de Derek. Ele imaginava ajustar a data, preparar perguntas impossíveis e, claro, focar particularmente naquele tal Stilinski. Parte de si tinha certeza de que o "ômega" em questão provavelmente cometera um erro de digitação ao preencher o formulário. Talvez fosse um beta qualquer, ou quem sabe até um alfa. Mas um ômega? Isso parecia... improvável.
Derek classificava a ideia como praticamente impossível, algo digno de piada. Afinal, quantos ômegas ele conhecia que eram programadores? Ele podia contar nos dedos de uma mão. E ainda sobrariam dedos.
Mas sua linha de pensamento foi bruscamente desviada para outro incômodo: o encontro. Ao pensar em datas, lembrou-se de outra data importante em sua agenda. Infelizmente, não envolvia trabalho.
Derek deu uma olhada rápida no celular, e a realidade o atingiu como um soco: o próximo encontro seria em dois dias. Dois míseros dias.
Só de pensar nisso, sentiu o estômago se revirar.
Mais um jantar tedioso. Mais uma interação forçada. Mais um ômega sem personalidade tentando impressioná-lo com conversas banais e sorrisos artificiais. Derek podia prever exatamente como seria: eles o bajulariam pelo sobrenome Hale, fingiriam interesse em programação, e, no final, ele sairia ainda mais frustrado do que quando entrou.
E o pior? Desta vez ele realmente teria que tentar.
O plano era claro: fingir aceitar o tal ômega, pelo menos até a festa de Natal. Isso deveria apaziguar sua mãe e, com sorte, libertá-lo das restrições sufocantes que ela havia imposto ao seu trabalho.
A questão era: ele conseguiria?
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