Capítulo 3: Ultimato
— Por que não estou conseguindo acessar os arquivos da empresa? — O tom de voz de Derek soou mais como um rosnado do que uma fala humana compreensível. Para piorar, sua expressão furiosa era digna de um vilão de filme. Se olhares lançassem lasers, todos os funcionários no escritório já estariam tostados.
— Er... bom dia pra você também — ousou dizer Erica, com um sorriso que claramente escondia nervosismo. Ela era o tipo de pessoa que usava salto agulha e maquiagem digna de balada às oito da manhã. Os cabelos loiros e cacheados caíam sobre os ombros, como se gritassem: estou sempre pronta — mesmo que, neste caso, ela provavelmente estivesse pronta para correr.
— Nós também não conseguimos acessar os dados — murmurou Isaac, o estagiário, tentando não tremer visivelmente. Ele era um ômega de cabelos castanhos encaracolados, olhos claros e uma energia de "por favor, não me comam vivo" que só aumentava sob o olhar ameaçador de Derek.
— Pois é — acrescentou Lydia, sem nem sequer olhar para cima. Ela lixava as unhas cor-de-rosa com tanta calma que parecia estar em um spa, não em uma crise corporativa. — Alguém deve ter feito alguma coisa.
— Eu não fiz nada! — Derek rosnou mais uma vez, como se o tom ameaçador fosse convencer os arquivos a se tornarem acessíveis magicamente.
— Derek — chamou Allison, outra alfa do escritório, com a voz calma e calculista de quem sabia que o caos viria de qualquer jeito. Ela tirou os óculos com um gesto tão dramático que merecia uma trilha sonora própria. Seus cabelos escuros e ondulados caíam em cascata sobre os ombros, e ela parecia ser a única pessoa naquela sala que não estava intimidada. — Isso não teria nenhuma relação com a reunião que você teve com a sua mãe, teria?
Por um momento, Derek, o alfa que rosnava e lançava olhares malignos, congelou. Ele desviou o olhar, claramente desconfortável.
— Acho que não... — murmurou, finalmente.
O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo som da lixa de Lydia.
— Oh, céus! O que foi que você fez? — Lydia perguntou, finalmente olhando para ele, sua expressão de crítica mais afiada que suas unhas perfeitamente lixadas.
— Eu não fiz nada! E, pelo visto, esse é o problema... — Derek resmungou, derrotado, antes de se jogar dramaticamente no sofá de couro do seu escritório luxuoso, com vista panorâmica de Beacon Hills.
— Alguém pode realmente se meter em problemas por não ter feito nada? — Erica questionou, erguendo uma sobrancelha enquanto olhava para Derek. — Porque, nesse caso, estou mesmo lascada.
Allison soltou um suspiro longo e se aproximou do sofá onde Derek estava praticamente afundado. Sentou-se ao lado dele com a expressão de quem sabia que a resposta viria acompanhada de uma boa dose de drama.
— Então, conta logo, o que foi esse "nada" que aparentemente vai afetar todo o nosso trabalho? — perguntou, cruzando os braços.
Antes que Derek pudesse sequer abrir a boca para explicar, a porta do escritório se abriu com um estrondo digno de um filme de ação. A entrada foi tão dramática quanto a de Derek alguns minutos antes, mas, ao contrário da nuvem de mau humor que o alfa trouxera, esse novo personagem parecia vibrar de pura animação.
— Derek, meu querido sobrinho! Eu já soube da novidade! — A voz quase cantada pertencia a um homem de cabelos castanhos claros e olhos verdes que brilhavam com diversão mal contida. A barba por fazer combinada ao terno caro lhe dava um ar irresistivelmente charmoso — e irritantemente rebelde.
— Agora não, Peter — Derek resmungou, com uma expressão de "não estou com paciência para isso".
— Agora sim! — Lydia interferiu, sua voz afiada como sempre. — O que exatamente aconteceu nessa reunião?
— Ora, nada demais — respondeu Peter, jogando-se despreocupadamente em uma poltrona e apoiando os pés (em sapatos caríssimos) na mesinha de centro. Derek lançou um olhar tão mortal na direção do tio que parecia prestes a incinerá-lo ali mesmo, mas Peter ignorou solenemente. — Só aquele tipo de conversa clássica de alfas, grandes famílias e, claro, sobre o futuro da linhagem.
— Linhagem? — Allison arqueou as sobrancelhas, seu radar de problemas em alerta máximo. — Você recebeu uma proposta de casamento, Derek?
O ambiente ficou tenso por um segundo antes de Erica começar a se engasgar tentando segurar uma risada. Mesmo assim, uma bufada de ar escapou pelo nariz. Isaac foi mais discreto; ele apenas ergueu uma pasta até o rosto, como se pudesse esconder o sorriso que teimava em aparecer. O motivo era óbvio: pensar em Derek Hale, o Alfa mais sisudo do planeta, em um casamento era a definição de comédia.
— E quem seria o ômega insano que tentaria se juntar com um bruto, extremamente sem graça como o Derek? — Lydia perguntou, sem desviar os olhos da lixa de unhas. — Sem falar que ele é zero romântico e completamente viciado em trabalho. Sem querer ofender, é claro.
— E ofendeu — rosnou Derek, os olhos estreitando para a ruiva. — Ninguém pediu sua opinião. Melhor repensar suas palavras se não quiser ir parar no olho da rua.
— Viu? Bem grosso! — choramingou Lydia, jogando-se dramaticamente nos braços de Allison.
— Ele não vai te demitir — disse Allison, dando de ombros e lançando um meio sorriso. — Ele sempre ameaça, mas nunca faz.
— Isso é uma forma de demonstrar amor por mim? — Lydia perguntou, olhando Allison com olhos brilhantes e falsamente esperançosos.
— Nem em um milhão de anos — Derek retrucou, revirando os olhos. — Você só tem sorte de ser parceira da Allison. É só isso.
— Olha só! Um alfa que nem sequer tenta ser ameno com uma ômega. Não sabe que somos frágeis? — Lydia continuou com o teatro, colocando a mão no peito como uma atriz de novela mexicana.
— Frágeis? — Derek soltou um resmungo descrente, quase rindo. — Vocês são chatos e frescos, isso sim. Eu não preciso de ômegas.
— Bem, não é isso que a minha irmã pensa... — cantarolou Peter Hale, com um sorriso cheio de dentes que indicava diversão pura. — Ela deixou bem claro que você precisa encontrar um ômega. Na verdade, ela deu um ultimato.
— Oh! Um ultimato... Então o negócio é sério — comentou Erica, os olhos brilhando de puro interesse pela fofoca e não pela situação.
— Mas do que, exatamente, se trata esse ultimato? — quis saber Allison, lançando um olhar afiado. — E que relação isso tem com o fato de não conseguirmos acessar o banco de dados da empresa?
— Bem... — Peter pigarreou dramaticamente, como se estivesse prestes a dar um discurso inspirador. — Ao meu querido sobrinho foi dada a opção de participar de encontros com ômegas de famílias importantes, visando, claro, encontrar uma "melhor correspondência". Quem sabe até um relacionamento sério que, porventura, acabe em casamento...
— "Foi dada a opção"?! — Derek explodiu, levantando-se do sofá tão rápido que quase derrubou a mesinha de centro. Ele começou a andar de um lado para o outro pelo escritório, bufando como um animal enjaulado. — Falando assim, até parece que eu tive escolha!
— Derek, você precisa considerar que sua mãe já te deu várias oportunidades antes... — frisou Peter, com uma calma irritante.
— Ah, você quer dizer aquelas milhares de festas e jantares dos quais ele fugiu? — Lydia interrompeu. De fato, Derek era uma lenda quando o assunto era fugir de eventos sociais. Nem mesmo as confraternizações da empresa ou as festas de caridade organizadas pelos Hale o viam aparecer. Allison e Lydia praticamente assumiam esse papel por ele.
— Eu não fugi... — resmungou Derek, mas, para a surpresa de ninguém, não se deu ao trabalho de se defender.
— Além disso — Peter continuou, implacável —, todas as suas irmãs já estão em relacionamentos sérios. Cora e Laura...
— E por que eu sou o único sendo atacado aqui? — Derek interrompeu, parando bruscamente de andar para apontar um dedo acusador na direção de Peter. — Você também está solteiro!
Peter sorriu daquele jeito irritantemente inocente que só ele conseguia fazer.
— Ah, querido sobrinho, eu posso estar solteiro... Mas sou incrivelmente sociável. Tenho vários amantes. Se quiser, posso te mostrar a lista...
— Talvez a dona Talia Hale desejasse que você fosse menos sociável — cortou Lydia, com um sorriso venenoso. — Sabe, evitar sair nos canais de fofoca por causa do último ômega ou beta que você pegou em uma balada.
Peter respondeu com uma piscadela galante, o que só fez Allison soltar um rosnado baixo e envolver Lydia com um braço protetor.
— De qualquer forma — Peter retomou, como se nada tivesse acontecido —, o resumo da novela das 8 é: minha irmã só quer que Derek saia mais. Se divirta. Conheça ômegas importantes.
— "Diversão" e "sair com ômegas" são palavras que não combinam no meu dicionário — resmungou Derek, cruzando os braços.
— E... a questão dos arquivos? — ousou perguntar Isaac, com a voz baixa. Ele abraçou sua pasta como se ela fosse um escudo protetor quando todos os olhares se voltaram para ele.
— Ah, isso! — Peter estalou os dedos, como se tivesse acabado de lembrar da existência de um detalhe insignificante. — É só uma tática engenhosa da minha irmã.
— Engenhosa? — Derek soltou algo muito parecido com um rugido de um leão. — Tática suja, você quer dizer.
— Ah, entendi — Lydia murmurou, assentindo com uma expressão pensativa. — Ela sabia que você usaria o trabalho como desculpa para não ir aos encontros.
— O que vamos fazer? — Erica perguntou, não muito preocupada com a situação em si. Na verdade, ela já parecia pronta para tirar uma folga, considerando que o sistema da empresa estava bloqueado.
— Eu posso tentar contornar o firewall da empresa — começou Derek, os olhos brilhando com uma animação quase perigosa. — Primeiro, vou rodar um script para identificar as vulnerabilidades no sistema. Depois, é só injetar um bypass que me permita acessar as camadas de segurança sem disparar os alertas. Se isso funcionar, eu consigo resetar os privilégios de administrador e desbloquear o banco de dados. Em resumo, eu hackeio a rede, recupero os arquivos e finjo que nada aconteceu. Fácil.
— Ou... — Allison interveio, lançando-lhe um olhar de reprovação. — Ao invés de hackear a sua própria empresa, Derek, você poderia simplesmente ir a esses encontros, mostrar para sua mãe que tentou.
Derek virou-se para ela lentamente, com uma expressão de total indignação.
— Prefiro hackear.
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