Capítulo 13: Que venha a entrevista...
A imagem do ômega entrando no elevador rodava na tela do computador. Derek já havia assistido várias vezes, a ponto de perder a conta. Quando o ômega retirava a peruca, era como se algo dentro dele esperasse que aquela mudança revelasse imperfeições, quebrasse o padrão de beleza esperado de um ômega. Mas não. Pelo contrário. Sem a peruca, o encanto parecia se intensificar. O rosto, ainda borrado de maquiagem e brilhando com o suor, parecia mais autêntico, mais orgânico... e, de alguma forma, ainda mais atraente.
Derek apertou pausa novamente, arrastando o cursor até o início do vídeo. Repetiu a reprodução. Quantas vezes ele já tinha feito isso? Havia algo de incomodamente cativante naquele momento. Como um bug no sistema que precisava ser analisado, compreendido e corrigido. Era frustrante e intrigante ao mesmo tempo.
— Essas são as imagens das câmeras do Hotel Paris? Como você conseguiu isso? — A voz de Peter veio do nada, bem ao lado de seu ouvido. Derek quase pulou da cadeira.
Virou-se e viu o sorriso zombeteiro de seu tio. Mais atrás, Kira e Danny trocavam olhares cúmplices, claramente se divertindo, enquanto Jordan franzia a testa em uma expressão de preocupação genuína.
— Eu... consegui — respondeu Derek, pouco convincente. Ele sabia que não era uma boa justificativa, especialmente com Peter ali, farejando cada detalhe.
Peter arqueou as sobrancelhas, seu sorriso crescendo.
— Conseguiu? — repetiu, como quem degusta as palavras. — Quer dizer, você invadiu o sistema de um dos nossos clientes e roubou as imagens de segurança deles? Só para deixar claro.
Derek deu de ombros, mas não conseguiu esconder a leve tensão.
— Estava apenas avaliando o sistema de segurança deles — explicou, em um tom apressado. — Afinal, é nossa responsabilidade. Fomos nós que desenvolvemos o software de proteção, lembra?
— Tudo isso... — Peter se inclinou ligeiramente, os olhos brilhando com diversão maliciosa. — Por causa do ômega?
Sua voz não tinha nada de discreta. Derek sentiu o rosto aquecer quando percebeu os olhares curiosos e atentos dos outros programadores.
— Não necessariamente... — murmurou, desviando o olhar para a tela.
Peter riu baixinho, claramente se divertindo com o desconforto do sobrinho.
— E pensar que você me disse para não informar aos Whittemore sobre o fato de o "ômega deles" ter contratado outro ômega para substituí-lo... — Peter fez aspas no ar, teatral. — Mas, se quiser, posso ligar e descobrir mais sobre esse substituto misterioso.
— Não precisa — retrucou Derek rapidamente, ainda focado na tela do computador. — Você já me deu o nome. Stiles, não é? Um nome que, convenhamos, nem soa real...
Ele começou a digitar, e uma nova janela surgiu no monitor, cheia de linhas de código que rodavam rápido demais para que alguém pudesse acompanhar.
Peter o observou por cima do ombro, a expressão oscilando entre diversão e suspeita.
— Pode até ser um codinome, Der-Bear... Mas me diga, você está pesquisando a imagem dele no sistema? Ou sei lá aonde... — perguntou Peter, inclinando-se sobre o ombro de Derek para observar a tela, mesmo sem entender metade do que via. Peter, afinal, não era um técnico. Na Moonlight, ele comandava o departamento de marketing e relações externas. Toda essa conversa sobre códigos e invasões o deixava meio zonzo. — Você sabe que a imagem de ômegas solteiros, principalmente os de famílias ricas ou influentes, é protegida, certo? Não vai encontrar isso por aí, solto no Google.
— Talvez não em redes sociais ou na internet comum, mas há outros registros. Carteiras de identidade, habilitações, matrículas em faculdades... — começou Derek, os olhos fixos na tela, enquanto o código rodava como uma sequência interminável de números e letras.
— Você está falando de invadir instituições governamentais? — balbuciou Peter, agora com um tom misto de incredulidade e preocupação. — Derek, isso é sério. Vale mesmo a pena correr esse risco só por causa de um ômega?
— Não é sobre ele valer a pena ou não — resmungou Derek, o maxilar tenso. — É sobre resolver isso. Preciso saber quem ele é, o que ele estava fazendo lá, por que fez tudo aquilo. É como um arquivo corrompido que não consigo ignorar. Preciso consertar isso. Assim, talvez, eu consiga me concentrar de novo. No trabalho. Na vida. — Sua voz ganhou um tom de frustração.
— Arquivo corrompido, hein? — Peter arqueou uma sobrancelha, o sorriso predatório estampado no rosto. — Eu não sabia que "ter uma queda por alguém" tinha ganhado uma definição nerd como "arquivo corrompido". Criativo.
— Queda? — Derek congelou, tirando as mãos do teclado e encarando o tio com incredulidade. O rosnado que veio a seguir foi baixo, mas ameaçador. — Eu não tenho uma queda.
— Certo, claro. Acho que o que você tem não é uma simples queda. Isso parece mais um buraco negro emocional. Nem a gravidade seria suficiente para descrever... — Peter continuou, ampliando o sorriso ao ver o sobrinho mais uma vez franzir o cenho, o maxilar tenso.
O rosnado de Derek aumentou, mas foi interrompido por um pigarro vindo de trás. Ele se virou para encontrar Jordan, que havia se aproximado silenciosamente, claramente desconfortável com toda a tensão no ar.
— O que foi? — Derek perguntou, o tom irritado.
— O resultado da busca... está na tela, chefe. — Jordan apontou para o monitor, como se quisesse sair daquela conversa o mais rápido possível.
Derek virou a atenção para a tela, onde os dados que ele havia reunido estavam organizados. O processo técnico que ele utilizou era avançado, mas metódico. Ele havia extraído imagens do suposto "Stiles" das câmeras de segurança do hotel Paris. Usando um software de análise facial combinado com algoritmos de aprendizado de máquina, ele comparou os traços faciais capturados com vários bancos de dados: registros públicos, carteiras de motorista, arquivos de universidades e até redes internas protegidas (graças a uma leve manipulação de firewall, que ele justificaria como "testes de segurança" caso fosse descoberto).
A tela exibia agora uma carteira de identidade, uma habilitação e, para a surpresa de Derek, uma carteira de estudante da Universidade de Beacon Hills.
— Ele estuda... Tecnologia da Informação? — murmurou Derek, surpreso. Esse detalhe o pegou desprevenido. Ele não imaginava que o tal Stiles fosse um programador em potencial. Era... intrigante.
Peter, que já estava inclinando a cabeça para ler a tela, apontou com o dedo.
— Que nome é esse? Mie... Miec... — ele se esforçou, a expressão de confusão se transformando em um sorriso. — Mieczyslaw? Agora entendo por que ele prefere "Stiles". Francamente, eu também trocaria.
— Espera! — Kira se aproximou apressada, com Danny logo atrás, ambos parecendo animados por terem feito uma grande descoberta. — Esse nome não me é estranho! Oh! Ele está na lista dos estagiários que iremos entrevistar!
— Verdade... Esse foi o único nome que decorei. Vamos combinar, é bem... exótico. — Danny comentou, assentindo com um meio sorriso.
— Um dos estagiários? — Derek arqueou as sobrancelhas, claramente surpreso. Toda a confusão envolvendo o encontro, Stiles, e a busca pela sua identidade havia feito a entrevista com os estagiários do laboratório passar completamente batida em sua mente. A entrevista era daqui a dois dias! E agora, aparentemente, o "Stiles" em questão era um dos candidatos? Ele apertou os olhos. Isso está oficialmente atrapalhando meu trabalho. Não é uma queda, como o Peter insiste em dizer. É um bug, um arquivo corrompido... que precisa ser resolvido para que minha vida volte ao normal!
— Sim! — Jordan surgiu ao lado deles, folheando a pilha de papéis que carregava em sua estação. Ele tirou uma folha e a entregou a Derek. — Aqui está a lista dos estagiários. Mieczyslaw Stilinski está mesmo nela.
— Ah, o ômega — completou Derek, retirando a lista das mãos do beta, enquanto seus olhos percorriam a página com interesse renovado. Ele lembrou da pequena discussão que havia tido com a equipe sobre aquele candidato. Na época, ele acreditava que o "ômega programador" era um erro administrativo. Mas, agora, vejam só! Esse candidato era o mesmo ômega que fugiu do seu encontro. A pergunta pairava em sua mente: Por que ele estava substituindo Jackson? Ele realmente precisava fazer aquilo? Será que foi coagido? Ou seria um hobbie estranho?
— Que coincidência. — Peter se inclinou sobre o ombro de Derek, analisando os dados do computador enquanto massageava o queixo. — Mas, pensando bem... Se você conseguiu essas informações tão fácil, significa que Stiles não deve ser de uma família abastada. Alguém de uma linhagem rica teria as informações bem mais protegidas.
Derek assentiu distraído, os olhos fixos na tela, mas sua mente já estava em outro lugar. Ele estava pensando na entrevista. Antes, planejava apenas verificar as habilidades dos candidatos, aplicar desafios técnicos normais. Agora... o que ele faria com o tal de Stiles?
— Der-Bear... — Peter chamou sua atenção com um tom curioso. — O que você pretende fazer? Vai dispensar o Stiles?
Derek fechou o arquivo no computador e se virou para o tio, um leve sorriso no rosto.
— O que vou fazer? Vou avaliá-lo, como qualquer outro estagiário. — Sua voz era tranquila, mas havia algo a mais ali, algo que Peter imediatamente captou.
— Aham... Sei. — Peter respondeu, descrente, mas sorrindo ao mesmo tempo. Ele notou o brilho nos olhos do sobrinho, uma fagulha de algo mais do que profissionalismo. — Pelo visto, o dia da entrevista vai ser bem interessante.
***
— Isso está envenenado? — perguntou Stiles, arqueando uma sobrancelha enquanto observava Jackson colocar as sacolas de hambúrgueres sobre o pano de piquenique com temática do Batman (uma escolha, é claro, aprovada e imposta por Stiles). Eles estavam no parque central da universidade, rodeados por outros estudantes relaxando na grama fresca — alguns estudavam, outros dormiam, jogavam frisbee ou, como eles, estavam prestes a devorar algo deliciosamente gorduroso.
— Se não quiser comer... — começou Jackson, mas antes que pudesse terminar a frase, Stiles já havia arrancado um hambúrguer do saco.
— Prefiro arriscar o veneno. — respondeu Stiles, dando uma mordida tão generosa que Jackson teve que revirar os olhos. Ele não sabia por que ainda se surpreendia com a falta de limites do outro.
— Obrigado por vir... — disse Scott, com aquele sorriso que fazia o coração de Jackson dar cambalhotas.
— E eu achei que você estivesse chateado com a gente... — comentou Stiles, a boca ainda cheia, o que transformou suas palavras em algo quase ininteligível. Como de costume, Scott teve que traduzir o "dialeto mastigado" de Stiles para Jackson.
— Confesso que fiquei meio chateado... — admitiu Jackson, pegando um hambúrguer vegetariano e, com todo o cuidado do mundo, entregando-o a Scott. Os dedos dos dois se tocaram brevemente, e Jackson sentiu um calor subir por todo o corpo. Scott, que não era imune, exibiu um leve rubor, que foi suficiente para deixar Stiles revirando os olhos dramaticamente.
— Por favor, não na frente do meu hambúrguer. — reclamou Stiles, fazendo uma careta exagerada.
— Como eu dizia... — Jackson pigarreou, tentando retomar a compostura. — Fiquei meio chateado. Não só porque vocês me colocaram em perigo, mas porque eu poderia ter sido descoberto. E isso seria um desastre completo.
— Ohhh... Você se importa conosco! — Stiles exclamou, apertando as mãos contra o peito de forma teatral.
— Ele se importa mesmo. — Scott assentiu com um sorriso caloroso. — Jackson é nosso amigo, Stiles.
— Amigo, é? E eu que pensei que minha gloriosa reputação — Stiles fez uma pose dramática— fosse o suficiente para assustá-lo. Achei que não queria ser visto ao meu lado, com medo de eu ofuscar sua popularidade brilhante com a minha fama estonteante.
Jackson deu um meio sorriso, balançando a cabeça. Antes, ele realmente teria pensado assim. A ideia de ser associado a alguém como Stiles — caótico, tagarela, absolutamente imprevisível e tão fora do padrão ômega — ou até mesmo ao sempre gentil e pé-no-chão Scott (que claramente não vinha de uma família rica) teria sido impensável. Mas agora? A companhia deles era infinitamente mais interessante e divertida do que o vazio e o blá-blá-blá superficial dos outros ômegas do dormitório, que pareciam competir para ver quem era mais entediante.
— De qualquer forma... — Scott interrompeu, mantendo a conversa no caminho. — Seu pai não falou nada? Nem a família Hale?
Jackson negou com a cabeça enquanto dava uma mordida no seu próprio hambúrguer.
— Isso pode ser um bom sinal. — refletiu Stiles, lambendo os dedos já tendo devorado seu hambúrguer na velocidade da luz.
— Então isso significa que eu deveria pagar vocês pelo serviço... — Jackson começou a dizer, mas foi interrompido por Stiles, que levantou um dedo em negação.
— Na-na-ni-na-não. Pode ser um bom sinal, mas ainda não é definitivo. E eu não gosto de receber por algo que não sei se fiz direito. — Stiles disse com um tom surpreendentemente sincero, o que pegou Jackson desprevenido.
— Vamos esperar mais um pouco. Se o tal Derek Hale não disser nada, então significa que ele realmente dispensou você. — Scott sugeriu, sempre prático.
— Assim espero. — Jackson murmurou, quase como uma oração.
— Agora, Stiles, você deveria começar a se preparar para a entrevista... — lembrou Scott.
— Espera aí... Essa entrevista é na Moonlight? Com o mesmo Derek Hale? — Jackson encarou Stiles, visivelmente preocupado.
— Pois é. — Stiles deu de ombros, tentando parecer despreocupado. — Mas não estou nervoso. Não preciso me emperiquitar todo para essa "entrevista". Só preciso mostrar minhas habilidades e... bum! Estagiário aprovado! — Ele sorriu de forma confiante, mas Jackson percebeu o brilho de nervosismo escondido em seus olhos.
— Espero mesmo que dê tudo certo... — Jackson ouviu a si mesmo dizendo, e Stiles sorriu para ele, dessa vez mais genuinamente.
— Se eu passar, precisamos comemorar! Que tal mais hambúrgueres como esses?
— Ou talvez algo mais saudável... — sugeriu Jackson, arqueando uma sobrancelha.
Stiles fez uma careta de pura indignação, como se Jackson tivesse proposto algo inaceitável, e Scott não conseguiu segurar a risada que escapou, preenchendo o ar com a leveza que os três precisavam.
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