Capítulo 12: O caos ainda não terminou


— Eu nunca mais quero ver uma escada! Esse tipo de construção só existe para destruir as pernas. É um instrumento de tortura! Deveria ser banido! — reclamou Stiles, encostando-se à parede do elevador enquanto tentava recuperar o fôlego. A peruca já estava torta devido ao suor e à corrida desesperada para escapar da briga e dos seguranças convocados na cobertura.

— Não exagera, Stiles... Foram só cinco andares de escada — retrucou Scott, que, ao contrário do amigo, não parecia nem um pouco cansado. De fato, a estratégia de descer alguns andares a pé e depois chamar o elevador parecia eficiente. Não havia chance de descerem todos os mais de vinte andares do Hotel Paris pelas escadas.

Agora, no elevador, ambos tentavam recompor a compostura — ou, no caso de Stiles, pelo menos parte dela.

— E então? Podemos considerar isso como uma vitória? O alfa dispensou o ômega, que no caso seria o Jackson? — perguntou Scott, afrouxando a gravata enquanto aproveitava a privacidade momentânea.

— Bem... Eu meio que abandonei o alfa enquanto ele lutava por mim... Quer dizer, pelo Jackson — corrigiu-se Stiles, tirando a peruca e passando a mão pelos cabelos curtos. — Se isso não ferir o ego de um alfa, eu realmente não sei o que pode. O cara faz todo aquele espetáculo de "olhem para mim, sou o protetor alfa bombadão e protagonista", se joga numa briga como se estivesse no clímax de um filme de ação, e o que o ômega faz? Dá no pé! Nem fica para bater palmas ou soltar um "bravo". Isso é praticamente uma violação direta do Manual de Boas Maneiras Ômega-Alfa, sabe? Aquele que, aparentemente, foi escrito lá na pré-história, quando os alfas batiam no peito, os ômegas faziam "awn" e todo mundo se reunia para desenhar bisões nas paredes das cavernas enquanto fingiam que a vida era perfeita. — Tagarelou Stiles, gesticulando exageradamente com as mãos, uma delas segurando a peruca, o que só tornava a cena ainda mais cômica.

— Mas ele não disse exatamente "Eu nunca mais quero ver você, ômega" — ponderou Scott, com um tom de cautela.

Stiles parou, refletindo. Mesmo relutando, teve que admitir — pelo menos internamente — que não sabia se o trabalho podia ser considerado um sucesso absoluto.

— O que vamos dizer ao Jackson? — perguntou Scott enquanto o visor do elevador indicava que eles estavam chegando ao térreo.

Stiles suspirou, massageando a nuca, parecendo cansado de tudo.

— Bem, eu não sou de mentir... — começou ele. — Quer dizer, eu minto para alfas, mas não para ômegas. Então, vamos contar tudo o que aconteceu e deixar que o Jack-Jackie decida se o serviço foi bem-feito ou não...

Stiles continuava tagarelando, gesticulando animadamente enquanto a porta do elevador se abria. Totalmente focado em Scott, ele avançou sem perceber o homem que estava entrando e... bam, colidiu diretamente com ele.

— Mil perdões... — disse o alfa, olhos verdes analisando Stiles com uma mistura de desconfiança e curiosidade. Era difícil não estranhar o que via: um ômega com uma peruca na mão, suado, maquiagem borrada e ainda assim vestindo roupas estilosas que exalavam luxo. Ao lado dele, um beta igualmente desalinhado, com a gravata frouxa e um ar exausto.

— Oh! Desculpe interromper o momento de vocês... — disse o alfa com um tom provocador, o canto da boca se curvando em um sorriso malicioso, como se tivesse pegado o que imaginava ser um casal no meio de algo indecente.

— O quê? — Stiles arregalou os olhos, sentindo as bochechas esquentarem. — Não interrompeu nada! Você tem uma mente incrivelmente suja, sabia? Como é que chega nessa conclusão absurda tão rápido? Aposto que é um tarado!

— Como é que é? — O alfa arqueou as sobrancelhas, surpreso, antes de estreitar o olhar com irritação. Havia algo naquele tom insolente de Stiles que claramente o intrigava, mas também o deixava levemente irritado.

E foi então que Stiles percebeu algo estranho naquele olhar — algo familiar demais. Um déjà vu desconfortável que fez sua espinha arrepiar. Ele já vira aqueles olhos antes.

— Vamos, Stiles! — Scott interrompeu, agarrando o braço do amigo e praticamente o arrastando para fora do elevador. — Desculpe pelo incômodo, senhor Alfa. Meu amigo aqui tomou umas a mais... — acrescentou rapidamente, tentando suavizar a situação.

O que, na verdade, não era uma mentira tão absurda, considerando o estado de Stiles e as várias taças de vinho que ele havia entornado.

O alfa ficou parado, observando os dois se afastarem, o olhar verde ainda cravado em Stiles. Quando a porta do elevador se fechou, ele soltou um suspiro longo e pressionou o botão para a cobertura, o sorriso malicioso voltando aos poucos aos lábios.

***

— O que aconteceu? — foi a primeira coisa que Jackson perguntou ao ver o estado de Stiles e Scott. Mas, na verdade, seu foco principal estava totalmente em Scott McCall. Ele saiu do carro apressado, inspecionando o beta com uma meticulosidade que beirava o exagero.

Stiles revirou os olhos. É claro que ninguém ia se importar com ele.

— Eu estou bem — disse Scott, oferecendo um sorriso para tentar aliviar a tensão.

— Ele está bem, sim — confirmou Stiles, balançando a peruca ainda em mãos para enfatizar. — Só foi empurrado por um alfa tarado. Nada demais. Ah, e caso você queira saber, eu também estou bem, obrigado. Afinal, eu era o verdadeiro alvo.

— Empurrado? — Jackson arregalou os olhos, a preocupação evidente enquanto analisava Scott com ainda mais cuidado. Ele já estava imaginando costelas quebradas, hematomas, ou algo pior.

— Sério, Jackson, foi só um empurrão — garantiu Scott, segurando as mãos do outro ômega, que não paravam de tocá-lo como se procurassem alguma fratura invisível. — Não foi nada grave. Eu juro.

Jackson corou levemente, percebendo como estava agindo sob o olhar caloroso — e ligeiramente divertido — de McCall.

— Céus! Nós realmente não temos tempo para isso — interrompeu Stiles, impaciente. — Vamos logo entrar no carro antes que os seguranças chamem alguém. Sei lá, a polícia ou algo pior!

Isso fez Jackson finalmente olhar para ele.

— Polícia? Seguranças? O que foi que você fez, Stiles? — questionou, estreitando os olhos enquanto a preocupação começava a ser substituída por uma irritação crescente.

— O meu trabalho, oras! — Stiles respondeu na defensiva, jogando as mãos para o alto. — Mas talvez eu possa explicar tudo, tipo... longe daqui? Que tal?

Jackson lançou um olhar de relance para Scott, que deu aquela risadinha nervosa que Jackson achava fofa na maioria das vezes. Só que, naquele momento, ela apenas aumentou sua apreensão.

— Vamos — disse Scott, tocando de leve o cotovelo de Jackson. — Sério, não foi tão ruim assim. Eu prometo.

Jackson queria acreditar nele. Queria mesmo. Mas, enquanto entrava no carro, uma sensação inquietante o dominava. Algo dizia que o que quer que tivesse acontecido no hotel era só o começo de uma confusão monumental.

***

— Não era exatamente isso que eu imaginei quando você disse que o encontro estava "adequado" — comentou Peter Hale, sentando-se ao lado do sobrinho. Derek estava com uma expressão estoica, segurando uma sacola de gelo na mão machucada pelos socos que desferira no outro alfa.

Graças à lábia de Peter e à pressão sutil do prestígio do nome Hale, a confusão tinha sido, ao menos, parcialmente apaziguada. O alfa agressor, Tony — Peter lembrava o nome com um toque de desgosto —, estava desmaiado no chão, enquanto sua ômega soluçava de forma quase teatral. Não chorava muito, mas fungava o suficiente para atrair a atenção de outros ômegas e betas, que tentavam consolá-la.

Os seguranças já haviam chamado os paramédicos do hotel, que faziam os primeiros socorros em Tony. Felizmente, decidiram que a polícia não precisava ser envolvida. E Derek, magnanimamente, não prestaria queixa. Afinal, o outro alfa não só o atacara, mas também ameaçara o "seu ômega acompanhante".

Falando nisso...

— Onde está ele? — Peter perguntou, casualmente, mas com um brilho de curiosidade nos olhos. — Esperava vê-lo ao seu lado, todo amoroso e grato. Afinal, você venceu a luta por ele! Não é assim que essas histórias geralmente terminam?

Ele acenou para um garçom e, com um sorriso despreocupado, pediu um drink alcoólico.

Derek hesitou, os olhos fixos no gelo em sua mão. Parecia refletir profundamente antes de responder. Finalmente, soltou um suspiro longo e afrouxou a gravata preta com a mão não machucada.

— Ele fugiu. Acho que não é surpresa.

Peter piscou, confuso.

— Fugiu? Como assim? E por quê?

— Jackson... — Derek começou, e Peter notou que ele usou o nome do ômega. Isso era algo novo. — Ele é... diferente. Não age como a maioria. Na verdade, eu nunca sei o que esperar dele. Nada nele é previsível. Então, por que eu deveria esperar que ele ficasse lá, assistindo como em algum clichê de romance, enquanto eu socava aquele idiota? Claro que ele tinha que fazer algo surpreendente...

Peter inclinou-se ligeiramente para frente, observando o sobrinho com interesse. Derek estava tagarelando. Tagarelando. Derek Hale.

— Você sabe que está tagarelando, certo? — Peter comentou, levantando uma sobrancelha.

Derek o ignorou, perdido em pensamentos.

Peter deu um gole no drink recém-chegado e balançou a cabeça, um sorriso divertido se formando.

— Certo, você lembrou o nome do ômega, o que é um progresso significativo — disse ele, sarcástico. — Mas o fato de ele ter sumido... bem, isso definitivamente coloca um ponto negativo no placar.

Derek fechou os olhos, pressionando o gelo contra a mão ferida, mas um leve sorriso insistiu em aparecer em seus lábios. Ele inspirou fundo, e um detalhe peculiar o atingiu: o cheiro de Jackson ainda estava ali. Ou melhor, aquele perfume forte que era impossível ignorar. Não que isso fosse estranho — o cheiro deveria estar impregnado no ar do restaurante. Mas o que era desconcertante é que o aroma parecia tão... próximo.

De repente, Derek abriu os olhos verdes, desconfiados, e encarou Peter, que estava tranquilamente bebendo sua bebida com uma expressão pensativa.

— O seu cheiro... — Derek começou, franzindo o cenho. — Quer dizer, você tem resquícios do cheiro do Jackson. Por quê? — Um rosnado grave escapou de sua garganta enquanto ele se inclinava na direção do tio.

Peter parou no meio de um gole e lançou um olhar cansado para o sobrinho, como se avaliasse a sanidade dele. Com um leve arqueamento de sobrancelha, ele cheirou o próprio terno. Era verdade. O perfume, inconfundível, estava lá.

— Curioso... — comentou ele, casualmente.

— Curioso mesmo! — Derek repetiu, agora rosnando com mais intensidade. — Você encontrou o Jackson? Explique-se!

— Calma, Der-Bear... — Peter disse, colocando o copo na mesa com um gesto brusco, sua expressão ganhando um tom de seriedade que fez Derek conter os rosnados, ao menos por enquanto. — Tem algo muito estranho acontecendo aqui...

— Definitivamente estranho — murmurou Derek, ainda franzindo o cenho. — Na verdade, todo esse encontro foi estranho. Mas acho que o mais estranho fui eu. — Ele suspirou, mais para si mesmo do que para o tio. — Acho que você deve ligar para os Whittemore. Digo, talvez eu tenha assustado o ômega deles de alguma forma. Devia me desculpar ou...

— Ligar para os Whittemore? Não sei se isso vai adiantar muito — interrompeu Peter, um meio sorriso brincando em seus lábios enquanto ele voltava a pegar o copo.

— Como assim? — Derek olhou para ele, confuso.

— Acho que encontrei o tal "ômega fugitivo" — disse Peter, erguendo o copo com um ar travesso.

— Sério? — Os olhos de Derek brilharam por um breve instante, um detalhe que Peter notou com certo deleite. Ele fez uma nota mental de provocá-lo sobre isso mais tarde. Mas pelo que sabia, o brilho provavelmente se apagaria ao ouvir o que estava prestes a revelar.

— Sim, sério. — Peter deu um gole na bebida antes de continuar, arrastando as palavras para criar suspense. — Mas estou convencido de que Jackson não é o verdadeiro nome dele.

— O quê? — Derek piscou, como se as palavras não fizessem sentido. — Você está bêbado, Peter? — Ele apontou para o copo do tio. — Ele se apresentou como Jackson Whittemore. Tudo estava de acordo.

— É, isso faz parte do teatrinho. Mas o ômega que esbarrou em mim no elevador, o mesmo cujo perfume você detectou imediatamente... — Peter fez uma pausa dramática, desfrutando do momento. — Ele segurava uma peruca nas mãos, parecia suado e desesperado para sumir. E, pelo que eu ouvi, o nome dele não era Jackson. Era Stiles.

Derek ficou em silêncio, o olhar fixo em Peter como se tentasse processar aquelas informações absurdas.

— Isso não faz sentido — murmurou ele, finalmente. — Por que um ômega iria se passar por Jackson Whittemore? Agir de forma tão maluca? Estranha? Digo, qual alfa não sentiria vontade de... bem...

— De dispensá-lo? — Peter completou, como se fosse óbvio. — Exatamente.

— Mas isso... isso não faz sentido algum! — insistiu Derek, exasperado.

Peter inclinou-se para frente, exibindo aquele sorriso predatório de quem sabia muito mais do que deveria — e adorava cada segundo disso.

— Querido sobrinho, já ouviu falar de "substitutos de ômegas"?

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