V

Sentada no sofá da minha sala, meu coração acelerou quando o rosto de Ian apareceu na tela da televisão. Ele estava vestido com um traje ridículo, posando como um herói.

— Super Neo, o novo protetor de Nyxville! — anunciou o âncora do noticiário. — Com habilidades sobre-humanas, ele promete trazer paz e segurança para nossa cidade.

O controle remoto caiu das minhas mãos, caindo no chão com um estalo seco. Não era só a surpresa; era a raiva queimando por dentro. Como Ian, um Neogen que eu mesma tirei do laboratório, agora fazia parte dessa jogada política?

Minhas mãos tremiam enquanto pegava o celular. Digitei com rapidez:

"Reunião urgente. Sala de operações especiais. 20 minutos. Quero todos lá."

Não havia tempo para perder. Cheguei à S.I.G.M.A. com passos firmes, sentindo os olhares de lado dos agentes que cruzavam comigo nos corredores. Quando entrei na sala de operações, todos os supervisores já estavam lá. Fechei a porta com força, encarando cada um deles.

— Alguém aqui quer me explicar o que, diabos, está acontecendo? — perguntei — Por que ninguém achou relevante me avisar sobre Ian? Caramba, eu sou a vice-diretora. Quando Noah não está, eu sou quem deveria tomar decisões.

Houve um silêncio desconfortável antes de Elena Vass, a supervisora médica, dar um passo à frente.

— Hailey, foi uma situação complicada. Noah... — Ela hesitou, o que só aumentou minha irritação.

— Fala logo, Elena. O que Noah disse?

— Ele pediu especificamente para não te envolver. Disse que você já estava lidando com coisas demais.

Fechei os olhos, sentindo a fúria crescer. Respirei fundo antes de responder.

— Não me envolver? — Soltei uma risada sem humor. — Ele devia saber que eu já estou envolvida até demais!

Olhei para os outros, que evitavam meu olhar.

— Vocês todos sabiam disso, não sabiam? Vocês sabiam que o governo estava atrás de Ian, e não me disseram nada!

Victor "Forge" Kane, o responsável pela ciberinteligência, tentou justificar.

— Hailey, não foi uma decisão fácil. O governo encontrou Ian por causa do chip implantado nele. Não tínhamos como esconder isso.

— Claro, porque implantar localizadores em Neogens não é uma ideia estúpida, né? — retruquei, cruzando os braços. — E vocês simplesmente o entregaram de bandeja.

— Não foi bem assim — Bell, da área de Relações Públicas, interveio. — Eles apareceram com um mandado e informações detalhadas. Era impossível recusar sem levantar suspeitas.

— E agora o governo sabe que ele estava conosco! — bati a mão na mesa, fazendo os papéis voarem. — Vocês acham que eles vão parar por aqui? Eles vão querer saber mais, vão querer controle sobre a S.I.G.M.A. inteira.

Ninguém respondeu, o que confirmou minhas suspeitas. Olhei para cada um deles, ajustando meu tom.

— A partir de agora, vamos mudar tudo. Quero que vocês coloquem a S.I.G.M.A. em um nível de segredo que nem o governo pode tocar. Vamos mudar de lugar, reorganizar nossas operações.

— Mudar de lugar? — Gabriel "Gear" Moretti perguntou, levantando uma sobrancelha.

— Sim. Vamos para algo simples, discreto, onde ninguém nos procure. Pensei em algo como... uma cafeteria. Mas subterrâneo. Quero uma base subterrânea que só nós possamos acessar.

Eles trocaram olhares rápidos antes de assentirem. Bell foi a primeira a anotar a ideia.

— Faz sentido. Poderíamos instalar um sistema de entrada camuflado.

— Eu posso cuidar da tecnologia de acesso — Forge acrescentou, já esboçando algo em seu tablet.

— Gear, organize os recursos necessários para a construção — pedi, apontando para ele.

— Deixa comigo — ele respondeu, acenando com a cabeça.

— Quero relatórios detalhados sobretudo que o governo falou. Palavra por palavra. E, quero saber o que exatamente o que eles viram, e quando vieram até aqui — encarei Lex.

— Eu cuido disso — Lex garantiu.

Suspirei, ainda sentindo a tensão nos ombros.

— Isso não é negociável. Nossa sobrevivência depende de sermos mais secretos do que qualquer outra coisa. Estamos entendidos?

Todos assentiram, alguns murmurando "sim, senhora" enquanto eu os observava. Apesar da raiva e frustração, havia um sentimento de determinação crescendo dentro de mim. Se o governo achava que podia controlar a S.I.G.M.A., eles estavam errados.

— Reunião encerrada — anunciei, saindo da sala e deixando-os para planejar.

Caminhei pelos corredores, pensando no que Ian havia dito no noticiário. "Protetor de Nyxville", como se isso resolvesse tudo. Ele não sabia com o que estava lidando.

Estava na minha sala da S.I.G.M.A, os relatórios espalhados à minha frente. Entre as pilhas de papéis e dados, algo chamou minha atenção. Era uma amostra do governo sobre os Neogen, uma série de experimentos que, até onde eu sabia, estavam sendo conduzidos de forma secreta. Um nome se destacou no meio daquelas páginas — Dusk. Fiquei em silêncio por um momento, meu olhar fixo naqueles registros. A ideia de que Dusk, o homem que eu mais temia e ao mesmo tempo sentia uma estranha atração, pudesse ter sido parte desses experimentos me fez parar para pensar. O que ele realmente era? O que havia se escondido por trás de todas aquelas ações enigmáticas?

O pensamento me consumiu por alguns minutos, mas eu sabia que precisava continuar. Fechei o arquivo com força, tentando afastar as dúvidas que começavam a se formar na minha mente.

A noite chegou e, após um longo dia de trabalho, decidi voltar para casa, ao entrar em casa. Percebi que tinha deixado o som ligado, mas meus pensamentos ainda estavam longe. Desliguei o som e olhei para a janela, tentando organizar minha mente, tentando entender tudo o que havia descoberto. O vento forte entrou pela sala, fazendo as cortinas esvoaçarem, e foi quando algo inesperado aconteceu. Antes que eu pudesse reagir, uma figura pousou na minha varanda.

Ian.

Ele estava com o traje completo de super-herói, que agora parecia ainda mais ridículo de perto. Seu sorriso confiante fazia com que sua entrada em vez de impressionante, fosse simplesmente teatral. Ele entrou sem ser convidado, como se a casa fosse dele.

— Hailey, minha querida. — Sua voz era galanteadora, quase debochada. — Preciso agradecer por tudo. Foi você quem me tirou daquele laboratório infernal.

Eu pisquei os olhos, ainda atordoada pela entrada exagerada.

— Ian... o que você está fazendo aqui?

Ele riu, cruzando os braços e caminhando pela sala como se fosse o dono do lugar.

— Só queria dizer obrigado pessoalmente. Você cuidou de mim quando ninguém mais quis.

Ainda processando suas palavras, ele não parecia ter pressa de me dar explicações. Continuou, sem dar espaço para que eu reagisse.

— Por isso confiei no governo. Agora, tenho uma mansão para minha mãe e para mim. Só preciso garantir a segurança da cidade e... acabar com o Dusk.

Suas últimas palavras me atingiram como um soco. Ele parecia tão casual, mas a intensidade em seu olhar me deixou incomodada.

— Acabar com o Dusk? — murmurei, mais para mim mesma do que para ele.

Ele apenas assentiu, dando um passo à frente, mais perto do que eu gostaria. Sua altura e presença eram intimidantes, como uma força da natureza que não se importava em invadir meu espaço. Ian ergueu a mão, tocando delicadamente meu rosto, seu olhar brilhando com algo que eu não conseguia decifrar.

— Você é a mocinha, que eu sempre vou salvar, Hailey. Custe o que custar.

Meu coração disparou, mas não por uma sensação agradável. Suas palavras não soavam como uma promessa de proteção, mas como uma ameaça, uma promessa de que ele faria o que fosse necessário para atingir seus objetivos. E eu sabia, com uma clareza desconfortável, que Ian agora era uma variável imprevisível em um jogo que eu mal começava a entender.

Ian deu um último olhar para mim antes de sair, sua expressão cheia de confiança. Mas, antes que ele desaparecesse pela janela, algo me fez estremecer. Vi Dusk sair das sombras da cortina, tão silencioso, me fazendo dar um salto de susto.

— Você! — Reclamei, tentando recuperar a compostura. — Sempre aparecendo do nada, me assustando!

Dusk me ignorou por um momento, seus olhos se focando em mim com uma intensidade implacável. Ele começou a me observar de cima para baixo, avaliando se eu estava ferida.

Eu abri a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas de repente ele me puxou para um abraço inesperado. Meus braços ficaram rígidos, e senti meu rosto esquentar com a proximidade, completamente sem graça.

— O que você está fazendo? — Sussurrei, tentando me afastar um pouco.

Ele simplesmente me olhou, depois se afastou e tossiu em seco, tinha algo em seu olhar estava diferente. Não era a típica frieza de sempre. Havia algo mais. Ele respirou fundo e falou:

— Eu ia te dar notícias sobre o Noah, mas... percebi que vai ter mais um pequeno problema para tentar resolver. — Ele olhou para a varanda e fechou a porta com um movimento rápido.

Eu me vi completamente confusa, sem entender nada.

— Não se envolva com o Ian. Eu vou dar um jeito nisso. — Ele disse com uma voz grave.

— Vai matar ele também?

Ele me olhou com seriedade, e o silêncio entre nós foi cortante.

— Ele não é humano. — Dusk falou com sua voz tão baixa quanto a intensidade de seu olhar.

Eu dei uma risada fraca, tentando aliviar a tensão no ar.

— Eu descobri que você também foi um experimento. — Falei, sem pensar direito, mas achando graça no que disse.

Dusk ficou momentaneamente sem graça, mas logo voltou à sua postura rígida, o olhar fixo em mim.

— Eu não fui como o Ian, que se ofereceu. Eu fui uma vítima. — Ele pausou, o peso das palavras pairando no ar.

Ele parou, como se a própria memória fosse difícil de suportar. Suspendeu um longo suspiro e olhou para mim com um olhar de cansaço, como se a verdade fosse um fardo impossível de carregar.

— Enfim... Acho que o Noah vai precisar de mais tempo... — Ele disse, com uma pontada de dúvida em sua voz, antes de se virar para sair.

Mas eu não conseguia deixá-lo ir tão fácil assim. Algo me dizia que eu precisava entender melhor o que estava acontecendo.

— Eu não confio em você, mas... também não confio muito nesse herói. E se o Noah confiou em você, eu preciso tentar confiar em você. — Falei, a voz mais firme do que eu me sentia. — Só me diz uma coisa: o que tem em todos esses casos? O que eles têm a ver com o Noah, com você e com aquele laboratório?

Dusk ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos em um ponto da casa, como se estivesse avaliando se deveria ou não responder. Finalmente, ele suspirou e falou, sua voz grave e decidida.

— Eu preciso que você descubra todos os motivos que te fazem achar que eu matei aquelas pessoas. Depois, eu vou te explicar. Somente isso. Foca nisso, não em outras coisas, princesa. — Ele disse, antes de se virar para sair pela varanda.

Antes que pudesse ir, eu o segurei pelo braço, determinada.

— Dusk... — Chamei, sentindo um nó na garganta. — Eu preciso de mais do que isso. Me diz o que está acontecendo! O que você não está me contando?

Ele olhou para mim com um brilho calculista no olhar, antes de virar a cabeça para olhar para o horizonte, como se os segredos que ele carregava fossem mais pesados do que eu poderia entender.

— Quando você tiver mais respostas, você vai entender. Agora, só foque no que te pedi. — Ele disse, com uma leve hesitação. — Se você realmente quiser saber mais, descubra o que está por trás disso tudo.

Capítulo 6

A noite era fria, e eu me perguntava se minha intuição estava me levando ao caminho certo. O caso 13 estava longe de ser apenas mais uma investigação rotineira. Havia algo estranho na forma como as pistas se conectavam, quase como se alguém quisesse que eu as encontrasse. A trilha me levou a um armazém abandonado no setor mais esquecido de Nyxville. O lugar cheirava a ferrugem e desespero, um cenário que combinava perfeitamente com o tipo de coisa que eu esperava encontrar ali. Mesmo assim, a calmaria era suspeita. Conferi meu equipamento e ajustei o comunicador antes de entrar. Cada passo ecoava, e o silêncio ao meu redor era quase ensurdecedor. Respirei fundo, decidida a seguir em frente.

Os passos se intensificaram, e logo percebi que não estava sozinha. Uma voz rouca ecoou pelo espaço vazio:

— Olha só quem é. Uma princesa perdida ou talvez uma intrusa? — Minha mão foi instintivamente para a arma, mas antes que pudesse responder, eles apareceram. Um grupo de homens e mulheres, todos usando jaquetas pretas com o símbolo de um urso pintado de forma irregular. Era a gangue que eu vinha tentando evitar, mas ali estavam eles, espalhando um ar de perigo.

— Vocês sabem quem sou? Se saírem agora, ninguém sai machucado — eu disse, tentando soar confiante. Eles riram, aquela risada de quem já viu tudo e não teme nada.

— Acho que ela não entendeu onde está — um deles falou, aproximando-se devagar. A tensão era quase insuportável, e eu sabia que teria que agir rápido. Antes que pudesse pensar no que fazer, ouvi um som cortante — um grito seguido de uma confusão. Uma figura surgiu das sombras, movendo-se com uma presença que não precisava de velocidade. Ele era grande e imponente, com um traje azul e verde que destacava sua identidade. Era Ian, o "Super Neo".

— Já tiveram sua chance — ele disse, a voz calma, mas cheia de intenção. Um dos homens tentou atingi-lo com uma barra de ferro, mas ela se partiu ao meio assim que bateu em Ian, como se fosse feita de papel. Ele riu, um som despreocupado que parecia zombar da fragilidade dos agressores.

— Eu não vou machucar vocês. Saiam daqui, antes que eu mude de ideia — disse, empurrando dois deles com facilidade. O impacto os lançou para trás, e os outros hesitaram ao ver o poder de Ian.

Um deles murmurou assustado:

— É o Super Neo! Vamos sair daqui! — E assim o fizeram.

Ian virou-se para mim, o rosto ainda sério, mas seus olhos avaliando minha condição.

— Você está bem? — ele perguntou. Eu apenas assenti, surpresa com a cena que acabara de presenciar. Antes que eu pudesse dizer algo, ele se aproximou. — Precisamos sair daqui.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei, mas ele me ignorou, segurando-me com firmeza. Antes que eu pudesse protestar, ele me levantou no colo e, com um impulso poderoso, começou a voar. A sensação era surreal, o vento frio cortando meu rosto enquanto subíamos em direção aos céus de Nyxville. Ian me deixou na varanda do meu apartamento com a mesma facilidade com que havia me levantado.

Ele se apoiou na grade por um momento, o rosto visivelmente cansado.

— Ian, você está bem? — perguntei, aproximando-me. Ele assentiu, mas sua expressão dizia outra coisa.

— Às vezes, depois de lutar, meu corpo fica fraco. É... um efeito colateral. O governo está me ajudando com isso. Eles me fornecem um soro que mantém minha condição estável. — Ele hesitou, parecendo não querer continuar. — Não importa. O que importa é que preciso encontrar o Dusk e entregá-lo ao governo.

As palavras dele me atingiram como um golpe.

— Mas ele não é uma ameaça — argumentei. Ian ergueu uma sobrancelha, claramente cético.

— Não é uma ameaça? Hailey, ele está fora de controle. Não podemos arriscar.

Ian me observou em silêncio, suas palavras pesando no ar.

— Isso é algo que o governo não vai ignorar, independentemente de quem ele mata. Hailey, você precisa tomar cuidado. — Antes que eu pudesse responder, ele se afastou, ainda visivelmente cansado, mas determinado a continuar sua missão.

— Você está falando como se ele fosse um monstro — retruquei, sentindo meu peito arder de indignação. — O Dusk tem um padrão, Ian. Ele não ataca inocentes, não como as gangues que infestam essa cidade.

— Um padrão que você não entende completamente — ele rebateu — E se te dissesse que o homem que você mais confia pode estar por trás disso, seu próprio marido? Que ele está protegendo criminosos ao invés de justiça? Forçando o governo a criar pessoas como eu?!

Engoli em seco, tentando controlar a raiva.

— Não fale do Noah como se soubesse algo sobre ele. Ele não faria isso.

— Não faria? — Ian arqueou as sobrancelhas — Se você confia tanto no seu marido, por que ele nunca explicou nada? Por que desapareceu sem deixar uma palavra, Hailey?

Senti as palavras dele como um soco no estômago. Meu coração acelerou, e pela primeira vez, hesitei. O que ele disse ecoava em minha mente, gerando dúvidas que eu vinha enterrando há meses.

— Ele tinha os motivos dele — murmurei, desviando o olhar. — Noah não é um homem que abandona as pessoas que ama.

— É mesmo? — Ian deu um passo à frente, sua sombra parecendo maior sob a luz da varanda. — Talvez ele seja mais parecido com o Dusk do que você quer admitir. E talvez seja por isso que você insiste em defendê-lo.

As palavras me atingiram como um golpe baixo, e minha respiração ficou presa por um momento. Antes que eu pudesse responder, meu celular vibrou no bolso. Peguei o aparelho, ansiosa por qualquer distração, mas a mensagem na tela me fez congelar.

"Você precisar se afastar dele agora boneca"

O número era desconhecido.

— Algo errado? — Ian perguntou, percebendo minha reação.

— Nada — menti, bloqueando a tela do celular rapidamente. — Só uma notificação.

Ele me lançou um olhar desconfiado, mas não insistiu.

— Seja como for, vou continuar minha busca pelo Dusk — ele disse, exalando longamente. — E vou encontrá-lo, quer você goste ou não.

Antes que eu pudesse responder, ele se afastou, desaparecendo na noite. Fiquei ali, sozinha na varanda, tentando processar as palavras dele e a mensagem que acabara de receber.

Com o coração pesado, voltei para dentro do apartamento. Não consegui descansar. Minha mente estava presa na mensagem e nas palavras de Ian. Quem poderia ter me enviado aquilo? E por quê?

Depois de horas de insônia, decidi mergulhar nos arquivos próximos casos. Algo estava errado. Passei as próximas horas revisando cada detalhe, até que algo chamou minha atenção. Um caso antigo, arquivado há anos, mas que parecia ligado ao mesmo padrão que eu vinha seguindo. No relatório, havia menção a uma chave encontrada na cena do crime. A descrição dizia que ela pertencia a um hospital abandonado nos limites da cidade.

Era a única pista que eu tinha. E eu sabia que precisava segui-la.

Depois de um tempo peguei meu carro e dirigi até esse hospital chegando lá no hospital abri com a chave que tinha. Enquanto caminhava pelos corredores do hospital abandonado, minha lanterna iluminava pedaços de um passado esquecido. As paredes estavam manchadas, grafites cobriam algumas superfícies, e o ar carregava um cheiro pesado de mofo e ferrugem. Eu não sabia exatamente o que estava procurando, mas a chave que tinha encontrado no caso anterior me trouxera até aqui, e isso já era o suficiente para me manter em movimento.

Ao virar um corredor, ouvi um som — um rangido, talvez uma porta sendo empurrada pelo vento. O coração acelerou, mas mantive a calma. Não era minha primeira vez em um lugar assustador como esse. Passei pela entrada de um quarto onde encontrei sinais de que alguém estivera ali recentemente: colchões velhos espalhados no chão, restos de comida, marcas de pegadas na poeira.

O corredor parecia se estreitar conforme eu me aproximava da porta marcada com o símbolo de um caduceu desgastado, indicando que já fora um laboratório. Era a única sala ainda parcialmente trancada, como se alguém tivesse tentado manter seu conteúdo oculto.

Usei a chave que encontrei no caso anterior para destrancar a porta, que se abriu com um rangido alto e sinistro. O ambiente era diferente do resto do hospital: o laboratório parecia intocado, ainda cheio de equipamentos antigos e fichas cobertas por uma fina camada de poeira. Havia um cheiro químico persistente, como se algo tivesse sido deixado para apodrecer ali.

Enquanto vasculhava o lugar, abri gavetas e armários, encontrando anotações rabiscadas e frascos de substâncias não identificáveis. Parecia haver uma intenção obscura por trás daquele local. Uma das prateleiras, porém, chamou minha atenção: nela, um caderno preto estava cuidadosamente colocado, diferente do resto da desordem.

Antes que pudesse pegá-lo, ouvi passos pesados atrás de mim.

— Você realmente não sabe quando parar, não é, boneca?

Virei bruscamente, e lá estava ele, recostado contra a porta como se pertencesse àquele lugar. O traje preto de Dusk parecia quase absorver a pouca luz do laboratório, enquanto a máscara que cobria seus olhos dava um tom ainda mais intimidante à sua presença.

— Você esse seu maldito apelido que me deu...— retruquei, tentando manter a firmeza na voz, mas meu coração estava acelerado. — O que está fazendo aqui?

— Eu poderia te perguntar o mesmo, boneca. — Ele deu alguns passos para frente, e percebi que estava preso entre ele e a bancada atrás de mim.

— Estou investigando — respondi, erguendo o queixo. — Algo que parece incomodar bastante gente, incluindo você.

Ele riu, uma risada baixa e debochada, e continuou a se aproximar, sem pressa, como um predador observando sua presa.

— Ah, Hailey... — Ele parou à minha frente, tão perto que pude sentir o calor que emanava dele. — Você é realmente algo especial. Sempre se metendo onde não deve.

— E você sempre aparecendo para atrapalhar — retruquei, mas minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria.

Antes que eu pudesse recuar, ele deu mais um passo, e minhas costas tocaram a fria superfície da bancada. Senti minha respiração vacilar, mas mantive o olhar fixo no dele.

— Está nervosa? — ele perguntou, a voz carregada de sarcasmo, enquanto inclinava ligeiramente a cabeça, observando cada reação minha.

— Não me provoque, Dusk. — Minhas palavras soaram mais como um aviso do que uma ameaça.

Ele se inclinou levemente, os rostos agora tão próximos que podia ver detalhes da máscara e o contorno dos lábios dele. Dusk pegou meu queixo com sua mão esquerda para eu olhar em seus olhos. A tensão no ar era palpável, e por um momento, nenhum de nós disse nada. Eu estava acostumada a confrontos, mas esse tipo de proximidade... era algo novo.

— Se eu estiver te incomodando, é só dizer. — A voz dele tinha um tom inesperadamente suave agora, quase desarmante.

Antes que pudesse responder, ele deu um passo para trás, deixando um espaço entre nós. Meu corpo relaxou, mas meu coração continuava disparado.

— O que você sabe sobre Noah? — perguntei rapidamente, aproveitando a mudança de dinâmica.

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, como se estivesse cansado.

— Eu não posso te contar tudo. Ainda não.

— Ainda não? — repeti, frustrada. — Ian disse que ele estava envolvido em algo perigoso, que estava lidando com criminosos, e...

— Ian fala demais. — Dusk me interrompeu, sua voz voltando a ser firme. — Escute, Hailey. Se você ama e confia no seu marido, então precisa confiar que, quando for o momento certo, você terá todas as respostas.

— E se for tarde demais quando esse momento chegar? Eu não confio em você — rebati, minha voz carregada de emoção.

Ele me olhou em silêncio por um longo instante, como se estivesse debatendo consigo mesmo o que poderia ou não dizer.

— Eu te disse, ele não está morto. Mas você precisa ser paciente.

Antes que eu pudesse questioná-lo mais, ele se virou e começou a caminhar em direção à saída. Comecei a tremer de frio por causa da neve e o lugar que tinha as janelas abertas e quebradas. 

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