Capítulo 48 Confronto raivoso
Otávio Guimarães
Cheguei na frente do prédio onde Lívia trabalha e parei o carro no mesmo lugar de sempre. Aquele fim de tarde estava começando a me irritar. Fiquei ali, tamborilando os dedos no volante, tentando me distrair. Quando a porta do prédio se abriu, vi Kaio saindo. O sangue subiu na hora. Lembrei de cada detalhe do que Lívia tinha me contado de mais cedo, da tentativa ridícula dele de beijá-la à força. Não pensei duas vezes, só abri a porta do carro e saí furioso.
— Ei, Kaio! — gritei, já marchando em direção a ele. Meu coração batia tão forte que parecia que ia explodir.
Ele se virou, com aquele sorriso cínico que ele sempre carrega. Como alguém consegue ser tão cara de pau? Antes que eu percebesse, minha mão já estava fechada e o meu punho voou direto para o rosto dele.
— Isso é pelo que você fez com a Lívia, seu desgraçado! — gritei, enquanto ele cambaleava para trás, surpreso. Não ia deixar barato. Nunca deixaria.
Kaio tentou se recompor, levando a mão ao rosto, e deu alguns passos para trás, mas eu não ia deixar ele fugir. Avancei mais rápido do que ele conseguiu pensar, e outro soco já acertava o estômago dele. Ele caiu de joelhos no chão, gemendo.
— Você não sabe brincar com limites, Kaio? — perguntei, a voz cheia de raiva. — A Lívia te rejeitou e você ainda tenta forçar a barra? Você é patético!
Kaio olhou pra cima, tentando me encarar, mas só via medo nos olhos dele. Um grupo de pessoas começou a se formar ao redor, curiosos que saíam do prédio e pedestres que passavam pela rua. Ninguém se aproximava. Todo mundo sabia que ali não era lugar para se meter.
— Otávio... eu não queria... — Kaio tentou falar, mas eu não deixei. O sangue fervia nas minhas veias, e eu não conseguia ouvir mais nada que ele dizia.
— Cala a boca! — gritei, segurando a camisa dele e o puxando pra mais perto. — Você teve coragem de tentar beijar minha namorada à força, e acha que vou deixar isso passar?
Ele tentou se soltar, mas eu estava com tanta raiva que nem senti a força dele. Meu punho voou de novo, dessa vez acertando o queixo dele. Senti os ossos dele estalarem contra a minha mão.
Lívia saiu do prédio nesse momento. Quando a vi, meu coração quase parou, mas a raiva ainda queimava. Ela olhou para mim, para Kaio no chão, e seus olhos se arregalaram.
— Otávio! O que você está fazendo? — ela gritou, correndo até nós.
Eu estava ofegante, tentando me controlar. Olhei para ela e depois para o Kaio. Minha mão tremia de raiva.
— Esse desgraçado tentou te beijar à força, Lívia. Você acha que eu ia deixar isso passar?
Ela se aproximou, colocando uma mão no meu braço. Eu podia sentir a preocupação nos olhos dela, mas também um toque de medo.
— Por favor, para. Não é assim que a gente resolve as coisas.
Respirei fundo, tentando ouvir a razão na voz dela. Olhei ao redor e percebi que a multidão tinha aumentado. Todo mundo olhava para mim, alguns com medo, outros com espanto. Soltei Kaio, que caiu no chão, tossindo e gemendo.
— Você é um lixo, Kaio. Não quero mais ver você por perto dela, entendeu? — falei, me afastando dele.
Lívia me puxou para longe, e começamos a nos afastar da cena. Meu coração ainda batia rápido, mas a fúria estava se dissipando. Olhei para ela, e ela estava com os olhos marejados.
— Eu te entendo, Otávio, mas... você não pode sair batendo em todo mundo. Não assim.
Eu respirei fundo, tentando me acalmar. Ainda estava tremendo, mas sabia que ela tinha razão.
— Desculpa. É que... só de pensar nele encostando em você, eu perco a cabeça.
Ela assentiu, apertando minha mão.
— Eu sei. Mas vamos lidar com isso de outra forma, tá?
Caminhamos de volta para o carro em silêncio. Minha cabeça ainda girava com tudo o que tinha acontecido. Não conseguia acreditar que tinha perdido o controle assim, na frente de tanta gente.
Quando chegamos ao carro, Lívia se virou para mim, segurando meu rosto com as duas mãos.
— Otávio, eu te amo. E agradeço por você se preocupar tanto comigo. Mas... a violência não é a resposta.
— Eu sei, Lívia. Eu só... não suportei a ideia de alguém te machucando.
Ela sorriu suavemente, me puxando para um abraço. Eu senti meu corpo relaxar pela primeira vez desde que vi Kaio sair do prédio.
— Vamos embora daqui, tá? — ela sussurrou, e eu concordei.
Entramos no carro e, enquanto eu dirigia para longe, podia sentir o peso de tudo aquilo começando a me alcançar. Talvez eu tenha exagerado, mas tudo o que eu queria era proteger Lívia. A simples ideia de alguém tentar machucá-la me deixava fora de mim.
O trânsito estava lento, o que me dava tempo para pensar. Olhei de canto para Lívia. Ela estava com o olhar distante, como se estivesse processando tudo o que tinha acontecido.
— Eu não queria que você visse isso, sabe? — falei, quebrando o silêncio. — Eu só... eu só fiquei fora de mim quando vi aquele idiota.
— Eu sei, Otávio. — ela respondeu, sem me olhar. — Mas a gente precisa ser mais inteligente que isso. Esse tipo de coisa pode trazer problemas sérios. Você pode ser preso... Não vale a pena.
Ela estava certa, claro. Sempre estava. Mas era difícil não reagir quando o assunto era ela. Só a ideia de alguém ameaçando a segurança dela me deixava fora de controle.
— Prometo que vou tentar ser mais calmo na próxima, tá? — disse, tentando aliviar o clima. — Pelo menos quando você estiver por perto.
Ela riu, finalmente me olhando de volta.
— É bom mesmo, porque se continuar assim, quem vai te bater sou eu.
Sorrimos juntos, e aquilo aliviou um pouco a tensão que ainda pairava no ar. O trânsito começou finalmente a fluir, e seguimos em direção à nossa casa. Durante o caminho, pensei em como seria lidar com as consequências daquele dia. Sabia que, provavelmente, aquilo não ia acabar ali. Kaio era o tipo de cara que não ia deixar barato.
Quando estacionamos na frente de casa, Lívia segurou minha mão antes que eu saísse do carro.
— Vamos deixar isso pra trás, tá? A gente tem coisas melhores pra se preocupar.
Eu assenti, apertando a mão dela de volta.
— Tem razão. Vamos focar na gente. É o que importa.
Entramos em casa e, depois de um banho quente e um jantar tranquilo, me senti um pouco mais calmo. Enquanto estávamos no sofá, abraçados, eu pensei em como tinha sorte de ter Lívia ao meu lado. Ela era meu equilíbrio, minha paz. E eu sabia que precisava ser melhor, por mim e por ela.
— Eu vou melhorar, prometo. — sussurrei para ela, sentindo o cansaço do dia finalmente me alcançar.
Ela me olhou com aquele olhar doce que só ela sabia dar.
— Eu sei que vai. E eu vou estar aqui, sempre, pra te ajudar.
Fechei os olhos, respirando o perfume dela, sentindo a tranquilidade voltar aos poucos. Eu sabia que aquele não tinha sido meu melhor dia, mas também sabia que, com ela, eu poderia superar qualquer coisa. E, no final das contas, era isso que importava.
Não importava quantas vezes eu precisasse cair e levantar. Desde que tivesse Lívia ao meu lado, eu sabia que tudo ficaria bem.
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