Capítulo 44 Demissão

Otávio Guimarães 

A manhã estava ensolarada, e eu me sentia mais animado do que de costume. Talvez fosse a decisão que eu já tinha tomado na minha cabeça. Enquanto eu arrumava a gravata em frente ao espelho do escritório, senti um misto de ansiedade e alívio. Hoje seria o dia. Olhei no relógio: 9h55. Hora de resolver isso de uma vez por todas.

Caminhei até a porta da sala de Fabiana, minha assistente. Ela era competente, mas o comportamento dela estava me deixando desconfortável. Fabiana vinha exagerando nas insinuações, nos elogios fora de contexto e, mais de uma vez, notei olhares atravessados para Livia. Eu não precisava lidar com esse tipo de complicação.

Bati na porta com firmeza.

— Fabiana, podemos conversar?

Ela ergueu os olhos, surpresa com o tom da minha voz.

— Claro, Otávio. Entre.

Entrei e fechei a porta atrás de mim. Ela se ajeitou na cadeira, me olhando com um sorrisinho que sempre me incomodou.

— Eu queria falar sobre seu desempenho... — comecei, tentando manter a voz firme.

O rosto dela se iluminou, mas não por muito tempo.

— Ah, sim! Eu sabia que você ia reconhecer o meu esforço. Eu...

— Eu reconheço seu trabalho, Fabiana. Mas ultimamente, tenho percebido algumas atitudes suas que não condizem com o ambiente profissional que queremos manter aqui.

Ela franziu a testa, claramente não esperando aquela direção na conversa.

— Como assim?

— Eu preciso que você saiba que eu respeito muito o nosso trabalho aqui, e também a minha vida pessoal. Algumas coisas que você disse e fez nos últimos tempos não foram apropriadas.

Ela abriu a boca para falar algo, mas eu levantei a mão, pedindo silêncio.

— Fabiana, infelizmente, eu acho que não vai dar certo continuar com essa parceria. Estou te dispensando a partir de hoje.

Ela me olhou boquiaberta, sem acreditar.

— Você está me demitindo? Por quê?

— Eu acho que já fui claro. Preciso que você arrume suas coisas e entregue seu crachá na recepção.

Ela levantou, indignada, tentando argumentar.

— Eu posso melhorar, Otávio! Por favor, me dê outra chance!

Suspirei.

— Sinto muito, Fabiana. Essa decisão é definitiva.

Ela pegou sua bolsa, ainda atordoada, e saiu do escritório sem dizer mais nada. Soltei um suspiro pesado quando a porta se fechou. Um problema a menos. Agora, eu só precisava contar para Livia.

Fui direto para a minha sala, peguei o telefone e disquei o número dela. Em poucos segundos, ouvi a voz animada do outro lado da linha.

— Oi, amor! O que foi?

Sorri, já imaginando a reação dela ao que eu ia dizer.

— Acabei de demitir a Fabiana.

Houve um silêncio do outro lado. Depois, ouvi um gritinho de alegria que me fez gargalhar.

— Sério? Você finalmente fez isso? Ah, meu Deus, Otávio, isso é incrível!

— Você está feliz, hein? — brinquei. — Quanta alegria por uma demissão.

Ela riu.

— Ah, vai, Otávio, você sabe que ela passava dos limites. E eu odiava o jeito como ela te olhava!

— Eu sei, eu sei. Por isso mesmo achei melhor acabar com isso. A última coisa que eu quero é você se sentindo desconfortável ou, sei lá, com ciúmes.

— Eu? Ciumenta? Imagina!

Ri alto, e pude imaginar o sorriso dela do outro lado.

— É, eu sei como você é tranquila e nem um pouco possessiva.

— Exatamente! — ela respondeu, rindo.

A verdade é que eu sempre achei o ciúme dela um tanto quanto adorável. Não que eu quisesse provocar, mas era bom saber que ela se importava tanto assim.

— Então, o que você acha de sairmos para comemorar essa minha decisão assertiva?

— Claro! Estou saindo do trabalho agora mesmo. Nos encontramos no nosso restaurante de sempre?

— Combinado. Te vejo lá.

Desliguei o telefone e não pude deixar de sorrir. Apesar de toda a tensão com a demissão, saber que Livia estava feliz fazia tudo valer a pena.

Cheguei ao restaurante primeiro e pedi uma mesa perto da janela, onde a luz do fim de tarde entrava suavemente. Logo, vi Livia entrando, com aquele sorriso brilhante que sempre me fazia esquecer dos problemas.

— Oi, amor. — ela disse, se aproximando e me dando um beijo rápido.

— Oi. — respondi, puxando a cadeira para ela se sentar. — Então, o que você vai querer para celebrar o grande dia?

— Humm, acho que vou pedir um vinho. Hoje merece.

Concordei com a cabeça e chamei o garçom para fazer o pedido. Quando ele se afastou, Livia me olhou com um brilho nos olhos.

— Você sabe que fez a coisa certa, né?

— Sei. E estou tranquilo com isso. Na verdade, mais aliviado do que eu imaginava que estaria.

Ela segurou minha mão por cima da mesa, me olhando com aquele jeito que sempre me fazia sentir o homem mais sortudo do mundo.

— Isso é o mais importante. Você precisa estar em paz com suas decisões.

— Sim. E, sinceramente, ver sua felicidade agora já fez tudo valer a pena.

Ela sorriu ainda mais.

— Bom saber que sou eu quem manda na sua felicidade, então.

— Ah, manda mesmo! — brinquei. — Você não tem ideia do quanto.

Ficamos ali, conversando e rindo, enquanto o sol se punha devagar. Cada momento ao lado dela era especial, e eu sabia que qualquer decisão que tomasse sempre seria pensando no que era melhor para nós dois.

Depois do jantar, caminhamos até o parque que ficava ali perto. A noite estava agradável, e as estrelas começavam a aparecer no céu.

— Livia, você sabe que eu faria qualquer coisa por você, né?

Ela me olhou com ternura.

— Eu sei, Otávio. E eu faria o mesmo por você.

Ficamos um momento em silêncio, só apreciando a companhia um do outro. Finalmente, eu parei e a puxei para perto de mim.

— Só quero que você saiba que você é a pessoa mais importante da minha vida. E que eu nunca deixaria nada ou ninguém colocar isso em risco.

Ela sorriu, emocionada.

— Eu também sinto o mesmo, Otávio. E saber que você se importa tanto assim me faz te amar ainda mais.

Abracei-a com força, sentindo o calor do corpo dela contra o meu. Ali, debaixo daquele céu estrelado, eu soube que tinha tomado a decisão certa. E que, enquanto tivesse Livia ao meu lado, tudo sempre ficaria bem.

— Sabe — falei, enquanto caminhávamos de volta para o carro —, acho que devíamos fazer isso mais vezes.

— O quê? Demitir pessoas que me incomodam? — ela perguntou, rindo.

— Não, não. Celebrar nossas pequenas vitórias. Comemorar as coisas boas da vida, mesmo que sejam simples.

Ela assentiu, sorrindo.

— Eu concordo. E vamos começar agora. Vamos pegar aquele sorvete na esquina?

— Sorvete? Depois de todo esse jantar?

— Claro! — ela exclamou, rindo. — Nunca é tarde para sorvete.

E lá fomos nós, rindo como duas crianças, porque, no fim das contas, o que importava era estar juntos. E eu sabia que, com Livia ao meu lado, sempre haveria motivos para sorrir.

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