Capítulo 40 Acidente dos pais
Otávio Guimarães
Estava no escritório, como de costume, revisando um relatório financeiro que teimava em não bater. A tensão estava quase me fazendo arrancar os cabelos. Aquele número no final da tabela não fazia sentido algum. Estava tão concentrado que nem percebi quando a porta se abriu. Só notei a presença de alguém quando uma voz meio ofegante me chamou:
— Otávio! — Levantei a cabeça e dei de cara com o Lucas, meu irmão. Ele estava suando, parecia que tinha corrido uma maratona.
— Lucas? O que você tá fazendo aqui? — perguntei, surpreso. Ele nunca aparecia no meu escritório sem avisar. A expressão dele era de puro desespero, e eu senti um frio na espinha.
— Cara, é... nossos pais... — Ele pausou, tentando recuperar o fôlego. Meu coração disparou antes mesmo dele terminar a frase. — Eles sofreram um acidente de carro!
Senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Meu cérebro deu um branco, e as palavras não faziam mais sentido. Apenas duas palavras ecoavam na minha mente: "acidente" e "pais". Levantei tão rápido que quase derrubei a cadeira.
— O quê? Como assim, Lucas? Eles estão bem? — Minhas palavras saíram emboladas, e eu senti um nó se formar na garganta.
— Eu não sei direito. A mãe ligou pro celular de um desconhecido no local do acidente e disse que eles estavam indo pro hospital... mas a ligação caiu antes que ela pudesse explicar direito.
Não perdi mais tempo. Peguei minhas coisas num movimento rápido e puxei Lucas pelo braço.
— Vamos! Eu dirijo!
O trajeto até o hospital foi um borrão. Minhas mãos tremiam enquanto seguravam o volante, e eu podia sentir meu coração batendo na garganta. Lucas estava ao meu lado, silencioso, o olhar perdido na janela. Eu sabia que ele estava tentando ser forte, mas o tremor na perna dele o entregava. Minha mente estava a mil, imaginando todos os cenários possíveis.
Quando chegamos ao hospital, praticamente saltamos do carro antes mesmo dele parar completamente. Corremos para a recepção, e eu fui direto ao balcão.
— Meus pais... Eles foram trazidos pra cá depois de um acidente. — disse respirando fundo e continuei e disse o nome deles.
A recepcionista olhou para o computador com calma demais para o meu gosto. Cada segundo parecia uma eternidade.
— Ah, sim. Eles estão no setor de emergência, mas parece que estão fora de perigo. — ela disse finalmente, com um sorriso reconfortante. — Vou chamar alguém para levá-los até lá.
O alívio que senti foi instantâneo, como se um peso enorme tivesse sido retirado dos meus ombros. Porém, ainda restava a ansiedade de vê-los com meus próprios olhos e confirmar que realmente estavam bem.
Enquanto aguardávamos, Lucas não conseguia ficar parado. Ele andava de um lado para o outro, murmurando algo sobre como isso poderia ter acontecido.
— Cara, o que você acha que aconteceu? — perguntei, tentando fazer com que ele se acalmasse um pouco.
— Não faço ideia. Só espero que não tenha sido nada muito grave.
Finalmente, uma enfermeira apareceu e nos guiou pelos corredores intermináveis do hospital. O cheiro de antisséptico e o som de máquinas e pessoas conversando baixinho criavam um cenário que parecia saído de um pesadelo. Quando chegamos ao setor de emergência, meu coração quase parou ao ver minha mãe deitada numa maca, com um curativo na testa e o braço engessado.
— Mãe! — corri até ela, o coração apertado. — Você tá bem?
Ela abriu os olhos lentamente e sorriu ao me ver.
— Tô bem, filho. Foi só um susto. — O alívio em sua voz me fez querer chorar de alívio.
Lucas se aproximou, e ela segurou nossas mãos.
— E o pai? — perguntei, olhando ao redor, à procura dele.
— Ele tá ali. — ela apontou para a cama ao lado, onde meu pai estava sentado, com um curativo na cabeça e o braço imobilizado. — Foi tudo tão rápido. Um carro furou o sinal vermelho e bateu na gente. Graças a Deus, não foi pior.
Lucas e eu nos entreolhamos, ainda tentando processar a situação. O medo ainda estava ali, mas ver que eles estavam conscientes e relativamente bem nos deu uma sensação de alívio que eu nem sabia que precisava.
— Estamos aqui agora. Vai ficar tudo bem. — eu disse, tentando soar mais confiante do que me sentia.
Passamos as próximas horas ao lado deles, conversando com os médicos e entendendo o que tinha acontecido. O carro que bateu neles estava em alta velocidade, mas, por sorte, eles foram atingidos de raspão, o que evitou algo mais grave. Meu pai teve uma fratura no braço, e minha mãe, além do corte na testa, estava com o pulso fraturado. Mas eles estavam bem. Vivos.
Enquanto os médicos explicavam os procedimentos e falavam sobre os exames que ainda precisavam ser feitos, eu me peguei pensando no quanto a vida é frágil. Num minuto, você tá vivendo sua rotina normalmente, e no outro, tudo pode mudar num piscar de olhos. Não conseguia parar de pensar no quanto eu amo meus pais e no quão grato estava por eles estarem ali, comigo e com Lucas.
— Otávio... — Minha mãe me chamou, tirando-me dos meus pensamentos. — Obrigada por terem vindo tão rápido.
— Claro, mãe. A gente nunca ia deixar vocês aqui sozinhos.
Ela sorriu e apertou minha mão com força.
Lucas, que estava ao meu lado, olhou para mim e disse:
— E aí, cara, o que a gente faz agora?
Eu suspirei, sentindo o cansaço do dia finalmente me atingir. Minha cabeça ainda estava um pouco zonza, mas o pânico inicial já tinha passado.
— Acho que agora só podemos esperar, né? Ficar aqui com eles e ver o que os médicos dizem. — Eu estava tentando soar prático, mas sabia que o Lucas conseguia ver através de mim. Ele sempre soube.
Enquanto nos acomodávamos nas cadeiras desconfortáveis da sala de espera, eu comecei a pensar em tudo o que tinha acontecido. Aquele dia tinha começado como qualquer outro, mas agora, sentado ali no hospital, parecia que tudo tinha mudado. Minhas prioridades, meus pensamentos, meus sentimentos... Tudo estava de cabeça para baixo.
Lucas, que ainda não tinha parado quieto um segundo, olhou para mim e disse:
— Sabe, Otávio, isso faz a gente pensar, né? Na vida, no que realmente importa.
Eu assenti. Ele tinha razão. Às vezes, a gente se prende tanto aos problemas do dia a dia, ao trabalho, às preocupações que nem se dá conta do que realmente importa. Família. Amor. Essas são as coisas que realmente contam.
— É, cara. Faz a gente pensar. E eu tô pensando que preciso passar mais tempo com vocês. Com a família.
Ele sorriu, e eu pude ver um pouco do alívio em seu rosto.
— Eu também, Otávio. Eu também.
Por recomendação medica, decidimos juntos que nossos pais ficariam por precaução aos cuidados médicos por uns dias e eu não via hora para que eles tivessem alta do hospital.
Enquanto a noite caía lá fora, ficamos ali, juntos, tentando encontrar algum conforto no fato de que, apesar de tudo, nossos pais estavam bem. Que por mais assustador que tivesse sido o acidente, no final das contas, foi só um susto. Um lembrete do quanto precisamos valorizar cada momento, cada segundo com as pessoas que amamos. Porque, no fim, é isso que realmente importa.
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