Capítulo 37 Ciúmes
Otávio Guimarães
Fazia já alguns dias que eu levava Lívia para o trabalho e ia buscá-la na saída. Era um acordo silencioso entre nós, mas, na verdade, eu estava de olho. Aquele cara, o tal de Kaio, ainda rondava os pensamentos dela, e eu não estava nada confortável com isso. Não que eu quisesse admitir, mas o ciúme era uma fera dentro de mim. Tentava disfarçar, claro, mas não estava conseguindo tão bem assim.
Naquela manhã, o sol ainda nem tinha nascido direito quando a gente entrou no carro. Lívia sentou no banco do passageiro, ajeitou o cinto e me olhou com aquele sorriso que sempre me desmonta, mesmo quando estou no pior humor possível. Suspirei, ligando o motor.
— Bom dia, meu amor! — ela disse, animada como sempre.
Eu apenas murmurei um "bom dia" de volta, mantendo os olhos na estrada. O silêncio que se seguiu foi desconfortável, quase palpável. Eu sabia que ela queria puxar assunto, talvez falar sobre como estava empolgada com o novo projeto na empresa, mas eu não queria ouvir nada.
— Você vai ficar com essa cara amarrada o dia todo? — ela perguntou, com um tom de brincadeira, tentando aliviar o clima.
— Não tô com cara amarrada. — retruquei, embora estivesse claro que eu estava sim.
Ela riu, aquela risada suave que eu tanto amava, mas que naquele momento só servia para me lembrar do quanto eu estava sendo idiota.
— Tá bom, não tá, mas você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, né? — Ela colocou a mão sobre a minha, que estava no câmbio. Senti o toque dela e meu coração deu um salto, mas mantive o foco na direção.
— Não tem nada pra falar, Lívia. — disse, seco. Não era exatamente verdade, mas eu também não queria parecer um daqueles namorados controladores e possessivos.
O resto do caminho foi em silêncio. Ela mexia no celular, respondendo a mensagens e rindo de vez em quando. Eu me perguntava se era ele. Kaio. O cara que trabalha na mesma empresa que ela e que, por coincidência. — ou destino cruel —, tinha se tornado o novo melhor amigo dela no trabalho. Cada risada que ela dava me fazia sentir uma pontada de ciúmes.
Quando chegamos, estacionei o carro e ela se inclinou para me dar um beijo de despedida.
— Vejo você mais tarde? — ela perguntou, como se fosse uma questão, mas era mais uma afirmação.
— Claro. — respondi, forçando um sorriso.
Ela saiu do carro e eu fiquei ali, assistindo ela entrar no prédio. Só fui embora quando não consegui mais vê-la. Suspirei pesadamente e dirigi de volta para casa, pensando no quanto eu estava sendo idiota. Ou talvez não estivesse, vai saber.
Mais tarde, quando voltei para buscá-la, cheguei um pouco mais cedo. Estacionei do outro lado da rua, onde podia ver a saída do prédio sem ser visto. Fiquei ali, observando. Os minutos passavam e, finalmente, eu a vi saindo. Ela estava rindo, claro, e ao lado dela, quem mais? Kaio.
Meu sangue ferveu na hora. Apertei o volante com tanta força que meus dedos ficaram brancos. Os dois se despediram na porta, com um abraço rápido, mas o suficiente para me deixar com ainda mais raiva.
Quando ela atravessou a rua e entrou no carro, eu estava quase fumegando.
— Ei, tudo bem? — ela perguntou, percebendo meu estado de humor instantaneamente.
— Tudo ótimo. — respondi, com um tom de sarcasmo que nem tentei esconder.
Ela suspirou, percebendo o que estava acontecendo.
— Otávio, por favor, me diz o que tá acontecendo. — ela pediu, dessa vez com uma voz mais séria.
Eu não aguentava mais.
— Tá bom, vou dizer. Não gosto desse cara, desse Kaio. Não gosto que você trabalhe com ele, não gosto de ver vocês dois juntos, e odeio o fato de que você ri tanto das piadas dele!
Lívia ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras. Eu sabia que estava exagerando, mas não conseguia evitar.
— Otávio... — ela começou, mas eu a interrompi.
— Não vem com esse "Otávio", Lívia. Você sabe muito bem como me sinto e continua agindo como se nada estivesse acontecendo.
— Porque realmente não está acontecendo nada! Kaio é só um colega de trabalho, e você sabe disso! — ela se defendeu, tentando manter a calma.
— Só um colega de trabalho, né? É sempre assim que começa, só um colega de trabalho, só um amigo, e de repente...
— De repente o quê, Otávio? — ela me cortou, agora com um tom de voz mais alto. — De repente você acha que vou te trocar por ele? É isso que você pensa?
Eu não sabia o que responder. Parte de mim queria gritar que sim, que era exatamente isso que eu temia, mas a outra parte sabia que estava sendo irracional.
— Eu só... eu só não quero perder você. — disse finalmente, a voz mais baixa, quase um sussurro.
Ela me olhou, os olhos suavizando um pouco.
— E você acha que agindo assim vai me manter por perto? — ela perguntou, suave, mas firme. — Eu te amo, Otávio, mas você precisa confiar em mim.
Suspirei, soltando o volante e passando as mãos pelo rosto.
— Eu sei, eu sei... Eu tô sendo um idiota, não tô? — admiti, finalmente, sentindo um peso saindo dos meus ombros.
— Tá sim. — ela concordou, mas com um sorriso no rosto. — Mas eu gosto desse idiota.
Eu ri, pela primeira vez em horas.
— Você é muito paciente comigo, sabia?
— E você é muito cabeça dura, mas eu gosto de você assim mesmo.
— Vou tentar melhorar. — prometi, sinceramente.
— Sei que vai. — ela respondeu, se inclinando para me dar um beijo suave. — Agora vamos pra casa, antes que eu mude de ideia e resolva te deixar aqui.
O caminho de volta foi mais leve. Eu ainda tinha meus receios, mas sabia que precisava confiar nela. Lívia era a pessoa mais importante da minha vida, e eu não podia deixar meu ciúme estragar o que tínhamos.
Enquanto dirigia, com a mão dela novamente sobre a minha, senti uma calma que não sentia há dias. Talvez esse negócio de ciúme fosse só uma fase. Ou talvez eu precisasse aprender a lidar melhor com isso. De qualquer forma, sabia que, com Lívia ao meu lado, tudo ia ficar bem. E, no final das contas, isso era tudo o que importava.
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