Capítulo 36 Finalmente um emprego
Lívia Fontes
Assim que eu recebi a ligação dizendo que tinha sido aprovada para o emprego que tinha feito a última entrevista, não acreditei. Fiz uma dancinha boba pela sala, mas recuperei rapidamente a compostura. Era um trabalho importante, algo que eu queria há muito tempo.
Naquela manhã, vesti minha roupa mais elegante e fui direto para a empresa. Meu coração batia forte a cada passo que eu dava até a porta de entrada. Tudo parecia tão profissional e sério, e eu estava tentando não transparecer o quanto estava nervosa.
Assim que passei pela recepção, uma sensação estranha me envolveu, como se o destino estivesse brincando comigo. Virei o corredor para o elevador e foi aí que tudo aconteceu.
Esbarrei em alguém tão rápido que nem consegui ver direito. Meu café quase caiu, mas consegui segurá-lo com a mão esquerda. Já a minha bolsa, foi parar no chão, espalhando meus papéis por todos os lados.
— Ai, desculpa! — disse, abaixando-me para pegar tudo.
Quando olhei para cima, lá estava ele. O homem que eu tinha visto uma vez enquanto caminhava no parque, há uns meses. Ele era alto, com olhos penetrantes e um sorriso que podia derreter qualquer iceberg.
— Livia? — ele perguntou, surpreso.
— Kaio? — Eu não acreditava no que estava vendo. Meu rosto ficou quente, provavelmente estava vermelha feito um tomate.
— Que coincidência! — Kaio disse, ainda sorrindo enquanto me ajudava a recolher os papéis. — O que você está fazendo aqui?
Eu ainda estava processando o fato de que era mesmo ele na minha frente. Foi um daqueles encontros rápidos no parque, trocamos poucas palavras, mas algo nele tinha ficado na minha cabeça.
— Acabei de ser contratada! — respondi, tentando soar mais casual do que me sentia.
— Sério? Eu também trabalho aqui! — Ele levantou e me estendeu os papéis. — Parece que vamos nos ver bastante, então.
Peguei os papéis das mãos dele, tentando controlar a tremedeira. Claro, era o que eu menos esperava naquele dia. Mais cedo, eu só pensava em como seria a minha primeira reunião ou se faria amigos novos. Agora, tudo o que conseguia pensar era como seria trabalhar no mesmo lugar que Kaio.
— Que ótimo! — eu disse, forçando um sorriso. — Vai ser... interessante.
Kaio deu uma risadinha.
— Com certeza.
Quando finalmente consegui pegar todas as minhas coisas, ele olhou para o elevador e fez um gesto para eu entrar primeiro.
— Depois de você, senhorita nova funcionária.
Entramos no elevador e o silêncio que se seguiu foi daqueles que você pode cortar com uma faca. Eu tentei parecer despreocupada, mas sabia que ele estava olhando para mim, provavelmente pensando a mesma coisa que eu: como é possível esbarrar com alguém assim duas vezes?
— Então, para qual setor você vai? — ele perguntou, quebrando o gelo.
— Marketing. — respondi. — E você?
— Finanças. Estamos em andares diferentes, mas quem sabe nos esbarramos de novo por aí?
— Parece que o destino gosta de brincar com a gente. — Eu ri, tentando aliviar a tensão.
Ele sorriu, e eu senti um frio na barriga. Algo me dizia que essa coincidência era só o começo. O elevador parou, e eu dei um passo para fora, me virando para ele uma última vez.
— Até mais, Kaio.
— Até mais, Livia. E boa sorte no seu primeiro dia.
Enquanto as portas se fechavam, eu senti um misto de nervosismo e empolgação. Aquela era minha chance de fazer amizade com Kaio e isso seria maravilhoso.
O dia passou voando. Entre reuniões, apresentações e um monte de novos rostos, mal tive tempo de pensar em qualquer coisa que não fosse trabalho. Mas, na verdade, eu estava até feliz com isso. Manter a mente ocupada era a melhor maneira de não deixar meu pensamento vagar para o encontro inesperado com Kaio mais cedo.
Quando finalmente deu a hora de ir embora, me senti exausta, mas satisfeita. A sensação de um primeiro dia bem-sucedido era maravilhosa. Peguei minhas coisas e saí, descendo pelo elevador com outros colegas, todos exaustos, porém com sorrisos nos rostos. Estávamos todos no mesmo barco, e isso trazia um certo conforto.
Assim que passei pelas portas da frente, o ar fresco da noite me envolveu. Fiquei na calçada por um momento, fechando os olhos e respirando fundo. Estava me preparando para esperar o Otávio, que insistiu em me buscar no meu primeiro dia, quando ouvi uma voz familiar atrás de mim.
— Livia! — Kaio chamou, se aproximando com aquele mesmo sorriso de antes.
Virei para ele, um pouco surpresa. Não esperava vê-lo tão cedo, muito menos do lado de fora da empresa.
— Kaio, oi! — respondi, sorrindo. — O que você tá fazendo aqui?
— Só estava saindo agora também. Hoje foi corrido, mas deu tudo certo. — Ele fez uma pausa, olhando para mim com curiosidade. — E o seu primeiro dia, como foi?
— Foi ótimo! Muito aprendizado e muita informação. Tô exausta, mas feliz. — Eu sorri, tentando não parecer tão empolgada.
— Fico feliz em ouvir isso. — Ele assentiu, parecendo genuinamente contente. — Vai se acostumar rápido com o ritmo daqui. E olha, se precisar de alguma coisa, tô por aqui, viu?
Antes que eu pudesse responder, ouvi o som familiar da buzina do carro do Otávio. Virei a cabeça e o vi encostando o carro na calçada, olhando para mim com uma expressão que era difícil de decifrar.
— Quem é ele? — Otávio perguntou assim que saiu do carro, com um tom sério na voz. Ele me olhou, depois olhou para Kaio, o rosto completamente fechado.
— Ah, Otávio! — eu disse, me sentindo um pouco desconfortável com o jeito que ele apareceu. — Esse é o Kaio, um colega de trabalho. Kaio, esse é o Otávio, meu namorado.
Kaio estendeu a mão educadamente, mas Otávio apenas assentiu com a cabeça, sem se preocupar em ser amigável.
— Prazer. — Kaio disse, puxando a mão de volta.
O clima ficou tenso, o silêncio constrangedor. Eu podia sentir o olhar de Otávio em mim, como se estivesse tentando ler meus pensamentos.
— Vamos, Livia? — Otávio falou, sem tirar os olhos de Kaio. — Já tá tarde.
Eu assenti, sentindo a tensão no ar.
— Claro, vamos. — Me virei para Kaio e dei um sorriso meio sem graça. — Até amanhã, Kaio.
— Até amanhã, Livia. — ele respondeu, ainda sorrindo, mas com um olhar um pouco mais sério agora.
Entrei no carro e, assim que fechei a porta, Otávio acelerou, saindo rapidamente. Fiquei em silêncio por um momento, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Olhei para ele de lado, notando sua expressão dura.
— O que foi isso, Otávio? — perguntei, tentando manter a voz calma.
— O que foi isso? — Ele repetiu, a voz cheia de irritação. — Esse cara... ele tava dando em cima de você?
Eu ri, balançando a cabeça.
— Não! Claro que não! Ele é só um colega de trabalho e eu já o conhecia, ele é o Kaio, aquele que conheci há uns meses enquanto caminhava no parque, lembra? Não exagere.
Otávio não respondeu de imediato, mas eu podia ver que ele estava segurando algo. Finalmente, ele suspirou, ainda sem me olhar.
— Aquele Kaio? E você não quer que eu me preocupe? Tá brincando, Lívia? Não gosto de ver você com outro cara assim, do nada.
Coloquei minha mão na perna dele, tentando tranquilizá-lo.
— Ei, relaxa. Não foi nada. Eu sou sua, lembra?
Ele finalmente olhou para mim, o rosto se suavizando um pouco.
— Eu sei. É só... Eu não quero perder você, Livia.
Eu sorri, apertando a mão dele.
— Você não vai me perder, Otávio. Eu prometo.
Enquanto dirigíamos de volta para casa, senti que algo estava mudando. Não sabia bem o que era, mas tinha a sensação de que aquela situação com Kaio, por mais pequena que fosse, ia acabar mexendo com nossas vidas mais do que eu imaginava.
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