Capítulo 35 Surpresa familiar
Otávio Guimarães
Chegamos de viagem, eu e Lívia, meio cansados, mas ainda assim animados. Tinha sido um fim de semana no interior, daqueles para recarregar as energias. O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu com aquele laranja característico que sempre me faz pensar em como a vida pode ser bonita nas coisas simples. Parei o carro na garagem, e a primeira coisa que notei foi o carro do Lucas estacionado na frente da casa.
— O Lucas tá aqui? — Lívia perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Parece que sim. — respondi, enquanto puxava a mala do porta-malas. — Não lembro de ter combinado nada com ele. Deve ter vindo de surpresa.
Lívia deu de ombros, com aquele sorriso que ela sempre faz quando tenta disfarçar que está curiosa. Fechei o porta-malas com um baque e segurei a mão dela, caminhando até a porta de casa.
Assim que abri a porta, dei de cara com o Lucas, no meio da sala, com um sorriso de orelha a orelha. E ele não estava sozinho. Ao lado dele, um casal de meia-idade, bem arrumados, com sorrisos simpáticos, mas com uma tensão evidente nos olhos.
— Finalmente! — Lucas exclamou, estendendo os braços como se estivesse prestes a nos dar um abraço coletivo. — Olha só quem eu trouxe!
Nesse momento, um frio percorreu minha espinha. Ele havia trazido nossos pais! Lívia ficou paralisada ao meu lado, os olhos arregalados. Ela ainda não os conhecia pessoalmente, e confesso que eu não estava exatamente preparado para essa situação.
— Pai... mãe? — soltei, ainda tentando entender como aquilo estava acontecendo. — O que vocês estão fazendo aqui?
Meu pai, sempre o mais direto, deu um passo à frente e estendeu a mão para Lívia, ignorando por completo minha pergunta.
— Você é a famosa Lívia, finalmente nos encontramos. — disse ele, com aquela voz grave e firme que eu sempre achei meio intimidadora.
Lívia, com um sorriso nervoso, apertou a mão dele.
— É... sim, sou eu. Prazer em conhecê-los, senhor e senhora Guimarães.
Minha mãe, sempre mais calorosa, passou por meu pai e envolveu Lívia num abraço.
— Ah, querida, pode nos chamar de Cecília e Miguel. Estamos tão felizes por finalmente conhecer você.
Eu ainda estava tentando processar tudo. A última vez que falei com meus pais, eles estavam planejando uma viagem para o sul do país. E agora, do nada, estavam na minha sala, abraçando minha namorada.
Lucas, percebendo meu choque, deu um tapinha nas minhas costas.
— Relaxa, irmão. Eles decidiram fazer uma parada antes da viagem pra te ver. Eu sugeri que eles dessem uma passadinha por aqui.
"Uma passadinha." Como se fosse só isso. Eu sabia que ele estava adorando a situação, o sorriso dele entregava tudo. Sempre foi do tipo que adora uma surpresa, especialmente quando sou eu o surpreendido.
— Não queríamos incomodar. — minha mãe disse, largando Lívia, mas ainda segurando suas mãos com carinho. — Mas Lucas insistiu. E também, não podíamos perder a chance de conhecer essa moça especial que conquistou nosso filho.
Lívia estava sorrindo, mas eu sabia que ela estava desconfortável. Ela nunca tinha conhecido meus pais e, apesar de já ter falado com eles por vídeo algumas vezes, encontrar pessoalmente era outra história.
— É claro, é claro... só foi uma surpresa, é isso. — tentei parecer tranquilo, mas sentia como se meu coração estivesse tentando escapar pela boca.
Meu pai olhou em volta e notou as malas que ainda estavam no chão.
— Acabaram de chegar de viagem? — perguntou ele, com aquele tom de voz que não era bem uma pergunta, mas uma constatação.
— Sim, fomos ao interior... descansar um pouco. — respondi, ainda meio perdido na situação. — Mas e vocês? Não estavam indo para o sul?
— Mudança de planos. — ele deu de ombros. — Decidimos passar por aqui primeiro, matar as saudades.
"Matar as saudades." Mas eu sabia que tinha algo mais ali. Meus pais não faziam visitas inesperadas, e Lucas provavelmente tinha orquestrado tudo. Ele sempre foi meio "produtor" de surpresas.
— Ah, que ótimo! — Lívia exclamou, recuperando um pouco da compostura. — Eu estava mesmo querendo conhecer vocês pessoalmente.
Ela olhou para mim, um pouco nervosa, como se buscasse algum sinal de que estava tudo bem. Eu sorri para tentar tranquilizá-la, embora por dentro estivesse uma bagunça.
— Bom, então vamos nos acomodar, né? — sugeri, tentando quebrar a tensão. — Vocês devem estar cansados da viagem também.
Lucas balançou a cabeça.
— Na verdade, eu só vim trazer nossos pais. Tenho um compromisso agora, então vou deixar vocês... "à vontade".
O jeito como ele disse "à vontade" me fez querer jogá-lo pela janela. Ele sabia o que estava fazendo. Lucas sempre teve um talento especial para criar situações embaraçosas e depois sair de fininho.
— Vou deixar vocês se instalarem. — ele continuou, com aquele sorriso travesso. — Até mais, maninho!
Ele se virou e saiu, deixando um silêncio estranho no ar. Meus pais continuaram sorrindo, mas eu sabia que estavam estudando cada movimento. Eu e Lívia pegamos as malas e começamos a levá-las para o quarto, enquanto meus pais foram atrás, ainda comentando sobre a viagem e como estavam felizes em nos ver.
Assim que chegamos ao quarto, fechei a porta, e Lívia se virou para mim, os olhos ainda arregalados.
— Otávio, seus pais... por que eles vieram sem avisar?
Suspirei, sentindo o peso da situação.
— Lucas. Foi coisa do Lucas. Ele adora fazer essas coisas.
— Mas eu ainda não estou preparada... — Ela olhou para as malas no chão, como se procurasse algo para se apoiar.
— Ei, calma. — segurei as mãos dela, tentando passar alguma segurança. — Meus pais são legais, sério. Só... meio tradicionais, sabe? E provavelmente querem ver como estamos juntos, só isso.
Ela respirou fundo, e eu vi nos olhos dela que ela estava tentando se acalmar.
— Você vai ficar comigo o tempo todo, né? — perguntou ela, meio brincando, meio séria.
— O tempo todo. — respondi, beijando a testa dela. — Vamos encarar isso juntos.
Saímos do quarto, e meus pais já estavam sentados na sala, como se esperassem uma reunião importante. Sentei ao lado de Lívia no sofá, e minha mãe começou imediatamente a perguntar sobre a viagem, sobre nossos planos, sobre tudo. Era evidente que estavam nos avaliando, mas, ao mesmo tempo, tentavam ser gentis.
Conforme a conversa fluía, percebi que Lívia estava se soltando um pouco mais. Ela contou sobre o fim de semana no interior, sobre como estava gostando de morar comigo, e meus pais escutavam atentos, trocando olhares entre si. Eu sabia que eles estavam gostando dela. Como não gostar? Ela era maravilhosa.
— Bom, é ótimo ver que vocês estão bem. — meu pai disse, finalmente, depois de quase uma hora de conversa. — E, Lívia, foi um prazer conhecê-la pessoalmente.
Minha mãe concordou com um sorriso.
— Sim, querida. Estamos felizes que nosso filho encontrou alguém tão especial.
Lívia corou, e eu sorri, sentindo que o pior tinha passado.
— Obrigada, senhora... Cecília. — corrigiu-se rapidamente. — Fico feliz que tenham vindo nos ver.
Depois de mais alguns minutos, meus pais se levantaram, dizendo que iam para o hotel descansar. A noite tinha sido cheia, e todos precisavam de um pouco de paz.
Quando finalmente fecharam a porta atrás de si, suspirei de alívio e olhei para Lívia.
— Sobrevivemos.
Ela riu, aliviada, e se jogou no sofá.
— Seu irmão é impossível, mas seus pais são ótimos.
— Sabia que você ia gostar deles. — falei, sentando ao lado dela. — E agora, finalmente, podemos relaxar.
Ela encostou a cabeça no meu ombro, e senti que, apesar de tudo, as coisas estavam no lugar certo.
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