Capítulo 34 Visita ao interior
Lívia Fontes
Eu tinha uma missão, e essa missão se chamava "Levar Otávio para a minha cidade". Depois de três meses de namoro, achei que era hora de apresentá-lo aos meus pais. Eles viviam no interior, num lugar calmo e tranquilo. Porém, Otávio, com seu jeito de cidade grande, parecia um pouco relutante em deixar o conforto da sua casa para se aventurar numa viagem de algumas horas pela estrada de terra.
Era uma sexta-feira à noite, e eu tinha preparado uma abordagem estratégica. Esperamos o jantar terminar, a mesa limpa, e ele estava relaxando no sofá. Achei que aquele era o momento perfeito. Eu me sentei ao lado dele, com um sorriso no rosto, já imaginando como seria a conversa.
— Tá tudo bem, Lívia? — ele perguntou, olhando desconfiado, percebendo meu sorriso exagerado.
— Claro que sim, amor. — respondi, tentando soar casual. — Estava pensando... A gente podia viajar nesse fim de semana.
Ele levantou uma sobrancelha, curioso.
— Viajar? Pra onde?
— Pra minha cidade. — falei com o tom mais natural possível, como se fosse uma ideia simples, uma aventura pequena.
Ele ficou quieto por um momento, claramente refletindo sobre a proposta. Sabia que ele tinha um certo receio de viagens longas, especialmente para lugares onde o Wi-Fi não era garantido.
— Ah, não sei, Lívia... — disse, coçando a cabeça. — Eu sou mais de cidade grande, sabe?
— Eu sei, amor. — continuei, tentando parecer compreensiva. — Mas vai ser divertido! Você vai conhecer meus pais, minha casa, o lugar onde cresci... Tenho certeza de que vai gostar. E, quem sabe, até se apaixonar pelo lugar, como aconteceu comigo!
Ele riu, um pouco desconfiado.
— Apaixonar é uma palavra forte. Mas sei lá... nunca fui muito de interior.
Eu sabia que ele diria isso. Otávio é aquele tipo de pessoa que não consegue imaginar a vida sem uma cafeteria a cada esquina e um Uber a um toque de distância. Eu, por outro lado, tinha a necessidade de mostrar a ele o charme do meu mundo.
— Otávio, confia em mim. — insisti, segurando sua mão. — Vai ser incrível. Eu prometo. E meus pais estão super ansiosos pra te conhecer!
Ele fez uma careta, aquela clássica de quem está prestes a ceder, mas ainda precisa de um empurrãozinho.
— E se não tiver nada pra fazer lá?
Dei uma gargalhada. Claro que ele ia pensar nisso.
— Não tem muito o que fazer, é verdade. Mas é aí que tá a graça! A gente pode fazer trilhas, nadar no rio, comer a comida deliciosa da minha mãe... E, à noite, assistir ao céu mais estrelado que você já viu na vida.
Ele suspirou. Eu podia ver nos seus olhos que, no fundo, ele estava considerando a ideia. Estava quase lá, só precisava do golpe final.
— Tá, mas e se eu não me der bem com seus pais?
Me aproximei, olhando bem nos olhos dele.
— Otávio, meus pais são as pessoas mais acolhedoras do mundo. Eles vão te adorar, tenho certeza. E, além do mais, qualquer coisa, eu estarei lá com você.
Ele sorriu, ainda um pouco hesitante, mas eu sabia que o tinha na palma da minha mão.
— Tá bom, Lívia. Vamos para o interior. Mas se eu me perder no meio do nada ou for atacado por um bando de galinhas, a culpa é sua.
— Prometo que vou te proteger. — respondi, rindo, enquanto me jogava em seus braços para um abraço apertado. — E olha que as galinhas lá são bem amigáveis!
Na manhã seguinte, acordamos cedo. Otávio estava com uma cara meio amassada, provavelmente se perguntando o que tinha feito. Eu, por outro lado, estava animada como nunca. Pegamos a estrada, e conforme íamos nos afastando da cidade, eu sentia meu coração se encher de nostalgia.
A paisagem ia mudando, e eu ficava apontando cada detalhe que me lembrava de casa.
— Olha ali, Otávio! Aquele campo de milho era onde eu e meus amigos jogávamos bola!
Ele sorriu, tentando absorver tudo aquilo. Parecia genuinamente interessado, e isso me deixou feliz.
Quando finalmente chegamos na entrada da cidade, ele arregalou os olhos.
— Uau, é menor do que eu imaginei...
— Pois é. — respondi, rindo. — Bem-vindo ao meu lar doce lar!
Estacionamos na frente da casa dos meus pais. Era uma casa simples, mas muito acolhedora, com flores na janela e uma varanda onde eu passava horas sentada, vendo o tempo passar. Minha mãe estava na porta, sorrindo de orelha a orelha. Meu pai logo apareceu atrás, ajeitando o chapéu de palha.
— Olá! — minha mãe gritou, acenando animadamente.
Otávio saiu do carro, claramente um pouco nervoso. Eu o peguei pela mão e fui até eles.
— Pai, mãe, este é o Otávio.
— Ah, então você é o famoso Otávio! — minha mãe exclamou, puxando ele para um abraço apertado. — Seja bem-vindo, querido!
— É um prazer conhecer vocês, dona Marta, seu João. — Otávio disse, tentando esconder o nervosismo.
Depois das apresentações, fomos para dentro. A casa estava cheia do cheiro da comida da minha mãe, aquele cheiro de comida de verdade, feita com carinho. Sentei com Otávio na sala, enquanto meus pais terminavam de preparar o almoço.
— E aí, o que tá achando até agora? — perguntei.
— É... diferente. — ele admitiu, olhando ao redor. — Mas no bom sentido. Tem um clima acolhedor aqui.
Sorri, satisfeita. Era exatamente isso que eu queria que ele sentisse.
Depois do almoço, levei Otávio para conhecer um pouco da cidade. Fomos até a pracinha, onde algumas crianças jogavam bola. Passeamos pela feira, onde compramos algumas frutas frescas e paramos para conversar com alguns conhecidos meus. Ele parecia mais relaxado, começando a se acostumar com o ritmo mais lento e o ambiente mais descontraído.
No fim do dia, voltamos para casa dos meus pais. Nos sentamos na varanda, olhando o sol se pôr. Meu pai contou algumas histórias da minha infância, e eu podia ver Otávio rindo, se divertindo com as histórias de quando eu era criança.
— Eu tô gostando de ver. — meu pai disse, com um sorriso no rosto. — Faz tempo que não vejo a Lívia tão feliz.
Otávio olhou para mim, segurando minha mão, e eu senti meu coração derreter. Estar ali, com ele e meus pais, era exatamente o que eu precisava.
— E então, Otávio, o que tá achando da nossa cidadezinha? — minha mãe perguntou, servindo um pedaço de bolo caseiro.
— Eu tô adorando. — ele respondeu, sinceramente. — É um lugar especial. Consigo entender por que a Lívia fala tanto daqui.
E naquele momento, percebi que tinha conseguido. Otávio estava começando a se apaixonar pelo lugar, do jeito que eu esperava. Não importava se ele gostava mais da cidade grande; o que importava era que ele estava ali, comigo, compartilhando um pedaço do meu mundo.
Enquanto a noite caía, e as estrelas começavam a aparecer no céu, me deitei no colo dele, sentindo uma paz que há muito tempo não sentia.
— Obrigada por ter vindo, Otávio. — sussurrei.
Ele beijou minha testa, e respondeu baixinho:
— Obrigado por me trazer, Lívia.
E assim, ficamos ali, abraçados, em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro e a magia daquele lugar.
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