Capítulo 25 Beijo na piscina
Otávio Guimarães
Lívia e eu estávamos na piscina da minha casa, aproveitando a tarde ensolarada e jogando conversa fora. A água morna era quase terapêutica, e a companhia dela fazia tudo parecer mais leve, mais divertido. Lívia era daquelas pessoas que você sente que poderia passar horas conversando, sem cansar. Eu já estava confortável o suficiente para deixar a correnteza das palavras nos levar sem me preocupar com onde íamos parar.
Ela usava um biquíni verde que contrastava com sua pele bronzeada, e seu cabelo molhado grudava na testa de um jeito que parecia acidentalmente perfeito. Às vezes, eu me pegava olhando para ela por mais tempo do que devia, mas disfarçava com uma piada ou uma pergunta boba.
— Sabe, Otávio — ela disse, enquanto jogava um pouco de água para cima —, a gente devia fazer isso mais vezes. É bom dar uma escapada da rotina.
— Concordo. Se depender de mim, a gente podia transformar isso num ritual semanal. — brinquei, tentando esconder o sorriso que se formava no canto da boca.
Ela riu, aquele riso que sempre me pegava desprevenido, fazendo meu estômago dar um pequeno salto, como se eu estivesse numa montanha-russa. A conversa continuou leve, cheia de risadas e lembranças de momentos que vivemos juntos ou de histórias que cada um trouxe para a mesa. Mas, em certo momento, algo na atmosfera mudou. Não foi uma mudança brusca, mas uma transição sutil, quase imperceptível.
O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, e o silêncio confortável entre nós começou a ficar um pouco carregado. Não era incômodo, mas era diferente. Era como se o ar ao nosso redor estivesse mais denso, cheio de algo que nenhum dos dois sabia exatamente como lidar.
— Tá vendo aquele pássaro ali? — perguntei, apontando para um ponto no céu, tentando desviar a atenção para outra coisa que não fosse o que estava sentindo.
— Qual? — ela olhou na direção que eu apontei, mas não parecia realmente interessada no pássaro.
Quando ela voltou a me encarar, percebi que seus olhos tinham uma intensidade diferente. Ela não disse nada, apenas me olhou, e, por um segundo, senti que o tempo tinha parado. Meu coração acelerou de um jeito que eu não esperava. Não era a primeira vez que ficávamos tão próximos, mas dessa vez havia algo diferente, algo que não estava ali antes.
Foi então que aconteceu.
Sem pensar, sem planejar, sem discutir com meus pensamentos, me inclinei na direção dela. E Lívia, em vez de se afastar, fez o mesmo. Nossos lábios se encontraram de forma quase natural, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo, mesmo que até um segundo atrás, eu jamais tivesse imaginado que algo assim aconteceria.
O beijo foi suave, lento, mas carregado de uma tensão que parecia ter se acumulado ao longo do tempo que passamos juntos. Eu podia sentir o coração batendo forte no peito, não sabia se era o meu ou o dela, ou talvez os dois em sincronia. Não era um beijo de paixão desenfreada, mas sim um beijo cheio de sentimentos não ditos, de palavras que ficaram presas na garganta por tanto tempo que, quando finalmente encontraram um escape, vieram em forma de toque.
Durou apenas alguns segundos, mas quando nos afastamos, tudo pareceu ter mudado. Ela abriu os olhos lentamente, me encarando com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Não era arrependimento, mas também não era exatamente alegria. Talvez fosse surpresa, talvez confusão.
— Lívia... — comecei a falar, mas as palavras me traíram. O que eu poderia dizer depois daquilo?
Ela, porém, não disse nada. Apenas sorriu de um jeito que não revelava muito, mas que também não afastava nada. Antes que eu pudesse tentar entender o que aquele sorriso significava, ela se virou e começou a sair da piscina.
O tempo parecia ter voltado ao normal, mas a realidade ao meu redor estava distorcida. Cada movimento dela parecia em câmera lenta, como se minha mente quisesse capturar cada detalhe, cada segundo, para revisitar depois e tentar entender o que, exatamente, havia acabado de acontecer.
Ela pegou a toalha que estava na espreguiçadeira e se enrolou nela com uma calma que quase me irritou. Como ela conseguia agir como se nada tivesse acontecido? O que era aquilo que acabávamos de compartilhar? Eu me senti meio perdido, meio em pânico.
— Lívia. — chamei novamente, agora um pouco mais firme.
Ela se virou, com o mesmo sorriso tranquilo, mas havia algo em seus olhos que me dizia que ela estava tão confusa quanto eu.
— A gente se fala depois, Otávio. — disse ela, sem qualquer traço de hesitação na voz. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se aquele beijo não tivesse abalado tudo ao nosso redor.
E então, ela saiu. Caminhou até a saída da área da piscina e desapareceu na direção da porta, me deixando sozinho com meus pensamentos e o som suave da água se movendo ao meu redor. Eu ainda estava na piscina, com a água cobrindo metade do meu corpo, mas me senti como se estivesse afundando lentamente.
Fiquei ali, paralisado, por mais alguns minutos, tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Meus lábios ainda formigavam, e a sensação do beijo ainda estava fresca na minha memória. Mas quanto mais eu pensava, menos sentido aquilo fazia. Será que aquilo significava alguma coisa para ela, ou era só um impulso do momento?
Decidi sair da piscina, finalmente aceitando que não ia conseguir entender tudo ali, sozinho. Peguei minha toalha e me sequei, mas parecia que o calor do sol já não conseguia mais me aquecer como antes. Minha mente estava em um turbilhão de perguntas sem respostas, e eu sabia que a única pessoa que poderia me ajudar a entender aquilo era a mesma que acabara de sair sem dizer nada.
Assim que entrei em casa, joguei a toalha em um canto e fui direto para a varanda, onde o ar fresco da noite começava a se instalar. A visão do céu, agora estrelado, não ajudava a acalmar o que estava acontecendo dentro de mim.
Peguei o celular, hesitei por um momento e então, resolvi mandar uma mensagem.
— Lívia, a gente precisa conversar. Não sei o que foi aquilo, mas preciso entender.
Enviei a mensagem antes que pudesse mudar de ideia, e então fiquei encarando a tela, esperando, temendo a resposta. Cada segundo parecia uma eternidade.
Finalmente, o celular vibrou.
— Também não sei, Otávio. Mas acho que a gente devia pensar bem antes de falar qualquer coisa.
Eu li e reli a mensagem várias vezes. Não era o que eu esperava, mas também não era uma negativa. Era um convite para refletir, para dar tempo ao tempo. Talvez ela estivesse tão confusa quanto eu. Minha vontade era de ir até o quarto dela e insistir no assunto, no entanto, isso não resolveria nada.
Soltei um suspiro longo, sentindo um peso se levantar do peito. Talvez aquele fosse o começo de algo, ou talvez não fosse nada. O que quer que fosse, eu sabia que não adiantava tentar forçar uma resposta naquele momento.
Olhando para o céu novamente, me permiti um sorriso leve. A vida, às vezes, tinha um jeito estranho de nos surpreender, e talvez o melhor a fazer fosse seguir o conselho dela e deixar as coisas seguirem seu curso.
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