Capítulo 24 Uma aranha horrenda

Lívia Fontes

Estava eu, de boa, em uma tarde qualquer, fazendo uma videochamada com minha mãe. Conversa vai, conversa vem, ela reclamando do preço das frutas, eu fingindo interesse (porque né, uma hora ela vai perceber que eu não ligo pra quanto custa o quilo da maçã), quando de repente... aconteceu. E, quando digo "aconteceu", quero dizer que meu coração quase saiu pela boca.

Vejo algo se mexendo no canto da tela. Primeiro, achei que fosse uma sombra. Mas não, não era uma sombra. Era uma criatura horrenda, peluda, com mais pernas do que eu jamais quis contar. Sim, uma aranha! Não uma aranhinha inofensiva, mas uma daquelas que poderiam muito bem ter saído de um filme de terror barato dos anos 80. 

Eu congelei. Sabe aquele momento em que o corpo trava, a voz some, e tudo o que você consegue fazer é respirar fundo, esperando que a coisa vá embora por vontade própria? Pois é, eu falhei miseravelmente nessa parte.

— AAAAHHHHHHH! — O berro saiu antes que eu pudesse me controlar. Parecia que eu estava sendo atacada por uma gangue de aranhas mutantes, quando, na verdade, era só uma. Só que eu tenho pavor, e aquele grito foi genuíno.

Minha mãe, coitada, lá do outro lado da chamada, se assustou junto comigo.

— O que foi, Livia? O que aconteceu? — perguntou ela, tentando entender o motivo do escândalo.

Mas eu não consegui responder. Só sabia que precisava me afastar daquela coisa o mais rápido possível. Em algum lugar da casa, ouvi um barulho. Uma porta abrindo com tudo, passos correndo pelo corredor. Antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, Otávio – justo ele o dono daquela casa – invadiu o quarto. Só que tinha um detalhe que eu jamais esqueceria.

Otávio estava só de toalha, com espuma de shampoo ainda escorrendo pelos cabelos. A toalha mal presa na cintura, e ele parecia mais um guerreiro saído de uma novela mexicana do que o homem sério que ele demonstrava ser boa parte do tempo. Aliás, foi uma das cenas mais hilárias que já presenciei.

— Que foi? O que aconteceu? — ele perguntou, os olhos arregalados, olhando ao redor como se esperasse encontrar um ladrão ou, sei lá, um apocalipse zumbi.

Ainda gritando como uma condenada, apontei para o canto da parede, onde o monstro de oito pernas estava. Não precisei dizer mais nada. Otávio entendeu a missão. Ele nem hesitou. Pegou o primeiro objeto que viu pela frente, que era o meu chinelo (que, devo admitir, já estava com as solas gastas de tanto bater na vida), e avançou na aranha como se sua vida dependesse disso.

A cena que se seguiu foi digna de um desenho animado. Otávio, segurando a toalha com uma mão e o chinelo com a outra, se esticando todo para alcançar a aranha. Eu, ainda em choque, observando tudo com olhos arregalados, me perguntando se ele ia conseguir manter a toalha no lugar ou se eu ia ter que lidar com um tipo diferente de trauma.

Bateu uma vez, a aranha se mexeu, e eu soltei outro grito. Bateu de novo, dessa vez mais certeiro, e finalmente... Game over para a aranha.

— Pronto, tá morta. — Otávio disse, triunfante, como se tivesse acabado de salvar o mundo de um supervilão.

Eu ainda estava sem palavras, tentando recuperar o fôlego. Olhei para a tela do meu celular, onde minha mãe estava assistindo a tudo com uma expressão entre chocada e divertida.

— Livia, esse é o tal Otávio? E por que ele tá... assim? — Minha mãe perguntou, apontando com o queixo para Otávio, que agora estava mais preocupado em ajustar a toalha do que em responder perguntas embaraçosas.

Eu senti minhas bochechas queimarem de vergonha. Não podia deixar minha mãe continuar com aquela linha de questionamento. Era demais pra mim. Sem pensar duas vezes, apontei para a câmera e, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, finalizei a chamada rápido.

— Pronto, agora vou ter que explicar isso depois. — resmunguei, me jogando na cama enquanto Otávio ria da situação.

Ele se aproximou de mim, ainda rindo, e eu não pude evitar rir também. O absurdo da situação era tão grande que não tinha como não achar graça.

— Tudo bem, você sobreviveu. — Ele disse, sentando-se ao meu lado.

— Sobrevivi, mas por pouco. — Eu respondi, ainda com a imagem da aranha me assombrando. — E você também, porque quase perde essa toalha.

Ele deu de ombros, como se isso não fosse nada de mais.

— Foi um risco calculado. — Ele disse, piscando pra mim.

Revirei os olhos, mas estava grata por ele ter aparecido para salvar o dia, mesmo que de maneira... incomum.

Depois que as coisas se acalmaram, começamos a rir da situação toda. A imagem de Otávio, de toalha, com espuma de shampoo na cabeça, tentando matar uma aranha com meu chinelo, era algo que ficaria na minha memória para sempre. E eu sabia que minha mãe não ia deixar isso barato. Na próxima vez que nos falássemos, ela com certeza ia querer saber tudo sobre "o Otávio estar de toalha no meu quarto".

Acho que o mais divertido foi perceber que, mesmo nas situações mais ridículas, a gente acaba se unindo mais. Quer dizer, não é todo dia que Otávio invade o quarto pronto pra enfrentar um perigo mortal – e com uma toalha que quase foi pro chão.

Depois de uns minutos ele retornou para o quarto.

— Livia, você sabe que sua mãe vai perguntar de novo, né? — disse, agora já vestido decentemente.

Eu suspirei, já imaginando a conversa. 

— Sei, mas vou deixar ela pensar um pouco. Isso vai me dar tempo pra inventar uma boa desculpa.

Ele riu.

— Boa sorte com isso. Mas agora que o perigo passou... você não tá com fome?

A ideia de comida fez meu estômago roncar alto, o que só fez Otávio rir ainda mais.

— Tá, vamos comer. Mas da próxima vez, você que vai matar a aranha de novo. — Eu disse, meio séria, meio brincando.

Ele fingiu pensar por um momento antes de responder.

— Negócio fechado, desde que você segure a toalha pra mim.

E foi assim que terminamos nosso dia, rindo de uma aranha morta e de como pequenas coisas podem virar histórias pra contar. E a moral da história? Sempre tenha alguém corajoso por perto – e uma boa desculpa na ponta da língua para quando sua mãe ligar.

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